Para melhor se conhecer S. Tomé e Príncipe, de facto, não há como que andarilhar a pé ou de bicicleta, tal o exemplo revelado pela cidadã e desportista portuguesa, Rute Norte – Os populares motoqueiros, a bem dizer, chegam a todo o lado, subindo e descendo veredas inóspitas, mas conspurcam os ares com o cheiro do combustível e com a poluição sonora - A bicicleta não entra facilmente na brenha densa da floresta mas dá um grande jeito pelos caminhos mais estreitos. :
Nesta sua crónica, a Rute
fala das suas deslocações ao Jardim Botânico e à Cascata de São Nicolau, sítios obrigatórios do roteiro turístico e, de entre
pormenores, dos famosos caracóis gigantes, que eu costumava encontrar nas digressões
com a minha equipa â escalada do Pico Cão Grande – Naquela altura estava mais
em voga o consumo de carne de macaco de que propriamente a dos caracóis. Hoje,
receia-se comer a dos macacos, por via das ébola e ataca-se o pachorrento caracol
Aqui lhe deixo algumas
fotos e excertos de mais uma das suas surpreendentes crónicas, que o Téla Nón, também editou Em https://www.telanon.info/turismo/2019/10/22/30242/rute-norte-em-stp-550-km-de-bicicleta-29-dias/
"Quando me fui embora da
Cascata, estavam a chegar 3 carros com turistas.
Esta povoação chama-se
Nova Moca e está muito perto da Cascata de São Nicolau. São 10h44, e agora vou
à Lagoa Amélia. Está decidido. Mais outra grande subida. O GPS diz que são 9 km
e 500 metros de subida. A subida do Gaspar, por exemplo, na ilha do Príncipe,
era 190 metros. Mas se agora fiz 14 km sempre a subir (incluindo o desvio pela
Roça Monte Café) agora faço mais 9 km, porque certamente não vou voltar aqui,
não vou voltar a fazer esta subida toda desde Belém para chegar a esta zona. E
quando regressar ao hotel será tudo a descer, é só sentar-me na bicicleta e
deixar-me ir; e posso almoçar antes aqui no restaurante-museu. Vamos a isto,
Rute, força, mexe-te!
As crianças chamam-me
“Branquinha! Branquinha!”, mas os adultos repreendem-nas. Este rapaz veio ver o
que se passa, com tamanha agitação entre as crianças. Chama-se Arcelino, é guia
turístico (apresentou-se) e conhece o Célio Santiago.
Quer as senhoras da foto
anterior, quer o Arcelino, dizem-me que a Lagoa Amélia é muito longe e que leva
duas horas a pé desde o Jardim Botânico. E que eu devo levar calças. (Mal sabem
eles que eu não uso calças, e o que já passei no Pico do Príncipe…).
O GPS diz que são 5,2 km
e 330 metros de subida até ao Jardim Botânico, desde a Cascata. Fiquei indecisa
sobre o que fazer. Vai chegar a hora de almoço, e pelo andar vai chegar a hora
do lanche, e eu nos caminhos da Lagoa Amélia.
Pronto, desisti e voltei
para trás.
Mas eu não quero ir
embora já. São 11 da manhã, posso ir até ao Jardim Botânico, e depois almoço
aqui no restaurante-museu. “Ai!…” – disse alguém neste grupo, quando me viu
virar a bicicleta para trás. (“Ela decidiu qualquer coisa…”) Até me ri. Pois
decidi ir ao Jardim Botânico.~
Tudo fica molhado com
este nevoeiro. Eu também protegi o telemóvel, que ainda não recuperou da
chuvada do Príncipe, quanto mais encher-se já de humidade outra vez.
Cheguei ao Jardim
Botânico! São 11h45 e tenho 19,5 km. Levei 45 minutos a subir, portanto. Desde
Belém até aqui são 870 metros de subida total. Mais um pouco e fazia o mesmo do
Pico do Príncipe. A diferença é que agora não vou mexer uma palha para descer,
sento-me e pronto, é a bicicleta que me leva. (E não andei num emaranhado de
florestas e cobras!!) (Que pena…).
