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sábado, 28 de dezembro de 2019

Columbano Bordalo Pinheiro – Pintura inédita da fase em que o pintor fora “preterido em dois concursos para bolseiro do Estado em Paris” por via das criticas às suas obras ditas inacabadas.

  Jorge Trabulo Marques - Jornalista
 
Carlos Henriques - Encantado com esta obra de Columbano
 

Assinado e com o carimbo da Fabrique de Couleurs Fines - Paris

"Isto é maravilhoso! Uma obra esplêndida! Sente-se o traço da pincelada! A rapidez da execução! A segurança" - Declarou-nos o pintor Carlos Manuel Henriques - Ouça a entrevista " Quadro de Columbano,  que o Museu do Chiado  se recusou  a vê-lo e analisá-lo mas o pintor-retratista, Carlos Manuel Henriques, quase ficou sem palavras quando o teve nas mãos -  (postagem atualizada)
QUADRO A ÓLEO INÉDITO DE COLUMBANO BORDALO PINHEIRO

Retrato de Maria Cristina Bordalo Pinheiro. ,
Verso da tela sobre cartão e carimbada
Belíssimo quadro de Columbano Bordalo Pinheiro,  que mostrámos ao pintor Carlos Manuel Henriques, um dos mais exímios e talentosos  retratistas portugueses da atualidade, deixou-o encantado,  contemplativo e quase sem palavras, na breve entrevista que nos concedeu no seu estúdio, no bairro da Quinta das Conchas, em Lisboa, a quem mostrámos um retrato feminino, provavelmente de  Maria Cristina Bordalo Pinheiro.
Entrevistado no seu estúdio, com o quadro em suas mãos, Isto é maravilhoso! Uma obra esplêndida! Sente-se o traço da pincelada! A rapidez da execução! A segurança!.. De uma pessoa que domina tranquilamente o retrato, que já é quase como  a respiração! Como quem respira e não sabe que respira!... É de uma beleza, de uma delicadeza!... As nuances!... Podia-se estar-se horas a contemplar esta obra!...Esta mistura de cores!... Esta expressão silenciosa!... É magistral!... É uma pessoa que executou centenas de retratos!



"Isto é um jogo de cores que sai fora da roda cromática!... No meu saber, pelo que eu estudei nas faculdades e nos livros que tenho lido, isto é tons quebrados mas não há sujidade quanto à pintura, quando está tudo em harmonia: é um jogo de cores que sai fora da roda cromática, mas muitas elas harmoniosamente conjugadas !... É divino!... Quem me dera!... Isto é para perder o olhar numa beleza infinita!... Uma obra deste encanto, nunca cansa!... E depois não é pretenciosa!... É uma obra que ele pinta, que não tem que ser a mestria das mestrias!... Sai tão, naturalmente, que isto até faz impressão!...



Carlos Manuel Henriques – O Artista português, que não esquece a sua dura infância nos tempos de Salazar:a minha triste sorte de ir para um colégio de órfãos aos três anos de idade, afastado do afeto da minha família, os meus olhos de criança fixaram-se na arte do desenho logo muito cedo
Numa entrevista ao Goethe-Institut, declarou: “Eu consigo viver com a minha arte. Com muito jogo de cintura, mas sem atropelar ninguém. Dou aulas de pintura para idosos e no meu tempo livre, quando tenho encomendas, faço pintura de retratos comerciais. Quando me sinto um pouco seguro vou pintar para uma exposição, aquilo que realmente mais amo nesta vida. http://www.goethe.de/ins/pt/lp/prj/toa/art/fto/pt14960177.htm

Obra aparentemente inacabada por assim o seu autor a  dar  por  acabada, segundo a visão artística de quando a pintou ou mero esboço de estudo por acabar? - Atente-se nestas linhas:

"Preterido em dois concursos para bolseiro do Estado em Paris, notado pela crítica que se divide em opiniões contrárias, havendo quem acuse a sua paleta de tons sujos e esverdeados e a falta de acabamento dos seus quadros, organiza em 1880 uma exposição de parceria com António Ramalho. http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Entidades/EntidadesConsultar.aspx?IdReg=68466- 


Terá sido este um desses quadros? 


