expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

terça-feira, 13 de outubro de 2015

São Tomé - Roça Bombaim – Agroturismo – Antiga propriedade de cacau, onde o visitante tem o prazer de saborear o mítico mangostão e desfrutar da mais luxuriante paisagem equatorial – Naquela que foi também antiga colónia penal de negros e degredo de brancos




Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Dos tais paraísos onde nem faz frio nem faz  calor  - Mesmo quando a chuva é diluviana e o nevoeiro paira no denso arvoredo dos  montes em redor como algodão em rama. Embora a noite seja mais fresquinha e convide a algum agasalho – Mas de dia anda-se bem e até de tanguinha.


Para o turista que vai a S. Tomé, ir à Roça Bombaim, mais de que uma sedutora obrigação, é uma irresistível tentação! - É dos percursos mais exóticos e surpreendentes para quem visita o interior da Ilha de S. Tomé - Quando menos o espera, numa abertura da densa e luxuriante floresta equatorial, ei-lo a deparar-se com outra das maravilhas deste paraíso equatorial - Sim, com  a mais famosa e espetacular  cascata que escorre das mais altas serranias, cobertas de  densas e altíssimas árvores - Mesmo do seio do copado coração do obó - da grande floresta Verde Equatorial - Veja o vídeo e admire 


Todas as roças em S. Tomé têm nomes que não foram dados ao caso mas explicam acidentes geográficos ou os mais diversos motivos  e origens. O caso da Roça Bombaím, que parece remeter-nos aos confins do oriente e não é sem razão, como explicarei mais à frente.  

Na verdade, quando se abandonam as curvas e contracurvas, tendo sempre a floresta por companhia  e, já muito próximo,  um caminho ladeado de cacaueiros, bananeiras e árvores de sombra, à frente surge-lhe um troço plano e direito, que conduz o visitante a um amplo largo  – Que é talvez dos terreiros mais amplos das antigas roças. Fica-se perplexo, deixando no espírito a pergunta de como é possível tal planura, numa zona tão acidentada. 

Pois a resposta parece apontar para o intensivo trabalho escravo que ali existiu. – Está acima dos 700 metros de altitude, num clima que, embora sendo caracterizado por super-húmido, com uma precipitação anual normalmente superior a 2. 425 mm e com temperaturas que oscilam entre  13,5 a 23º, podia considerar-se, de algum modo  benévolo e temperado para o europeu que ali trabalhava, contudo, já o não era em termos de acessibilidades, sobretudo depois de se deixar o percurso para a  Roça Monte Café.  Era como que um  lugar quase perdido ou esquecido nas brenhas da floresta mais elevada da Ilha – Daí ter sido escolhido para desterro de vários portugueses, que caíam em desgraça – Mas principalmente como campo prisional de nativos e serviçais das roças.



Este é parte do terreiro da Roça Bombaim - Do lado direito, no primeiro plano, as antigas celas de prisioneiros  – Que, pelo que me pude aperceber, devido ao isolamento do lugar, parece ter ficado praticamente remetida à transmissão oral. Mais adiante os chalés dos empregados brancos. 

Na imagem  está também  a Jamila, de origem cabo-verdiana, aqui nascida e uma das dezenas de pessoas que aqui vive e trabalha, e que, nas horas vagas, depois da empreitada, se dedica a vender alguns dos produtos que cria na senzala. – Sorridente, comunicativa e   amável, tal como é apanágio dos filhos e filhas  desta maravilhosa ilha – E também daqueles que acabam por fazer desta terra, sua pátria. A beleza e a tranquilidade, que aqui é contemplada e transmitida aos corações, só pode infundir sentimentos de harmonia e de paz . 



Situada, na parte mais alta e do interior da Ilha de São Tomé, já no limite com a floresta virgem equatorial, conhecida por obó. Trata-se de uma das antigas propriedades coloniais do cacau e do café, que, também chegou a ser colónia penal  - De trabalho forçado – Mas, antes de o ser, já havia sido local de degredo para portugueses, caídos em desgraça - É um dos episódios mal conhecidos, que, pelos vistos,  terá só  passado  de boca em boca para quem ali vive. - Tal como a generalidade das grandes roças, teve vários edifícios, no espaço da sua sede, as instalações tecnológicas, armazéns, casa do patrão, senzalas e  hospital.

