1910 - De Francisco Mantero - Água Izé - Praia do Rei |
Barão de Água Izé – Nasceu há 200 anos (12-03-1816 - 17.10.1869) – O mui nobre visionário mestiço, João Maria de Sousa e Almeida, que o Reino distinguiu de Barão e Conselheiro.
O poeta agricultor que, em 1855, introduziu a cultura do Cacau em S. Tomé, importando-o da Ilha do Príncipe, para a qual do Brasil a tinha importado o Governador Manuel Ferreira Gomes
Pena, no entanto, que aquela que começou por ser designada como a árvore dos pobres, com o decorrer do tempo, viesse a tornar-se a árvore das patacas dos ricos - Pois não tardou que a maior parte das terras que, até 1872, eram propriedade dos nativos passassem para os roceiros colono
Em 1858 - ou seja três anos depois da cultura do cacau - o mesmo fidalgo introduziria também a árvore da fruta pão (artocarpus incisa 1.bella, tendo o referido barão publicado diversas instruções sobre a sua cultura
Água Izé - 1910 |
Água Izé - 2016 |
Nasceu na Ilha do Príncipe descendente de uma família mulata abastada , de São Salvador da Baía, que emigrou para o Príncipe nos finais do século XVIII. Faleceu aos 53 anos - Naquele tempo, a media de vida era bem mais curta de que atualmente. No seu espírito dinâmico e empreendedor, brilhava também a inspiração e a verve poética - É o que demonstram os extremosos versos que dedicou ao seu pai, numa lápide tumular, na cidade de Santo António, na Ilha do Príncipe, o coronel de milícias Manuel de Vera Cruz e Almeida Viana, nascido em 1750 - Não tendo tido porém, o mesmo procedimento para com a sua mãe, D. Pascoela de Sousa Leitão, nascida em 1790
1910 - Senzalas - Água Izé - In A Mão d'Obra em S. Tomé |
João Maria de Souza e Almeida, Barão de Água Izé e Conselheiro do Reino, o primeiro mestiço nobre a ser distinguido com tão alta distinção, o qual, além do “importante e abastado proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé, Castelo do Sul e Alto Douro, a quem se deve o fomento da cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em tão pequena escala que – nem sequer constava dos seus famosos «Ensaios Estatísticos.
Referem estudos genealógicos que, João Maria de Souza e Almeida casou com D.Maria Antónia de Carvalho sg. ( e Antónia Carolina da Rocha Guimarães - Não deixou filhos legítimos,"mas muitos filhos de amigas que trabalhavam nas suas roças".
Baía de Água Izé |
Baía de Água Izé |
“Para S. Tomé, não se poderia encontrar figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento agrícola”
Sim, hoje venho trazer-lhe o
que penso ser uma outra novidade, que logrei extrair de uns cadernos dactilografados caídos no
esquecimento, que, um feliz acaso me proporcionou – sim, porque, já em avançado
estado de decomposição, nem fácil de localizar nem de forma ordenada - Diz o seguinte:
Bisneto do Barão de Água Izé |
Ao meio da Rua de S. Gregório, hoje Rua Francisco Mantero, por deliberação da C.M. de 1-4-1937, está indicada uma igreja que se chamou S. Gregório. O caminho conduz ao cemitério e a igreja ficava onde termina hoje o terreno pertencente a uma casa de Adolfo Ferreira Lousada.
Ao fim da Rua Tenente Valadim
está marcada na carta, finalmente a última igreja: era a Igreja do Senhor do
Bom Jesus dos Passos, conhecida por Igreja do Senhor (Gueja Sinhô) – Esta
igreja foi construída benta procedendo autorização do cabido em S. Tomé no ano
de 1825 (Reg. De of. e Registos a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos da
Graça, 1824, a flhs 1) – Os restos das desmoronadas paredes serviram
para a construção de um Matadouro Municipal. Nessa ocasião – 1925
- foi ali encontrada uma sepultura coberta com uma lápide; Ali
estavam enterrados os restos mortais de Manuel da Vera Cruz Almeida, pai de
João Maria de Sousa e Almeida que foi o primeiro Barão de Água Izé.
