Por Jorge Trabulo Marques -Jornalista
Finalmente, uma
velha aspiração, um velho sonho que se transformou em iluminada realidade
- O importante é que seja um passo para dar outro e não
para temporariamente os políticos se mostrarem - Que o gerador não avarie (ou lhe falte o
combustível), como por vezes acontece na cidade - Mas isso não é só em S,
Tomé - Veja-se o que se passou com o
Equipamento de ressonância magnética do Hospital da cidade da Guarda
A Vila de Malanza,
situada no extremo sul de S. Tomé, nas
faldas do Monte Mário, ladeando uma das baías de vegetação mais espessa e
luxuriante, finalmente passou a ter
acesso à tão desejada energia elétrica - Pelo menos, durante 6 horas por dia, entre as 17, ou seja meia
hora antes do pôr-do-sol e as 23 da noite – Uma boa notícia, dada recentemente,
pelos órgãos de comunicação social, desta Ilha - Velha aspiração do maior aglomerado populacional do distrito do Caué,
constituído, maioritariamente por angolares e tongas, cujas vidas estão
intimamente ligadas à pesca – No tempo em que as roças eram exploradas –
Ribeira Peixe, Novo Brasil, Monte Mário, S. Miguel e Porto-Alegre - , ainda ali prestavam
serviços, agora só se for para a exploração do palmar, que ocupa uma vasta área
do Cáué e do Parque Nacional do Obó, entretanto ali plantado.
Para quem já
deixou o rio Cáué e vai em direção a Porto Alegre, o único aglomerado
habitacional, que, a certa altura, se lhe vai deparar, quando abandona a última curva do permanente e quase sufocante verde intenso, húmido e cerrado da
floresta, é um friso de típicos casebres
da Vila de Malanza, lado a lado da
estrada, agora sempre plana e a direito,
ensombradas por escassas e altaneiras árvores de fruta pão, depois de dobrada uma ponte sob a
qual passa uma pachorrenta linha de água, cujas margens facilmente denotam que o mar também as pode mergulhar ou senão mesmo as enxurradas,
vindas lá do interior da floresta, que ali só parece descobrir-se à distância – Do lado esquerdo, é a languidez da praia a
perder-se no azul do infinito, e, do
lado direito, ainda a mancha verde, que,
devido à abertura da baía, agora parece ter o condão de nos aliviar do grande sufoco
florestal.
Vale a pena parar
e registar as primeiras fotos ou então
abrandar a velocidade porque, embora pareça um lugar quase despovoado, não é
bem assim. A vida vai-se revelando,
sucessivamente, ao longo da estrada. Os sorrisos das crianças surgem onde menos
se espera e aos magotes. E, nas rugas dos semblantes dos mais velhos, sentados
isoladamente ou a cavaquear, também facilmente nelas se descobrem histórias de vidas
tostadas pelas marés e de valentias em
frágeis pirogas em calemas e tempestades, que ali se encontram perfiladas à
beira de suas casas, que parecem ser todas da mesma cor com que os céus de
cinza e as chuvadas as tisnaram pela sua constante insistência.
Excetuando o vai e vém do mar, quando os olhos
se estendem além da areia dourada, fina e macia, infinito fora, tudo ali
decorre com a maior tranquilidade e paz dos deuses. Lavadeiras cumprem calmamente
as suas tarefas nas águas do rio. As crianças, desnudas, cedo se exercitam na arte de navegar em pedaços de troncos ou restos de canoas - E nem precisa de ser no mar - aproveitam os açudes dos rios, que ali desaguam ou do refluxo da maré. Os cães dormem a sua soneca a qualquer hora
do dia. Varas de porcos passeiam-se pela praia à cata de moluscos, imagem também frequente nas localidades
situadas junto à costa – Mas não se pense que, tal habituação, conspurca as
areias ou pode desencorajar o turista a passear-se à vontade pela praia e a dar
os seus mergulhos numa água limpidamente azul e quente! - Em S. Tomé, esse íntimo convívio, com a Natura, faz
parte do dia a dia.
