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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

São Tomé – Pico Cão Pequeno: sorrisos, sangue e pesadelo – Março de 2016 - Imagens de um longo calvário pelo interior da floresta equatorial – Recordando o pesadelo, que me ia custando a vida, quando ali me desloquei para acompanhar e fotografar uma equipa de alpinistas

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e líder da escalada do Pico Cão Grande, em Outubro de 1975 https://canoasdomar.blogspot.com/2020/08/pico-cao-grande-em-s-tome-epica.html

Momentos antes do acidente

Desta vez o destino ia-me pregando uma partida mas, pelos vistos, estava escrito nos astros que apenas seria mais um episódio da minha vida - As Bandeiras Nacionais de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, não puderam ser desfraldadas no topo mas espero - Rogério, Paula e Catherine - que um dia o possais fazer: ou de volta ao Cão Pequeno ou ao Cão Grande - Só a caminhada pela floresta, vale a pena a intensa e emocionante descoberta 
 REPORTAGEM PUBLICADA PELO JORNALISTA  ADILSON CASTRO - Imagem ao centro de autoria de José Diogo

Jorge Trabulo Marques que se encontra atualmente em São Tomé, onde tomou parte nas comemorações do 63ºaniversário do Massacre do Batepá, que tiveram lugar na histórica Praia Fernão Dias, e para dar continuidade as suas pesquisas históricas acompanhado por uma equipa alpinistas especialistas em mergulho, que se propunham escalar o Pico Cão Pequeno e, posteriormente, deslocarem-se à Praia de Ananbom, onde supostamente teria começado a colonização portuguesa, em declarações a redação do Jornal Transparência, manifestou-se vivamente reconhecido aos seus companheiros que vieram ao seu encontro para lhe prestar todo o seu apoio, ao guia que o acompanhava, e especialmente ao Coronel Victor Monteiro, pelo envio da assistência tão rápida:- pois, ao fim de hora e meia, já o maqueiro Juceley Fernandes, enfermeiro parteiro do Posto de Porto Alegre, ia ao seu encontro numa velha motorizada conduzida pelo cozinheiro do complexo turístico Jalé, numa verdadeira maratona, por caminhos e trilhos cheios de obstáculos e extremamente difícil de percorrer, através da densa floresta equatorial e que lhe prestou os primeiros socorros.
Ao lado do maqueiro
Ao lado do jovem guia 

Entretanto, mais adiante já o Jipe, conduzido pela equipa de alpinistas, levava rapidamente até a Vila Malanza, onde o esperava uma ambulância que o conduziria ao hospital da cidade de São Tomé.
Neste momento, Jorge Trabulo Marques, após vários tratamentos hospitalares recebidos, durante a noite passada e a manhã de hoje, foi autorizado pelo médico Pascoal de Apresentação, a permanecer na vivenda temporária da Presidência da República, que havia sido facultada a ele e á equipa dos alpinistas investigadores, tendo o referido o médico se mostrado disponível a prestar a assistência que for necessária, se precisar de se dirigir ao hospital.
Com a sua mota levou o maqueiro
Por: Adilson Castro
DEUS ESTEVE AO MEU LADO - GRAÇAS TAMBÉM AOS BONS AMIGOS E A PRONTA E EFICIENTE ASSISTÊNCIA MÉDICA 
De entre as várias manifestações de apreço e de solidariedades expostas no Facebook, vou aqui tomar a liberdade de reproduzir a mensagem  do Coronel Victor Monteiro e a minha resposta
 
QUE SUSTO!!!!!!!

Caro amigo Jorge Trabulo Marques.
Gostava de aproveitar agora, depois do alívio, porque o susto já passou, de desejar-te rápidas melhoras.

Os meus agradecimentos, por isso, devem ser extensivos a todos quantos espontaneamente acudiram ao meu grito de socorro e colaboraram incondicionalmente para que tudo andasse bem:

De entre tanta gente, gostava de destacar as seguintes pessoas:
PRIMEIROS SOCORROS NA FLORESTA
+Enfermeiro de Porto Alegre- Juceley (estancou a hemorragia no crânio, com uma sutura de 3 pontos)
+Motorista-Manuel
EQUIPA DA AMBULÂNCIA
+Enfermeiro-Germias+Maqueiro-Antonai  +Motorista-Cunha
HOSPITAL Dr.Ayres de Menezes
+Administrador-Dr.Carlos Neves +Dr. Lima
+Dr. Pascoal +Dr. Gian (Costa-marfinense) +Dr. Guilherme +Enfermeira-Cipriana

- Enfermeira Elka da Cruz -Enfermeiro Jerceley +Maqueiro-Ângelo
   Maqueiro Antunay
ECO-RESORT JALÉ +Coordenadora-Evarilde +Gerente do Restaurante-Manuel.

