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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

S. Tomé – Descoberta de Machado do neolítico, um “Problema”, para os defensores de que as ilhas estavam desertas - Utensílio de pedra lascada, descoberto em escavações, ao sul da Ilha, nos finais do século XIX, referido no livro “A Ilha de S. Tomé – Sob o Ponto de Vista Histórico-Natural e Agrícola” de autoria do eminente botânico e professor da Universidade de Coimbra – Júlio A. Henriques,

Por Jorge Trabulo Marques  Jornalista e investigador   C


Júlio Henriques, Considerado o grande impulsionador da Exploração Botânica da ilha de S. Tomé. realizada em 1885 




Júlio Henriques, elaborou também, a primeira monografia florística de São Tomé e Príncipe, que, tal como toda a sua produção científica, se encontra publicada nos Boletins da Sociedade Broteriana. Também publicou o primeiro estudo metódico de uma flora regional de Portugal – Esboço da Flora da Bacia do Mondego. http://bibdigital.bot.uc.pt/index.php?language=pt&menu=4&tabela=geral

E ideia corrente que a ilha do 8. Tomé não era habitada quando foi descoberta polos portugueses. Nunca teria realmente tido habitantes? O sr. dr. Adriano Pessa, que durante alguns anos exerceu clínica nesta· ilha, oferecei,1-me um instrumento de pedra perfeitamente comparável a alguns da idade da pedra pulida. Êste instrumento tinha-lhe sido dado por um empregàdo da roça Porto Alegre, que lhe disse que tinha sido encontrado numas escavações feitas para abrir um caminho.
O exame da pedra de que é formada mostra que é de natureza vulcânica, comparável a algumas das que se encontram na ilha.

A superfície dêste instrumento está um pouco modificada  por alteração parcial da rocha, de que é feita


Qual seria a origem dêste objecto? Será admissível que alguem, em qualquer época, a levasse para S. Tomé e por acaso a perdesse ? Não me parece aceitável tal hipótese, muito especialmente atendendo à circunstância de ser feita de rocha da natureza das rochas da ilha.
Haveria em épocas pre-históricas habitantes na ilha?
Na Africa ocidental houve habitantes nas épocas da pedra lasca da em Mossâmedes e na Huilla e em Mangyanga  no vale do Congo.

Punhal encontrado submerso - Ag.2015
O sr. Stainier (1) descreve numerosos instrumentos de pedra lascada encontrados no Congo e com êles instrumentos de pedra pulida parecendo-lhe que deveriam pertencer à época neolítica.
Dêsses alguns apresentam forma comparável à de S. Tomé. Haveria portanto habitantes em S. Tomé na época neolítica? Bom seria que houvesse em S. Tomé quem procurasse descobrir exemplares de instrumentos semelhantes àquele de que dou notícia, pois que um só e desacompanhado de informações sôbre o local e condições em que foi encontrado, mal pode servir de base a qualquer hipótese. ·

Dêste instrumento de pedra diz assim o meu colega F. de Carvalho:
- Talhado numa rocha  basaltoide muito compacta, tendo analogias estreitas com exemplares estudados de Nova Moka ou Rio d'Ouro (fig. p).
Apresenta textura hialopilítica, com passagem a uma disposição fluidal dos pequenos cristais sôbre tudo junto dos cristais de maiores dimensões. Estes são raros e principalmente de a ugite e olivina, uns e outros muito alterados. A augite em quási todos associada à clarite e a olivina à serpentina.

A massa de cristais microscópicos  é formada por augite e magnetite, apresentando-se esta última em grãos de dimensões muito seduzidas. É do grupo das rochas basaltoides mais básicas, podendo classificar-se entre os augitetos"



Que bom aos 70 anos recordar aqueles meus tempos de navegador das canoas

ANTIGAS NAVEGAÇÕES NO GOLFO DA GUINÉ 

Seguramente. que as Ilhas do Golfo da Guiné - desde a mais meridional à setentrional; desde Ano Bom, S. Tomé, Príncipe e Fernando Pó, atual Bioko, todas estas Ilhas, já haviam sido ligadas por canoas E, porventura, também  por embarcações que partiam do mediterrâneo, fenícios, entre outros. Quando foram mandadas “descobrir” , diga-se explorar, a palavra adequada da época, já havia noticia da sua existência.

