“Os moto-taxistas, ou
motoqueiros - como são conhecidos nas ilhas - têm sido as principais vítimas.
Imprudência no trânsito e falta de carta de condução são apontadas como
principais causas dos acidentes.” – E, no tempo colonial, como era? – Eram e
continuam a ser a grande atração dos jovens. Mas, naquele tempo, havia boas
marcas e boas motos, mas só uma minoria as podia comprar. Hoje são o meio de
transporte mais popularizado – Porém, o acidente, mais brutal e espetacular,
aquele que mais chocou a sociedade colonial e também a população santomense,
foi o que ocorreu num carro ligeiro, que ceifou a vida do Jovem Emídio Correia,
estudante liceal, nascido no Algarve, mas que ali residia, com os seus pais,
desde adolescência
.
O LEVE-LEVE NÃO CIRCULA
NAS ESTRADAS
A vida em São Tomé decorre
ao pacífico ritmo do leve-leve ou do moli-moli mas não naqueles que conduzem
por caminhos ou estradas – Sempre foi assim, desde o tempo colonial e assim
parece continuar a ser. Claro que a condução desabrida e perigosa, acontece por
todo o lado. Os acidentes rodoviários são uma tragédia constante, desde a
invenção do automóvel. É o que se pode dizer a atração do irresistível fascínio
da vertigem, que faz subir a adrenalina e convida até à própria aventura.
Todavia, o fenómeno, em
São Tomé, desde que surgiu a profissão de “motoqueiro”, como forma de ganhar uns
trocados, como forma de subsistência, constituída maioritariamente por jovens, que
são o grosso da população, muitos dos quais impreparados e sem carta de condução,
ganhou forma de alarmante tragédia e perigosidade
- E também de enorme preocupação para as
autoridades, quer a nível da segurança nas estradas, quer para as entidades sanitárias
"Uma problema de saúde pública"
Referem noticias que "O cirurgião e diretor dos
cuidados da saúde, Pascoal d’Apresentação, já perdeu a conta aos casos de
acidentes lhe chegaram as mãos. Este médico diz que, tendo em conta que os
mortos ou mutilados são, na sua maioria, jovens, esta situação afeta também a produtividade
do país: “Por essa razão consideramos este um problema de saúde pública” 04/09/2013. Aumento de acidentes de viação preocupa São Tomé e ..
O PORQUÊ DOS BRUTAIS
ACIDENTES NA ESTRADA – QUE O HOMEM DA
PEDRA LASCADA AINDA NEM SEQUER IMAGINAVA
O fenómeno é deveras inquietante,
em qualquer país do mundo, onde circulem carros nas estradas, tem sido objeto
de estudos e análises, as mais díspares, com as mais diferentes explicações e
respostas
– O próprio Vaticano, também, já por várias vezes, manifestou a sua preocupação
e fez a sua análise – Numa das quais numa mensagem dirigida aos leitores do
«L’Osservatore Romano» pelo padre Gino Concetti« - que questiona e diz: “Não
se podem transformar as estradas, meios de comunicação e solidariedade, de
desenvolvimento e civilização em lugares de luto e de lágrimas».
(…) Por que há tantos
acidentes nas estradas? O diário vaticano revela que «inicialmente se pensou
que uma das causas principais era a inexperiência das novas gerações, a
facilidade e a superficialidade que as pessoas enfrentavam as diversões».
