Dia 31 de Janeiro, festa de São Pedro, padroeiro dos pescadores, junto
à sua ermida na Baía Ana de Chaves – Esta é primeira grande festa do novo ano,
com uma moldura humana de milhares de pessoas, que se concentram junto ao local
onde se ergue uma capelinha em honra do dito santo popular e se estende ao
longo da avenida marginal, na praia de S- Pedro, com gente vinda de todos os
pontos da cidade da ilha e da cidade, mas especialmente dos bairros circundantes, , Budo-Budo, São João Davargem, Ponte Graça,
Potó-Potó, Atrás do Cemitério, Oquei-Del-Rei - Três dias de arromba, com música
a rodos dos conjuntos típicos da terra ou apresentada por discotecas móveis,
onde os DJ, dão largas à sua agilidade e imaginação, com os sons mais mexidos e
frenéticos das últimas novidades
Enquanto a Europa, América do Norte, uma boa parte do hemisfério Norte, se debate com uma frio de rachar, aqui, na Ilha do meio do mundo, as águas do mar são quentes e convidam a mergulhar – As crianças, por natureza mais desinibidas e sem preconceitos, que o digam, com as suas correrias, cambalhotas e mergulhos nas praias da cidade e naquelas onde se situam povoações – E foi justamente o que pudemos registar, ao fim da tarde da festa de S. Pedro, neste último domingo e último dia de Janeiro, uma festividade promovida pela comunidade piscatória local, com o apoio da Câmara Municipal de S. Tomé,
De um modo geral, as tradicionais festas dos chamados santos populares, celebram-se, em Julho, mas, na Ilha de S. Tomé, a principal festa de S. Pedro, decorre, no dia 31 de Janeiro – Dia em que, a imagem - da pequena ermida, em forma de uma vela, situada, na praia do mesmo nome, na Baía Ana de Chaves - é levada numa procissão ao longo da avenida da marginal e é recebida pelas canoas, engalanadas, que depois vão a percorrer o tranquilo estuário, que lhe fica fronteiro – Pretexto para o povo festejar um dos mais venerados apóstolos, bíblicos, e também dar largas à sua folia, ao “flogá” –
Clik - Veja e ouça - Imagens e ao Vivo
Com tendas de comes e bebes, pratos típicos e variadíssimos aperitivos, além
das exibições de grupos etnográficos – danço congo – e representações teatrais,
como sejam os grupos do tchiloli, conhecidos na ilha por tragédias, nomeadamente A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno
À hora, em
que ali chegámos, quase ao pôr-do-sol, não pudemos assistir à tradicional
procissão, que teve lugar ao principio da tarde, mesmo assim ainda pudemos participar no caloroso ambiente
festivo que ali se vivia, e do qual aqui damos conta de algumas imagens,
nomeadamente de uma exibição de Tchiloli
Segundo é referido por
estudiosos “O tchiloli baseia-se num texto escrito por volta de 1540 por
Baltazar Dias, um dramaturgo cego, madeirense da escola de Gil Vicente
(1465-1536). O seu drama inspira-se em seis romances castelhanos que, por sua
vez, derivam do ciclo carolíngio do século XI. Este teatro medieval conta a
história de Dom Carloto, filho e herdeiro do imperador Carlos Magno que
assassina o seu melhor amigo, Valdevinos, sobrinho do marquês de Mântua,
durante uma caçada, porque se apaixonou por Sibila, a esposa de Valdevinos. O crime
leva as duas famílias e os seus representantes a debaterem questões de lei, de
justiça e de governação. Os temas chave desse drama são a traição e a igualdade
perante a lei. O imperador é confrontado com o dilema de escolher entre a raison d’État, o interesse nacional, e o seu amor
paternal. Finalmente, o seu filho é condenado à morte e executado na
fortaleza imperial.
Os
grupos do tchiloli, conhecidos na ilha por tragédias, têm
cerca de trinta elementos cada um, e pertencem todos a uma determinada localidade
de forros (assim se chamam os crioulos nativos de São Tomé). Dentro de certos
limites dramatúrgicos, cada tragédia representa uma versão própria da peça.
Conforme a tradição medieval, exclusivamente os homens representam todos os
papéis, inclusivamente os de mulheres. Além disso, o mesmo actor amador
representa sempre a mesma personagem. Os papéis, o guarda-roupa e os textos
transmitem-se no seio das famílias.
Actualmente
existem mais grupos de tchiloli em São Tomé do que antes da independência. Em
1969, havia cinco tragédias3, em
1991 existiam nove grupos4, entre 1995 e 1998
actuaram 15 grupos5 e, segundo
informações da Direcção Nacional da Cultura, em 2007 permaneciam
12 tragédias.
Geralmente
um espectáculo tem a duração de cerca de seis horas e é apresentado em terra
batida num quintal ou numa praça pública, ao ar livre, durante a gravana (estação
seca), sobretudo por ocasião das festas anuais dos santos católicos das vilas e
de outras festividades. A influência africana, em termos da noção de tempo,
estendeu as poucas páginas do texto original para representações bem
mais longas.
O
palco rectangular, aberto pode ser visto de todos os lados. Os espectadores
participam activamente no espectáculo através de comentários durante as várias
cenas do teatro. A um lado do palco ergue-se a corte alta sobre estacas de
madeira, coberta com ramos de palmeira, representando o palácio imperial. No
lado oposto, no chão, a palhota feita de ramos verdes representa a corte baixa
da família enlutada dos Mântua. Durante o espectáculo, um pequeno caixão
colocado numa cadeira no meio do palco simboliza o Valdevinos morto.
A
maior parte dos versos de sete sílabas de B. Dias são utilizados sem quaisquer
alterações, contudo, textos adicionais de prosa em português moderno foram
integrados na representação. Estes dominam as partes relativas à investigação
criminal e aos procedimentos legais. Em contraste com o texto original, estes
textos modernos são constantemente adoptados e improvisados pelos actores.
Enquanto
o argumento da peça assume a sua importância, a dança, a pantomima e a música
não são menos relevantes no contexto do espectáculo. Todo o tchiloli é uma
mistura de dança e pantomima. Uma orquestra composta de tambores de diferentes
tamanhos, um sino, flautas de bambu e sucalos (chocalhos) - instrumento local feito
por um pequeno cesto contendo sementes - fornecem a música que acompanha os
actores dançando de um lado para o outro. A música é caracterizadamente
monótona, uma única melodia é retomada. – Excerto de
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