2º jantar convívio de São-Tomenses, na Diáspora, organizado pela Associação das Mulheres de S. T. P. em Portugal, Mén Nón, que decorreu, no último dia de Abril, véspera do dia de trabalhador, na sede da ACOSP, na cidade de Lisboa, em ambiente de muita alegria e de entusiasmo, muito acolhedor e fraterno, como é timbre das gentes das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador fraternidade – Com a sala completamente cheia, na qual puderam ser apreciados alguns dos mais saborosos pratos típicos da gastronomia, ao som da música da terra e também apreciados alguns momentos de poesia, com a leitura de belos poemas de Alda do Espírito Santo (1926-2010), figura emblemática da literatura e da cultura santomense, com versos lidos pela voz da moçambicana ,Elsa de Noronha
Muitos São-Tomenses, uns radicados há muitos anos na capital portuguesa, outros que estavam em curto período de férias ou de trabalho, alguns mesmo vindos de outros países da Europa - Em boa verdade, reuniu-se um grupo muito representativo e heterógeno, desde crianças aos adultos, gente feliz, com muita emoção, extravasando um grande sentimento de fraternidade e de familiaridade, ou não fossem todos “primos, naquelas que são consideradas as mais luxuriantes e paradisíacas Ilhas do Golfo da Guiné.
Lá vimos, entre outros rostos, além das sempre amáveis e dedicadas, mulheres da Mé Nón, Solange Pinto, Maomé Smith, Rosalina Silva, Carlos Menezes, Abigail Tiny, Carlos Crisóstomos e até o próprio Diretor da Rádio nacional de São Tomé, Braçanan Santos
Elsa de Noronha, natural de Moçambique, (22 de Agosto de 1934), filha do poeta moçambicano Rui de Noronha, declamadora e também ela autora de poesia, tem sido uma verdadeira paladina para a divulgação da poesia africana em língua portuguesa
Lá no «Água Grande» a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.
Brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.
ficam mudos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.
Às mulheres da minha terra
Irmãs, do meu torrão pequeno
Que passais pela estrada do meu país de África
É para vós, irmãs, a minha alma toda inteira
— Há em mim uma lacuna amarga —
Eu queria falar convosco no nosso crioulo cantante
Queria levar até vós, a mensagem das nossas vidas
Na língua maternal, bebida com o leite dos nossos primeiros dias
Mas irmãs, vou buscar um idioma emprestado
Para mostrar-vos a nossa terra
O nosso grande continente,
Duma ponta a outra.
Queria descer convosco às nossas praias
Onde arrastais as gibas da beira-mar
Sentar-me, na esteira das nossas casas,
Contar convosco os dez mil réis
Do caroço vendido
Na loja mais próxima,
Do vinho de palma
Regateado pelos caminhos,
Do andim vendido à pinha,
Às primeiras horas do dia.
Queria também
Conversar com as lavadeiras dos nossos rios
Sobre a roupa de cada dia
Sobre a saúde dos nossos filhos
Roídos pela febre
Calcurreando léguas a caminho da escola.
Irmã, a nossa conversa é longa.
É longa a nossa conversa.
Através destes séculos
De servidão e miséria...
É longa a estrada do nosso penar.
Nossos pés descalços
Estão cansados de tanta labuta...
O dinheiro não chega
Para vencer a nossa fome
Dos nossos filhos
Sem trabalho
Engolindo a banana sem peixe
De muitos dias de penúria.
Não vamos mais fazer “nozados” longos
Nem lançar ao mar
Nas festas de Santos sem nome
A saúde das nossas belas crianças,
A esperança da nossa terra.
Excerto - Continua em
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