José
de Almeida Sousa Bastos, 66 anos, natural de São Tomé, antigo baterista do
Mindelo - Ele é ainda a memória viva do
conjunto Mindelo, um dos
mais populares grupos da música típica
santomense, na língua fôrro, que se
formou no início dos anos 60, com um estilo muito singular, não apenas pela juventude
dos seus elementos, mas também pela melodia e nostalgia das suas letras e
composições e- Tiveram o seu ague, pouco antes do 25 de Abril, numa digressão
de 3 meses por Angola – Mas a revolução veio provocar-lhe algumas perturbações,
acabando por extinguir-se três depois da independência, em 1978
Depois da breve entrevista,
pode ouvir o tema musical Mindelo Nga Subli Ba Obo
Do
grupo, sob a orientação de Godinho, já falecido, faziam parte: além de José
Almada, mais conhecido por Zé Mindelo, o Quintino (chinês) solista, a viver em Angola;
o Zeferino, viola ritmo, o Mário e o Fonseca, Viola Baixo, o Inácio, reco-reco,
todos já falecidos
Zé
Mindelo, recorda que “foi um tempo em que tocávamos bastante e a sério!... Não era tocar de brincar!...Era
tocar a sério!...Tínhamos que ensaiar as músicas, durante dois, três dias para
depois as levarmos ao público” – Recorda José…
Sim, num tempo em que as letras, na sua
maioria, eram escritas na língua fôrro,
e, para agradarem ao público, tinham de
conter sempre algumas piadas. A música tinha então outra melodia “e
selecionada” mas tinha que ser vista por alguém – a censura – que estava sempre
pronta em avisar: “não pode cantar isso .
Atualmente,
aposentado, vivendo com uma modesta pensão, que, para fazer face à sua
sobrevivência, ainda vai trabalhando,
como motorista – E foi justamente, num intervalo do seu ofício, na hora de almoço, no jardim fronteiro do Hotel Pestana, que o
fomos encontrar.
Reconhece, no entanto, que muita gente que tem bons chalés e bons carros, mas ninguém
pode perceber donde vem esse dinheiro, donde vem tudo isso! – Há muito deixou
de tocar e de cantar mas ainda não perdeu a experiência e o talento – E demonstrou-no-lo , soletrando uma
das canções, que se popularizou por altura das comemorações do 5º
centenário da descoberta das duas ilhas,
pelos navegadores portugueses.
São Tomé – Mindelo é fica ami só –
Do Conjunto Mindelo, acompanhando imagens do almoço histórico., 12 de Julho 2015
A celebração do 40º aniversário da independência, no dia 12 de Julho, foi o maior acontecimento do ano de 2015, condignamente assinalado, com as tradicionais cerimónias na mais emblemática praça da capital: o discurso do Presidente do Município e do Presidente da República, desfiles militares e alegóricos – Seguiu-se depois um almoço no jardim da Roça Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Ouro, com a presença do Presidente da República, Manuel Pinto da Costa, membros do Governo do Primeiro-ministro Patrice Trovoada, as várias entidades santomenses e estrangeiras, com destaque para: o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, além dos vários elementos do corpo diplomático
creditado no país.
creditado no país.
CONJUNTO MINDELO – A MÚSICA QUE FICOU NO OUVIDO
DE GERAÇÕES
Refere a citada
obra, que “foi na zona de Oquê dá Lê (Oquei-del-rei), que surgiu o
conjunto musical Mindelo, fruto da carolice de dois ou três jovens que
pretendiam e sonhavam ter uma banda musical que representasse a zona donde eram
originários. Os primeiros elementos que estiveram na essência do conjunto
começaram, justamente, a tocar num quixipá68 de andalas na zona, orientados
pelo Godinho, que surgiu como líder natural, tocando, na altura,
gaita-de-beiços.
Pertencemos
a essa geração, que pudemos ver atuar esse tão popular conjunto musical -
Mas também outros emblemáticos grupos musicais, como os Untúes,
Sangazuaga, Quibanzas, Leonenses, Diabos do Ritmo, entre outros
Reportamo-nos a eles nas páginas da Semana Ilustrada – Mas, esta
postagem, é especialmente dedicada ao conjunto MIndelo, do qual fez parte
o José de Almeida Sousa Bastos, mais conhecido por Zé Mindelo
Temos
connosco, entre outras obras santomenses, o livro “Manifestações Culturais
São-Tomenses, de autoria de Lúcio Neto Amado, uma interessantíssima recolha,
muito bem documentada e pormenorizada, da qual tomámos a liberdade de extrair
alguns excerto do que ali se reporta, acerca do Conjunto Mindelo
Imagem do Livro de Lúcio Neto Amado |
Grande parte
dos elementos do conjunto, que estava a dar os primeiros passos no panorama
musical da época, era originária da zona conhecida como Bairro atrás do
Hospital Central da cidade de São Tomé. Os elementos desse conjunto musical
saltaram do anonimato para a consagração, num curto espaço de tempo. Foi
vertiginosa a sua ascensão.
