Jorge Trabulo Marques - Jornalista
A distinção foi atribuída na estreia mundial no Sheffield Doc Fest, no
Reino Unido, No dia 26 de Outubro,
próxima terça feira, o filme “Constelações do Equador”, terá estreia em
Portugal, «durante o DocLisboa onde irá
integrar a competição Nacional», declarou Silas Tiny.
Um filme, muito saudada pela
critica da especialidade - O autor de filmes como “Bafatá
Filme Clube” (2012) e “O Canto
do Ossobó” [onde buscava “As
imagens que se perderam, e que nunca mais encontrei” da África lusófona] –recebeu
elogiosas referências na no Sheffield Doc/Fest com o seu
mais recente projeto, “Constelações do
Equador” (Equatorial Constellations),
objeto documental que lança um olhar sobre a Guerra do Biafra e o papel de São
Tomé, muito próximo geograficamente pela via aérea, no conflito que opôs a
autoproclamada República do Biafra e a Nigéria.
JORGE PEREIRA ROSA JORGE PEREIRA ROSA, EM 7CINEMA,diz estas
palavras:
Vagueando por espaços
são-tomenses, onde ainda se encontram espaços que remetem ao conflito, e
inevitavelmente ao nosso passado colonial, Tiny vai paulatinamente, entre o
registo observacional e o ativo, através de depoimentos, imagens de arquivo e
apresentação de factos históricos, registando um conflito iniciado em a 30 de
maio de 1967, quando o Coronel Odumegwu Ojukwu declarou unilateralmente a
independência do Biafra.
São Tomé, na altura um
território colonial, viu-se envolvido indiretamente no conflito devido ao apoio
“tímido” de Portugal aos independentistas do Biafra, mas sofreu diretamente as
consequências devido à sua proximidade aérea, que levaram a uma vaga de
refugiados oriundos daquela região, em particular mulheres e crianças, que
viajaram para o território através da ponte aérea humanitária cujo nome era
“operação Air Lift“.
Crianças essas que essencialmente chegavam ali com elevados índices de
desnutrição e “cheias de doenças”, como
vários testemunhos emocionados demonstram ao longo deste documentário.
Coprodução entre Portugal e São Tomé, “Constelações
do Equador” revela-se um objeto raro sobre um pedaço da História
desconhecido por muitos, não apenas pelos portugueses, mas igualmente os
são-tomenses, que propositadamente e devido ao sistema colonial onde estavam
incluídos apenas acediam a informação selecionada pela entidade colonizadora
sobre o conflito – estando ainda limitado aos são-tomenses o acesso a esses
espaços destinados a acolher as vítimas do conflito.
É aqui que Silas,
recorrendo a depoimentos de pessoas que visitaram e trabalharam nesses lugares
de caráter humanitário, mas também militar, entrega-nos histórias únicas e
pedaços ocultos do nosso passado, terreno com muito ainda por desbravar no que
toca ao cinema nacional, quer na ficção, quer no documentário.
No uso de imagens do passado, Silas conjuga nelas uma sonoridade
tensa e intrusiva que faz lembrar o arranjo que Billy Woodberry deu no
inquisitivo “A Story from Africa”,
dando assim a este “Constelações do
Equador” um tom de permanente questionamento, funcionando desta
maneira como uma espécie de início de discussão sobre um tema que merece ainda
uma maior intrusão e investigação.
embora
se sinta que por vezes o registo observacional da atualidade serve apenas de
transição entre a apresentação de datas, factos históricos (exibidos em texto
quase como introdução a novos segmentos), e testemunhos dolorosos e
marcantes, “Constelações do Equador” resulta num exercício bem esquadrinhado por um cineasta que
tem aqui provavelmente o seu trabalho mais conseguido até hoje.
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