Conheci pessoalmente o escritor Aito de
Jesus Bonfim, faz hoje precisamente três meses - Foi na noite de 14 de Julho –
Ocorreu no Restaurante Snak Bar Papa
Figo – O dia fora muito preenchido e intenso: de tarde acompanhara a caravana do
Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, à Roça
Água Izé, depois, ainda assistira à apresentação do seu livro 3º volume da Obra
Magistratura de Influência – Por uma Diplomacia ao Serviço do Desenvolvimento,
na Casa Cacau.
Já tinha ouvido falar da obra do autor de“A Lágrima Áurea do Mal" mas não o conhecia – E longe estava eu de imaginar que o ia conhecer por um simples e fortuito acaso. Mas, pelos vistos, ele já me conhecia e já me tinha visto, pois foi justamente ele, quando, ao chegar à esplanada daquele bar, me faz o convite para me sentar na sua mesa. Tinha ido ali para tomar um cafezinho e não pretendia demorar mais que uns minutos.
Só que, entretanto, o diálogo tornava-se interessante, e até extensivo às escassas pessoas, entre as quais, um português, que se encontrava na esplanada, e, por sinal, todas bem dispostas, até porque a cerveja, que ali se ia bebendo, sobretudo àquelas horas, já tardias, muito perto da meia-noite, o que, em S. Tomé, é muito tarde, atendendo que o nascer do sol é às cinco e meia da manhã, convidava à inspiração e à boa disposição – E até ao registo, por meu lado, de fotografias, e de sua parte, à oferta de livro autografado, O GOLPE (Uma Autíópsia), que, depois da sua leitura, me permitiu concluir, que, Aito, não é apenas escritor, mas também um verdadeiro visionário.
A CLARIVIDÊNCIA DOS POETAS E DOS MÍSTICOS
Tudo o que vai acontecer, em tempo futuro, já aconteceu no calendário do Universo: já lá está tudo escrito, programado. O dia a dia é apenas como que o folhear desse misterioso calendário. A inteligência universal, tem tudo isso já inscrito em sua mente. O passado não o esquece e o futuro já o programou. Dai existirem, certos espíritos, que, mercê da sua sensibilidade e lucidez, mas também, por vezes, fruto de rasgos de espontânea e luminosa clarividência, os antevejam ou antecipem – Pode não ser exatamente como esses acontecimentos vão ocorrer mas dão-nos como que pinceladas de uma espécie de pintura abstrata – Que, para os leigos pode não dizer nada, mas di-lo para os iniciados, os místicos, para as mentes mais luminosas e premonitórias – E não se pense que é o mesmo que abrir uma torneira de água e toca de encher um copo ou um balde. Nada disso. É preciso predispor a mente – através da meditação, do cântico ou da oração. É o que fazem aqueles cujo esforço das suas vidas, vai no sentido da interrogação constante, do caminho que os leva a perguntar: donde vimos e para onde vamos. A esmagadora maioria, vive por viver, sequer se questiona sobre essas matérias ou se importa por alcançar a menor resposta.
Não me querendo arvorar nesse lote de eleitos, pelo menos tenho-me esforçado para me livrar do imenso rebanho dos entorpecidos - Fi-lo na solidão dos mares, desafiando paredes verticais e tenho-o feito sob várias maneiras – De volta e meia vou à minha aldeia (já não tantas vezes, como desejava, infelizmente vivo na cidade e as possibilidades económicas, têm o seu preço), sim, para ali refletir, durante as minhas peregrinações nocturnas pelos penhascos. Saindo depois da meia-noite e só regressando pelo fim da madrugada. Prefiro o silêncio da noite, pois julgo que estas circunstâncias são mais propícias a despertar certos estados de consciência, que, em situações normais, não são possíveis.
AÍTO DE JESUS BONFIM - FICCIONISTA VISIONÁRIO
De seu nome, Aíto de Jesus Bomfim, é um dos escritores mais bem informados sobre os meandros da política santomense, que acompanha e analisa, tal como o médico quando usa a sua lupa e o bisturi para operar um doente – Daí que, a par de uma certa hipersensibilidade, que certamente lhe é inata, juntada à sua formação académica e à informação que tem o cuidado de observar e de recolher, lhe não seja difícil predispor a mente a visionar ou antever os que muitos não vêm, mesmo quando os acontecimentos lhe batem à porta e até os amolgam.