A pobreza não se descobre nos rostos porque a Natureza é bela e fértil e proporciona serenidade, paz e alegria de viver - Mas existe e é profunda. O artesanato para vender ao turista que faz uma pausa, embora interessante é incipiente, de reduzida expressão. Excetuando o aproveitamento da copra, da banana, fruta-pão e do conote, na floresta que ladeia o povoado - produtos usados para consumo local - ou a
criação de porcos e galináceos, as suas vidas estão praticamente dependentes
dos recursos do mar – E, dir-se-ia que também unicamente para sobrevivência da
população, pois quem é que, além do Pestana Equador, no Ilhéu das Rolas, lhes
poderá comprar o pescado, tão longe é a distância que a separa de São João dos
Angolares ou da capital - E onde estão os frigoríficos para guardar o pescado - Salvo o que é seco ao sol, o que ali não é fácil, pois há mais dias de chuva ou de céu encoberto de que limpo e desnublado.
Refere o Télanón, num
artigo assinado por Abel Veiga, que a
concretização deste velho sonho, se ficou a dever a “uma acção do décimo sexto
governo constitucional, liderado pelo doutor Patrice Trovoada. O Governo
cumpriu com o seu dever constitucional, mas as reportagens dos órgãos Estatais
de Comunicação Social, mostraram louvores e acções de graças de endeusamento do
Primeiro-ministro por parte de alguns populares, como se tratasse de um favor
feito as duas comunidades.
António Monteiro deputado
do MLSTP/PSD pelo distrito de Caué, por sinal elemento influente do partido na
região sul da ilha de São Tomé, juntou-se ao Primeiro-ministro Patrice Trovoada
e ao Governo da ADI, na celebração da conquista de energia para uma das
populações considerada mais pobre do país – Excerto de . Finalmente populações de Porto Alegre e da Vila
Malanza
NUM QUASE FIM DE TARDE - Recordações
de histórias do Pico Cão Grande, de caçadores de porcos e de heroicas provas de
sobrevivência de pescadores
Quem for a S. Tomé, com intuito de
conhecer as suas mais belas paisagens e maravilhosas praias, dificilmente
deixará de ir ao Sul - Existe uma estrada alcatroada, que lhe
proporcionará as mais fascinantes surpresas, e é das melhores vias, atualmente
existentes na Ilha - Umas vezes, lado a lado com o oceano equatorial,
outras, com as curvas mais imersas pela florestas, sim, há muitas curvas
e contracurvas, esse é o desfio com o qual tem de saber lidar o viajante de
carro, mas é um desafio deveras aliciante e encantador.
No meu caso, ir ao Sul, 40 anos depois de meus olhos terem deixado de contemplar o Pico Cão Grande e toda a majestosa floresta do obó envolvente, impunha-se como que uma peregrinação sagrada e obrigatória – Mas eu ainda fui mais a sul, pois desloquei-me até à Vila Malanza, graças à cortesia de bons amigos - o português, Manuel Gonçalves e, posteriormente, do Coronel Victor Monteiro.
No meu caso, ir ao Sul, 40 anos depois de meus olhos terem deixado de contemplar o Pico Cão Grande e toda a majestosa floresta do obó envolvente, impunha-se como que uma peregrinação sagrada e obrigatória – Mas eu ainda fui mais a sul, pois desloquei-me até à Vila Malanza, graças à cortesia de bons amigos - o português, Manuel Gonçalves e, posteriormente, do Coronel Victor Monteiro.
E que maravilhoso fim de tarde, ali não desfrutei!... Pese o facto do céu se encontrar muito nublado, o que é normal numa das zonas mais pluviosas de S. Tomé, mormente na Época das Chuvas, que foi justamente o que sucedeu na minha deslocação, nos finais de Outubro, de 2014.
Há quem passe pela estrada a fora, que corta a pequena vila e se limite ao olhar as pessoas, as casas, as canoas da praia, mas talvez sem olhos de ver: tira foto, mesmo de dentro do carro e toca a girar - Com aquele olhar apressado do viajante de carro, que é geralmente dominado pela avidez da descoberta, mas, no fundo no que pensa é desbundar quilómetros, atrás de quilómetros, sem nunca se dar por satisfeito.
Não foi o meu caso: - pedi ao meu companheiro de viagem, que tinha alugado o jipe, que me deixasse ali para eu dar um saltinho até à praia para falar com os pescadores, enquanto ele ia até Porto Alegre, já que esse era o principal objetivo do seu roteiro.
