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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Nacionalização das roças de S. Tomé e Príncipe - 45 anos depois - Os feudos não deixaram à população, as melhores recordações, mas também pouco ou nada se aprendeu com os erros do passado - Mais delas estão irreconhecíveis em estado de abandono ou subaproveitamento

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Antigo empregado de mato nas roças

Tal como foi denunciado, na revista angolana, Semana Ilustrada, de que era seu correspondente, em S. Tomé, as grandes propriedade agrícolas das duas ilhas, serviam apenas os interesses de uns quantos privilegiados, eram "mundos fechados", não prestavam contas a ninguém, não divulgavam os seus relatórios anuais, fechavam-se  no seu casulo egoísta e esclavagista, dissociando-se da problemática humana e ambiental que é própria da terra onde se acham implantadas e de onde lhes vem, afinal, a totalidade dos réditos

Tendo sido alertada a “ necessidade efectiva de produzir-se um volte-face, porque a riqueza só será inteiramente legítima se extravasar do seu lado meramente material e ao serviço de um grupo de indivíduos, na maioria ausentes ,para se projectar em benefício amplo da comunidade onde tem â. sua razão de existência. 


SEMANA ILUSTRADA   - “AS ROÇAS DE SÃO TOMÉ TÊM DE PRESTAR CONTAS! –Causaram alguma perturbação, sabêmo-lo, em certos espíritos dados ao comodismo rotineiro, alguns dos nossos escritos sobre  problemas de S. Tomé e Príncipe.

Simplesmente não poderíamos abdicar de cumprir o nosso dever, tendo Semana Ilustrada as responsabilidades que tem: ao ser órgão de informação mais divulgado nas Ilhas Verdes.

E, pese a quem pese e doa a quem doer, os legítimos interesses de S. Tomé e Príncipe hão-de fatalmente estar primeiro que as conveniências seja. de quem for. Obriga-nos a isso o muito respeito que temos pelos bons santomenses, aqueles que  formam a camada mais válida da população ,porque trabalham e realizam, empurrando aquela terra portuguesa para a frente." - Excerto


A Nacionalização das roças e o Feriado de 30 de Setembro: a história com economia por dentro

Comemorou-se, ontem, nas Ilhas Verdes do Equador, mais um feriado do dia da nacionalização das roças coloniais que ocorreu no dia 30 de Setembro de 1975, que teve como suporte legal o Decreto-Lei n.º 24/75, de 30 de Setembro

Diz,  o Professor e investigador,  Armindo do Espírito Santo, num desenvolvido artigo publicado no Téla Nón, que  para o MLSTP, a nacionalização das terras significou não só a libertação do povo de STP das amarras do colonialismo que o impediam de se desenvolver, mas também o acesso à riqueza e o controlo do património que antes lhe fora extorquido pelos europeus com a segunda colonização no início da segunda metade do século XIX.E, neste sentido, o Dia 30 de Setembro de 1975 constitui uma importante data histórica, a mais significativa depois da data da independência.

Frisando que “a nacionalização das roças não liquidou a economia de STP simplesmente porque as grandes plantações já estavam em crise quando foram nacionalizadasExcerto de https://www.telanon.info/suplemento/estudos/2020/09/30/32658/a-nacionalizacao-das-rocas-e-o-feriado-de-30-de-setembro-a-historia-com-economia-por-dentro/

LAMENTÁVEL É  QUE O PATRIMÍNIO DAS ROÇAS, NÃO TENHA SIDO PRESERVADO  - Ao menos, que, as tais antigas propriedades, fossem minimamente limpas e preservadas. E não é isso que acontece,em muitas delas,  para prejuízo do povo destas maravilhosas ilhas

Em 2014 , o então Primeiro-ministro Gabriel Costa, anunciou  que o seu Governo com menos de dois meses de mandato, vai lançar um concurso público internacional, para salvar cerca de duas dezenas dos antigos palácios das roças. «O governo está empenhado em lançar um concurso internacional para que possamos por um lado preservar o património arquitectónico dessas casas coloniais, mas também para o desenvolvimento do turismo rural e ecológico, para que a nossa população participe activamente no desenvolvimento dessa forma de turismo», declarou o Chefe do Governo.https://www.telanon.info/politica/2014/08/25/17212/gabriel-quer-salvar-palacios-coloniais-no-fim-do-seu-mandato/