Como é sabido, não foram muitos os retratos  de figuras femininas legados por  Columbano Bordalo Pinheiro, e, talvez, numa análise simplista, a magnifica  pintura a óleo, que aqui lhe revelo, publicamente e pela primeira vez, obra da propriedade de colecionador particular, embora possa fazer lembrar o chapéu e alguns traços do rosto do famoso retrato de Maria Cristina Bordalo Pinheiro – 1912 -  é  bem  possível que, para  o observador menos familiarizado sobre a vida e a obra de Columbano,  ou  sobretudo  para os mais desatentos, desde a assinatura  a outros pormenores inscritos na moldura ou nas costas da tela, a sua leitura ou interpretação pictórica, possa escapar  ao estilo que  mais o notabilizou e, consequentemente,  lhe suscite algumas reservas ou dúvidas: daí a  particular importância    que possa vir assumir para os  estudiosos que  queiram debruçar-se  sobre a vida e a obra daquele  que  teve apenas um grande amor na sua vida, a pintura - Considerado como um dos maiores pintores portugueses, conhecido principalmente pelos retratos e, ao público em geral, pelo nome que emprestou a uma avenida de Lisboa que desemboca na Praça de Espanha. .

ALICIANTE DESAFIO PARA OS INVESTIGADORES DA OBRA DE COLUMBANO -, Pois, tendo o autor postado a sua assinatura, é tratar-se de uma obra tal como o artista a concebeu, o que fazia torcer a venta aos formalistas. 

Assinatura de Columbano 
Na verdade, tendo Columbano, se revelado um grande apaixonado pelos retratos humanos,  dir-se-ia que, só impondo um cunho pessoal, poderia deixar veiculado a originalidade e a força do seu talento .

O facto de um retrato parecer não concluído, tal não significa que  seja estudo ou obra inacabada -  Naturalmente, que o pintor terá executado os traços que achou fundamentais, apelando à imaginação do observador  e não a enveredar pela cópia do tradicional realismo clássico. 
 UM PAÍS POBRE INCULTO FOI SEMPRE MADRASTO PARA COM OS SEUS MAIORES. Columbano também sentiu esse doloroso espinho.

Em 1914, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro,  então professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa (1901-1924), presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes(1902 e 1914), sendo ainda o artista responsável pelo desenho da Bandeira Nacional após a Implantação da República (1910).,  em 14 de agosto de 1914, assumiu a direção do Museu do Chiado, tendo vindo mesmo a doar grande parte do seu espólio ao referido espaço museológico nacional que continua a fazer das suas  200 obras, entre pintura desenho e escultura, a principal atração artística.

"Columbano sofreu críticas da Direção da Sociedade Nacional de Belas-Artes em Julho de 1927, pela sua ação como diretor do MNAC. A Comissão Executiva de Arte e Arqueologia defendeu-o e solidarizou-se com ele, considerando que tinha liberdade no arranjo e apresentação do museu. No entanto, o pintor estava a terminara sua carreira como diretor, sendo posteriormente retirado do lugar pelo motivo de ter atingido  mais de 70 anos, em sequência da publicação  do Decreto de limite de idade, a 2 de março de1929. No dia 21 de março, foi homenageado   pela Comissão Executiva do Conselho de Arte e Arqueologia. Anunciava-se então que ele iria ser   nomeado diretor honorário do MNAC Porém, em vez disso,  referia o Século, o Governo acordou em conceder-lhe uma pensão vitalícia.

"Para quem tanto havia dado ao Museu e vivia intensamente a este, este procedimento foi interpretado como um duro golpe no artista. “No dia  30 de abril, Raul Brandão diria, a este propósito, que o pintor morreu “no dia em que tiraram (…) o lugar de director do Museu, ao qual se tinha dedicado apaixonadamente, gastando com ele até as suas economias. Nunca mais pôde dormir (…)” (Brandão, 2000, 201). De facto, o artista faleceu pouco tempo depois, em Lisboa, no dia 6 de novembro desse mesmo ano https://www.academia.edu/38684340/Columbano_Bordalo_Pinheiro