Está frio! Eu venho
quente da subida, mas agora irei arrefecer. Trato de vestir a camisola de manga
comprida que trago na mochila. Estava eu nestas lides quando apareceu a Isilda,
nesta foto. Trabalha aqui no jardim botânico, trata da limpeza do jardim, e é
guia. Indicou-me que estamos a 1.125 metros de altitude. Salvo erro foi este
número que a Isilda me disse. Quem nos tirou a foto foi um rapaz santomense que
é guia turístico e que trouxe aqui um casal de turistas no seu jipe. Deveria
estar a aguardar por eles. Eu não estou com um ar muito convencido a vê-lo
tirar a foto, porque a máquina não estava a conseguir focar, com este nevoeiro,
e estava a recusar-se a tirar a foto. O rapaz não conseguia tirar a foto, foi à
terceira ou quarta tentativa.
Sinto-me numa autêntica
twilight zone, neste nevoeiro silencioso.
Esta placa fala sobre a
Lagoa Amélia: (passo a transcrever):
Segundo contos populares,
Amélia, uma jovem portuguesa, teria desaparecido na Lagoa Amélia, daí deriva o
nome. A Lagoa Amélia é uma antiga cratera de vulcão situada a 1.450 metros de
altitude no Parque Natural Obô, e dista duas horas de marcha a partir do jardim
botânico de Bom Sucesso. As beiras apresentam uma associação botânica única
formada por Begonia baccata e Cyathea manniana.
Hoje em dia, uma grande
parte da cratera está a ser invadida por um arbusto. Nestes termos, este
ecossistema natural poderá desaparecer se não forem tomadas medidas para
controlar o fenómeno. Isto mostra-nos de facto que os ecossistemas são
complexos e em evolução constante. Atualmente a cratera está coberta por uma
camada de ervas baixas e hospeda numerosas plantas muito raras da flora de São
Tomé. Este tipo de vegetação apresenta uma fisionomia muito parecida com aquela
que cobre o cimo do Pico de São Tomé.
Búzio d’Obô. (Recordo que
“Obô” significa floresta densa). Este búzio é uma espécie endémica de São Tomé
e Príncipe, ou seja, só existe aqui e em mais lado nenhum no mundo. É um
caracol gigante africano. O seu nome científico é Archachatina bicarinata, e vive
nas montanhas da floresta tropical primária. Devido à perda de habitat, à
coleta em massa das conchas, e à sua apanha para alimentação, este caracol
gigante é uma espécie em declínio, classificada como vulnerável.¹
Estes animais têm hábitos
noturnos, são polífagos (ou seja, têm uma fome insaciável) e hermafroditas,
produzindo grandes quantidades de ovos, sendo muito procurados para fins
medicinais, ornamentais, como animais de estimação e, por fim, pelo
considerável valor, sobretudo no território africano, como recurso alimentar.
Este caracol gigante –
Archachatina bicarinata – tem sofrido um declínio acentuado em ambas as ilhas –
Príncipe e São Tomé – nas últimas décadas. A introdução do caracol gigante do
oeste africano Archachatina marginata, ou búzio-vermelho, está entre as
prováveis causas deste declínio. O búzio-vermelho existe em quase todo o país,
preferindo plantações e florestas secundárias de baixa altitude, e evitando as
zonas de floresta nativa. Já o endémico búzio-d’Obô encontra-se restrito às
florestas nativas mais remotas. O invasor encontra-se maioritariamente em áreas
mais degradadas, ocupando uma proporção muito mais significativa das ilhas.
A população atual do
búzio-vermelho é composta por uma elevada proporção de juvenis, em contraste
com a do endémico, em que claramente predominam os adultos.
Existem também diferenças
nos padrões de atividade diária de ambas as espécies, com o endémico a ser
principalmente diurno e o invasor a preferir estar ativo durante a noite. Os
estudos sugerem que o declínio acentuado do búzio-d’Obô pode estar relacionado
com a introdução do búzio-vermelho nas duas ilhas.²
Veja outros pormenores e imagens em https://rutenorte.com/cronicas-de-viagens/sao-tome-e-principe-550-km-de-bicicleta-sozinha-29-dias/31-60/#toggle-id-8
Nenhum comentário :
Postar um comentário