Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Dos tais paraísos onde nem faz frio nem
faz calor - Mesmo quando a chuva é diluviana e o nevoeiro paira no denso arvoredo dos montes em redor como algodão em rama. Embora a noite seja mais fresquinha e convide a algum
agasalho – Mas de dia anda-se bem e até de tanguinha.
Para o turista que vai a S. Tomé, ir à Roça Bombaim,
mais de que uma sedutora obrigação, é uma irresistível tentação! - É dos percursos mais
exóticos e surpreendentes para quem visita o interior da Ilha de S. Tomé -
Quando menos o espera, numa abertura da densa e luxuriante floresta equatorial,
ei-lo a deparar-se com outra das maravilhas deste paraíso equatorial - Sim,
com a mais famosa e espetacular cascata que escorre das mais altas
serranias, cobertas de densas e altíssimas árvores - Mesmo do seio do copado coração do obó - da grande floresta Verde
Equatorial - Veja o vídeo e admire
Todas as roças em
S. Tomé têm nomes que não foram dados ao caso mas explicam acidentes
geográficos ou os mais diversos motivos e origens. O caso da Roça Bombaím, que parece remeter-nos
aos confins do oriente e não é sem razão, como explicarei mais à frente.
Na verdade, quando
se abandonam as curvas e contracurvas, tendo sempre a floresta por
companhia e, já muito próximo, um caminho ladeado de cacaueiros, bananeiras e
árvores de sombra, à frente surge-lhe um troço plano e direito, que conduz o
visitante a um amplo largo – Que é
talvez dos terreiros mais amplos das antigas roças. Fica-se perplexo, deixando no espírito a pergunta de como é possível tal planura, numa zona tão acidentada.
Pois a resposta parece apontar para o intensivo trabalho escravo que ali existiu. – Está acima dos 700 metros de altitude, num clima que, embora sendo caracterizado por super-húmido, com uma precipitação anual normalmente superior a 2. 425 mm e com temperaturas que oscilam entre 13,5 a 23º, podia considerar-se, de algum modo benévolo e temperado para o europeu que ali trabalhava, contudo, já o não era em termos de acessibilidades, sobretudo depois de se deixar o percurso para a Roça Monte Café. Era como que um lugar quase perdido ou esquecido nas brenhas da floresta mais elevada da Ilha – Daí ter sido escolhido para desterro de vários portugueses, que caíam em desgraça – Mas principalmente como campo prisional de nativos e serviçais das roças.
Pois a resposta parece apontar para o intensivo trabalho escravo que ali existiu. – Está acima dos 700 metros de altitude, num clima que, embora sendo caracterizado por super-húmido, com uma precipitação anual normalmente superior a 2. 425 mm e com temperaturas que oscilam entre 13,5 a 23º, podia considerar-se, de algum modo benévolo e temperado para o europeu que ali trabalhava, contudo, já o não era em termos de acessibilidades, sobretudo depois de se deixar o percurso para a Roça Monte Café. Era como que um lugar quase perdido ou esquecido nas brenhas da floresta mais elevada da Ilha – Daí ter sido escolhido para desterro de vários portugueses, que caíam em desgraça – Mas principalmente como campo prisional de nativos e serviçais das roças.
Este é parte do terreiro
da Roça Bombaim - Do lado direito, no primeiro plano, as antigas celas de prisioneiros – Que, pelo que me pude aperceber, devido ao isolamento do lugar, parece ter ficado praticamente remetida à transmissão oral. Mais adiante os chalés dos empregados brancos.
Na imagem está também a Jamila, de origem cabo-verdiana, aqui nascida e uma das dezenas de pessoas que aqui vive e trabalha, e que, nas horas vagas, depois da empreitada, se dedica a vender alguns dos produtos que cria na senzala. – Sorridente, comunicativa e amável, tal como é apanágio dos filhos e filhas desta maravilhosa ilha – E também daqueles que acabam por fazer desta terra, sua pátria. A beleza e a tranquilidade, que aqui é contemplada e transmitida aos corações, só pode infundir sentimentos de harmonia e de paz .
Na imagem está também a Jamila, de origem cabo-verdiana, aqui nascida e uma das dezenas de pessoas que aqui vive e trabalha, e que, nas horas vagas, depois da empreitada, se dedica a vender alguns dos produtos que cria na senzala. – Sorridente, comunicativa e amável, tal como é apanágio dos filhos e filhas desta maravilhosa ilha – E também daqueles que acabam por fazer desta terra, sua pátria. A beleza e a tranquilidade, que aqui é contemplada e transmitida aos corações, só pode infundir sentimentos de harmonia e de paz .
Situada, na parte mais alta e do interior da Ilha de São Tomé, já no limite com a floresta virgem equatorial, conhecida por obó. Trata-se de uma das antigas propriedades coloniais do cacau e do café, que, também chegou a ser colónia penal - De trabalho forçado – Mas, antes de o ser, já havia sido local de degredo para portugueses, caídos em desgraça - É um dos episódios mal conhecidos, que, pelos vistos, terá só passado de boca em boca para quem ali vive. - Tal como a generalidade das grandes roças, teve vários edifícios, no espaço da sua sede, as instalações tecnológicas, armazéns, casa do patrão, senzalas e hospital.