O aparecimento
do conjunto Mindelo foi um fenómeno no panorama musical de São Tomé e Príncipe
devido ao facto da banda juntar a harmonia musical à jovialidade dos seus
elementos, para além de interpretar temas que iam ao encontro do quotidiano de
grande parte da população e serem exímios tocadores do género musical
são-tomense, no1meadamente a ússua, o socopé, a rumba são-tomense, etc.
Era um conjunto
que, num curto espaço de tempo, enchia por completo os terraços onde ia tocar.
Mal começassem a actuar, o recinto ficava lotado, não havendo lugar nem espaço
dentro do salão de dança.
As catedrais
onde o conjunto tocava e ganhou imensa fama eram: o terraço Mindelo [situado em
Oquê dá Lê (Oquei-del-rei)], o terraço de sum Dedinho [em Santana] e o terraço
Ar e Vento [no Riboque]. Os carros que suportavam e apoiavam as deslocações do
conjunto para todo o lado eram conduzidos pelos conhecidos e dedicados choferes
de praça: Maurício, Queiroz e Início. Havia outros elementos que também
apoiavam a logística do conjunto, destacando-se, entre eles, o Moreno e o Bento
...
Os
proprietários dos terraços que contratavam o Conjunto Mindelo á sabiam que o
grupo garantia uma receita brutal na bilheteira e no serviço de bar, enchendo
sobremaneira os cofres, possibilitando ao nesmo tempo que a imprensa falasse da
freguesia ou vila durante a semana que antecedia os dias de actuação.
A vila que
recebesse a visita deste conjunto tinha garantida a presença de muitos
forasteiros, o que se traduzia sempre numa grande propaganda para a localidade
e consequentemente para a sua população que, durante toda a semana, ouvia a
propaganda da festa divulgada pela Rádio Clube de São Tomé e
Príncipe.
Eram os
seguintes, os jovens do grande conjunto Mindelo: Quintino Chinês (viola),
Zeferino (viola), Mário (viola), Zé Mindelo (bateria), Inácio (reco-reco),
Carlitos (percussão), Fonseca (viola), Godinho (voz, viola).
As grandes
composições interpretadas por esse conjunto fazem parte da memória colectiva do
nosso quotidiano e do futuro Arquivo Musical (?) são-tomense. Essas composições
são, ainda hoje, reproduzidas quer pelos músicos que cantam a solo [ e ainda
por outros cantores, sobretudo da diáspora, tais como Felício Mendes, Juca,
Tonecas], bem como por alguns conjuntos que surgiram depois.
Para Santo,
(1998), este ... conjunto espectacular, o Mindelo, caracterizava-se pelo seu
ritmo estonteante que inebriava todos quantos assistiam aos seus concertos. Tal
como geralmente se verifica com os grandes agrupamentos musicais, vítima de
dissensões internas acabou no ano de 1976, depois de ter escrito o seu nome nas
páginas de ouro da História da Música de São Tomé e Príncipe. Actuou em Angola
onde alcançou êxitos e gravou discos.
(…) As canções
mais popularizadas: Eufrásio Hômê Zôgô, Tóni Fádà Quintino, Zêquêntxi bláncu,
Sàmá mulata cêndê cama damu, un sá cu sônô muê, Limon Fili, entre outras. São
músicas cantadas no país e na diáspora pelos são-tomenses que residem quer seja
na Inglaterra, Angola, Portugal, ou Gabão e ainda nos outros locais onde haja
emigrantes das ilhas.
As composições
Toni Fádà Quintino e Zêquêntxi bláncu são poemas cuja musicalidade empolga os são-tomenses
que, quando se juntam, [sobretudo no estrangeiro], e a nostalgia aperta os
corações, entoam essas duas canções, como se de um hino se tratasse.
A erosão do
conjunto" surgiu logo em 1976, tendo sido superada através de negociações
de bastidores, feitas, sobretudo por um número restrito de conselheiros e fãs.
Contudo, o
destino do Mindelo, esse grande e emblemático conjunto musical, estava
inexoravelmente traçado ... começando a claudicar a partir de uma digressão que
fizeram a Luanda, capital de Angola, onde obtiveram um grande êxito.
Quando chegaram
a São Tomé, os atritos começaram a agravar-se entre os elementos do conjunto e
daí até acabar a banda foi um ... passo.
O Conjunto
Mindelo terá acabado definitivamente em 1978, com imensa tristeza dos seus fãs,
que eram muitos em todo o território nacional e também no estrangeiro.
QUEM É LÚCIO NETO
AMADO
Lúcio
Neto Amado, é natural da Ilha de São Tomé (São Tomé e Príncipe) onde nasceu em
1951. Fez os estudos primários na cidade de São Tomé e, o Liceu em São Tomé
(Liceu D. João II) e em Lisboa (Liceu Camões). Os estudos universitários foram
todos feitos em Lisboa. É licenciado em Educação Física e Desporto e em
Sociologia. Fez o Mestrado no ISCTE e, presentemente frequenta o Doutoramento
na Universidade de Lisboa (ISCSP).Publicou, até ao momento, duas obras:
"Manifestações Culturais São-tomenses" e "Os Mares do Meu
Arquipélago - Contos". Tem publicado artigos relacionados com a Educação
para a Cidadania e o Desenvolvimento. Leccionou em Angola, em São Tomé e
Príncipe, em Timor-Leste e em Portugal.
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