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Algures 38 dias no Golfo da Guiné Nov de 1975 |
Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações.
Só via o mar... O vasto mar a perder-se pelo vasto horizonte infinto!... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das frágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!.. De temeridades e navegações de outrora!....
No dia em que tive a visita de um gigantesco tubarão
Algures 38 dias no Golfo da Guiné Nov de 1975 |
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Oh!... Quantas vezes ali mesmo, não experimentei as estreitíssimas cascas de noz, navegando em frente ou embicando na areia da pequena praia ao lado, naqueles meus habituais treinos, ao Domingo, vindo da Praia Lagarto (ao fundo da descida a caminho do aeroporto), passando em frente da Baía Ana Chaves, Fortaleza de São Sebastião, costa da marginal, Praia Pequena e ponta do Forte de São Jerónimo -e, por vezes, ainda um pouco mais a sul, à Praia do Pantufo.
São Jerónimo era geralmente a baliza de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao fim da tarde e pela noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um pouco isolado e retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o mar. Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado. |
A descoberta da Ilha de S. Tomé, ocrreu em 21 Dez. 1470,, dia do apóstolo que lhe deu o nome - “É preciso ver para crer”- É também uma efeméride muito especial - A tomada de posse, em 21 de dezembro de 1974, do Governo de Transição, liderado por Leonel Mário d´Alva, até à proclamação da independência a 12 de Julho de 1975 - E da festa Católica Romana do dia de São Tomé
Jorge Trabulo Marques - Jornalista - E antigo navegador solitário em pirogas no Golfo da Guiné
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Viagem de S. Tomé ao Principe - 3 dias |
Estive neste local, em 21 de Dezembro de 1970, a prestar a minha singela homenagem aos corajosos navegadores portugueses, após ligação de canoa da baía de Ana Chaves àquele local e ali ter pernoitado – Erguendo a bandeira portuguesa.
Não tanto pela colonização posterior mas orgulho-me dos feitos dos bravos marinheiros portugueses, que, em frágeis caravelas, partindo de um pequeno país, que não ultrapassava um milhão de habitantes, demandaram por mares desconhecidos, deram a conhecer ao mundo novas terras, navegaram por todos os oceanos, mais deles perdendo a vida em dramáticos naufrágios
Sim, dirigi-me ali de canoa, sozinho, desde a Baía Ana de Chaves - a primeira das minhas aventuras de canoa - depois seguir-se-iam mais três: de S. Tomé ao Principe, 3 dias; de S. Tomé à Nigéria 13 dias e, por fim, de Ano Bom - a Bioko - antiga ilha de Fernão do Pó, 38 dias
Voltei a este mesmo local, em Novembro de 2014, mas agora com as duas bandeiras: a de S. Tomé e Príncipe e a de Portugal. Sim, depois de ter vivido uma longa e dramática experiência de náufrago, ao longo de 38 dias, após o que acostei na Ilha de Bioko
É TAMBÉM UMA EFEMÉRIDE MUITO ESPECIAL PARA O POVO DE STP
Esta data é também reconhecida pelos santomenses, com um triplo significado: - Assinala a chegada dos Portugueses, em 21 de Dezembro de 1470, à costa de São Tomé, pelos navegadores portugueses, João de Santarém e Pero Escobar; a festa Católica Romana do dia de São Tomé - Nome que viria a ser dado a esta maravilhosa ilha verde do equador.
E a tomada de posse, em 21 de dezembro de 1974, do Governo de Transição, liderado por Leonel Mário d´Alva, até à proclamação da independência a 12 de Julho de 1975.
O Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe e o Governo Português acordam em que a independência de S. Tomé e Príncipe seja proclamada em 12 de julho de 1975 e o ato da declaração oficial da independência do Estado de S. Tomé e Príncipe coincidirá com o da investidura dos representantes eleitos do povo de S. Tomé e Príncipe e terá lugar na cidade de S. Tomé, com a presença ou a representação do Presidente da República Portuguesa, para o efeito da assinatura do instrumento solene da transferência total e definitiva da soberania...
