O poeta, Jaime Rocha, convidado de A Cooperativa, na Rua da
Emenda, , em Lisboa, para
ler e falar da sua obra poética, em 5 Dezembro às 19h, em “Quinta com Poesia”, reconheceu
que, as dramáticas narrativas do escritor Raul Brandão, em “Os Pescadores, exerceram
uma grande influência nos seus poemas: sim, porque, melhor de que ninguém retratou
a vida dura e difícil dos pescadores, quer da Nazaré, quer de outras praias
portuguesas, desde Caminha até Sagres, passando pela Foz do
Douro, que era a terra de Raul Brandão, dos naufrágios que espalhavam o luto e a dor.
Sendo, pois, Jaime Rocha, natural da Nazaré, terra bem conhecida pelas tragédias marítimas,
filho das gentes
que ao longo dos tempos, sempre viveram com
os olhos postos no oceano e da sua
dependência, em cujas areias da praia foram vertidas muitas lágrimas, dos frágeis barcos de pesca que partiam e não
voltavam, tragados por vagas alterosas e traiçoeiras, ou dos que voltavam com menos homens a bordo e com os
olhos banhados de sal e de lágrimas, naturalmente que a sua sensibilidade de poeta
não podia ficar indiferente a tais dramas e vidas ceifadas – E foi justamente
também do que falou à assistência que o foi ouvir e aplaudir.
“De quem é o mar”…Poesia aos Pescadores da Nazaré das narrativas Raul
Brandão
A dramatologia ajudam-nos a criar um
movimento poético…
O lado urbano: a força da cidade tem uma força, uma
perigosidade, uma ruina, tem uma morte, diferente da morte do mar da Nazaré, o peso é diferente. E eu fui
utilizando muito essa dualidade: Sou da cidade, posso fazer um poema sobre a
cidade, sobre os becos, sobre as ruínas, sobre o lixo! Sobre os animais! Sobre
as figuras!... E, de repente, está o mar: entra o oceano! Entram as rochas!... Os rochedos! Entram as algas , as areias!... E há um
cruzamento…Só que na minha poesia, eu escrevo com uma dramatologia, crio um
cenário…
Continuar dramatologia
dentro da poesia, porque, cheguei a uma certa altura, em que as minhas palavras
poéticas não chegavam: tive que pôr figuras: o pedreiro, o escultor, o pintor, o
homem da montanha !... São figuras que nós dominamos; são figuras do dia a dia.
E, ao trazê-los, ao coloca-los dentro da poesia , crio uma dramatologia que estas
figuras veem coisas que o poeta não vê
Um cão esburaca a
terra com as patas.
Encontra naqueles gestos uma felicidade
inesperada, como se não quisesse acreditar
na ausência do
dono.
A mulher avista um
barco com uma vela,
sem remos, sem palavras, sem bandeiras,
apenas uma mancha fantasma na água
a passar junto ao horizonte, _
Ninguém grita,
ninguém se despe ao cair
da noite. O destino
fechou-se dentro
de si mesmo.
O cão
espreguiça-se e corre a anunciar
Um tronco de
madeira
Que uma onda deita
para a praia.
29-09-2017 - São múltiplos e um só. E neles confluem o poético, o
narrativo e o trágico. Nada mais natural, já que a escrita de Jaime Rocha, 68
anos, corre sempre entre três margens, a poesia, a ficção e o teatro. E a sua
“poética é circular”, diz ao JL.
O seu novo livro, Preparação para a Noite, edição Relógio d’Água (72 pp, 14 euros), meia centena de poemas inéditos, escritos nos últimos dois anos, fecha precisamente uma “circunferência”, ligando –se ao inicial Do Extermínio, de 1995, em que ele assume ter encontrado a sua voz própria. É também um regresso à “cidade”, depois de ter deambulado por muitas paisagens – a Tetralogia da Assombração, A Loucura Branca, Anotação do Mal ou A Rapariga sem Carne, entre outros títulos – e memórias, como é o caso do recente romance Escola de Náufragos, em que volta ao mundo da sua infância, na Nazaré, onde nasceu.
O seu novo livro, Preparação para a Noite, edição Relógio d’Água (72 pp, 14 euros), meia centena de poemas inéditos, escritos nos últimos dois anos, fecha precisamente uma “circunferência”, ligando –se ao inicial Do Extermínio, de 1995, em que ele assume ter encontrado a sua voz própria. É também um regresso à “cidade”, depois de ter deambulado por muitas paisagens – a Tetralogia da Assombração, A Loucura Branca, Anotação do Mal ou A Rapariga sem Carne, entre outros títulos – e memórias, como é o caso do recente romance Escola de Náufragos, em que volta ao mundo da sua infância, na Nazaré, onde nasceu.
O escritor, poeta, dramaturgo e jornalista continua, por outro lado, a escrever
os seus monólogos do homem contemporâneo, Ortof. E está a preparar a
dramaturgia de O Construtor, peça que escreveu em 1998 e que só agora vai ser
representada em outubro, na Quinta da Regaleira, em Sintra. É um espetáculo do
Teatro Musgo, com encenação de Paulo Campos dos Reis. Mais pormenores em https://visao.sapo.pt/jornaldeletras/letras/2017-09-27-Jaime-Rocha-Poesia-Circular/
Jaime
Rocha nasceu em 1949, na Nazaré,
Portugal. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa. Viveu em França nos
últimos anos da ditadura. Publicou o seu primeiro livro, “Melânquico” (poesia),
em 1970. Tem editadas várias obras no domínio da poesia, da ficção e do teatro,
na editora Relógio d’Água, Lisboa. Na poesia destaca-se “Os Que Vão Morrer”,
2000, “Zona de Caça”, 2002, “Do Extermínio”, 2003, “Lacrimatória”, 2005,
“Necrophilia”, 2010, “Lâmina”, 2014 e “Preparação para a Noite”, 2017. Na
prosa, os romances “A Loucura Branca”, 1990, “Os Dias de Um Excursionista”,
1996, “Anotação do Mal”, 2007, “A Rapariga Sem Carne”, 2012 e “Escola de
Náufragos”, 2016. No teatro, destaca-se “O Construtor” e “O Terceiro Andar”,
1998, “Seis Mulheres Sob Escuta”, 1999, “Casa de Pássaros” e “O Jogo da
Salamandra”, 2001, “Homem Branco-Homem Negro”, 2005, “O Mal de Ortov”, 2009 e
“O Regresso de Ortov”, 2013.
Vencedor de
prémios tais como: Grande Prémio APE de Teatro, 1998, com a peça “O Terceiro
Andar”; Prémio Eixo Atlântico de Textos Dramáticos, 1999, com a peça “Seis
Mulheres Sob Escuta”; Grande Prémio de Teatro SPA/Novo Grupo, 2004, com a peça
“Homem Branco Homem Negro”; a peça “O Construtor” foi seleccionada para o
Prémio Europeu de Teatro, 1994, Berlim; Prémio de Ficção do Pen Clube, 2008 e
Prémio Ciranda, 2008, com o romance “Anotação do Mal”; Prémio de Poesia do Pen
Clube, 2011, com o livro de poemas “Necrophilia”. http://palavracomum.com/jaime-rocha-o-olhar-do-poeta-e-o-primeiro-e-o-ultimo-possivel/
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