Auto-retrato inacabado
Filho de peixe sabe nadar: foi o exemplo deixado por Columbano Bordalo Pinheiro, que,  por genial talento e também  por ter um pai que já era escultor e pintor, cedo despertou para as artes. 
No entanto, nem por isso teve a vida facilitada pelo Estado, que, por duas vezes, lhe recusou esse apoio. Após a sua  formação artística na Academia de Belas Artes, quis ir para França para ali enriquecer os seus conhecimentos mas só  lograria ir para Paris, em 1881, graças a uma bolsa da Condessa de Edla, na companhia da irmã Maria Augusta
"Ele é o autor de poderosos "retratos psicológicos" tirados a importantes personagens de um país em mudança. Na viragem do século XIX, Portugal está nos quadros de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), pintor intimista e "observador de almas".
Pintou paisagens, temas históricos, naturezas mortas mas foi como retratista que o seu génio se distinguiu e fez único. São dele os retratos mais expressivos e densos das grandes figuras do início do século XX português. Artistas, escritores, intelectuais, presidentes da República, a todos Columbano Bordalo Pinheiro “desvendou os segredos da alma” com a sua paleta sóbria, intimista e misteriosa.

Nascido em família de artistas, a pintura foi uma descoberta precoce e inevitável na sua vida. Do pai, Manuel Maria Bordalo Pinheiro, pintor e escultor de talentos reconhecidos, recebeu o dom e os primeiros ensinamento" - Extraído de
 

  Columbano, deixou-nos há 90 anos e as suas obras, por mais  admiradas que sejam,  não vão reproduzir-se ou multiplicar-se como as flores num jardim!... Há, pois, que saber olhar o  seu legado, se possível com a mesma paixão como ele o viveu e nunca  negligenciar nenhuma das suas expressões artísticas: - Até porque, tanto quanto me foi dado saber, quer nas minhas pesquisas, quer nas entrevistas que  fiz a vários pintores e aos maiores colecionadores  portugueses,  desde Cupertino  de Miranda a Azeredo Perdigão, editadas neste site  (além de Presidente da Gulbenkian, que também exerceu enorme influencia na escolha das obras para o Museu, pós morte do fundador) http://www.vida-e-tempos.com/2016/06/arthur-cupertino-de-miranda-confissoes.html

http://www.vida-e-tempos.com/2013/02/azeredo-perdigao-o-que-me-revelou.html sim, a imagem que geralmente fica para a posteridade é o estilo que depois notabiliza  o artista e  não propriamente enquanto o não define e se não destaca 

 Para  um mais aprofundado esclarecimento e informação de que tem  responsabilidade nas artes ou nos museus, julgo que seria bom  que se  atentasse nestas palavras de Columbano:  segundo o mestre para se ser pintor bastava pensar na pintura a todas as horas, no atelier, em casa, na rua, de paleta na mão ou nas folgas, a comer, a sonhar pintura, em detrimento de outros sonhos 438. Não seria necessário ao pintor ter um conhecimento alargado dos materiais de pintura, pois segundo Columbano isso iria distraí-lo do essencial: No dia em que pretendermos teorizar as razões históricas, físicas ou químicas dos ingredientes luminosos e coloridos, adeus arte, adeus pintura, adeus quietude e serenidade contemplativa http://docplayer.com.br/80513756-Materiais-e-tecnicas-da-pintura-a-oleo-em-portugal-estudo-das-fontes-documentais-volume-i.html


Porém, tal como  se documenta neste trabalho, a sua autenticidade é devidamente  comprovada, tanto pela assinatura, apostada no canto inferior direito  mas especialmente  pelo pormenor do carimbo (embora já muito esbatido e de difícil leitura) do "FABRIQUE DE COULEURS FINES - Paul Denis Succ Paris –   Que detalhados estudos revelam como sendo seu amigo, que lhe vendia tintas e telas e de cujos materiais se serviu para executar vários retratos, tal  como é descrito, pormenorizadamente, por  Ângela Sofia Alves Ferraz, Mestre em Museologia e Património pela Universidade Nova de Lisboa, na sua dissertação académica para obtenção do Grau de Doutor  em Conservação e Restauro do Património, Especialidade em Teoria, História e Técnicas,  importantíssima pesquisa  que tomo a liberdade de  citar.