A ligação a Fernando Pó, descoberta pelo navegador português do mesmo nome, em 1472, que se avista perfeitamente dos Camarões, não fincando a mais de 30 milhas, sendo provavelmente feita em canoas com ligações vindas do Norte, daquele território ou de outras áreas continentais limítrofes, onde prosperavam vários reinos e antigas civilizações africanas - 


Quanto às Ilhas de Ano Bom, S. Tomé e Príncipe é de admitir que tenham pertencido ao Reino do Congo,  do qual fazia parte a região africana localizada no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola incluindo Cabinda, República do Congo e uma parte do centro-sul do Gabão - Não é por acaso que o dialeto de Ano Bom, é muito semelhante ao de S. Tomé -  O povoamento inicial do Príncipe, é  mais provável  que tenha sido ou do Norte ou do leste, uma vez ser avistável, de qualquer desses quadrantes.

De referir, que, muito antes dos europeus  terem desembarcado nas remotas Ilhas do Pacifico - nomeadamente as do  arquipélago da  Polinésia  - já estas haviam sido ligadas pelos antigos navegadores das canoas, muitos séculos ou milénios atrás 

Coronel Victor Monteiro -  Gravuras rupestres

Demonstrei essa possibilidade, através das várias travessias que efetuei, nas frágeis pirogas dos pescadores de S. Tomé, ligando S. Tomé à Ilha do Príncipe,  fazendo a travessia de S. Tomé à Nigéria, e posteriormente  tentando  a travessia oceânica, que  só não concretizei por ter sido traído pelo comandante do pesqueiro que não me largou na corrente equatorial; em todo o caso, os 38 dias de Ano Bom a Fernando Pó, não deixam margem para dúvidas para as capacidades destas primitivas embarcações. Assim como os variadíssimos casos de sobrevivência  de pescadores náufragos que vão parar à costa africana . Além disso, a existência de gravuras rupestres,  nos arredores da orla de Anambó, a Noroeste da Ilha de S. Tomé,  http://canoasdomar.blogspot.com/2014/10/descoberta-de-gravuras-pre-historicas.html
 
assim como a descoberta de um antigo punhal e uma espada,  objetos resgatados do mar, bem como outros achados, a que me referi documentalmente neste meu site, reforçam  a minha convicção do povoamento das Ilhas, ser bem mais antigo

Menos interessante, porém, não creio que deixe de ser  - no  que respeita à chegada dos navegadores portugueses, a esta ilha - a descoberta da inscrição (parcial) da divisa do Infante D. Henrique ,  em Pedra, na orla marítima, voltada a Norte (TALANT DE)  BIEN FAIRE, atual divisa da Escola Naval que poderá ter sido gravada pelos  primeiros navegadores portugueses das caravelas, atendendo às excelentes condições de aportagem do local ou    http://canoasdomar.blogspot.com/2016/01/em-s-tome-descoberta-historica.html  



“UM PROBLEMA” -Este o título dado a um texto (relacionado com o achado arqueológico) que faz parte de uma obra de autoria de Júlio A. Henriques,  antigo professor da Universidade de Coimbra, intitulada A ILHA DE SÃO TOMÉ  - SOB O PONTO DE VISTA HISTÓRICO-NATURAL E AGRÍCOLA, editada pela Universidade de Coimbra, em 1917, que pude consultar.

NÃO SE TRATA DE ESPECULAÇÃO MAS DE UM PROBLEMA COM O QUAL OS ACADÉMICOS, HABITUADOS A ESPECULAR SOBRE "VERDADES BÍBLICAS COLONIAIS", NÃO SE SENTIRÃO MUITO   À VONTADE 


"A História das Navegações Portuguesas tem pecado por ter sido escrita, por vezes, por quem desconhecia Arte Náutica - dizia Sacadura Cabral  (…) por  estranhos às «coisas do mar» como eram quase sempre, cronistas e historiadores . Incapazes de se imaginarem a navegando dentro dos navios antigos. Eles fiavam-se  nas versões que corriam, contadas por mareantes românticos, que acrescentavam  um «ponto» ao seu «conto». - Não é o caso de Júlio Augusto Henriques 


Há que não descurar, que, o distinto investigador de ciências naturais e professor de filosofia, não era um mero curioso, para, de ânimo leve,  juntar a imagem do achado à sua notável obra, mas um cientista de grande prestígio e  credibilidade - O seu currículo assim no-lo diz. O facto da imagem fotográfica não ser muito esclarecedora, senão apenas na forma do objecto, ele teve o cuidado de  descrever a dita pedra, indo ao pormenor da sua composição química. 