Tributo de amor filial
levantado por João Maria de Sousa Almeida
Aqui jaz os restos mortais de
Manuel da Vera Cruz Almeida – Coronel das Ordenanças natural da Baía de Todos
os Santos, cidade de S. Salvador, Província do Império Brasileiro – nasceu a 22
de Setembro de 1780 e faleceu a 31 de Maio de 1833 com 53 anos 8
meses e 8 dias
Esta pedra que voz incerta e dura,
De humano explendor frágil padrão,
É das cinzas dum nobre capitão
Das relíquias mortais a sepultura
Encera o corpo se, que a alma pura
Que habita em virtuoso coração
Vão nos céus receber o galardão
Vai viver no reino da ventura.
Morreste; eterna he a tua memória
Teu nome será sempre venerado
Pois a tua virtude foiche motorista
Morreste pelos homens ser coroado
E nos eternos volumes da Glória
Também foste ó Almeida retardado
Perdemos um amigo um protector
Quanto nos he cara a lembrança
De todos foi amparo foi a esperança
Ao pobre ao infeliz sanou a dor.
A todos infundiu respeito, amor
Quer Astrea pezasse na balança
Quer nos cargos de Alta Governança
Foi sempre sábio, justo e acolhedor
Mortaes que fruisteis seu amparo
Vinde orar, as saudades avivas
Por um varão em virtudes preclaro
Aqui sobre este túmulo choras
Vos amigo perdesteis, terno, caro
Eu perdi amigo e perdi pae.
As ossadas e a lápide foram transferidas,
hoje repousam noutro local – Quando voltarmos ao Príncipe, esperamos poder
fazer o registo fotográfico - Pois temos indicações onde se encontram.
"Quanto à capela do cemitério da cidade de Santo António da Ilha do Príncipe, do Ofício Nº 521 de 11 de Novembro de 1856 do Govº do Príncipe ao Govº de S. Tomé, costa o seguinte a fls 74 verso do lado do Lº do Regtº do Externos “….. porquanto o encontrado por mim quando dei “principio ao cemitério foi unicamente uma capela construída de barro, que por se achar ameaçando inevitável queda”, a deitei abaixo e em seu lugar edifiquei outra de “pedra e cal”.
Foi reedificada em 1870, segundo um auto
de arrematação da obra adjudicada a José Joaquim de Melo por 182$700 reais
fortes, em sessão da C.M., de 9 de Maio. – Sofreu novas obras
posteriores e hoje está coberta de telha marselha (foto N.35),
DOS VÁRIAS OBRAS E TEXTOS SOBRE
O 1º BARÃO, NÃO CONSTA TÃO POÉTICA E SENTIDA HOMENAGEM TUMULAR – Mas há realmente
alguns livros ( e muitos textos na WEB) acerca da vida do famoso
Barão
Um dos quais publicado, num pequeno
opúsculo, que faz parte da minha vasta bibliografia, que lhe foi dedicado, por
ocasião da 1ª exposição Colonial Portuguesa, no dia 25 de Agosto de 1934
1.ª Exposição Colonial Portuguesa – Porto
1934-comemora hoje, 25 de Agosto "O Dia de S. Tomé e Príncipe “
A homenagem veio a-propósito da passagem
do aniversário da assinatura da lei que promulgou para aquela colónia a
abolição do tráfico dos escravos.
A famosa colónia equatorial obriga, nesta
comemoração, a salientar com realce especial o trabalho dos colonos que
resultou na brilhante realização que ainda hoje refere, perante o mundo, S.
Tomé e Príncipe como um exuberante atestado das especiais aptidões colonizadoras
dos portugueses.
Em S. Tomé e Príncipe a grandiosa obra
realizada tem ofertado generosamente um doloroso tributo de sangue a encarecer,
por preço inestimável, o· sacrifício dos colonos de Portugal.
Assim a homenagem de hoje vai, em sentida saudação,
para aqueles que, em sublime holocausto, no clima inóspito das verdejantes
ilhas equatoriais, realizaram uma grande obra-a sua plantação.
Para essa homenagem e em representação de
todos os demais, que muitos são, destacamos a figura de João Maria de Sousa e
Almeida, t» Barão de Água- Izé, - um dos propulsores da grande agricultura da
colónia.
O 1º Barão de Água-lzé, bem como
Francisco de Assis Belard, Manuel da Costa Pedreira e outros mais,
são símbolos que bem atestam a iniciativa, a inteligência e a actividade do
português que, comerciando e agricultando, realizou em África a mais incontesta
ocupação de territórios para Portugal.
Movia-os o interesse mercantil, é certo,
mas já hoje não se consente, nem mesmo aos mais sentimentalistas, que levem a
mal a provada afirmação de que o lucro é o principal objectivo de todos os
cometimentos humanos.