PORMENORES DO HISTÓRICO DA CASA PARISIENSE DO SEU AMIGO PAUL DENIS, DE ONDE COLUMBANO SE FORNECIA DE MATERIAIS PARA A SUA OBRA  - Maison Merlin Paul Denis Succ Paris  1882- 1905

Executivos da empresa:1882-1905: Paul Denis - 1906: Bourgès
(…) 1892-1893: "(...) especialidade de pincéis, pincéis, baldes, paletas e arruelas. Fabricante de cores líquidas PD para imitação de tapeçarias. Tecidos de goblin e outros. Fábrica de vernizes e ferramentas para gravadores de água Novo pulverizador PD com posição fixa, o único sempre pronto para uso. Pasta Rubens para evitar borrifos. Jumeline Denis para limpar pincéis. (...) "
(...) 1903-1905: "Denis (P.). Fabrica cores finas para óleo e aquarela, telas, painéis, pastéis, caixas, cavaletes, molduras, pincéis e pincéis. Cores de esmalte PD Cerâmica gravada para decorar. Cores de tapeçaria PD Toiles Gobelins, verniz, ferramentas para gravação, trabalhos em couro,

Auto-retrato-Jose-Maria-Veloso-Salgado-1864-1945-1931-oleo-sobre-tela_.– Pormenor do carimbo observado de fabrico da tela pela Maison Merlin Paul Denis Succ Paris, dando-se como exemplo o carimbo observado no verso na pintura 4089.  – Estudo de  Ana Mafalda Cardeira


Materiais e Técnicas da Pintura  a Óleo em Portugal (1836-1914): Estudo das fontes documentais - De  Ângela Sofia Alves -

(…)  Maison Merlin Paul Denis Stéphanie Constatin e Clotilde Roth-Meyer destacaram a importância que, no século XIX, os fornecedores de materiais de pintura tinham na vida dos artistas. Segundo estas autoras, para além de fornecerem os materiais necessários para o exercício da pintura, os fornecedores serviam de intermediários entre os pintores e os possíveis clientes na venda das suas obras, bem como, em algumas situações, também lhes garantiam suporte financeiro. Assim, tanto Constatin como Roth-Meyer apontam diversos exemplos de relações privilegiadas e de amizades profundas entre alguns pintores franceses com os seus fornecedores. 

 No âmbito deste estudo, o exemplo desta natureza mais claramente identificado foi o da relação do pintor Columbano Bordalo Pinheiro com o fornecedor francês Paul Denis (Maison Merlin Paul Denis) (Figura 4.13), com loja na rua dos Médicis, próxima do Jardim do Luxemburgo, em Paris.

Não se sabe quando se terão conhecido embora seja possível que tal tenha acontecido entre 1881 e 1883, anos em que Columbano esteve em Paris 1293, tal como dava conta Diogo de Macedo na biografia que escreveu sobre o pintor em 1952: Fora desta vadiagem de estudante, só saía do atelier a tomar ar no Luxemburgo, atravessando o jardim para dar dois dedos de conversa com o
vendedor de tintas e seu amigo Paul Denis [ ] Já de novo em Portugal, Columbano terá continuado a utilizar materiais deste fornecedor. Veja-se que o retrato de Ramalho Figura 4.13 Auto-retrato de Paul Denis no atelier do pintor Eugène Favier. c. 1897, col. Tourett. Fotografia reproduzida em: Autour de Paul Denis, 2007, p Pamplona, 1948: Constantin, 2001: 49-67; Roth-Meyer, 2004: Ver anexo 21, F Lapa, 2007: Macedo, 1952:


Figura 4.14 Carta de Paul Denis a Columbano Bordalo Pinheiro. 2 Jan Arquivo do MNAC-MC. Ortigão, pintado por ele em 1885, apresenta no verso o carimbo da Maison Merlin Igualmente, na correspondência de Columbano, consultada no MNAC-MC, encontraram-se provas que confirmam a acessibilidade aos materiais fornecidos por Paul Denis nos anos seguintes. Em 1890, numa carta da companhia francesa de expedições de Charles Vaumorin, dirigida ao pintor, informa-se que lhe foi enviada uma encomenda de Paul Denis Porém, a documentação que melhor testemunha isso mesmo são as seis cartas que Paul Denis dirigiu a Columbano em 1900, 1910 e Numa carta de 2 de Janeiro de 1900, Paul Denis dá conta do envio de duas embalagens expedidas anteriormente a 8 de Novembro 1297 (Figura 4.14). Também na carta datada de 10 de Novembro desse ano são referidas faturas correspondentes ao envio de diversos objetos, nomeadamente painéis de madeira, sendo que também se enviava então uma amostra de um painel inglês que Paul Denis gostaria que Columbano experimentasse 