Não creio, pois, que tivesse havido de sua parte qualquer tipo de especulação, antes, sim, um apuradíssimo espírito de observação, tal como o revelou nos seus amplos e belíssimos estudos botânicos e iniciativas que tomou no meio académico.  Por outro lado, há que ter em conta, que, a classificação de um utensílio do tempo da pedra lascada, nomeadamente, um machado, reconhece-se, não tanto por qualquer analise laboratorial, mas pelo "olhómetro" , olhando bem o que se tem entre as mãos: só esta análise - sem dúvida, a mais fidedigna - nos poderá informar  da sua forma e do grau de polimento -Nomeadamente pelo gume  -  Mesmo passados milénios, o tipo de desgaste, difere muito da erosão provocada pelos agentes naturais. É um facto, que, nalgumas praias de S. Tomé, nas coroadas de gogos, se podem encontrar pedras com as mais diversas formas e feitos, que podem enganar um leigo mas não creio que possam enganar um cientista, habituado a classificar as plantas, a natureza, a olhá-la com olhos de ver. 


Ag 2015 espada descoberta submersa

Sim, penso que, Júlio Augusto Henriques,  não podia ter escolhido palavra mais significativa para revelar a descoberta de um machado, que supõe ser do neolítico, descoberto nas escavações da abertura de um caminho, na Roça Porto Alegre, isto pelo facto de tocar em verdades coloniais, intocáveis, nas estafadas teses de que, quando os bravos marinheiros portugueses, inspirados pela Escola Náutica de Sagres,  ali desembarcaram pela primeira vez, as ilhas se encontravam completamente desabitadas - Como se tal facto fosse mais relevante para classificar a coragem daqueles corajosos navegadores.

Ora, se nem sequer se sabe, ao certo, nem o ano nem o nome dos pilotos, que comandavam as ditas caravelas, tal como é comummente aceite por vários historiadores, sim, aventaram-se  nomes e até datas, mas porque era preciso dizer  alguma coisa, preencher uma cédula baptismal, pelo que, muito menos se poderia recuar ainda mais no tempo -  Pois, não é crível, que havendo lá gente, a viver pacificamente, essa gente se fosse mostrar a pessoas que nem sequer eram da sua cor - Fizeram-no. mais tarde, através de várias guerrilhas, que partiam do interior do mato, criando imensas dificuldades aos colonizadores.  :


Dezembro de 1969
Não foi através da Internet que fui ao encontro da sua obra mas por via das minhas persistentes e aprofundadas pesquisas de bibliografia das Ilhas de S. Tomé e Príncipe - Os alfarrabistas, nas feiras do Chiado, em Lisboa,  já me conhecem e sabem muito bem o que eu procuro, quando os abordo.


Todavia, os elementos que aqui passo a transcrever sobre a biografia de Júlio Augusto Henriques, recolhi-os, posteriormente, da Internet - Estão acessíveis a quem os quiser consultar  - E dos quais vou citar alguns excertos

QUEM É JÚLIO A. HENRIQUES?
Considerado o grande impulsionador da Exploração Botânica da ilha de S. Tomé7 realizada em 1885 pelo jardineiro-chefe do Jardim Botânico de Coimbra, Adolpho Frederico Moller, com o objectivo de efectuar herborizações naquela ilha (Carrisso e Quintanilha, 1929- 3

Fra Mauro - 1459
(Em 1866, Júlio Henriques foi nomeado lente substituto extraordinário da Faculdade de Filosofia da UC (Fernandes, 1991). Este professor que adoptava nas suas aulas livros modernos e mais adequados aos cursos, foi também a primeira pessoa em Portugal a divulgar os trabalhos de Charles Darwin, nomeadamente na sua dissertação do Acto de Conclusões Magnas, em 1865, intitulada As espécies são mudáveis?. Nesta dissertação de título sugestivo manifesta o seu apoio à teoria da selecção natural sendo, por isso, considerado como o primeiro darwinista a manifestar as suas opiniões entre a conservadora comunidade académica portuguesa (Pereira et al., 2007)

