Jorge Trabulo Marques - Jornalista - - Entrevista ao Armador Carlos Lixa
S. Tomé – Armador Português limpa Baía Ana Chaves, bem como da costa das
duas Ilhas de embarcações afundadas, aposta no apoio à pesca local e defende a
criação de um porto para passageiros, mercadorias e cruzeiros, em Fernão Dias e uma fiscalização eficaz a frotas estrangeiras.
Alguns esqueletos de ferro destes batelões, permaneciam desde a era colonial, em consequência de um violento tornado que assolou a Ilha, lançando a pique as várias dezenas, que ali existiam fundeados, que serviam para transbordo das mercadorias a transportar ou descarregar dos navios que fundeavam ao largo, tal como, ali, ainda hoje sucede, devido à falta de um porto de acostagem. - Tal situação sucedeu justamente na pavorosa noite em que eu largara, numa piroga, da Praia Gamboa para a Nigéria, no qual ainda fui envolvido.
Entrevista em Maio de 2019
Até que, enfim, o principal cartaz de quem visita S. Tomé, a emblemática Baía Ana de Chaves, está sendo desobstruida e limpa das monstruosas carcaças de ferro velho e conspurcador, que emergiam à superfície desde o tempo colonial: - Desfigurados fantasmas, que se assumiam como perigosos escolhos à navegação- Um justo procedimento dado ao nome da mitica princesa ou
dama da corte, Ana de Chaves, descendente de judeus, residente em S. Tomé, na condição
de refugiada das perseguições feitas em Portugal, que deixou indeléveis traços
da sua existência na colónia, onde espalhou o bem a mãos largas, criando e
subsidiando diversas instituições religiosas e de caridade.
Carlos Lixa, empresário português, nas
áreas das pescas e da construção naval, radicado em S. Tomé, desde 2015,
gerente da empresa, luso-santomense,
Fusomar, possuidora de estaleiros, que tem vindo a proceder à limpeza e reciclagem de embarcações
afundadas nas costas marítimas de ambas as ilhas, nomeadamente da Baía Ana de Chaves, no leito
da qual existiam esqueletos de vários batelões afundados, desde o tempo
colonial, que tem vindo a ser removidos
para a sucata, de modo a proporcionar à emblemática baía a beleza e a
segurança, tão desejáveis.
Carlos Lixa, sente-se perfeitamente integrado e confiante
no futuro do povo de STP, que, em seu entender, merece todo o apoio e esforço que se faz pelo seu progresso e bem-estar:
“diz que as instituições têm colaborado, é uma terra pacífica, acolhedora, em
que se lida facilmente com as pessoas, que “se pode sair à noite, que se pode andar
na rua, à vontade, não há problemas”.
Em relação às pescas, diz que tem um projeto para
um frigorifico inerte na Ribeira Funda, estando
já avançar com as obras, para o que espera contar com barcos vindos de
Portugal, construídos no seu estaleiro, pensando também vir a construir outras
embarcações em S. Tomé e uma doca
flutuante, para que os barcos também possam ser inspecionados pelas entidades
competentes.
Quanto aos acordos, com potências estrangeiras,
defende que os acordos deverão ser cautelosos, bem estudados e equilibrados, com as cotas que devem pescar e as paragens, que devem fazer para o pescado puder
reproduzir-se, pelo que defende a necessidade de uma fiscalização, quer no alto
mar, quer junto da costa, “porque eu vejo, muitas vezes, embarcações estrangeiras,
a fazer cerco, muito encostadas à costa! Já cheguei a presenciar atuneiros a
tirar isca, sardinha e carapau, muito encostados à costa”.
Referindo, que, com a vinda do navio “Zaire” já
se impediu que, algumas embarcações, fizessem a limpeza da costa – Considerando,
porém, a necessidade haver mais meios para uma mais eficaz fiscalização.
E apontou o caso dos Açores: “O atum, como se
sabe, é uma espécie migratória, e,
quando o atum emigra de África para os Açores, são precisamente esses arrastões
estrangeiros, com sistemas elétricos, que não deixam fazer a passagem das migrações,
o que, além de reduzir a sua captura, acaba também por não haver peixe que consiga reproduzir-se nas
costas.
Quanto às baleias, nos mares de STP, considera
que deviam ser protegidas de modo a criar
um santuário de baleias para promover o turismo.
Defende que o porto de Fernão Dias, reúne condições
para um porto adaptável a passageiros e a um porto de carga: ”arranjar uma infraestrutura
onde o porto de passageiros pudesse ter uma sala de embarque e onde os passageiros
pudessem ser controlados e onde pudessem receber mais cruzeiros!” -Exemplificando
que, a sua empresa, que também está sediada nos Açores, onde tem constatado que este arquipélago português,
recebe muitos cruzeiros, com um grande pessoa na sua economia local, o que poderia também
suceder em STP.
“Eu como empresário, olho para o mar, como uma
potência e confessa que o mar de S. Tomé e Príncipe, é realmente uma potência
Foi o que mais me chocou quando, 39 anos depois, ao voltar a S. Tomé, me depararei com uma tão bela Baía, sulcada por tão perigosos escolhos ferruginosos. Alguns desses esqueletos cravados de ferrugem e de conchas eram de batelões que foram afundados quando, em Março de 1975, parti de canoa rumo à Nigéria - Foi de noite, e ao aproximar-me do ilhéu das Cabras, comecei por ser atingido por uma violenta tempestade, que deitaria ao fundo vários batelões ali existentes, tal como pude confirmar quando regressei, a S. Tomé, nesse mesmo ano, num avião militar, para concluir a escalda do Cão Grande e tentar a travessia oceânica de canoa -
Embora sejam o testemunho de um certo período histórico, longe de constituírem peças de museu, pelo que o mais aconselhável era serem retirados, até porque estão a escassos metros da vedação da avenida marginal ou então puxados para o mar largo para servirem de corais aos peixes - Deste modo, creio revelarem algum desleixo e um mau contraste na panorâmica de uma baía geralmente tranquila, que deveria transmitir uma imagem de serenidade, de paz e de beleza e não a de um antigo cemitério de despojos naufragados - Pelo menos quando não é assolada pelo mau tempo.
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