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sábado, 15 de fevereiro de 2025

Carlos Paredes - Entrevista em sua casa em 1987 e a Voz de Amália, em registo inédito -Meu Tributo ao Mestre da Guitarra Portuguesa, em véspera do centenário do seu nascimento - Coímbra em 16-02-1925 - Faleceu em Lisboa, 23 07-2004 - “Não sou um homem da noite… Eu não toco para ganhar a vida… Toco quando sinto vontade de tocar!... Quando isso me dá prazer!.

              

                                               Jorge Trabulo Marques


Tal como é reconhecido, Carlos Paredes é um dos mais importantes e influentes músicos portugueses do século XX. Criador de um repertório original que levou ao mais alto nível as possibilidades expressivas da guitarra portuguesa, Carlos Paredes influenciou distintas gerações de músicos nacionais e internacionais, contribuindo para a popularização deste instrumento junto de vastas audiências. O seu legado, pleno de memória e modernidade, ocupa um lugar central no nosso património cultural.


O centenário do nascimento de Carlos Portugueses, é assinalado com vários espectáculos  em Portugal e no estrageiro,  com  início   neste mês de fevereiro, envolvendo concertos, festivais, conferências, exposições, edições de livros e discos -Nomeadamente na Aula Magna da Universidade de Lisboa, no dia 16 de fevereiro de 2025, às 18h e integra o programa Música na Universidade de Lisboa.E em Coimbra, sua cidade natal.   com dois concertos de homenagem no Convento São Francisco, a 15 e 16 de fevereiro

No sábado, o concerto “100Paredes” tem lugar no grande auditório, às 21h30, com Bruno Costa, acompanhado com coro e orquestra comunitária, com mais de 200 intervenientes. No domingo, as guitarras de Ben Chasny e de Norberto Lobo, com roupagem “Six Organs of Admittance & Norberto Lobo”, vão subir ao palco na Sala D. Afonso Henriques, às 18h00


Texto, entrevista e fotos (exceto as de Carlos Paredes) de Jorge Trabulo Marques - Jornalista - O Virtuoso da Guitarra Portuguesa - Uma entre outras das grandes figuras nacionais,que faz parte das minhas memórias, que eu tive a honra e o prazer de entrevistar                       C

Carlos Paredes –  Entrevista 1987 – “Não sou um homem da noite… Eu não toco para ganhar a vida… Toco quando sinto vontade de tocar!... Quando isso me dá prazer!...
Entrevista, com Carlos Paredes, que eu fiz para a RDP – Rádio Comercial, ocorreu em 1987, no ano em que ele foi distinguido pela RDP, Antena 1. pelo seu álbum “Espelho de Som” – Naquela atura, ainda tinha à sua frente, mais 17 anos de vida – Pois, nasceu em Coimbra, 16 de Fevereiro de 1925 e faleceu em Lisboa, 23 de Julho de 2004




Na verdade, falar da guitarra portuguesa é associá-la ao virtuosismo de Carlos Paredes – Considerado “um dos principais responsáveis pela divulgação e popularidade da guitarra portuguesa e grande compositor   Carlos Paredes é um guitarrista que para além das influências dos seus antepassados - pai, avô, e tio, tendo sido o pai, Artur Paredes, o grande mestre da guitarra de Coimbra - mantém um estilo coimbrão, a sua guitarra é de Coimbra, e própria afinação era do Fado de Coimbra. A sua vida em Lisboa marcou-o e inspirou-lhe muitos dos seus temas e composições. Ficou conhecido como O mestre da guitarra portuguesa ou O homem dos mil dedos



“Eu não toco para ganhar a vida… Toco quando sinto vontade de tocar!... Quando isso me dá prazer!...” – Declarou-me, em entrevista, da qual pude recuperar (do meu arquivo) algumas passagens, que tenho a honra e o prazer de aqui recordar, como singela homenagem à sua memória. 


  




JTM – Carlos Paredes, é distinguido pela RDP, Antena 1, pelo seu trabalho. “Espelho de  sons”, como ponto mais alto da sua carreira – O prémio reflete, realmente, o momento mais alto da sua carreira, até hoje, ou houve, de facto, outros trabalhos que lhe deram muito prazer?

Carlos Paredes- Sim, fiz outros  trabalhos que me deram prazer mas a guitarra é um instrumento que está em constante evolução; de maneira que amanhã, não será o que é hoje. O próprio instrumento, em si, vai sugerindo ideias novas.
JTM - A sua busca, parte de pequenas coisas: especialmente da nossa cidade: a cidade de Lisboa, é um motivo de inspiração?
Carlos Paredes -  Sim. As cidades, para um músico popular, são sempre um dos motivos fundamentais de inspiração… Normalmente, a guitarra portuguesa, chamada guitarra inglesa, outrora, no século X VIII, é um instrumento ligado à vida urbana .Em Portugal, há um estilo de guitarra, que foi inspirado na cidade de Lisboa, como há  um outro estilo que foi inspirado na cidade de Coimbra.

JTM – E a sua guitarra, é sobretudo…

Carlos Paredes – Embora eu tenha nascido em Coimbra e embora a minha escola seja a do meu pai, que foi um dos criadores da chamada Escola de Coimbra da guitarra portuguesa -, apesar disso, eu, que vivi a minha infância aqui em Lisboa, sinto-me mais atraído pelos motivos lisboetas

JTM - E os motivos?... Os bairros!....A nossa gente!..
Carlos Paredes –  Sobretudo, as pessoas, o movimento das ruas!... E a presença do Tejo!,,, Como em Coimbra, a presença do Mondego!... Como em Paris, a presença do Sena!... São também motivos de inspiração.