A 23 de Agosto de 1910 Paul Denis referia igualmente o envio de objetos, como fotografias, molduras e livros Columbano, Retrato de Ramalho Ortigão, 1885, óleo sobre madeira, 19 x 14,5 cm, Museu de Grão Vasco, inv. n.º Charles Vaumorin [Carta] 1890 Jul. 30, Paris [a] Columbano. Acessível no Arquivo do MNAC-MC Paul Denis [Carta] 1900 Jan. 2, Paris [a] Columbano. Acessível no Arquivo do MNAC-MC Paul Denis [Carta] 1900 Nov. 10, Paris [a] Columbano. Acessível no Arquivo do MNAC-MC Paul Denis [Carta] 1910 Ago. 23, Paris [a] Columbano. Acessível no Arquivo do MNAC-MC. 234



Esta documentação comprova ainda que Paul Denis seria o responsável por todo o processo de embalagem e entrega das obras de Columbano nas exposições que realizou em Paris. Na primeira carta, de 1900, Paul Denis dava indicações sobre a forma de enviar as pinturas para o Salon (Figura 4.14) Também em 1910, numa carta dirigida a Columbano, a 9 de Março, Paul Denis informa-o de ter apresentado as suas duas obras no Salon 1301 e, posteriormente, noutra carta datada de 23 de Agosto referia ter embalado as duas pinturas na mesma caixa No ano seguinte, Columbano expôs novamente no Salon da Societé Nationale de Paris apresentando dois retratos 


De acordo com uma carta datada de 20 de Março, mais uma vez teria sido Paul Denis a tratar de todo o processo Para além de estar envolvido nos procedimentos referentes às exposições em Paris em que Columbano participou, Paul Denis também se encarregava de tratar das diligências necessárias à venda das rendas executadas pela irmã do pintor, Maria Augusta A relação de proximidade entre Paul Denis e Columbano é ainda evidenciada por outra correspondência consultada que dá conta de que tanto em 1910 como em 1912, anos em que Columbano esteve em Paris, frequentou a casa do fornecedor. 


A 30 de Junho de 1910 Columbano escreveu à esposa: Muito obrigada pela tua cartinha que recebi hoje em casa do Paul Denis [ ] No mês seguinte, referia-se novamente a essa estadia: Envio um retrato tirado em casa do Paul Denis num domingo que passei com eles em Orsay Em 1912, numa carta dirigida à sua irmã Maria Augusta, Columbano mencionava não só ter ficado novamente em casa do fornecedor como também ter pintado o seu retrato e da esposa: Estivemos dois dias em Orsay em casa do Paul Denis e muito falamos de ti lastimando que a mana Augusta não tivesse vindo também.

Eu pintei o retrato dele a da M.me Denis. Sobretudo o retrato do Denis foi feliz. Era a primeira vez que pintava em Paris, depois de mais de trinta anos Outros pormenores do mesmo estudo, mais à frente

ESTUDO A ÓLEO DE ESPECIAL RELEVÂNCIA  NO APROFUNDAMENTO  DA OBRA DE COLUMBANO BORDALO PINHEIRO  - Na série de retratos femininos

Museu Grão-Vasco
Na verdade, embora sejam conhecidos alguns estudos de Columbano Bordalo Pinheiro, mas não como obras autónomas e inacabadas. Dir-se-á  que este é um exemplo raro  “O primeiro estudo de Columbano que se conhece é uma pequena cópia , feita aos 11 anos, do quadro “ A Barca de Dante”, de Delacroix , tem a indicação no verso, copiado por Columbano Bordalo, em 1868. Era possuidor da curiosa estreia do pequeno artista, em 1929, o  Sr. J. C. da Silva Barbosa, e o quadrozinho foi publicado nesse ano pelo Diário de Noticias” – Refere um ensaio bibliográfico de  Giacinto Manuppela, MANUPPELLA, intitulado - Dantesca Luso-Brasileira - Subsídios para uma Bibliografia da Obra e do Pensamento de Dante Alighieri.

