Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise
Desde que se acalente um
bom pensamento, às vezes, nem há como deixar que o acaso cumpra o seu
papel - Sim, fazia parte das minhas intenções, ao voltar de novo a S. Tomé,
reencontrar-me com D Manuel dos Santos - E, e assim aconteceu - Tinha
acabado de sair da audiência concedida pelo Primeiro-Ministro, Patrice
Trovoada, quando deparo, caminhando no mesmo passeio, mas no sentido posto ao
meu, com Dom Manuel dos Santos, com o mesmo sorriso amigo, que lhe é
natural, estampado num rosto que está sempre disponível para corresponder, com
a sua palavra amiga ou mesmo para ele a ir ao encontro de quem a precisa – Seja
às crianças, velhos ou novos, mulheres ou homens – Ele é a imagem emblemática,
admirada e respeitada da igreja católica em S. Tomé e Príncipe, que, não obstante
o crescendo de outros credos, que vieram diversificar o
panorama religioso nestas ilhas, sob as mais diversas
e aguerridas fórmulas, ainda continua a ser a fé seguida pelo grosso
da população - Notei que ia apressado e, pelo que
me confidenciava, com a agenda preenchida, dada a aproximação
da sua viagem para Portugal.
Mesmo assim, tomei a liberdade de o convidar para um cafezinho e dois dedos de diálogo, tendo tido ele a gentileza de me encaminhar a uma esplanada, muito simpática, próxima do nosso casual reencontro - E, nestas coisas, como ele é um excelente comunicador, acabou por me dar a honra e o prazer de ali nos sentarmos, ainda durante mais um bocadinho do inicialmente previsto, naquela surpreendente manhã ensolarada e brilhante - Falámos de muitas coisas, tendo-o acompanhado até à sua residência, situada numa rua de chalés mas também de passagem para casebres mais humildes - Muito movimentada, ali muito perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e dos mercados tradicionais ao ar livre.
Na verdade,
o sacerdócio da Igreja católica, em S, Tomé e Príncipe, além de ser
ainda o principal credo abraçado pela população, em termos de
espiritualidade e de fé, continua a ter um papel muito
relevante, nestas maravilhosas ilhas do Equador, tanto no
domínio da solidariedade e assistência social, através de jardins de infância,
entre as quais a Casa dos Pequeninos, da Caritas, como ao nível da educação -
“os nossos missionários, já antes da independência criaram várias escolas
primárias, tanto em S. Tomé como no Príncipe. Criaram a Escola de Artes e
Ofícios, que teve um papel importante neste pais, e estiveram também na
fundação do Liceu Nacional.
“Estamos nessa
fase de transição, de passar o testemunho para o Ministério da Educação de
Portugal. Para além disso, temos outras escolas e vários jardins de infância .
Portanto, continuamos a ter um papel importante na educação”
Declarações de D.
Manuel dos Santos, numa das entrevistas que me concedeu, em S. Tomé, em Agosto
passado – Esta é uma das questões que o leva de novo a Portugal,
para encetar várias diligências, numa estadia duas semanas – Sim, porque, os
fundos da igreja, são escassos e há que dar prioridade à sobrevivência dos mais
carenciados - Sem descurar os problemas da Educação
Foi justamente,
por esse facto, que foram assinados, dois
protocolos de cooperação a nível da educação pelos Ministros da Educação e
Ciência de Portugal Nuno Crato e o seu homólogo são-tomense Olinto Daio. –
E, a avaliar pelas palavras, que agora lhe ouvimos, é provável que, durante a
sua estadia, algumas das suas diligências sejam junto do Ministério da
Educação, do atual governo
Isto porque, não
obstante a escassez de recursos financeiros, Dom António dos Santos, não perdeu
de vista um dos seus maiores sonho”, tal como no-lo afirmou na mesma
entrevista, que nos concedeu. Se me pergunta: então que grande sonho é que
teria com a Educação em São Tomé?