E, por lá fiquei, não muito tempo, porque, no Equador, o dia começa cedo mas a tarde escoa-se rapidamente. Mas foi o tempo suficiente para ali passar uns momentos inesquecíveis, convivendo com velhos lobos do mar, caçadores de porcos e no meio de revoadas de alegres e risonhas crianças, trazendo à memórias as aventuras da minha escalda ao Pico Cão Grande e no mar – Veja o vídeo e verá como alegres e hospitaleiras são estas gentes do Malanza – De resto, cordialidade e simpatia, é apanágio de quem aqui nasceu e aprendeu a conviver com as mais deslumbrantes maravilhas da Natureza .
VILA MALANZA – DEVE O SEU NOME E FORMAÇÃO AO CONDE
MALANZA
Num país europeu, onde a maioria das
principais cidades têm mais população de que a Ilha de S. Tomé, Malanza
não passava de um simples e modesto aglomerado de casas de madeira - Porém, se
há vila, em S. Tomé, com história, é a Vila de Malanza - nome advém-lhe do
rio, que a atravessa, ao desaguar no mar – E foi o título dado ao Visconde de
Malanza, de seu nome Jacintho Carneiro de Sousa e Almeida, filho do 1º Barão de
Água Izé e Conselheiro, João Maria de Sousa Almeida – Tal como é dito por
Manuel Ferreira Ribeiro, no pequeno livro”1º Barão d’Água Izé e seu filho
Visconde de Malanza, “o título Malanza, refere-se a um dos
lugares mais agradáveis da Fazenda de Porto-Alegre, fundada pelo nobre Visconde
no extremo meridional da Ilha e que representa um valioso serviço por ele feito
a S. Tomé.
Foi este ousado agricultor quem
lançou as bases da colonização ao sul e Sudoeste da Ilha. E todas as
terras, de floresta seculares, que por ali existiam sem exploração alguma,
foram transformadas em belas plantações, e foi dotada toda esta região
inculta de notáveis fazendas ou lindas quintas agrícolas ou tropicais, que
fazem o encanto de todas aqueles que as têm visitado.
Montou serrarias a vapor, construiu
um caminho de ferro, lançou uma boa ponte sobre o Malanza, preparou uma ampla
piscina – a primeira da ilha de S. Tomé – e abriu um campo de aclimatação,
aonde trouxe as melhores plantas úteis tropicais.
A sua fazenda de Porto-Alegre, é,
sem a menor dúvida, uma das maiores e das mais bem expostas de toda a ilha. E,
por isso mesmo, constituiu uma região cacaueira por excelência.
(…) Não havia na Ilha de S. Tomé
meios de transportes fáceis e seguros, em volta da ilha, lutando assim os novos
agricultores estabelecidos ao Sul, com grandes embaraços, e então adquiriu
o belo vapor Malanza, oferecendo fácil e rápida viagem aos que se dirigiam às
fazendas, para as quais só podia aproveitar a via marítima.
Foi o nobre Visconde o primeiro
agricultor de S. Tomé que me navio próprio – no Yatche Vá-Inhá - fez a
travessia daquela ilha a Lisboa.
Por muitas vezes, em terra e n mar,
deu provas de grande coragem apresentando-se sempre nos grandes perigos, com o
maior sangue frio.
Na exploração agrícola que iniciou
no sudoeste da Ilha, e à qual chamou tantos europeus, revelou tal tenacidade de
carácter e tão viva fé no trabalho, que poderia invocar-se esse arrojado
empreendimento como uma das suas maiores glórias.
Nos serviçais e trabalhadores tem
amigos e é sempre dia de grande festa em Porto-Alegre aquele que faz reunir
todas as crianças. Mostra assim o vivo interesse que nel desperta a população
trabalhadora, distinguindo, com singular afecto os que foram seus companheiros
nos rudes trabalhos agrícolas, que primeiros se fizeram nas fazendas de
S. Miguel e Porto Alegre,
Contra a praga dos ratos, que tão
grande prejuízo causa à agricultura, mandou vir do Instituto Pasteur, em
julho de 1895, o veneno que mais se recomenda para o destruir"
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