Estudo preparatório - Concerto de Amadores
Os estudos mais conhecidos de Columbano,  são os esboços de grandes obras que viria a concluir, entre os quais  um estudo preparatório do célebre “ Concerto de Amadores (Paris, 1882),  considerada uma das mais importantes obras do século XIX português, "o único pintor do século XIX com interesse internacional". feita para o Salon de Paris de 1882, quando Columbano era bolseiro em França.. segundo palavras do Pedro Lapa, em 2005, citadas no Público, pela jornalista Isabel Salema.

Concerto de Amadores  - Obra completa
No seu artigo, sob o títuloColumbano quase impressionista hoje em leilão”, era referido que  uma importante obra do pintor português Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) vai hoje a leilão em Lisboa com uma base de licitação entre 150 mil e 250 mil euros” – Tratava-se, pois,   de “um estudo preparatório do célebre O Concerto de Amadores (Paris, 1882), do Museu do Chiado. https://www.publico.pt/2005/06/07/culturaipsilon/noticia/columbano-quase-impressionista-hoje-em-leilao-1225170

“Columbano inventou a pintura moderna”  - Escrevia também o Público, por Isabel Salema, em 16 de Fevereiro de 2007, a propósito da apresentação de uma retrospetiva no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, inserida no âmbito dos 150 anos do nascimento de Columbano Augusto Prostes Bordalo Pinheiro, ou simplesmente Columbano

Referindo que “O pintor deixou grande parte da sua colecção ao Museu do Chiado, cerca de 200 obras, entre pintura desenho e escultura. "Obrigou a família a doar tudo", conta o director.
(...) Num país onde pouco se reflecte a pintar, é possível encontrar na obra de Columbano "um meta-discurso sobre o a condição do trabalho do artista", diz Pedro Lapa. E dá o exemplo de um triângulo de pinturas, onde Columbano faz uma reflexão sobre a própria pintura, o papel do modelo, do artista e da recepção.

Na pintura O Meu Atelier, a preferida do director do Chiado, que é um auto-retrato do artista pintado no seu próprio atelier, há uma reflexão sobre a efemeridade da vida e a possibilidade do artista se transcender a partir da arte que realiza. Estão lá as tintas na paleta do pintor e um quadro, por detrás, já acabado. Esse quadro é o Retrato de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, o seu sobrinho, filho do irmão Rafael. – Excerto de https://www.publico.pt/2007/02/16/jornal/columbano-inventou-a-pintura-moderna-136930

UM HOMEM POUCO SOCIÁVEL -
Noutro interessante artigo,  e por ocasião da mesma efeméride, recordava o CM, que, “ao contrário do sensualista Rafael, que o apresentou aos círculos da intelectualidade lisboeta, Columbano era um homem pouco sociável, dado a “súbitas reacções de fúria e pequenas teimosias de solitário”, nas palavras do historiador de arte José-Augusto França. https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/columbano-o-artista-que-teve-um-unico-amor


DE ENTRE OS VÁRIOS PINTORES  FAMOSOS QUE SE ABASTECIAM DE MAISON MERLIN CHARLES OLIVIER DE PENNE (Francês 1831-1897)
Ponteiros no campo

Óleo no painel chanfrado
12 -1/2 x 9-1 / 2 polegadas (31,8 x 24,1 cm)
Assinado inferior direito: Ol. de Penne
Gravado no verso: Fabrique de Couleurs / [...] / Maison Merlin / Paul Denis Succ. / Paris rue de Medices [?] 19

Penne era um desenhista e pintor talentoso que se distinguia tanto como caricaturista de L'Illustration </ Antes de passar para assuntos históricos, acabei alcançando a maioria das celebridades artísticas de pinturas de animais, principalmente cães. Como atesta o presente trabalho, ]https://www.icollector.com/Olivier-de-Penne-FRENCH-1831-1897-Pointers-in_i7489358


Materiais e Técnicas da Pintura  a Óleo em Portugal (1836-1914): Estudo das fontes documentais - De  Ângela Sofia Alves