Foi assessor jurídico do Presidente da
República Fradique de Menezes, nos seus dois mandatos, 10 anos, tendo participado em todas as
negociações com vista a exploração do petróleo. Daí não lhe faltar matéria ,
quer para analisar, com aturada profundidade, o que se passa no seu país, como a
nível mais vasto, o das disputas politicas do próprio continente africano, por
força da cobiça do tal ouro negro – Mas não só.
“Aíto de Jesus Bonfim,
licenciado em direito pela Universidade Clássica de Lisboa, em 1982, fez também
curso de magistratura judicial no Centro de Estudos Judiciários em
Lisboa. É mestre em administração de Portos e de Companhias Marítimas
pela World Maritime University em Malmo, Suécia - O escritor que para além de
“A Lágrima Áurea do Mal”,já publicou 4 obras literárias, nomeadamente “ A
Berlinização ou Partilha de África-teatro”, “Poemas”, “o Suicídio
Cultural-Romance” e “ O Golpe(uma Autópsia)-teatro”, diz que para além das
actividades jurídicas e literárias, ocupa parte do seu tempo, a plantar
bananeiras, jaqueiras, Sape-Sape, e ananaseiros.”
"Obra literária de Aíto Bonfim, denuncia o
estado empobrecido do continente africano, apesar da abundância de recursos
naturais. Aíto Bonfim é considerado no meio literário são-tomense como um
agitador de consciências.
“A Lágrima Áurea do Mal” é uma ficção, em
que Aíto Bonfim denuncia a cumplicidade dos africanos num país, designado
Télanom, que padece da maldição dos recursos naturais. A população do país,
está dividida entre os filhos da terra e os donos da terra, que se digladiam
pelo controlo dos minérios e outros recursos naturais. “A Lágrima Áurea do Mal” | Téla Nón
A Lágrima Áurea do Mal, não é um livro de fácil leitura
….como nenhum outro do mesmo autor que contêm muito folgo e argumento que
recomendo os apaixonados a lerem e relerem. São ao todo 209 décuplas altamente
compactadas por uma introdução e conclusão, onde o narrador omnisciente e
sentimental, se confunde com o próprio autor, ora erguendo a bandeira das
Nações ou da União Africana, ora entoando o hino patriótico exaltando a
fecundidade materna em mátria em vez de pátria (AITO)
BONFIM ENTRE A TRAGÉDIA E A COMÉDIA
O POVO DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE É ESTÓICO E PACÍFICO
O Povo de São Tomé e Príncipe,
é constituído de gente pacifica, que,
embora habituada a um sofrimento de séculos, não gerou no seu coração o sentimento da violência e do ódio; pelo contrário, deixou
que ele se escancarasse e fosse moldado pela incomparável beleza das suas
ilhas, fosse apaziguado e suavizado pelo brilho da luz equatorial e do azul do
mar que envolve o cromático verde luxuriante da sua paisagem. Enquanto, pelos restantes
países africanos, mesmo depois de alcançarem a desejada liberdade e independência
se libertarem das amarras do colonialismo, por que se bateram, não cessam conflitos sangrentos,
atrás de conflitos, golpes de estado e contragolpes.
Por aqui, também já houve alguns golpes - Mas, a bem dizer, ficou tudo em família, entre “Camaradas, Clientes e Compadres.”, parafraseando, Gerhard Seibert. - E, curiosamente, antevistos na prosa ficcional de Aito de Jesus Bonfim. "Em texto dramático e estilo de cariz infantil" (sim, porque, em S. Tomé, a ironia faz-se a brincar com as palavras e até com os atos), recreando para teatro a autópsia de "O GOLPE" - Embora ele pretendesse estender a metáfora ao panorama africano em geral, afinal, não faltava muito para os ter no seu próprio país
Diz o autor de “A Lágrima Áurea do Mal” no inicio do
prefácio, da sua peça de teatro, intitulada, O GOLPE (Uma autópsia) que “O golpe de estado militar
tem constituído, em termos estatísticos a moda (lidade) maís frequente de
alternância facial do poder político em África.
Com exclusão do uns
poucos países em África, a grande maioria dos Estados africanos já assistiu o espectáculo
proporcionado pelos militares, ao desabrigo de qualquer convite, em corrida. ao
palácio presidencial para gostar o pequeno-almoço de Sua Excelência o Rei da
República! O que é curioso é que na maior parto das vozes tem tido um sucesso
contagiante.