(…)A forte incidência da malária tanto em Portugal continental como nos territórios ultramarinos, na década de 60 do século XIX esteve na origem da decisão de introduzir a cultura da quina3 em Angola, Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé (Fernandes, 1982). Para isso, Júlio Henriques investigou qual das espécies produziria casca com maiores níveis de quinino e qual o território mais adequado à cultura destas plantas (Fernandes, 1991). Para tal, solicitou a diversas instituições, principalmente ao Jardim Botânico de Büitenzorg em Java, sementes de diferentes espécies do género Cinchona que semeava e mantinha nas estufas do Jardim Botânico de Coimbra. Com a colaboração dos Serviços de Agricultura, dos Governadores e de fazendeiros de várias províncias africanas, foram seleccionados locais e realizados diversos ensaios (Fernandes, 1982). Depois dos ensaios e da análise da quantidade de quinino produzida, a ilha de S. Tomé foi considerada a região mais propícia a essa cultura (Paiva, 2005). Alguns anos após o inicio da cultura da quina em S. Tomé, já se produzia quinino em quantidade suficiente, não só para satisfazer as necessidades dos territórios portugueses, mas também para ser exportado (Fernandes, 1982). Esta história de sucesso constitui apenas um exemplo do enorme interesse que Júlio Henriques sempre manifestou, desde o início das suas funções na direcção do Jardim Botânico em 1874, pelo desenvolvimento agrícola dos territórios ultramarinos.


(…) O professor Júlio Henriques foi, juntamente com o Governador da Ilha de S. Tomé, Custódio de Borja, o grande impulsionador da Exploração Botânica da ilha de S. Tomé7 realizada em 1885 pelo jardineiro-chefe do Jardim Botânico de Coimbra, Adolpho Frederico Moller, com o objectivo de efectuar herborizações naquela ilha (Carrisso e Quintanilha, 1929- 30; Carrisso, 1934). Moller desempenhou a sua tarefa com muita eficiência e êxito e, para além de ter colhido espécimes de plantas de todos os grupos vegetais em S. Tomé, preparou ainda um colector, Francisco Dias Quintas, que deu continuidade a este trabalho em S. Tomé e na ilha do Príncipe8 após o seu regresso a Coimbra (Carrisso, 1934). Os estudos realizados sobre o material colhido por Moller e, posteriormente, por Quintas permitiram realizar enormes progressos no conhecimento da flora de S. Tomé (Carrisso, 1934). Em 1903, tendo já completado 65 anos e, apesar de todas as dificuldades inerentes às viagens naquela época, Júlio Henriques deslocou-se a S. Tomé para colher mais exemplares para herbário, observar o habitat e estudar a distribuição das plantas espontâneas e cultivadas da ilha (Coutinho, 1929- 30). Depois do regresso a Coimbra intensificou as suas pesquisas sobre a ilha de S. Tomé resultando na monografia “A Ilha de S. Tomé sob o ponto de vista histórico-natural e agrícola”, publicada em 1917, no volume 27 do Boletim da Sociedade Broter

A ilha de S. Tomé foi a região acerca da qual Júlio Henriques mais trabalhos publicou. Nos volumes 4 (1886), 5 (1887) e 10 (1892) foram sucessivamente publicados catálogos da flora de S. Tomé, resultantes das colheitas de A. Moller e F. Quintas. Júlio Henriques contou com o auxílio de diversos especialistas como Baker, Müller, Stephani, Winter, Nylander, Agardht, Nordstedt, Hauck, Flahault, Ridley, Oliver, Engler, Hoffmann, Schumann, C. de Candolle, Cogniaux, Planchon, Lindau e Pax, entre outros, no estudo destas plantas. O catálogo “Contribuições para o estudo da flora d’Africa. Flora de S. Thomé.

