Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações.
Só via o mar... O vasto mar a perder-se pelo vasto horizonte infinto!... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das frágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!.. De temeridades e navegações de outrora!....
Algures 38 dias no Golfo da Guiné Nov de 1975 |
No dia em que tive a visita de um gigantesco tubarão
Algures 38 dias no Golfo da Guiné Nov de 1975 |
Oh!... Quantas vezes ali mesmo, não experimentei as estreitíssimas cascas de noz, navegando em frente ou embicando na areia da pequena praia ao lado, naqueles meus habituais treinos, ao Domingo, vindo da Praia Lagarto (ao fundo da descida a caminho do aeroporto), passando em frente da Baía Ana Chaves, Fortaleza de São Sebastião, costa da marginal, Praia Pequena e ponta do Forte de São Jerónimo -e, por vezes, ainda um pouco mais a sul, à Praia do Pantufo.
São Jerónimo era geralmente a baliza
de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao fim da tarde e pela
noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um pouco isolado e
retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o mar. Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado. |
Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou a que convinha ao Reino..
Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história": que, velejando em linha, cada uma à distancia da visão da canoa que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico
Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem bóias, meios de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase desprovido de tudo. Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do Golfo da Guiné
O mar também é generoso quando quer ... A sorte protege os audazes e
acreditava que o mar haveria de compreender os objetivos pelos quais que norteava o meu espírito e a minha temeridade..
Naquele mesmo mar que, Luís de Camões, o épico poeta poetizou e cantou na estância XII do V Canto na sua imortal obra Os Lusíadas
que sucediam aos relâmpagos
que incendiavam e fundiam as espessas trevas!...
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