Mas, «pouco a pouco o fenômeno foi objeto de uma reflexão mais profunda. Da evolução cultural, dos evidentes traços secularistas e utilitaristas, se constatou uma “filosofia” diversa, que entrou nas novas gerações, como “fonte inspiradora” de sua atuação e de seu comportamento no respeito à vida»
Deu-se uma fratura ética que mudou a situação: «Enquanto o horizonte antropológico estava unido estreitamente à visão da pessoa humana (...) as opções em relação à vida conservavam”
Mas, «pouco a pouco o fenômeno foi objeto de uma reflexão mais profunda. Da evolução cultural, dos evidentes traços secularistas e utilitaristas, se constatou uma “filosofia” diversa, que entrou nas novas gerações, como “fonte inspiradora” de sua atuação e de seu comportamento no respeito à vida»
Deu-se uma fratura ética que mudou a situação: «Enquanto o horizonte antropológico estava unido estreitamente à visão da pessoa humana (...) as opções em relação à vida conservavam”
O ACIDENTE – QUE HÁ, 42
ANOS, IMPRESSIONOU BRANCOS E NEGROS – E OS LEVOU A SOLIDARIZAREM-SE NO MESMO
FUNERAL
Foi notícia, na revista
Semana Ilustrada, cujo relato e imagens, hoje trago aqui, em mais um episódio
das minhas antigas memórias de jornalista, naquelas Ilhas – Acidente esse, que,
em minha opinião, além do grande impacto
e consternação geral que provocou, transversalmente, desde brancos a negros, se revelou
como um dos mais profundos testemunhos de convivência, entre colonos e os
santomenses, nomeadamente, nos meios urbanos, que progressivamente passou a
existir nos anos seguintes ao terrível e
conturbado período do Governador Carlos Gorgulho.
Sim, é uma verdade inegável,
que, no tempo colonial, a vida nas roças
era dura e escrava para os negros e também
para a quase generalidade dos brancos (eu conheci essa escravatura aos 18
anos) , salvo para os administradores e feitores-gerais e chefes de escritórios,
porém, fora desses feudos, começavam a registar-se alguns passos significativos
– Especialmente, a partir dos anos sessenta, a nível de diálogo e convivência, entre os
portugueses e os negros das diversas etnias Principalmente, no comércio, pescas,
indústria e funcionalismo público, se
bem que ainda continuassem a subsistir profundas desigualdades sociais.
E, se houve alguns avanços,
foi mais a nível das mentalidades – Não tanto pela evolução do sistema colonial,
porque, este, há muito estava condenado pela história e, mesmo assim, teimava
persistir sob diferentes roupagens, aprisionado por uma politica incapaz de ler
os sinais dos novos tempos, de perspetivar o futuro, cega e tacanha, divorciada
do nos ventos que sopravam, a favor da liberdade e da independência dos povos
colonizados.
O ACIDENTE NA ESTRADA QUE
FOI QUASE UM DIA DE LUTO GERAL EM S. TOMÉ
Eis o que então escrevi: "Fim-de-semana marcado a sangue e molhado
com lágrimas. Eram cerca das vinte horas de sábado quando o jovem Emídio de
Jesus da Conceição Correia, com apenas vinte anos de idade, estudante liceal,
sétimo ano, natural de Estombar -
Algarve, filho de Alvarina de Jesus Correia e David da Conceição Correia,
tripulava uma viatura “Datsun” ma estrada que liga a Pousada Salazar à cidade
de São Tomé. Naquele estabelecimento estivera em alegre convívio com pessoas
amigas e alguns turistas estrangeiros, após o que se propusera regressar à
urbe. Numa das poucas rectas a escassos quilómetros de São Tomé e em local
devidamente iluminado , foi embater, sem esboçar sequer a travagem, com uma
camioneta que estava estacionada à berma da rodoviária, tendo dois terços da
carroçaria sobre o passeio,
Presume-se que o condutor do automóvel, o infeliz Emídio Correia, viesse distraído e a certa velocidade, poia
que o embate fez ligar o motor da camioneta que marchou alguns metros. A
viatura do Emódio ficou literalmente desfeita, e, do acidente brutal, resultou
a morte deste jovem. O companheiro que
com ele seguia ficou em estado grave.
Emídio Correia gozava de gerais simpatias
na cidade e o seu passamento foi altamente sentido por parte dos seus colegas e
é como é lógico pelos pais e parentes mais próximos.
O funeral que se realizou na tarde de
segunda-feira, pelas quinze horas, constituiu enorme manifestação de pesar e congregou centenas de pessoas e
inúmeras viaturas automóveis no cortejo
fúnebre,
Mais uma acidente que na sua brutalidade ceifou
uma vida em pleno desabrochar. Os ímpetos da juventude e uma menor
responsabilidade transformaram a alegria repousante de um fim-de-semana numa
tragédia para a família da vítima.
Que todos os jovens – e aqueles que já o
não são – meditem nestas repetidas e
lamentáveis ocorrências e vejam nos
outros a imagem que as loucuras de “carregar no prego” podem acarretar. E quase
sempre assim acontece, mais cedo ou mais tarde
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