  
Com a independência, os seus antigos donos, receando adaptarem-se aos então conturbados tempos de mudança, abandonaram-nas.  Ficaram os trabalhadores, que lá residiam (sobretudo contratados cabo-verdianos), entregues à sua sorte. Com a nacionalização, pretendeu-se devolver a terra, a quem a trabalhava, a intenção era louvável mas a inexperiência, a falta de quadros técnicos e de incentivos financeiros para conservar pelo menos os edifícios, que acabaram por ficar degradados, não permitiu que mantivessem os níveis de produção anterior. Todavia, surgiu uma nova realidade: a de possibilitar a sobrevivência de numerosas famílias, que, no tempo colonial, se limitavam apenas a ser mão-de-obra escrava.  E, aos mais insubmissos, além de poderem ser alvo da dura e déspota disciplina da roça, ainda poderem  ser presos ou acabar na colónia penal de Bombaim, em trabalhos forçados, de cuja memória ainda restam alguns edifícios, a que Jamila se refere. 






BOMBAIM NOME DE ROÇA QUE O TRANSPORTA ÀS ÍNDIAS – MAS COM ALGUM FUNDAMENTO 

Roça Bombaim – Agroturismo – O prazer de passar noites de sonhos e de  saborear o mítico mangostão, rodeado da luxuriante paisagem equatorial – Só ali poderá encontrar a rainha das frutas tropicais". Verdadeiro "manjar dos deuses", comparada ao néctar da árvore do paraíso, com excelentes propriedades medicinais e nutritivas, que proporcionam uma ação antioxidante, anti-tumoral, anti-inflamatória, antiviral, antifúngica e antibiótica -  

 Émerson e Domitília -  O amável e sorridente  casal, proprietário da Roça Bombaím,  que lhe dará as boas-vindas e o receberá em ambiente  acolhedor e  familiar, ao mesmo tempo, intimista e liberto de todas e quaisquer pressões, em contato harmonioso e convidativo,  com a mais bela e viçosa  natureza,   longe de todo o bulício da vida apressada e estressante, que caracteriza a sociedade atual – Numa  das roças, com uma história muito interessante, onde se produz o mítico Mangostão -  Sim, porque só ali poderá encontrar o tão apetecido e desejado fruto, cujas sementes foram trazidas da índia, por um antigo diplomata português, que para ali foi cumprir uma pena de degredo. Considerada a fruta mais saborosa do mundo: "a rainha das frutas tropicais". Verdadeiro "manjar dos deuses", comparada ao néctar da árvore do paraíso, com excelentes propriedades medicinais e nutritivas, que proporcionam uma ação antioxidante, anti-tumoral, anti-inflamatória, antiviral, antifúngica e antibiótica


Um bem-haja, muito especial ao Coronel Victor Monteiro, que, além de me ter proporcionado, um maravilhoso passeio, na sua viatura, ao sul da ilha, ainda fez de câmara-men, neste video

HONRAS DA CASA

Domitilia e Emerson, ladeados pelo Coronel Victor Monteiro
Na Pousada da Roça, poderá, pois, desfrutar de ambiente familiar e personalizado - Emerson e Domitília – os anfitriões, que  lhe poderão proporcionar os mais saborosos pratos típicos da ilha, e, na intimidade dos quartos da hospedagem,  noites prenhes de tranquilidade, sonho e  magia, tendo como pano de fundo os misteriosos sons e silêncios da floresta, assim como  visitas guiadas aos mais recônditos e encantadores trechos de tão sugestiva como  exótica paisagem – Sim, porque, tudo isto, é fruto de muita persistência e de muitos sacrifícios, que  lograram concretizar um verdadeiro  sonho, que começou a esboçar-se nos finais dos anos 80 – Ou seja,  o de transformar uma antiga roça que se encontrava, praticamente abandonada, e, com  a colaboração das famílias que ali trabalhavam, num dos mais aliciantes projetos   agroturísticos e agropecuário desta Ilha 




Trata-se, de facto, de uma antiga roça, atualmente transformada em media empresa familiar, com uma área total de 143 hectares, situada num dos pontos mais elevados e mais belos da Ilha de S. Tomé,  quase junto ao coração do obó, sim, fonteira com  o manto selvagem e luxuriante  da grande floresta equatorial – Em cujo terreiro ou à sua volta, se conservam ainda alguns dos  antigos edifícios do tempo colonial:  - desde os chales,  senzalas, armazéns e  secadores do cacau, que, pouco a pouco têm vindo a ser recuperados, laborando com a rotina habitual de outros tempos, só que, mais tranquilamente, com outra alegria e sorrisos de quem ali trabalha e faz da roça, o seu ganha pão e ao mesmo tempo o  seu lar, fazendo esquecer o jugo escravizante de outrora, onde o trabalhador era mero instrumento de servidão – o escravo serviçal  - não propriamente a pessoa humana –E, com uma novidade, muito atrativa para o visitante: a de poder pernoitar na  antiga administração,  que foi transformada numa magnifica e acolhedora pousada hoteleira  – Imagem que lhe surgirá, depois de se deslumbrar pela queda de uma das mais impressionantes cascatas, e tornear caminhos orlados da mais pujante verdura florestal, como se, subitamente, convidasse o visitante a espraiar o olhar por um amplo e aberto espaço, que vai desde o espesso e verdejante manto arbóreo, até lá ao fundo, onde se divisa a orla marítima e se estende o azul do infinito oceano.