O facto mereceu relevo na imprensa local, o mesmo não sucedeu quando, um mês depois parti de canoa clandestinamente de S. Tomé ao Príncipe, tendo sido espancado e preso pela PIDE -
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Cinco anos depois da travessia de São Tomé ao Príncipe, numa piroga um pouco maior, fiz a ligação de São Tomé à Nigéria. Uma vez mais parti sem dar a conhecer os meus propósitos, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma simples bússola. Ao cabo de 13 dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, tendo sido detido durante 17 dias por suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os jornais nigerianos destacaram em primeira página o feito
Em 27 de Dezembro de 1975, após 38 longos e dramáticos dias, de desde a Ilha de Ano Bom, atingiria Bioko - Depois de pisar areia macia, do recanto uma discreta praia, neste mesmo dia sou depois conduzido algemado para um escuro calabouço e, no dia seguinte, a uma sinistra cela do reino de terror de Francisco Macias Nguema
Não há certezas quanto à data exata da descoberta das ilhas do Golfo da Guiné - Admite-se, no entanto, que, a Ilha de S. Tomé, teria sido descoberta em 21 de Dezembro de 1470, dia do apóstolo S. Tomé, e , em 17 de Janeiro do ano seguinte, a Ilha do Príncipe, por João de Santarém e Pêro Escobar
A Ilha de Ano Bom, a 565 km a sudoeste da parte continental da Guiné Equatorial e a cerca de 200 km a sul de São Tomé, foi descoberta por volta de 1475, no 1º de janeiro, de dia de ano-bom - A Ilha de Fernando do Pó, atual Bioko, foi descoberta pelo navegador do mesmo nome; admite-se que tenha sido em 1472 - Estas duas Ilhas, foram possessão portuguesa entre 1474 e 1778, ano em passaram para a Coroa Espanhola, pelo Tratado de El Pardo em troca de terras espanholas na América do Sul, que seriam posteriormente anexadas ao Brasil
Descobrimentos de S. Tomé e Príncipe – “Não se sabe ao certo quem foram os descobridores nem a data da descoberta” A resposta poderá estar numa antiga inscrição gravada numa rocha, situada na orla marítima “Bien Faire” (Bem Fazer) a famosa divisa do Infante D. Henrique
"Quando os primeiros navegadores portugueses chegavam a uma terra até então desconhecida costumavam gravar nalguma grande árvore ou pedra «este motto do Infante, Talent de Bien Faire» diz o historiador Armando Cortesão
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Ministério da Educação, Cultura e Ciência,mostrou-se, então, interessado em estudar o achado - Tendo ali estado presente o Diretor Geral da Cultura, Nelson Campos, que me acompanhou ao local para conhecer o achado e proceder às diligências, que forem necessárias, para o preservar e estudar mais detalhadamente - Mas não só não foram feitas quaisquer diligências, como a pedra viria a ser vandalizda e destruída -
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A pedra foi encontrada por mim e pelo santomense Cosme Pires dos Santos, em Agosto, do ano passado. 2015, num dia em que, ambos, percorremos, várias áreas da orla marítima, com o objetivo de encontramos eventuais vestígios arqueológicos – Tanto anteriores à colonização, como a partir desse período.
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Com o Cosme Pires dos Santos |
Como é reconhecido, a tendência do homem deixar sinais da sua presença, através de gravuras ou outro tipo de inscrições, é tão velha, como a natureza humana - Os animais (cães e lobos) urinam junto das árvores ou pedras para ali marcarem o seu território – No fundo, é uma tendência dir-se-ia instintiva da preservação da espécie
Ermelinda de Jesus Lima,Coronel Vitor Monteiro e Alexandre Sousa |
De sublinhar que, uns dias antes, na mesma pedra, pousaria Evaristo Carvalho, antes de ser eleito Presidente da República de STP, durante um agradável passeio que por ali fazemos, com o propósito de lhe revelar a descoberta - E o mesmo sucedera, com o meu amigo Teodoro Ela Ngui, Secretário da Embaixada da Guiné Equatorial, em STP, que também mostrara curiosidade em ir conhecer a pedra, de que lhe falara, num dos encontros numa conhecida esplanada da cidade
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Evaristo Carvalho Março 2016 - Atal PR de STP -Agosto 2016 |
A inscrição, denota ser muito antiga, tal como o comprovam as observações das pessoas às quais foi mostrada a pedra - Embora lhe faltem algumas letras, mas as que existem denotam configurar a lendária expressão TALANT DE BIEN FAIRE desejo ou vontade de bem fazer, exortando a um esforço pessoal e coletivo de perfeição. Esta frase está inscrita no túmulo do Infante D. Henrique, que era o seu lema e que hoje serve de divisa à Escola Naval
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38 dias nesta canoa |
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Dezembro de 1969 |
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Teodoro Ela Ngui,- Secretário da Emb. Guiné Equatorial |
A palavra francesa “talent”, que se traduz em português por talento, tem origem numa expressão grega (tálantom) que indica “prato da balança”, peso ou valor. Assumiu a versão em latim de talentum, com sentido semelhante, e passou para o português para designar valores ou méritos intrínsecos de alguém. “Talant”, por outro lado, é uma palavra que existiu no dialeto provençal com um sentido de “desejo” ou “vontade”. Entrou na língua francesa e confundiu-se durante alguns séculos com “talent” (usado com duplo sentido), mas perdeu o significado provençal a partir do século XVII e desapareceu do uso corrente ( Èmile Littré).