Em S. Tomé Agosto 2015
Primeira roda de pedra - Internet
(…) A monografia “A Ilha de S. Tomé sob o ponto de vista histórico-natural e agrícola”, publicada no volume 27 (1917), apresenta um estudo muito detalhado sobre a ilha de S. Tomé com base nos dados que Júlio Henriques recolheu quando a visitou em 1903, nos trabalhos publicados nos volumes anteriores do Boletim e num grande volume de publicações de outros autores sobre diversos aspectos desta ilha. Este trabalho divide-se nos seguintes capítulos: 1) Resumo histórico da ilha, 2) Posição geográfica e orográfica, 3) Estrutura geológica, 4) As rochas de S. Tomé11, 5) Clima, 6) A Fauna, 7) A Flora, 8) A Agricultura, 9) A Floresta e 10) Um problema (relacionado com um achado arqueológico). Na parte final desta extensa obra encontra-se o “Catalogo das espécies de animais e plantas até hoje encontradas na ilha de S. Tomé”, sendo a parte relativa à fauna baseada em publicações de autores estrangeiros e nacionais e a parte relativa à flora uma revisão, com correcções e algumas adições, ao que já havia sido publicado nos volumes anteriores do Boletim. Para a determinação das espécies vegetais de S. Tomé, Júlio Henriques, contou com a colaboração de inúmeros botânicos estrangeiros (Winter, Bresadola, Roumeguère, Berlese, Nylander, Nordstedt, Hariot, Stephani, Muller, Hackel, C. de Candolle, Cogniaux, os botânicos do Jardim Botânico de Berlim, dos Jardins de Kew e do Museu de História Natural de Paris) e portugueses (Veríssimo de Almeida e M. Sousa da Câmara). Embora S. Tomé tenha sido a ilha que despertou maior interesse a Júlio Henriques, a flora dos outros territórios africanos também foi estudada como se pode ver pela análise dos seguintes trabalhos. Júlio Henriques contributo para o conhecimento da diversidade vegetal e o desenvolvimento agrícola dos PALOP

Nota Biográfica  de Júlio Augusto Henriques, 1838-1928

Júlio Augusto Henriques, filho de António Bernardino Henriques e Maria Joaquina, nasceu em Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto), no distrito de Braga (Portugal), no dia 15 de Janeiro de 1838. Em 1854, foi para Coimbra, fazer os preparatórios para Direito. Entra como aluno interno no colégio de São Bento (edifício onde se encontra o Departamento de Botânica da FCTUC), onde lhe é destinado um quarto, que veio a conservar como morada até ao dia da sua morte. Matricula-se no curso de Direito em 10 de Setembro de 1855, que conclui em 22 de Junho de 1859, tornando-se Bacharel em Direito. Complementa a sua formação com um curso de Direito Administrativo, que lhe vem a ser muito útil na execução de tarefas de gestão inerentes os vários cargos executivos de que se ocupou ao longo da vida. Nesta época, o curso de Direito incluía as cadeiras de Química, Física, Mineralogia, Zoologia, Botânica e Agricultura, da Faculdade de Filosofia, que, por certo, alimentaram o interesse que já detinha pelos estudos científicos. – Mais informação detalhada em Júlio Henriques - Biblioteca Digital de Botânica – E também em Júlio Augusto Henriques – Wikipédia, 


NAQUELA ÉPOCA A PALAVRA DESCOBRIR, SIGNIFICAVA EXPLORAR O QUE JÁ ERA CONHECIDO  

Vou reproduzir alguns excertos de  textos  que publiquei neste meu site


Não há certezas quanto à data exata da descoberta das ilhas  - Diz Luís de Albuquerque: Sabe-se por exemplo que João de Santarém, Pêro Escobar, Fernão do Pó, Lopo Gonçalves e Rui Sequeira estiveram ao serviço de Fernão Gomes. Mas não há registos que nos permitam dizer com segurança qual deles, em que ano, descobriu o quê." - Admite-se, no entanto, que, a Ilha de S. Tomé, teria sido descoberta em 21 de Dezembro de 1471, e, um ano depois, em 17 de Janeiro, a Ilha do Príncipe – Por outro lado, também já, o Almirante Gago Coutinho, em “A Náutica dos Descobrimentos, aludia à palavra “descobrir”, acerca dos “factos náuticos que procederam à  Viagem de ´Álvares Cabral, ao Brasil, citando o livro “Esmeraldo”,  referindo que naquela época, a palavra descobrir, tem o sentido de explorar uma costa que já fora achada antes de 1948”, de “uma exploração, confiada a Duarte Pacheco.


De um modo geral, salvo os historiadores, que não se limitam a transcrever a tese oficial colonial, que entendeu, arrumar factos históricos ao seu jeito, “todos os historiadores que se ocupam do «descobrimento das ilhas de S. Tomé e Príncipe» concluem que não se sabe ao certo quem foram os descobridores nem a data da descoberta; parece que ninguém se sente à vontade ao tratar do assunto - o que quase sempre acontece com o descobrimento das ilhas da parte oriental do Atlântico. – Diz Armando Cortesão  em  “Descobrimento e Cartografia das Ilhas de S. Tomé e Príncipe

“Convém notar”- refere o mesmo investigador  - “ que desde já e sempre que se aborde tão delicado e controverso assunto, qual o significado a dar à palavra descobrimento, quando se trata de novas terras e em especial no século XV. Já vários historiadores se têm referido ao problema e dele me ocupo mais de espaço no vol. III da minha História da Cartografia Portuguesa, que estou a escrever e cujo vol. II (…)”

“A meu ver as palavras descobrimento e suas derivadas de princípio significavam que a terra respectiva foi reconhecida, provavelmente  redescoberta, tornando-se conhecida de todo o Mundo, estabelecendo-se entre ela e a Europa relações normais, isto é, viagens frequentes, povoamento, colonização, relações comerciais, etc. É aquilo a que se pode chamar descobrimento oficial, como sugeriu o saudoso Com. Fontoura da Costa. 