 (...) A casa Merlin foi fundada em 1861 por Denis Merlin, tendo Paul Denis, em 1891 assumido a sucessão do negócio A avaliar pelos depoimentos presentes no folheto, a grande maioria dos artistas afirmava conhecer e usar os produtos desta marca há já muito tempo. Por exemplo, o pintor Carlos Reis afirmava o seguinte: Desde os meus primeiros estudos de pintura até hoje nunca deixei de me servir das tintas fabricadas pela antiga casa Merlin. De acordo com os testemunhos presentes no folheto, as tintas da marca Merlin gozavam de excelente reputação entre os artistas, sendo-lhes destacada a sua grande qualidade. Para além das características de estabilidade, anteriormente apontadas (3.3.3), outros aspetos eram igualmente realçados, como por exemplo, a fluidez e brilho mais intenso,


(..) A qualidade do branco de prata fornecido pela casa Merlin era destacada por Domingos Costa que o considerava uma especialidade e por Ernesto Condeixa que dizia ser excelente. Tal como Columbano, também José Malhoa parece ter tido uma relação próxima com Paul Denis. Segundo o seu testemunho no folheto publicitário organizado por Leonel de Abreu, utilizaria as tintas a óleo da Casa Merlin há vinte anos. Para além disso, segundo Nuno Saldanha, em 1904, Malhoa terá exposto quatro obras na Galeria de Paul Denis e dá conta do incentivo que o fornecedor lhe terá dado na divulgação da sua obra: De facto, tendo enviado quatro pequenos quadros pintados em Figueiró dos Vinhos no ano anterior, para serem emoldurados na oficina de Paul Denis, o mesmo resolveu expô-los (segundo Malhoa, à sua revelia), e que causaram uma boa impressão a todos os artistas franceses que ali se deslocavam. 


O artista desconfiado pela excelente notícia, resolveu, por via das dúvidas, ir observar o fenómeno pessoalmente: e eu julgando ser só amabilidade do homem fui lá hoje pª me certificar, e vi e ouvi com estes, que a terra há-de comer, o que eu nunca julguei poder ouvir!! Tive vontade de dar cambalhotas pelas ruas fora! 1315 A utilização de materiais da casa de Paul Denis, por parte de José Malhoa, é também evidenciado pelos carimbos presentes no reverso das suas pinturas. É o caso, por exemplo, das pinturas: Festejando o S. Martinho (1907) 1316 ; Marinha (1916) 1317, e de À Beira Mar /Praia das Maçãs (c. de 1926) 


No Museu de José Malhoa encontra-se também um móvel para guardar tintas com a marca da Maison Merlin Paul Denis (Figura 4.16). Outras provas, nomeadamente carimbos nos reversos de pinturas, evidenciam o uso de materiais da casa Merlin-Denis por parte de outros pintores que não se encontram indicados no referido folheto publicitário. É o caso de Veloso Salgado. Dele identificaram-se dez pinturas em tela e cartão fornecidos pela casa Merlin-Denis, todas elas executadas possivelmente durante o seu período de pensionato em Paris, entre 1887 


(…) João Vaz, no folheto publicitário referido anteriormente, dava conta de ter tido ocasião de visitar esta casa quando propriedade de Paul Denis. Esta referência sugere que em 1909, data de publicação do folheto, a companhia já não se encontrava nas mãos de Paul Denis, embora todos os outros testemunhos na mesma fonte dessem conta do contrário. De facto, de acordo com uma carta de Paul Denis, dirigida a Columbano a 9 de Março de 1910, a companhia tinha anteriormente sido vendida passando a chamar-se G. Bourgés Contudo, segundo Denis, o seu sucessor não fora capaz de honrar os compromissos assumidos e, como tal, acabara por recuperar a companhia. Assim, todas as cartas consultadas enviadas a Columbano nos anos de 1910 e 1911 foram escritas em papel timbrado ainda com a marca G. Bourgés (Figura 4.18). Igualmente, a pintura realizada por Columbano em 1912, Paisagem Bruges 1329, apresenta no reverso o carimbo da G. Bourgés e nas duas caixas de tintas do pintor pertencentes ao MNAC-MC encontram-se igualmente tubos de tintas com esta marca Estas provas indiciam que depois de 1910, quando já tinha recuperado a companhia, Paul Denis terá continuado a vender materiais com a marca G. Bourgés Paul Denis [Carta] 1910 Mar. 9, Paris [a] Columbano. Acessível no Arquivo do MNAC-MC Columbano, Paisagem - Bruges, 1912, óleo sobre madeira, 19 x 22,5 cm, Museu de Grão Vasco, inv. n.º Estas caixas encontram-se em estudo no DCR-FCT, onde foram consultadas. 241 - Excertos de

http://docplayer.com.br/80513756-Materiais-e-tecnicas-da-pintura-a-oleo-em-portugal-estudo-das-fontes-documentais-volume-i.htmlto