Bom era que, as afirmações, que se têm feito em torno da sua preservação,  passassem das palavras às ações, no entanto, o problema, é que, a Ilha, nomeadamente a maior, onde a natureza é fértil e generosa, oferecendo todo o tido de fruta, ao longo do ano e tem o nome do apóstolo São Tomé – Ora, como é do conhecimento bíblico, São Tomé, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo,  era muito cético - só vendo é que acreditava. 

Praia do Uba-Budo - 2014
Além do mais,  os santomenses fazem parte de um povo pacífico incapaz de matar um cachorro à nascença, pois entendem que todos os bichos têm direito à vida e que cabe à mãe-natureza fazer a seleção natural, mas os políticos, de modo geral, pelo que me é dado depreender, conquanto não sejam agressivos, são exímios na demagogia – Falam, falam, mas, pelos vistos, as obras vão sendo adiadas para o dia de São Nunca – Neste caso, ao jeito da tradição popular em  torno do apóstolo S. Tomé -  Deixando mais dúvidas de que certezas.  Mais ceticismo de que crença.  Mais  desilusões de que esperanças.


MAS HÁ UMA CRUA REALIDADE, QUE NUNCA DEVE SER DESCURADA 

2014 

De facto,  as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de meros capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais. 

Fala-se muito mas desconhece-se o essencial: que eram campos de escravatura. Trabalhei nesses feudos: na Roça Uba-Budo, na Roça Ribeira Peixe e na Roça Rio do Oiro 

Conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos


Roça Rio do Oiro 1977 
2014

Na verdade,  não guardo da roça, as melhores recordações senão o facto de ter apenas 18 anos, ser um jovem  e da surpreendente beleza daquela paisagem, que todos os dias se me revelava, pese a humilhação a que era submetido desde a alvorada  até ao escurecer -  Pois não posso esquecer-me de como era difícil e dura a  vida na roça, tanto para os empregados de mato como para os trabalhadores - E foi esta a categoria que me foi dada, pelo Administrador da Roça Uba-Budo, quando fui para ali estagiar 


 

 


Roça Uba-Budo-2014

A DIFÍCIL VIDA NAS ROÇAS DE MÁ MEMÓRIA  - Para a maioria dos que ainda nelas resistem - sobretudo, de origem cabo-verdiana, com o coração ruído de saudades  das suas queridas ilhas, a situação, em que se encontram, atualmente, não é boa, mas  verdade é que, para quem ali trabalhou, como eu,  esses enormes feudos coloniais, trazem também lembranças de febres palustres e  rosários de humilhações, de muitos sacrifícios e  adversidades 

Trabalhei nesses feudos e conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos 

Roça Agostinho Neto - 2014 - Ex-Rio do Oiro

No meu tempo, a vida por lá também era bem dura e penosa, tanto para os empregados de mato, tal o meu caso, como para os escravizados trabalhadores .Quer  chovesse ou fizesse sol, o trabalho não se suspendia e tinha de começar muitos antes dos seus raios raiarem por entre a floresta ou lá no horizonte do fundo do mar.

 Com os fulgores da  independência, foram nacionalizadas, porém, como,  as suas instalações, careciam de arranjos  periódicos de conservação, depressa passaram a ruínas e a mato.  Agora, naquelas que não foram privatizadas, cada um vai plantando e colhendo o que pode para a sobrevivência pessoal ou familiar. 

Escola Agricola - Num dia da Praxe do Caloiro

Tal como  é reconhecido, grande parte da  comunidade cabo-verdiana, em S. Tomé e Príncipe,  continua a viver nas antigas roças em condições muito precárias – De algum modo, abandonados à sua sorte.  