O negócio político do
golpe, de estado em África está muito longe de chegar ao fim. Constituindo, por
conseguinte, uma realidade que se impõe quotidianamente ao Africano,
instrumentalizado, actor, espectador tímido por detrás da faixa subtil do cortinado.
É este elemento
caracterizante do momento político
Africano, que fundamentou e inspirou «0 Golpe».
«0 Golpe» é a autópsia em
texto dramático de um hipotético golpe de estado num fictício estado africano.
Da realidade crua do
dia-à-dia à paródia inquietante que se pretende pedagógica e reflexiva" - Ou seja, como também pormenorizará na contracapa deste mesmo livro, com data de Julho de 1996, baseado na "teia empolgante de intrigas múltiplas na conquista e preservação do poder entre Presidente, Conselheiro, Ministros, General, Feiticeiro, diplomatas e rebeldes românticos, constituindo um universo de terror, palco da paródia de preparação e execução do assalto sucedido ao palácio presidencial, habitado pelo mesmo hóspede há mais de trinta anos, que pré-ordenou treze golpes preventivos de saneamento físico contra os seus falsos correlegionários.
"Não tendo impedido o assalto, mas podendo e devendo fazê-lo, o recém-primeiro ministro protagoniza , enfim, com suspiros de alívio, o seu golpe demolidor e tão longamente preparado contra o recém-presidente e seus sequazes não carecendo de nenhum fundamento para tal, à semelhança da realidade das últimas décadas em África, promovendo-se, obviamente, a marechal, criando, necessariamente, à pressa e sem lágrimas a última morada para muitos desgraçados"
GOLPES DE ESTADO
EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE
Vejam-se estas coincidências
16/07/2003 Um grupo de militares e civis levaram a cabo, na madrugada desta quarta-feira, um golpe de Estado em S. Tomé e Príncipe, que resultou na detenção da primeira-ministra e de outras entidades do país. A população portuguesa residente no território encontra-se em segurança. Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/mundo/detalhe/golpe-de-estado-em-s-tome-e-principe.html
25/07/2003
“O
major Fernando Pereira era até à sublevação de 16 de Julho, o director do
Gabinete do Comandante do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, função que
poderá ou não continuar a exercer. Declarou que o "golpe não foi contra o
Governo, nem contra o Presidente, foi contra o estados das coisas".
Nunca encontraram apoios
- foram expulsos do Gabão, em 1986, altura da reconciliação do MLSTP com o
Presidente gabonês Omar Bongo e sempre indesejados em São Tomé. Têm no
currículo uma incursão falhada em território são-tomense, em 1988, em nome da
então Frente de Resistência Nacional de São Tomé e Príncipe - Renovada
(FRNSTP-R). – Excerto Líder do golpe de Estado em São Tomé diz que
São Tomé: governo diz ter evitado sublevação
12
de Fevereiro de 2009 às 22:43 - As operações policiais
que decorreram esta quinta-feira em São Tomé evitaram «uma sublevação» contra o
presidente da república e contra o primeiro-ministro, adiantou esta noite o
governo são-tomense, noticia a Lusa.
Na primeira declaração pública do executivo de São Tomé e Príncipe após uma série de detenções na capital, o porta-voz do conselho de ministros destacou cinco suspeitos da alegada sublevação, entre os quais, Arlécio Costa, líder da Frente Democrática Cristã (FDC) e do ex-Batalhão Búfalo no país.
Segundo Justino Veiga, a operação policial começou na noite de quarta-feira no casino da sociedade Falcon Group, onde Arlécio Costa estava reunido com 27 pessoas e onde foram apreendidos carregadores e munições de armas Ak e outro material de guerra. São Tomé: governo diz ter evitado sublevação > TV
Na primeira declaração pública do executivo de São Tomé e Príncipe após uma série de detenções na capital, o porta-voz do conselho de ministros destacou cinco suspeitos da alegada sublevação, entre os quais, Arlécio Costa, líder da Frente Democrática Cristã (FDC) e do ex-Batalhão Búfalo no país.
Segundo Justino Veiga, a operação policial começou na noite de quarta-feira no casino da sociedade Falcon Group, onde Arlécio Costa estava reunido com 27 pessoas e onde foram apreendidos carregadores e munições de armas Ak e outro material de guerra. São Tomé: governo diz ter evitado sublevação > TV
Ex-Búfalos em crise
14 Dez.
2010 - São
no total 14 homens. Todos são-tomenses. Vieram da África do Sul sob a liderança
de Arlécio Costa, antigo oficial do extinto batalhão de forças especiais sul –
africanas que combatiam o movimento de libertação da Namíbia, e o exército
regular de Angola. A faixa de Capriv na Namíbia, era a principal base das
operações
(…) Resultado do golpe de
estado perpetrado, os ex-búfalos conseguiram negociar com os mediadores
internacionais a sua reintegração na sociedade são-tomense. O memorandum de
entendimento assinado no dia 23 de Julho de 2003, deu garantias aos ex-
búfalos.