JTM – Carlos Paredes é mais um homem da noite! … ou do dia!... Quais os momentos de maior inspiração?..
Carlos Paredes – Não sou um homem da noite: o chamado homem da noite, corresponde a uma modo de vida que obriga a estará acordado de noite…  É o caso dos atores; dos artistas de casas noturnas: eu não sou propriamente isso; eu sou um cidadão, funcionário público!... Faço a minha vida no emprego!

JTM – Mas, tocar: gosta mais de tocar à noite ou…
Carlos Paredes – Não. Isso depende muito… Eu não toco para ganhar a vida… Toco quando sinto vontade de tocar!... Quando isso me dá prazer!... E, nesse caso, eu não tenho que escolher horas…
JTM – As horas do dia não o influenciam…
Carlos Paredes – Quer dizer: o dia dá à cidade uma fisionomia, a noite dá-lhe outra…De maneira, que, certamente à noite, nós encontramos sugestões diferentes das que encontramos durante o dia… Mas, de uma maneira geral, no meu caso, não obedece a uma escolha determinada…

JTM - É, digamos, mais um trabalho baseado na espontaneidade!...
Carlos Paredes – Sim, pela espontaneidade… Vai-se fazendo música…

Carlos Paredes, tinha em preparação um novo álbum – que só, em 1989, dois anos depois, acabaria por ser editado – Quando o entrevistei, ainda não tinha nome mas viria a chamar-se “Asas sobre o Mundo”

JTM – O seu próximo trabalho, naturalmente que o tem em preparação?..
Carlos Paredes- Sim, está  em preparação… Espero no principio do ano, ter um novo disco, cá fora,,

JTM – Como é que vai chamar-se o novo disco?
Carlos Paredes: Ainda não escolhi o título!.. Ainda não escolhi o título…
JTM – Primeiro faz o trabalho e depois….
Carlos Paredes… Sim… estou a reunir as músicas até conseguir um motivo que consiga ligar todos esses motivos


Filho do famoso compositor e guitarrista, mestre Artur Paredes, neto e bisneto de guitarristas, Gonçalo Paredes e António Paredes começou a estudar guitarra  portuguesa aos quatro anos com o seu pai, embora a mãe preferisse que o filho se dedicasse ao piano; frequenta o Liceu Passos Manuel, começando também a ter aulas de violino na Academia dos Amadores de Música Na sua última entrevista, recorda: "Em pequeno, a minha mãe, coitadita, arranjou-me duas professoras  de violino  e piano   Eram senhoras muito cultas a quem devo a cultura musical que tenho".
Em 1934, a família muda-se para Lisboa, o pai era funcionário do BNU e vem transferido para a capital. Abandona a aprendizagem do violino para se dedicar, sob a orientação do pai, completamente à guitarra. Carlos Paredes fala com saudades   desses tempos: "Neste anos, creio que inventei muita coisa. Criei uma forma de tocar muito própria que é diferente da do meu pai e do meu avô".


Carlos Paredes inicia em 1949 uma colaboração regular num programa de Artur Paredes na Emissora Nacional e termina os estudos secundários num colégio particular. Não chega a concluir o curso liceal e inscreve-se nas aulas de canto da Juventude Musical Portuguesa, tornando-se, em 1949, funcionário administrativo do Hospital de S. José   Em 1958, é preso pela PIDE por fazer oposição a Salazar, é acusado de pertencer ao Partido Comunista Português, do qual era de facto militante, sendo libertado no final de 1959 e expulso da função pública, na sequência de julgamento. Durante este tempo andava de um lado para o outro da cela fingindo tocar música, o que levou os companheiros de prisão a pensar que estaria louco - de facto, o que ele estava a fazer, era compor músicas, na sua cabeça. Quando voltou para o local onde trabalhava no Hospital, uma das ex-colegas, Rosa Semião, recorda-se da mágoa   do guitarrista devido à denúncia de que foi alvo: «Para ele foi uma traição, ter sido denunciado por um colega de trabalho do hospital. E contudo, mais tarde, ao cruzar-se com um dos homens que o denunciou, não deixou de o cumprimentar, revelando uma enorme capacidade de perdoar!» – Excerto de Carlos Paredes – Wikipédia

Carlos Paredes casou por duas vezes, a primeira com Ana Maria Napoleăo Franco Paredes, em 1960, e a segunda com Cecília de Melo.
Carlos Paredes nunca rejeitou a influência que recebeu, tanto da música popular portuguesa como do próprio fado de Coimbra. A renovação e reinvenção da sonoridade da guitarra portuguesa que fez, resultou duma geração de 60 revitalizada por novos conceitos sócio-culturais, onde floresciam as vozes de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino, bem como a poesia de Manuel Alegre, a guitarra de António Portugal e as violas de Rui Pato e Luis Filipe, em suma, toda uma geraçăo coimbrã que, preservando a riqueza etnomusical que a antecedia, revolucionou a guitarra por dentro e cantou valores que a projectariam inevitavelmente no futuro. Museu do Fado - Personalidades - Carlos Paredes



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