Adicionar legenda
Obrigado Meu Caro e Bom Amigo Coronel Victor Monteiro 

Um grande Bem-haja a todas as pessoas que tiveste a gentileza de enunciar;   ao seu espírito de bem servir e de abnegação - Sem o teu grito de alarme e a sua generosidade, dificilmente teria resistido. 

Salvaste-me a vida -  Quem saiu aos seus não degenera e tu tens a quem sair: a uma querida e corajosa mãe e a um pai extremoso e corajoso que também salvou muitas vidas de serem atiradas ao mar. Conheci-o quando era empregado de mato na antiga Roça Rio do Ouro e quando tu ainda eras um adolescente - Lembro-me bem do teu rosto. porque o teu pai era um cabo-verdiano muito estimado e comunicativo naquela roça e tu quase não o largava de mão, agarrado às suas calças, descalço e de calção Mal te pus ao corrente do meu acidente ( e ainda bem que àquela altura o telemóvel funcionou) sei que nem mais um instante teu coração descansou: foi um dia arrasador para ti - Fazendo diligências várias para ser prontamente socorrido - E assim aconteceu - Graças à tua generosidade e o teu abnegado esforço - Que rapidamente puseste em movimento um grande abraço de solidariedade - Operaste um autêntico milagre - E também porque as pessoas que contactaste, compreenderam que o momento não era de esperas mas de acção: desde o maqueiro que prontamente me saturou dos grandes golpes na cabeça, que não paravam de jorrar sangue - Mais uns minutos, dificilmente podia manter-me em pé, pois já começava a sentir fortes tonturas - Depois, foi a pronta evacuação na ambulância que me transportou para o hospital. E, ao chegar ali, tanto carinho, tanta disponibilidade, que,a bem dizer, nem sei onde hei-de começar a agradecer - Sim, a todos os rostos que me acarinharam e me assistiram , aos meus companheiros que também tanto se esforçaram por me salvar - Um grande abraço amigo - De ti, já tinha as melhores recordações, mas com esta grandeza, penso que é inigualável

 
Uma equipa mista de alpinistas, vindos de Portugal, em voo da TAP, no dia 2 de Fevereiro, 2016, composta por uma canadiana, uma portuguesa e um português, deslocaram-se a S. Tomé para conhecer as suas belezas naturais, (sim, porque, os apaixonados pela escalada, são intrinsecamente amantes da Natureza), fazer um teste no Pico Cão Pequeno, aproveitar para hastearem as bandeiras nacionais de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, no seu cume, como um gesto de amizade e de cooperação, entre os dois países irmãos
 

HESITAÇÕES INICIAIS RESOLVIDAS PELO PRÓPRIO GUIA  

"A TÉCNICA DO MACACO" AINDA CONTINUA A SER A MELHOR FORMA DE SE ESCALAREM OS MAIS DIFÍCEIS  PICOS DE S. TOMÉ - FOI ASSIM QUE SE ESCALOU O CÃO GRANDE  - É por isso que, a nossa proeza do Cão Grande ainda não foi imitada, pese o facto de já lá terem ido quatro equipas de alpinistas profissionais, com mais avançada tecnologia: uma francesa, outra japonesa e duas italianas


Realmente, a noite fora muito chuvosa e a rocha basáltica  das paredes do Pico Cão Pequeno, que é coberta de vegetação, encontrava-se muito húmida e escorregadia - Havia muitos arbustos, mas hesitava-se em fazer uso seguro deles - Pelo que me apercebi, o entusiasmo parecia arrefecer e adiar a tentativa para outra oportunidade. . 

No entanto, eu que já conhecia bem esse tipo de vegetação no Cão Grande e dela me havia servido, tanto para iniciar a escalada, como em várias fases do percurso, sabia que, com algum cuidado, podia ajudar a resolver as dificuldades iniciais, nomeadamente onde a pedra está menos enxuta e se cobre de vegetação, agarrada aos milenares sedimentos da erosão 
 
Face a uma certa hesitação, que parecia deitar por terra, tanto esforço da exaustiva caminhada,  sugeri para que permitissem  ao guia Admilson, dar a sua ajudinha.