Adicionar legenda |
O estado são-tomense
decidiu entregar ao grupo liderado por Arlécio Costa, mais de 500 hectares de
terra para realização de projectos agrícolas e turísticos com vista a sua
integração na sociedade. No nordeste de São Tomé, foram cedidos mais de 300
hectares de terra que preenche a savana da praia das Conchas. A bela Lagoa Azul
está incluída no lote de terra.
(…) Segundo a sociedade
criada pelos ex-Búfalos e pelos investidores sul-africanos, o projecto iria
garantir mais de 1000 postos de trabalho para os são-tomenses. 6 anos depois a
linda savana da praia das Conchas continua intacta. Nenhum condomínio foi
construído. Ex-Búfalos em crise
Excertos do livro "O GOKPE (Uma Autópsia)
Conselheiro
(sorrindo)
"É meu dever simplesmente alertá-lo. Cumpra
o seu dever! É curioso atentar neste facto: uma das características essenciais
do poder político pós-independência é a sua vinculação quotidiana ao feitiço,
ao mágico, ao lado oculto da vida. Talvez, porque o próprio Estado enquanto um
complexo de estruturas é inapreensível ao comum dos africanos!
Feiticeiro
(concluindo o alinhamento das fotografias
e estatuetas)
Este é o mais poderoso· ritual jamais
preparado por mim ! Tive que vencer forças medonhas e afugentá-las! E pena o
Senhor Conselheiro não acreditar no feitiço; Quem vier a beber desta água
(aponta para uma bacia com água) depois do banho do Presidente, jamais
conseguirá dizer «não» ao Presidente e muito menos pensar em fazer-lhe mal.
Conselheiro
É o seu vigésimo oitavo ritual prévio à
tomada de posse, suponho, e ainda há forças malignas por vencer?! Este ritual
nojento de dar a beber aos ministros uma
mistela constituída por água de banho do presidente e «charnpagne » é mesmo de
fazer vomitar.
Feiticeiro
Não é o vigésimo oitavo, é o vigésimo nono
que eu preparo com estas mãos! Co~ este ritual mantenho no poder qualquer um,
nem que seja durante cem anos. E pena 0 Senhor não acreditar no feitiço. Mas
como é possível que exista alguém que no
fundo não acredite mesmo no feitiço?! Leu muitos livros estrangeiros! Em minha
casa proibi aos meus filhos que lessem os livros que mandou vir. Nem pensar!
Conselheiro
(sorrindo)
É pena o Senhor Feiticeiro não acreditar
no regime e no país! Sinceramente, já nem sei quantos governos vi tomar posse!
o Presidente comanda há trinta e seis anos; quanto tempo pensa que ele vai
viver com todos estes defuntos que o Senhor Feiticeiro diz existir e que
reclamam a companhia dele no além-túmulo?!
Feiticeiro
(sério)
Enquanto o Presidente continuar a
acreditar no meu feitiço, no feitiço do mais sábio e experiente feiticeiro
africano de todos os tempos, ele continuará vivo. O Presidente vai cumprir todo
o seu destino no poder. Se vier a morrer poderei continuar a garantir a
eternidade do poder para um dos seus filhos ...
Conselheiro
Sabe, Senhor Feiticeiro, o mal deste país
e da África é que os africanos acreditam em demasia no feitiço e cada vez menos
no trabalho. Daí que ninguém acredite no país e no regime. Como 0 Senhor
Feiticeiro pode dar-se à leviandade de afirmar: «se o Presidente vier a
morrer»?Acha-o imortal?! .Biologicamente imortal, hem ? !
Feiticeiro
(convicto)
Claro, claro, claro, mas jamais feiticeiro
algum conseguiu descobrir o amuleto
contra o espírito e o vento da morte.
O espírito da morte é o mais poderoso
entre todos os espíritos malignos e jamais foi vencido.
Conselheiro
O Senhor Feiticeiro quer dizer que a morte
é causada por um espírito de morte?! por um vento de morte?!
Feiticeiro
Sem dúvida.
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