 Desembarquei, em S. Tomé, a bordo do navio Uige, em Novembro de 1963 para fazer o meu estágio de Agente Técnico Agrícola, da Escola Agrícola Conde S. Bento, em Santo Tirso - Não tendo condições, devido à forma desprezível como ali eram encarados os técnicos, por indivíduos que ascendiam apenas à custa dos anos de serviço  e de uma certa brutalidade; acabei por concluí-lo na tropa, quando ali fui encarregado do sector da  Messe dos Oficiais e da  Agropecuária do quartel .  

Roça Agostinho Neto -2014 - Ex-Rio do Oiro

O paquete ficou ao largo, frente  à fortaleza de S. Sebastião, tendo o transbordo sido feito nos chamados "gasolinas".  No cais, era esperado por um empregado dos escritórios, muito fala-barato e desatinado, que  me conduziu num jipe a um dos chalés.. Mas, como já era noite tardia e  estava a chover e ele ia muito apressado e já com alguns copos, que tinha bebido na cidade, estando o caminho muito enlameado, o  jipe voltou-se numa das curvas e atirou-nos para junto de um cacaueiros: felizmente, nenhum dos nós ficou ferido. Mas a mala, que ia na carroçaria,  abriu-se e espalhou a roupa pelo mato, ficando toda encharcada. 

2014

No dia seguinte, levou-me na mesma viatura para me arranjar uma "samú" numa aldeia nativa - Nome dado às mulheres, que amancebavam com os colonos:  eu tinha 18 anos; ela, deveria ter acima dos 40: Ele falou com ela em dialeto. Não me pediu a minha opinião, tal como julgo que também o não o terá pedido a ela: se gostávamos ou não do outro. Tinha que ter uma mulher. Mas lá nos entendemos. 

Com a marmita do almoço - Uba-Budo 1963

Não foi à procura de fortuna, senão, como disse,  para concluir um estágio na roça mas não encontrei ali o mínimo de condições. O administrador, um tal Anselmo Pereira, era praticamente um analfabeto: - Desfazia-se em sorrisos nas lutas jantaradas ao fim-de-semana, com oficiais da tropa, vestidos de roupa branca  e outros roceiros - Manifesfava ostensivo  ódio a quem tivesse mais instrução académica de que ele; tendo mesmo se incompatiblillizado com o cunhado, que era regente agrícola - Foi que se constou.  Por isso mesmo, para me humilhar deu-me a categoria de empregado de mato: aliás, era por onde todo o colono da roça, tinha de começar.

Uba-Budo 1963

Pouco tempo depois chamou-me à "Casa Grande" e disse-me: prepare a sua mala, tem ali um jipe à sua espera para o transportar: vai fazer o seu estágio na Ribeira Peixe. Você dá confiança aos pretos e já lhe tinham dito que tem que tratar os serviçais por tu e "abaixo de cão".. Como não obedeceu às minhas ordens, vou mandá-lo para o Sul - E é para o não o pôr imediatamente fora da Roça. Sim queria eu tratasse os serviçais por tu ao velho estilo colonial

Caué - 1964

E então que é eu fui fazer com um pobre de trabalhador cabo-verdiano, que também tinha sido mandado para lá de castigo? ...Depois de alguns dias a alinhar uma platação de palmeiras no caué, a seu mando, o feitor-geral, pôs-me a contar cacaueiros velhos numa zona abandonada, coberta por um enorme capinzal e infestada de cobras pretas: ele marcava-os com água de cal e eu ia-os contado para um papel: não havia dia algum que não se levantassem essas serpentes do capim ou as encontrássemos dependuradas nos cacaueiros: eu andava calçado de galochas, mas ele andava descalço - Sucedeu, que, num desses dias, pisou uma dessas serpentes e foi picado por ela, tendo caído imediatamente ao chão, contorcendo-se de dores no meio do capim e a espumar alitivo da boca - Decidi montar-me no cavalo -  pois era este o transporte que os empregados de mato, ali usavam - para ir buscar um medicamento ao hospital - Quando, cheguei junto dele, já estava morto e com cor do rosto mais roxa de que negra  

Roça Rio do Oiro - Num domingo 1964

Naquele dia  à noite, tão chocado fiquei pela morte do pobre cabo-verdiano, que,  ao regressar ao meu chalé, peguei na minha trouxa e fui a pé até S. João dos Angolares, onde pernoitei no mato, invadido por  ferroados de mosquitos.