O 1º Barão de Agua-lzé foi essencialmente
um grande agricultor das ilhas de S. Tomé e Príncipe, dirigindo ele próprio as
suas importantes plantações de café e de cacau.
Os seus serviços foram reconhecidos e
galardoados: "Fidalgo da casa real, do conselho de Sua Majestade,
comendador das Ordens de Cristo e da de Nossa Senhora da Conceição de Vila
Viçosa, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, tenente-coronel de 2.ª linha dos
voluntários de Benguela. Foi 1.0 Barão de Agua-!zé em sua vida, por decreto de
76 de Abril de 1868,,.
Na colónia exerceu, com elevado apreço, o
cargo de presidente do município da capital
As ilhas de -S. Tomé e Príncipe, à data do
descobrimento, eram-diz Piloto, que viveu na primeira metade do século XVI –
todas elas uns bosques espadissimos, com árvores viçosas, e tam
grandes que pareciam tocar no Céu.;
As ilhas referem hoje uma colónia de
plantação exemplarmente apetrechada, devendo especializar-se a parte da
assistência hospitalar, que mereceu ao sábio francês Brumpt os maiores encómios
que foram divulgados pela imprense de todo o mundo.
Essa obra deve-se à iniciativa do colono
que em "O Dia de S. Tomé e Príncipe,, a 1.ª Exposição Colonial
Portuguesa-Porto- 1934 consagra, rememorando um dos mais ilustres- o
Conselheiro João Maria de Sousa e Almeida, 1ºBarão de Áqua-lzé.
Da bibliografia, acerca do Barão de Água
Izé, penso que o livro mais completo é de autoria de
Amândio César, que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, numa das suas
viagens a S. Tomé -
Mas eu vou aproveitar par aqui citar dois
textos, um dos quais de MANUEL FERREIRA (ln «O MUNDO
PORTUGUÊS-1942) inserido no ensaio que, Amândio
César, elaborou na sua obra “Presença do Arquipélago de S. Tomé e
Príncipe - Na modera Cultura Portuguesa
O BARÃO DE ÁGUA-IZÉ
"Quando, em 1934, se ergueu, no velho burgo
nortenho, essa demonstração singular das nossas possibilidades que foi a.
Exposição Colonial, memoraram-se vultos de nome grado.
Para S. Tomé, não se poderia encontrar
figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas
atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na
ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento
agrícola.
Ele- diz a pequena mas elucidativa
monografia que, no «dia de S. Tomé» saiu dos prelos - «como Francisco de Assis
Belard; Manuel da Costa Pedreira e outras mais, são símbolos que
bem atestam a iniciativa, a inteligência e a actividade do
português que, comerciando e agricultando, realizou em Africa a mais
incontestada ocupação de territórios para Portugal».
Importante e abastado proprietário em S.
Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé,
Castelo do Sul e Alto Douro, João Maria de Souza e Almeida deixou o seu nome
ligado à agricultura da Colónia. A ele se deve, em especial, o fomento da
cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em
tão pequena escala que - refere Lopes de Lima nos seus famosos «Ensaios
Estatísticos - em 1826 não havia exportação alguma.
Surgiu João Maria, em 1851, na propaganda
e, dois anos depois, ensinava o modo prático de conservar o cacau, a fim de lhe
conseguir exportação que, em 1857 L em vida do grande agricultor atingia já 12
735 quilos. Em 1899 -diz o Dr. Manuel Ferreira Ribeiro - a exportação do
precioso fruto atingia 11 028 133 quilos. Fez do desenvolvimento dessa cultura
um sacerdócio: foi quem escreveu a primeira memória sobre o assunto, em que
demonstra larga cópia de conhecimentos, trabalho intitulado «As plantações de
cacau nas ilhas de S. Tomé e Príncipe em 1851 e 1858, datado de 15 de Janeiro
deste último ano e dado à estampa no Boletim Oficial da Colónia.
Presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca |
Sendo-lhe concedida, por decreto, uma área
de terrenos para cultivo (1 000 braças ao longo do mar, com um porto, rio ou
enseada) e permitido o transporte de 100 serviçais, João Maria cultivava,
também, a palmeira e o coqueiro, oferecendo todo o óleo preciso para a
iluminação pública de S. Tomé.
