Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
Rio do Ouro anos 60 |
O Eng. João Bragança Gomes é um dos empresários mais bem-sucedidos em S. Tomé considera que a vocação natural destas ilhas é prestar serviços um pais de economia aberto – Numa altura em que se fala da recuperação das instalações das antigas roças coloniais, ele já a tem a sua – A Roça do Castelo - situada próximo da antiga roça Água Izé, que pretende transformá-la numa espécie de memória das roças coloniais, nomeadamente na exploração e extracção de óleo de palma e copra. Ou seja, recriar a oportunidade do turista poder assistir ao vivo, a todos os trabalhos destas duas culturas - As roças do Cacau são mais fora da zona do litoral.
Sim, vale a pena reconstituir alguns dos aspectos laborais e tecnológicos das antigas roças - Na maioria dos casos, pouco mais resta que esqueletos das suas instalações mas vale a pena o esforço
A ROÇA DE OUTRO TEMPO
Foto de antigo pstal |
A vida da roça do tempo colonial, teve o
seu tempo e deixou memórias inapagáveis naqueles que ali deram o suor do seu
rosto – Também as tenho, ainda com os meus 18 anos, visto ali ter trabalhado
como empregado do mato – E são muitas: mas não é esta a minha intenção – Fá-lo-ei noutra oportunidade – Mas a de aqui transcrever um interessante texto do Prof, Júlio Henriques, considerado o grande impulsionador da
Exploração Botânica da ilha de S. Tomé realizada em 1885 autor de várias
obras numa das quais se refere ao ambiente da roça, naquela época
Anos 6- Foto JTMarques |
"Ao romper do dia a sineta dá o sinal de
preparar par o trabalho. Os doentes são inspeccionados e todos os válidos foram
em frente da habitação do administrador, saudando-o todos ao mesmo tempo
com - o bom dia patrão. A seguir dividem-se em grupos, que
acompanhados por europeus – homens do mato – encarregados de vigiar e dirigir o
pessoal de cada grupo, seguem para o local onde há trabalho a realizar.
Lembro-me bem de ter visto um
desses grupos caminhando para o seu destino. Estava na praia da Angra de
São João. A luz da manhã fraca, o mar sem o menor movimento, o pequeno vapor
que fazia a viagem em volta da ilha, ancorado no meio da angra, nem baloiçava;
em volta enorme massa de verdura, mas tudo imóvel; um silêncio profundo.
Parecia que não havia vida. Nestas condições é que vi passar na costa
oposta uma longa fila de serviçais, silenciosos também, caminhando lentamente.
Quantos com saudade se recordariam do sertão angolense, onde tinham nascido!
Roça Monte Café - anos 60 - Foto JTmarques |
Durante o dia na sede o pessoal é
limitado, e fora do serviço vêem-se alguns doentes fazendo serviços ligeiros,
compatíveis com as forças deles, mulheres trazendo as mães os filhos sobre os
rins embrulhados nos panos, que lhes servem de vestido e fervilham por toda a
parte os pequenos moleques.
Ao fim da tarde regressam à sede
todos os serviçais, formando como de manhã, trazendo cada um amostra do
que fez, uns lenha, outros pastos para os gados, cachos de palmeiras de óleo,
os serradores uma tábua, etc. O maioral passa revista para ver se algum fugiu e
de seguida dão - boas-noites patrão – e debandam seguindo para as suas
habitações.
Anos 60 - JTmarques - Rio do Ouro |
Estes quadros repetem-se invariavelmente em
todos os dias do ano.
Os trabalhos executados em cada dia são
variadíssimos e alguns são executados com perfeição. Vi aparelhar enormes vigas
de modo admirável. Em Monte Café vi fazer cestos muito perfeitos imitando
Aos domingos o movimento é maior.
Cingem panos lavados, as mulheres vestem
blusas garridas, panos ou saias, colares de grandes contas ao pescoço e
cobrindo a cabeça com lenço bem posto em forma de barrete.
Uba-Budo 2014 |
As negras que fazem serviços de criadas
apresentam-se bem, mesmo até com tal ou qual elegância. Chegam mesmo a originar
paixões.
O movimento aumento aumenta quando chega a
hora da distribuição dos alimentos. Correm todos para as proximidades dos
armazéns e aí o pessoal encarregado da distribuição vai dando a cada um o que
lhes pertence.
2014 - Quebra do Cacacu |
Os alimentos distribuídos consistem em
arroz, farinha de milho, bacalhau, peixe e carne seca, carne de conserva,
açúcar, farinha de mandioca, grande quantidade de azeite de palma, vinho e
leite esterilizado para o hospital e creche
Além destes alimentos têm à distribuição
os frutos que se encontram nas roças. Bananas, fruta pão, mamão e muitos outros.
Anos 60 - Foto JTmarques |
Pode afirmar-se que não passam fome.
No fim de cada mês faz-se o pagamento do
salário. É uma das ocasiões mais interessantes. Recebido o ordenado sentam-se
na terra e contam e recontam o dinheiro, distribuem-no em pequenas
parcelas, talvez calculando despesas determinadas e conservando-se neste
serviço por não pouco tempo.
Na roça o administrador (patrão) é tudo. É
ele que faz e desfaz os casamentos, que julga os delitos e determina os
castigos, que resolve os castigos familiares
2014 |
Por entre os cacauzais, a baixas
altitudes, destaca-se, nítida, clara, a silhueta da palapeira do dendo, a
Elaaeis guineensis, Jacq. Espalha-se irregularmente , ao acaso, aproveitando-se
dela a sombra, o óleo e o coconote,
A exportação do óleo de palama é
insensível – uns milhares de litros por ano, em maior quantidade no Príncipe,
que em S. Tomé, É quase na totalidade absoluta consumido pelos nativos e
serviçais.
A amêndoa do coconote, é que leva para os
mercados ávidos de produtos oleaginosos
João Gomes, como geralmente é mais conhecido, Presidente do Concelho de Administração da HB, diz que é um homem da área de serviços, de turismo; muito ligado às agências de viagem e à hotelaria mas entendo que a agricultura deve ser acarinhada, porque, o turismo, deve fazer um casamento natural com a agricultura”
Natural da Chacra – Licenciado em engenharia de transportes, em Cuba. Mestrado em Londres – Filho de Filipe Gomes e de Áustria. Diz que deve o seu sucesso à educação que os seus pais lhe deram: gente húmilde, gente séria, que sabia que a educação era fundamental para o seu futuro. Encontrámo-lo na explanada do Hotel Avenida, uma unidade hoteleira que pertence à sua fima HB
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