 

No dia seguinte, consegui apanhar uma boleia para a cidade – E, como não tinha dinheiro, tive que me valer das bananas que ia colher nos arredores e dormindo alguns dias no coreto de um jardim, a que chamavam de parque, frente à central elétrica.


Fui pedir emprego ao Chefe do Gabinete do Governador, o sr, Baldaia, que me sugeri que fosse à CM -  Aqui, fui recebido pelo Sr. Aprígio Malveiro, que me pôs a capataz dos jardins da cidade – Que viria abandonar uns dias depois, visto não ter onde me alojar e me dizer que eu tinha de que também limpar as ervas dos jardins “comos os pretos” – Sempre que passava, junto de mim: “toca a limpar! Toca limpar o capim! – Se bem que eu já o fizesse com o meu machim

 

Dececionado, pus os pés a caminho e fui então pedir emprego à administração da Roça Rio do Oiro: à porta fui recebido pelo  Sr Fonseca, o violador-mor dos cabaços da meninas, pois, quase todas as semanas, andava a desflorar uma nova menina, que me mandou  esperar junto aos escritórios – Quando ali chegou, voltou-se para o Sr. Menezes, pai do Fradique Menezes e disse-lhe: “Entregue um machim a este nosso novo  empregado de mato!


Antiga Roça Rio do Oiro  - 2014 Agostinho Neto

O Pereira do Uba-Budo, já me disse  que ele gosta dos pretos! Que o tinha despachado para a Ribeira Peixe. Eu gosto é  de pretas! O que nos interessa é que trabalhe” – 

Em meados de 1964, fui trabalhar para a Roça Rio do Oiro, onde fui encarregado da plantação de um palmar em Fernão Dias, de que tenho ainda duas fotografias, uma nas plantações e outra a regressar à sede da Roça, que lhe envio.



O rapaz que me acompanhava, na marcação das estacas e abertura das covas, vivia em Guadalupe – Falava-me que não gostava de andar ali, e tínhamos que regressar antes do pôr-do-sol, pois aquele trabalho não era feito de empreitada - E era todo o dia.

 

Confessava-me que os forros não gostavam de ali passar de noite por julgarem que apareciam por lá fantasmas das pessoas que ali haviam morrido naquele campo  -  Ainda lá vimos algumas correntes de ferro, que, mais tarde, ainda ali também fui encontrar quando lá fui entrevistar dois sobreviventes para a Semana Ilustrada, de que lhe envio os recortes 

 

Uba-Budo 2014

Num daqueles dias, vi-o parado junto de uma estaca e a chorar – Perguntei-lhe o que tinha: respondeu-me que estava a lembrar-se do seu pai, que ali tinham matado à paulada.  – No dia seguinte, não apareceu:  a roça teve de arranjar um trabalhador cabo-verdiano, que desconhecia o que ali havia ocorrido, tendo depois vindo ainda outro.

 

Mas quem sabia era o pai do coronel Victor Monteiro, o homem da leitaria, a que chamavam de filósofo, que aos domingos gostava de ostentar a sua  fatiota de marinheiro, como embarcadiço do navio António Carlo e que tinha mais instrução que a maioria dos empregados de mato: ele nunca ali o contou esses episódios – Vim a sabê-lo pelo filho, em 2014, e por outro cabo-verdiano, que o conheceu - vale a pena conhecer a heroicidade desse bravo cabo-verdiano, que liderou a sublevação do seus companheiros, evitando que cento e tal santivos santomenses, fossem lançados ao mar às ordens do então Governador Carlos Gorgulho, em 1953  http://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-memorias-do-massacre-do-betepa-2.html


E lá fiquei até à tropa – parte da qual em Angola, no curso dos sargentos-milicianos e outra num curso dos comandos, após o que regressei ao quartel do CTISTP, onde cumpri o resto do serviço militar, parte do qual como encarregado da Agropecuária e da  Messe dos Oficiais


Por isso, não me tendo enquadrado nos métodos repressivos e prepotentes do então sistema colonial, só mais tarde o pude concluir no serviço militar, quando ali fui encarregado da agropecuária do CTISTP. 