Fazia largas sementeiras de milho e
introduzia na colónia, em 1858, as sementes da árvore da fruta-pão. Presidente
da Câmara \Municipal, aproveitou o lugar de destaque que usufruía para fazer
parte de todas as comissões, quer agrícolas, quer de qualquer outro interesse
público.
Promoveu a construção de estradas; ensinou
novas maneiras de plantar; distribuiu, largamente, aos agricultores, sementes
de algodão que mandava vir de Mossãmedes ...
Evidentemente que todos esses serviços não
podiam deixar de ser galardoados. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real;
comendador das ordens militares de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de
Vila Viçosa, tomando em consideração os esforços efectuados para a construção
de estradas e outros melhoramentos e tenente-coronel honorário pelos serviços
em campanha. Pertenceu ao Conselho de sua Majestade e no seu peito brilhava o
colar de cavaleiro da Torre e Espada, ganho em risco da própria vida. Em 1868
era-lhe concedido o título, pelo qual passou à posteridade, de barão de
Agua-Izé com o respectivo brasão de armas.
Manuel Ferreira (ln «O MUNDO
PORTUGUlÊS-1942)
6 comentários :
Caro Jorge Trabulo Marques,
Há muito a fazer pela divulgação de São Tomé e Príncipe. A sua história e a sua cultura são escassamente divulgadas. Encontro aqui, no "Odisseias nos Mares", essa preocupação de informação. Parabéns.
Obrigado pelas amáveis palavras - Adoro estas ilhas, estão-me no coração. Dentro do que me for possível, farei por divulgar o que estiver ao meu alcance
Olá ,
Encontrei o seu blog porque procurava mais informação sobre João Maria de Sousa e Almeida . Sou descendente do mesmo e o meu avô passou parte da sua vida a recolher informações e documentos que possamos usar para completar a história da nossa família .
Gostaria de saber como adquiriu esta informação ? eu sei que há bastantes textos e até mesmo conversas entre descendentes do Barão pela internet .
queria também agradecer por ter escrito a história de João Maria de Sousa e Almeida um pilar na cultura e desenvolvimento de São Tomé !
Obrigado pelo seu comentário: a informação que recolhi foi de forma dispersa - para além daquela que se encontra publica, pude consultar alguns elementos através de um relatório redigida por um inspector do período colonial, cuja cópia me foi facultada - a nível particular - Mas espero voltar a este assunto. Quando voltar a S. Tomé - e mais propriamente ao Principie - espero poder localizar e fotografar a lápide dos seus versos, pois julgo saber onde a poderei encontrar - Sim, vale a pena aprofundar a vida e obra deste extraordinário
homem
Estimado Jorge Trabulo Marques, Sou terceiro-neto de João Maria de Sousa e Almeida, tenho estudado toda a genealogia do 1º barão d'Água-Izé e compilei alguma biografia, muita da qual aqui também colocada por si.
Sou descendente de Luzia Albertina de Sousa e Almeida, filha de João Maria de Sousa e Almeida e de D. Antónia Carolina da Rocha Guimarães, os quais também foram pais de mais cinco filhos, e que estão bem documentados na Torre do Tombo ao terem sido perfilhados.
De quantas mulheres teve o barão filhos?, não "de muitas mulheres das suas roças" como aparece escrito, mas posso afirmar que teve com Rita Bernarda Vieira à sua 1ª filha Leonor de Sousa e Almeida e a Mario da Vera Cruz e Almeida, 2º barão d'Água-Izé, os dois nascidos em Benguela. A mãe de Jacinto Carneiro de Sousa e Almeida, 1º Visconde de Malanza, nascido em S- Tomé, foi D. Bernarda de Sousa (ou Martins Santos) da Ilha do Príncipe, Leopoldina Maria de Almeida mãe de Pascoal, e a referida D. Antónia Carolina da Rocha e Almeida, natural do Rio de Janeiro ao resto dos filhos, ao todo, portanto, teve descendência com quatro mulheres.
Estarei ao seu dispor para o que necessite sobre bibiografia ligada a esta familia.
Obrigado por essa tentativa de reactivar a memória histórica deste grande benfeitor do povo de São Tomé e Principe.
Fernando Leite Velho (fertelde@hotmail.com)
Obrigado pelo seu amável contributo - Congratulo-me pela descendência que tem de tão importante figura na historiografias das maravilhosas Ilhas de S. Tomé e Principe - Quando voltar a abordar o passado deste ilustre filho são-tomense, tomarei a liberdade de o citar - Um grande abraço
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