"A História das Navegações Portuguesas tem pecado por ter sido escrita, por vezes, por quem desconhecia Arte Náutica - dizia Sacadura Cabral (…) por estranhos às «coisas do mar» como eram quase sempre, cronistas e historiadores . Incapazes de se imaginarem a navegando dentro dos navios antigos. Eles fiavam-se nas versões que corriam, contadas por mareantes românticos, que acrescentavam um «ponto» ao seu «conto».
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(...) "o tope comercial dos descobrimentos, em 1466, era a Serra Leoa. Comercial. E não de forma alguma geográfico (...) Da Serra Leoa por diante e até ao Rio Lago, da actual Nigéria, os aspectos da geografia humana mudavam inteiramente. Entre o Senegal e a Serra Leoa dominava o urbanismo flúvio-marítimo. Dali por diante, ao contrário, a população encontrava-se disseminada ao largo do litoral em pequenas aldeias; depois do Cabo das Palmas e por toda a Costa do Ouro era muito densa, mas fraccionada em unidades mínimas, que não obedeciam a qualquer organização política, como a dos mandigas. Enquanto aquele império se desenvolvera numa zona de estepes e savanas, propícia ao deslocamento de grupos humanos, ao contrário, desde a Serra Leoa por diante e ao largo de quase todo o Golfo da Guiné a grande floresta tropical bordava as costas, impondo a disseminação dos homens, cortando-lhes os movimentos em terra e impelindo-os para o mar" - Diz o historiador Jaime Cortesão Volume II - In "Os Descobrimentos Portugueses r" - Diz o historiador Jaime Cortesão Volume II - In "Os Descobrimentos Portugueses
CANOAS FAZIAM GRANDES TRAVESSIAS EM OCÁ . ENTRE S. TOMÉ E O PRINCIPE E O GABÃO – Diz investigador português - Ocá – Eriodendron anfractuosum -Colosso. Lá no alto, nos seus frutos, dá-nos a lã d’óca, boa para almofadas e colchões. A madeira é utilizada na construção de gamelas. Chegam a medir15X2x1x1,50 metros - Era nestas embarcações, leves de d’ocá, que, ainda em 1860, se viajava de S. Tomé para o Príncipe e para o Gabão – Eng. Egydio Inso - 1922
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Quando os europeus demandaram a costa de África, já os africanos, há muito mais tempo, haviam sulcado o litoral marítimo, subido e descido os rios e ligado as ilhas limítrofes com as suas pirogas talhadas em enormes troncos de árvores - Pessoalmente pude demonstrar, essa possibilidade, através das várias ligações solitárias, que efetuei: o teste desde a cidade de S. Tomé a Anambô, 1970, onde se encontra o Padrão dos descobrimentos - Depois, as travessias, ente S. Tomé e Principie (3 dias); S. Tomé-Nigéria 12 e, mais tarde, de Ano Bom a Fernando Pó (mais à deriva que a navegar, devido à falta de equipamento (remos) que perdera por ação de um violento tornado, ao pretender regressar a S. Tomé, por não ter sido largado na corrente equatorial que me arrastaria, inevitavelmente, para oeste. Claro que qualquer destas viagens, se fosse feita acompanhado, não teria levado tantos dias
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