As roças de São Tomé e Príncipe, propriedades das grandes empresas de cacau e de café, surgidas após o ciclo da cana do açúcar, eram a imagem da prosperidade da exploração colonial  mas, para os santomenses, elas eram sinónimo de domínio e de escravidão -  Infundiam um tenebroso respeito de submissões e de prepotências, tanto aos negros, como a maioria dos  empregados brancos, que dificilmente podiam fazer valer os seus direitos, receando  serem despedidos sem justa causa, com a cumplicidade das autoridades coloniais, que não recusavam banquetear-se em lautos banquetes com os administradores –  Sim, não se pense que o colonialismo, só subjugava os africanos.  Pessoalmente, senti no corpo  e no espírito, essa afronta, pois também fui empregado de mato, aos 18 anos.

Tal como escreveria, Fernando Reis, autor da “Roça” e da “Ilha No Meio do Mundo”, “nos cemitérios da ilha estão muitos corpos de colonos que vieram para cá cheios de esperança e por cá morreram, depois de se darem, de economizarem, certos que voltariam mais tarde  às suas terras, com a compensadora independência económica. E as suas esperanças apodreceram com os seus corpos, já esquecidos dos seus amigos e dos eus familiares, exceto, claro, das mães, enquanto vivas. 

Com a revolução do 25 de Abril, e sobretudo, nos pós independência das Ilhas, o cenário alterou-se – Abandonadas pelos proprietários e colonos, seguiu-se a sua nacionalização, sendo distribuídas por parcelas a antigos trabalhadores e aos santomenses, que quisessem dedicar-se à atividade agrícola.  Tal como atrás referi, a falta de experiência, e, também de apoios financeiros suficientes, nomeadamente na conservação do seu património arquitetónico,  a exploração da terra não foi a mais bem-sucedida – Num clima, quente e húmido, de intensa pluviosidade, a conservação das casas e habitações, requer cuidadosa conservação, pelo que, o resultado foi a degradação de muitos desses antigos edifícios: desde a Casa Grande, residência e sede do administrador, às casas dos colonos, hospital e mesmo as próprias senzalas. 

Não se pode, contudo, dizer que a vida nas roças não tenha prosseguido a sua atividade agrícola – E, em certa medida, até de forma positiva: pois, as pessoas passaram a poder desfrutar do fruto do seu trabalho, a poderem colher livremente, os cachos de banana, a fruta-pão, o izaquente,  a ter a sua criação de porcos e galinhas, privilégio que lhe era inteiramente vedado no tempo colonial, que reduzia os trabalhadores apenas à sua condição de serviçais, mal pagos e mal alimentados.

 Naturalmente, que, tendo deixado de haver as tradicionais garantias de exportação do cacau e do café,  através dos barcos que, no tempo colonial, demandavam as ilhas, assim como a falta de experiência técnica, assegurada pelos colonos,  tal facto veio refletir-se na falta de estímulo para a produção, passando das 10 mil toneladas às 2.000 anuais, pelo que, atualmente, a vida nas roças, em termos de exploração agrícola, serve mais de economia de subsistência de que de fonte económica. 

Porém, só o simples facto, de tais propriedades,   poderem cumprir o papel de subsistência, é já de si muito relevante: sim, antes muitas barrigas confortadas, de que uma grande barriga cheia (a dos patrões e administradores)   e a grande maioria a  ter  que apertar o cinto  - Aspeto que é negligenciado, quando hoje se pretende analisar a situação das roças, apenas sob o ponto de vista macroeconómico ou apenas pela simples aparência  do estado de degradação do  antigo património arquitetónico – Claro que é possível compatibilizar  a vida das pessoas, com outros projetos de caris empresaria, tanto a nível de exploração agrícola, como sob ponto de vista turístico.

TURISMO  NAS ROÇAS – CONCILIADO COM A VIDA DAS COMUNIDADES - PORQUE NÃO!

Há roças onde essa experiência, já foi implementada – e com sucesso – nomeadamente, na antiga Roça Bombaím -  Conquanto bem delineados, conciliando os interesses empresariais com o das populações,  não as menosprezando, naturalmente que há  futuro assegurado para projetos de natureza turística. Um bom exemplo,  foi o lançamento de um concurso internacional para a recuperação das casas das antigas roças, com vista a  transformar este património em alojamentos turísticos, em “desenvolver o turismo rural e ecológico  - Há, pois,  que prosseguir e dar apoio, não apenas aos que vêm do exterior, como às iniciativas dos próprios santomenses, não menosprezando a prata da casa.

Nenhum comentário :