Com a independência, os seus antigos donos, receando
adaptarem-se aos então conturbados tempos de mudança, abandonaram-nas. Ficaram os trabalhadores, que lá residiam
(sobretudo contratados cabo-verdianos), entregues à sua sorte. Com a nacionalização,
pretendeu-se devolver a terra, a quem a trabalhava, a intenção era louvável mas
a inexperiência, a falta de quadros técnicos e de incentivos financeiros para
conservar pelo menos os edifícios, que acabaram por ficar degradados, não
permitiu que mantivessem os níveis de produção anterior. Todavia, surgiu uma
nova realidade: a de possibilitar a sobrevivência de numerosas famílias, que,
no tempo colonial, se limitavam apenas a ser mão-de-obra escrava. E, aos mais insubmissos, além de poderem ser
alvo da dura e déspota disciplina da roça, ainda poderem ser presos ou acabar na
colónia penal de Bombaim, em trabalhos forçados, de cuja memória ainda restam
alguns edifícios, a que Jamila se refere.
BOMBAIM NOME DE ROÇA QUE O TRANSPORTA ÀS
ÍNDIAS – MAS COM ALGUM FUNDAMENTO
Roça Bombaim – Agroturismo – O prazer de
passar noites de sonhos e de saborear o mítico
mangostão, rodeado da luxuriante paisagem equatorial – Só ali poderá encontrar a
rainha das frutas tropicais". Verdadeiro "manjar dos deuses",
comparada ao néctar da árvore do paraíso, com excelentes propriedades medicinais
e nutritivas, que proporcionam uma ação antioxidante, anti-tumoral,
anti-inflamatória, antiviral, antifúngica e antibiótica -
Émerson e Domitília - O amável e sorridente casal, proprietário da Roça Bombaím, que lhe dará as boas-vindas e o receberá em ambiente acolhedor e familiar, ao mesmo tempo, intimista e liberto de todas e quaisquer pressões, em contato harmonioso e convidativo, com a mais bela e viçosa natureza, longe de todo o bulício da vida apressada e estressante, que caracteriza a sociedade atual – Numa das roças, com uma história muito interessante, onde se produz o mítico Mangostão - Sim, porque só ali poderá encontrar o tão apetecido e desejado fruto, cujas sementes foram trazidas da índia, por um antigo diplomata português, que para ali foi cumprir uma pena de degredo. Considerada a fruta mais saborosa do mundo: "a rainha das frutas tropicais". Verdadeiro "manjar dos deuses", comparada ao néctar da árvore do paraíso, com excelentes propriedades medicinais e nutritivas, que proporcionam uma ação antioxidante, anti-tumoral, anti-inflamatória, antiviral, antifúngica e antibiótica
Émerson e Domitília - O amável e sorridente casal, proprietário da Roça Bombaím, que lhe dará as boas-vindas e o receberá em ambiente acolhedor e familiar, ao mesmo tempo, intimista e liberto de todas e quaisquer pressões, em contato harmonioso e convidativo, com a mais bela e viçosa natureza, longe de todo o bulício da vida apressada e estressante, que caracteriza a sociedade atual – Numa das roças, com uma história muito interessante, onde se produz o mítico Mangostão - Sim, porque só ali poderá encontrar o tão apetecido e desejado fruto, cujas sementes foram trazidas da índia, por um antigo diplomata português, que para ali foi cumprir uma pena de degredo. Considerada a fruta mais saborosa do mundo: "a rainha das frutas tropicais". Verdadeiro "manjar dos deuses", comparada ao néctar da árvore do paraíso, com excelentes propriedades medicinais e nutritivas, que proporcionam uma ação antioxidante, anti-tumoral, anti-inflamatória, antiviral, antifúngica e antibiótica
Um bem-haja, muito
especial ao Coronel Victor Monteiro, que, além de me ter proporcionado, um
maravilhoso passeio, na sua viatura, ao sul da ilha, ainda fez de câmara-men,
neste video
HONRAS DA CASA
Domitilia e Emerson, ladeados pelo Coronel Victor Monteiro |
Trata-se, de
facto, de uma antiga roça, atualmente transformada em media empresa familiar,
com uma área total de 143 hectares, situada num dos pontos mais elevados e mais
belos da Ilha de S. Tomé, quase junto ao coração do obó, sim, fonteira
com o manto selvagem e luxuriante da grande floresta equatorial –
Em cujo terreiro ou à sua volta, se conservam ainda alguns dos antigos
edifícios do tempo colonial: - desde os chales, senzalas, armazéns
e secadores do cacau, que, pouco a pouco têm vindo a ser recuperados,
laborando com a rotina habitual de outros tempos, só que, mais tranquilamente,
com outra alegria e sorrisos de quem ali trabalha e faz da roça, o seu ganha
pão e ao mesmo tempo o seu lar, fazendo esquecer o jugo escravizante de
outrora, onde o trabalhador era mero instrumento de servidão – o escravo
serviçal - não propriamente a pessoa humana –E, com uma novidade, muito
atrativa para o visitante: a de poder pernoitar na antiga administração,
que foi transformada numa magnifica e acolhedora pousada hoteleira –
Imagem que lhe surgirá, depois de se deslumbrar pela queda de uma das mais
impressionantes cascatas, e tornear caminhos orlados da mais pujante verdura
florestal, como se, subitamente, convidasse o visitante a espraiar o olhar por
um amplo e aberto espaço, que vai desde o espesso e verdejante manto arbóreo,
até lá ao fundo, onde se divisa a orla marítima e se estende o azul do infinito
oceano.