De tudo ou quase tudo o que foi descoberto, isto é, descoberto oficialmente, se pode dizer que foi redescoberto. João de Barros, cronista sério e quase sempre fidedigno, diz «terem os nossos mais terras descobertas no tempo de D. Afonso V do que achamos na escritura de Gomes Eanes de Zurara»,






Arte abstrata no litoral da Ilha de São Tomé?.... Nada de outro mundo - "África tem a maior variedade e algumas das mais antigas pinturas rupestres na terra. África tem muito mais arte rupestre do que qualquer outro continente, com pelo menos 10 milhões de imagens espalhados por mais de 30 países. Pinturas e gravuras rupestres da África, alguns dos quais muitos milhares de anos de idade, são nossa herança, uma herança que nos informa como os nossos antepassados ​​pensavam e percebido o seu mundo. Eles são os primeiros indícios restantes das crenças espirituais / religiosas; eles falam de rica história e cultura da África, e um tempo muito antes de a escrita foi inventada. Em toda a África hoje, pesquisadores gravar e estudar a arte, buscando a sua idade, significado e propósitos originais. Consciente dos problemas de conservação emergentes, Os governos africanos estão a criar planos de gestão e estimular as comunidades locais a se envolverem na proteção da arte.Rock Art da África - TARA Trust For African Rock Art



Ao longo da costa africana, já haviam navegado fenícios e árabes e o Infante D. Henrique, estava bem informado. A história  nem sempre é um relato fidedigno dos factos. "Se o Infante  D. Henrique e os dirigentes portugueses que se lhe seguiram proibiram a venda de caravelas ao estrangeiro, mandava a lógica que se opusessem igualmente à saída de capitães, pilotos, cosmógrafos (...) e com eles dos roteiros para as novas terras, das cartas de marear e de tudo que ensinasse a nova ciência da posição e da direção do navio e, mais que tudo, da do sol ao meio dia." - In "DÚVIDAS E CERTEZAS NA HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES"  Luís de Albuquerque.



Não haja, pois, ilusões, quando o Infante D. Henrique fundou a Escola de Sagres, ele já tinha recolhido abundante informação de uma grande parte da costa de África: pelo menos, até ao Golfo da Guiné- A história das descobertas marítimas portuguesas, está empolada e cheia de mitos. A começar pela Escola de Sagres


Dizia eu, há cinco anos, neste site - É certo, que, até hoje, não foram descobertos monumentos ou vestígios arqueológicos perenes em qualquer das ilhas do Golfo da Guiné, que pudessem dar-nos indicações para a existência de antigas civilizações. Não porque não possam existir, mas talvez mais pelo facto de nunca ter sido encarado a sério um estudo aprofundado.

NÃO ME ENGANEI AO REFERIR   que essa investigação deveria fazer-se. Acredito que não faltariam surpresas interessantes. Porém, existe uma prova que continua igual há de milénios atrás: a sua tradição marítima. Haverá elo mais genuíno, com as suas antigas origens, que a arte de navegar em tão frágeis meios primitivos? ....- Canoas frágeis e toscas, é um facto, mas capazes de resistirem aos mais violentos vendavais

Demonstrei-o,  por três vezes, ao ligar as ilhas com o continente. E assim o haviam igualmente demonstrado as enormes canoas que foram utilizadas para transporte de escravos, nomeadamente do Gabão, mesmo depois da alforria, cuja lei muito custou a aceitar aos proprietários nas grandes roças.


Ainda não perdi a experiência - 2014 


Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores  navegadores daqueles épicos tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros. – Todavia, uma coisa é essa coragem e bravura, outra a verdade história – E está não deve ser  ocultada ou pervertida. http://www.odisseiasnosmares.com/2011/07/2-sao-tome-e-principe-as-antigas-ilhas.html

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