Ao fim de alguns meses, os terrenos anexos ao quartel estavam todos plantados com bananeiras e ananases, cujos pés havia ir comprar à Roça S. Vicente, na Trindade, propriedade do Eng Salustino da Graça – Foi aí que, numa das minhas idas, em serviço do quartel, encontrei o Dr Mário Soares e o filho João, tendo assistido à pesagem daqueles frutos, que dali também levava, enquanto não foram colhidos nas plantações do quartel, de que lhe envio algumas imagens.

 

Viveiro de Cacau Brig. Fomento AP

E foi com base num relatório desses trabalhos, assinado pelo Eng Morbey da BFAP e nos serviços que viria, mais tarde a prestar na Brigada de Fomento Agro-Pecuária, que, finalmente, pude dar por concluído o meu estágio de Agente Rural, pois tinha sido essa a razão pela qual fui para S. Tomé 


   Quem conheceu as roças no período colonial e voltar a olhar para elas, a diferença é gigantesca – Disse Isaura Carvalho,  ao referir-se a um dos poemas de Dom Manuel dos Santos, intitulado Roça,  em Setúbal, há cinco anos,   frisando que, na opulência de outrora, hoje encontramos espaços abandonados, habitados por gentes que estão esquecidas quase do mundo” – “É esta realidade, que o Sr. Bispo, Dom Manuel dos Santos,  também conhece, a que também dedicou a seu tempo um poema”– Lido pelo próprio durante a cerimónia de apresentação, na Galeria Municipal do Banco de Portugal, em Setúbal, ao fim da tarde do dia, 6 de Outubro.


Com efeito, a Roça é o termo da grande propriedade de cacau do período colonial, que surge naturalmente associado às Ilhas de São Tomé e Príncipe – No Brasil, a palavra roça também é usada e serve de tema para o cinema e a literatura, mas tem outra simbologia: pode significar tanto o próprio terreno de  cultivo, pequena parcela familiar, como o ato de trabalhar na roça. – Porém, é nas Ilhas Verdes do Equador, que a sua conotação é mais forte: além de ter significado poder e riqueza de cacau e café, e más memórias de escravidão, traduzia também a expressão do grande latifúndio à semelhança da grande propriedade alentejana

Roça Uba-Budo 2014
Por isso mesmo, as roças  de São Tomé e Príncipe continuam a ser tema inspirador na poesia santomense – Quer no tempo colonial, como agora –  Mas, que se sabia, mesmo nos áureos  tempos da exploração do cacau e do café, não se conhecem versos que as deifiquem  -  Agora, pelos vistos, num tempo em que se encontram bastante descaracterizadas, nomeadamente a nível de edifícios e estruturas tecnológicas, na sua quase generalidades, em ruínas, esquecidas e irreconhecíveis,   também não deixam de ser pano de fundo inspirador, tanto para analistas, como para poetas e escritores -  E foi justamente o que se passou com Dom Manuel dos Santos.

No tempo Colonial, Fernando Reis, intitulou um dos seus romances de “A Roça” – Da qual foi feito até um folhetim radiofónico: trabalhava eu como empregado de mato, na Roça Rio do Oiro, atual Roça Agostinho Neto, da Sociedade Agrícola Vale Flor, quando, no refeitório e à hora de jantar,  a dita novela se ouvia numa telefonia ali colocada – Era seguida com muita atenção e a razão era simples de explicar: porque surgia associada à realidade: nem a endeusava nem a diminuía – Quem trabalhava na roça ou conhecia o seu ambiente, facilmente se identifica em múltiplos aspetos, como enredo do folhetim radiofónico –Daí o seu êxito, mesmo junto da população.
 
 
Na Roça

Na roça o sol põe-se mais cedo
Na roça o ossobó canta mais cedo
Na roça o choro entristece mais cedo
Na roça o sono chega mais cedo

Na roça as palavras são mais cansadas
Na roça os sonhos são mais pequenos
Na roça as noites demoram a apagar-se
Na roça as mulheres dormem acordadas

Excerto – Poema de Dom Manuel dos Santos

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