As roças de São
Tomé e Príncipe, propriedades das grandes empresas de cacau e de café, surgidas
após o ciclo da cana do açúcar, eram a imagem da prosperidade da exploração
colonial mas, para os santomenses, elas eram sinónimo de domínio e de
escravidão - Infundiam um tenebroso respeito de submissões e de
prepotências, tanto aos negros, como a maioria dos empregados brancos,
que dificilmente podiam fazer valer os seus direitos, receando serem
despedidos sem justa causa, com a cumplicidade das autoridades coloniais, que
não recusavam banquetear-se em lautos banquetes com os administradores –
Sim, não se pense que o colonialismo, só subjugava os africanos.
Pessoalmente, senti no corpo e no espírito, essa afronta, pois também fui
empregado de mato, aos 18 anos.
Tal como
escreveria, Fernando Reis, autor da “Roça” e da “Ilha No Meio do Mundo”, “nos
cemitérios da ilha estão muitos corpos de colonos que vieram para cá cheios de
esperança e por cá morreram, depois de se darem, de economizarem, certos que voltariam
mais tarde às suas terras, com a compensadora independência económica. E
as suas esperanças apodreceram com os seus corpos, já esquecidos dos seus
amigos e dos eus familiares, exceto, claro, das mães, enquanto vivas.
Com a revolução do
25 de Abril, e sobretudo, nos pós independência das Ilhas, o cenário alterou-se
– Abandonadas pelos proprietários e colonos, seguiu-se a sua nacionalização,
sendo distribuídas por parcelas a antigos trabalhadores e aos santomenses, que
quisessem dedicar-se à atividade agrícola. Tal como atrás referi, a falta
de experiência, e, também de apoios financeiros suficientes, nomeadamente na
conservação do seu património arquitetónico, a exploração da terra não
foi a mais bem-sucedida – Num clima, quente e húmido, de intensa pluviosidade,
a conservação das casas e habitações, requer cuidadosa conservação, pelo que, o
resultado foi a degradação de muitos desses antigos edifícios: desde a Casa
Grande, residência e sede do administrador, às casas dos colonos, hospital e mesmo
as próprias senzalas.
Não se pode,
contudo, dizer que a vida nas roças não tenha prosseguido a sua atividade
agrícola – E, em certa medida, até de forma positiva: pois, as pessoas passaram
a poder desfrutar do fruto do seu trabalho, a poderem colher livremente, os
cachos de banana, a fruta-pão, o izaquente, a ter a sua criação de porcos
e galinhas, privilégio que lhe era inteiramente vedado no tempo colonial, que
reduzia os trabalhadores apenas à sua condição de serviçais, mal pagos e mal
alimentados.
Naturalmente,
que, tendo deixado de haver as tradicionais garantias de exportação do cacau e
do café, através dos barcos que, no tempo colonial, demandavam as ilhas,
assim como a falta de experiência técnica, assegurada pelos colonos, tal
facto veio refletir-se na falta de estímulo para a produção, passando das 10
mil toneladas às 2.000 anuais, pelo que, atualmente, a vida nas roças, em
termos de exploração agrícola, serve mais de economia de subsistência de que de
fonte económica.
Porém, só o simples
facto, de tais propriedades, poderem cumprir o papel de
subsistência, é já de si muito relevante: sim, antes muitas barrigas
confortadas, de que uma grande barriga cheia (a dos patrões e administradores)
e a grande maioria a ter que apertar o cinto - Aspeto
que é negligenciado, quando hoje se pretende analisar a situação das roças,
apenas sob o ponto de vista macroeconómico ou apenas pela simples aparência
do estado de degradação do antigo património arquitetónico – Claro que é
possível compatibilizar a vida das pessoas, com outros projetos de caris
empresaria, tanto a nível de exploração agrícola, como sob ponto de vista
turístico.
TURISMO NAS
ROÇAS – CONCILIADO COM A VIDA DAS COMUNIDADES - PORQUE NÃO!
Há roças onde essa
experiência, já foi implementada – e com sucesso – nomeadamente, na antiga Roça
Bombaím - Conquanto bem delineados, conciliando os interesses
empresariais com o das populações, não as menosprezando, naturalmente que
há futuro assegurado para projetos de natureza turística. Um bom exemplo,
foi o lançamento de um concurso internacional para a
recuperação das casas das antigas roças, com vista a transformar este
património em alojamentos turísticos, em “desenvolver o turismo rural e
ecológico - Há, pois, que prosseguir e dar apoio, não apenas
aos que vêm do exterior, como às iniciativas dos próprios santomenses, não
menosprezando a prata da casa.
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