COLUMBANO BORDALO PINHEIRO – Nasceu em Cacilhas, em, 21/11/1857, faleceu em Lisboa, 06/11/1929

:Filho do pintor e gravador Manuel Maria Bordalo Pinheiro, irmão do caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro, Columbano – o mais independente dos pintores portugueses do século XIX - nasceu ocasionalmente em Cacilhas a 21 de Novembro de 1857. Educado num ambiente de preocupações artísticas, no exercício do desenho e da pintura, a sua primeira e mais marcante escola foi a oficina do pai – pintor de cenas de género que viajara para copiar obras de Velasquez e dos mestres holandeses e flamengos do século XVII. É esta a fonte que alimenta o poder de análise, a observação espirituosa, a técnica do claro-escuro, o requinte da cor e a sobriedade da pintura de Columbano. É a inspiração no antigo a que o pintor aliará a modernidade da mancha solta e da pincelada expressiva, numa interpretação inesperada – a margem do tempo – verdadeiramente original. Entre 1872 e 1876 cursou a Academia de Belas Artes de Lisboa. Pouco assíduo às aulas, produzia independentemente da escola, estreando-se aos 17 anos, numa exposição da Promotora, com composições de género, na sequência dos ensinamentos paternos. Na Academia foi aluno de Simões de Almeida, Victor Bastos, Anunciação. No entanto, foi nos retratos de Lupi, seu mestre de pintura, que colheu as referências realistas e certas particularidades, como o valor expressivo dado as mãos, nota viva e luminosa sobre o fundo escuro de alguns dos seus retratos.” – Mais pormenores em http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Entidades/EntidadesConsultar.aspx?IdReg=68466
RTP - Columbano Bordalo Pinheiro, mestre do retrato

(...) Com apenas 14 anos, Columbano matricula-se na Academia Real de Belas-Artes em Lisboa para fazer um curso de sete anos que termina em menos de quatro. De personalidade vigorosa e rebelde não é o típico aluno exemplar mas aprimora e explora técnicas que farão dele um artista inconfundível. Completa a formação artística em Paris, como bolseiro, seguindo os mestres sem perder o traço original do seu poder criativo.



Muitos dos seus trabalhos iniciais auspiciam um caminho glorioso. Em 1881 revela-se já excelente retratista com o quadro que faz de Ramalho Ortigão. As grandes personalidades de um país que transitava da monarquia para a República posaram para o pintor: Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes e tantos outros ficaram de alma exposta num misterioso jogo de luz e sombra que Columbano usava com destreza e que por isso chegou a ser considerado o Rembrandt português!



Quando regressa de Paris, junta-se ao Grupo de Leão, uma tertúlia de artistas promissores que se reunia na cervejaria Leão e da qual faziam parte, entre outros, José Malhoa, Silva Porto e o seu irmão, Rafael Bordalo Pinheiro. Columbano grava na tela a imagem do grupo e produz em 1885 um dos seus mais célebres quadros exposto no museu do Chiado, em Lisboa. De um pintor que trabalhava todos os dias, que vivia para a pintura, é de esperar uma extensa lista de obras: muitas foram vistas em exposições no estrangeiro, outras valeram-lhe honrosas distinções como a medalha de ouro que recebeu em 1900 no Salão da Exposição Universal de Paris.



Com a  implantação da República, a 5 de Outubro de 1910 , Columbano foi um dos escolhidos pelo governo provisório a integrar a comissão encarregada de escolher o modelo da bandeira nacional. Terá sido ele o maior responsável pela escolha das cores e do desenho da nova bandeira  içada a 1 de dezembro de 1910.





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