Bem. Se eu tivesse dinheiro – mas é preciso, de facto, muito dinheiro - gostaria de ver neste pais um grande parque escolar, com escola, desde o pré-escolar, escola primária, escola secundária, um ensino técnico profissional - Eventualmente, até, algum Instituto superior ou assim. E também, sobretudo, uma escola de formação de professores, que era muito importante que aqui se fizesse. Estão a dar-se passos nesse sentido – Para mim, de facto, é algo fundamental. Já que, se um país quer acreditar no futuro, quer construir o futuro, tem de começar pela educação
Video Entrevista concedida em Agosto de 2015 - Dado pelo Sacerdote e Poeta
“A
Casa dos Pequeninos, está a dar os primeiros passos, graças aos técnicos da
Cooperação Portuguesa que acreditaram neste projeto, porque por detrás
das Obras há sempre pessoas concretas, palavras de Dom Manuel dos Santos, na
altura do Natal
E, pelos vistos, a generosidade, mesmo com pouco dinheiro, pode operar verdadeiros prodígios ou milagres - Já lá vão alguns anos que as palavras, que a seguir, vou reproduzir, foram proferias, mas continuam atuais: “Com 150 euros é possível garantir casa, alimentação, vestuário e educação a cada uma das crianças acolhidas pela instituição administrada pertencente à Cáritas de São Tomé e Príncipe
Mauro foi
encontrado a gatinhar na estrada por um casal de turistas, que o levaram para a
esquadra. A polícia não sabe quem são os seus pais e desconhece o dia em que
nasceu.
O Quinzinho estava
junto da mãe quando esta foi levada para o hospital em coma alcoólico. Hoje
cresce normalmente, mas durante algum tempo recusava todos os alimentos que lhe
davam.
Chamam-lhe
Mantorras, mas ainda não tem nome no Registo Civil. O pai morreu e a mãe tem
problemas mentais.
Estas são as
histórias, breves e dramáticas, de algumas das crianças acolhidas na «Casa dos
Pequeninos», administrada pela Cáritas de São Tomé e Príncipe.
“QUEM
SOU?"
“Sou da Beira, de
facto: de São Joaninho de Castro Daire, distrito de Viseu. Sou o 5º de nove
filhos, vivos ainda, graças a Deus.
Aos 11 anos fui
para o seminário de Resende, do seminário de Lamego. Saí de lá aos 18 anos para
entrar na Congregação dos Missionários Claretianos; ordenado padre, em 1985, na
minha terra, por Dom António Xavier Monteiro, que era então o Bispo de Lamego,
Parou ao lado do Sr. Bispo e da sua casa para uma fotografia |
- Jorge Marques –
E os perfumes!...
– Dom Manuel dos
Santos - Bem, os perfumes... Eu, como nasci no meio da montanha, no
meio do tojo, das urzes, não me impressionaram, porque, lá também há perfumes
muito intensos! Eu fui criado, no meio do campo! Sempre trabalhei no meio do
campo, mas, sobretudo, o verde desta terra, de facto, impressionou-me muito.
Cinco dias
depois, acabei por ir para Roma, onde regressei a Portugal, tendo sido
escolhido Vigário Provincial, às comunidades claretianas:
Nessa
qualidade, continuei a visitar constantemente São Tomé, e, em 2007, vim então
para aqui, como Bispo de São Tomé e Príncipe.
“São Tomé,
12 abril 2014 (Ecclesia) - O Bispo de São Tomé e Príncipe, D. Manuel António
dos Santos, que assumiu como prioridade pastoral “em primeiro lugar as
crianças” num país muito jovem em que 40 por cento da população tem menos de 15
anos.
“Quando me
perguntam digo sempre que a prioridade são as crianças porque este país está
cheio de crianças e por vezes dói muito a forma como são tratadas e o modo de
vida em que vivem algumas”, conta D. Manuel António dos Santos em entrevista à
Agência ECCLESIA.
O bispo de
São Tomé e Príncipe, que em sua casa com a ajuda da sua irmã cria duas
crianças, depara-se com “muitos casos dramáticos” e dá o exemplo de uma criança
que chegou à Cáritas de São Tomé “com 9 meses e apenas 2,3 quilos de peso” Agência Ecclesia - São Tomé e Príncipe: Crianças
são
.
(…) D.
Manuel António Mendes dos Santos, CMF, é o seu bispo diocesano desde 1 de
Dezembro de 2006, fazendo parte da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e
Príncipe. Sacerdote claretiano desde 1985, é, de facto, um “veterano” de
África. Como ele próprio nos revela, a «Diocese não é
extensa territorialmente, mas é plena de desafios, não apenas pastorais, mas
acima de tudo sociais e de integração». Com uma visão antropológica coerente
e de largo espectro, atenta e preocupada, D. Manuel conhece bem o terreno, as
suas gentes e agentes, as forças em acção, não abdicando nunca de intervir e
exercer o direito de opinião, dentro da esfera das suas competências e deveres.
E é uma voz ouvida. Ou não fosse, afinal, o responsável máximo da mais
importante, senão única, entidade nacional com acção política e social, através
principalmente da Cáritas (fundada em 1981) – o braço da Diocese neste quadro
de apoio aos pobres, carenciados, órfãos, idosos, desintegrados, às vítimas das
conjunturas político-económicas que devastam África, que recebe também algum apoio
de ONG’s de matriz católica, bem como de outras.
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