Sim, ele que tão útil fora a desbravar caminho até ao local: -  um jovem e atlético santomense, de origem cabo-verdiana, que já evidenciara as suas capacidades quando cumpriu serviço militar e que agora trabalha com o seu pai, mãe  e demais irmãos, na dependência de Santa Josefina, da antiga Roça Porto Alegre, sim, sugeri para que o deixassem mostrar as suas habilidade e trepar pelos arbustos, levando consigo a corda da escalada, de modo a prendê-la a uns arbustos, aí a uns 20 ou 30 metros acima, ou seja, junto à parte da rocha, que passava a encontra-se livre de vegetação e seca - Numa área já mais exposta ao ar, logo menos escorregadia e mais adequada à fixação de pitões e das  tradicionais técnicas alpinísticas 
 


E, na realidade, num ápice, o jovem, tira o sapatos, fica descalço e trepa por ali acima, como se estivesse a trepar em qualquer árvore da floresta, garantindo que  podiam iniciar a escalada com segurança.


Quando deixei de os ver, descalcei os sapatos e tentei a minha chance para fazer umas imagens à equipa, que, do ponto onde me encontrava, não podia registar

Não podendo trepar o mesmo arbusto que o jovem, tentei  fazê-lo de outra forma, ou  seja, agradando-me a outro arbusto, justamente onde os elementos da equipa se haviam agarrado à corda inicial - Ao testar puxá-lo. mesmo antes de trepar, como estava em meias - e não descalço - escorrego com o arbusto atrás de mim - Rolando desamparado ravina abaixo, batendo com as costas e a cabeça de pedra em pedra-

 Sabia que não era a forma ideal e a mais segura - Mas fui traído pelo musgo escorregadio - Caso a ponta da corta não tivesse sido  recolhida, penso que podia ter ido até onde o guia foi, podendo acompanhar fotograficamente a escalada  - Qualquer repórter fotográfico  - seja qualquer for a sua idade - arrisca para fazer o melhor possível a sua reportagem  -Era o que pretendia fazer - 

Mas os meus companheiros - muito experimentados nos perigos da escalada  - lá tinham as suas razões  - Se bem que eu também a tivesse nos cinco anos a caminho do Pico Cão Grande - Mas agora a idade era diferente  

Quando me vi a sangrar da cabeça de vários pontos e de um braço, com fortes dores nas costelas, entreguei o telemóvel ao jovem guia para  comunicar com a equipa - sim, ali, àquela altura, havia rede - Esta decide desistir da escalada e regressar - Porém, receando que pudesse vir a desmaiar e a constituir algum estorvo acrescido ao seu retorno, através da espessa floresta, resolvi ir descendo, amparado a um pau - E nem assim perturbei a sua progressão, quando nos apanharam

FAÇANHA DAS ARÁBIAS CHEGAR AO SOPÉ DO PICO CÃO PEQUENO  E ESCALÁ- LO É TAMBÉM UM GRANDE DESAFIO

A começar pela aproximação do sopé, que é já de si uma autêntica odisseia na floresta - Cobras pretas, que podem surgir onde menos se espera - e foram vistas pelo nosso guia - raízes que emergem do chão, vivendo da saturada humidade aérea, troncos de árvores gigantescas e seculares de todos os tamanhos e de variadíssimas espécies, que surgem por entre enormes pedregulhos de basalto, arbustos os mais surpreendentes e variados, fetos gigantes, que dir-se-ia remontarem ao principio das eras, sem dúvida, uma caminhada íngreme, exaustiva, sufocante e titânica. Um desafio aos espíritos mais aventureiros e amantes da Natura.

A minha tenda na Praia Jalé
Chegar onde cheguei, com uma pesada mochila às costas é já de si uma enorme proeza - É que do alto e de uma certa exposição dessa ravina, descobre-se uma panorâmica fantástica, funda e larga, mas que, ao menor deslize, também pode proporcionar um voo para a morte - Mas o meu objectivo não era a escalada


Em todo o caso, este pico, que mais lembra um enorme falo de que um simples bloco maciço, ia-me pregando uma grande partida e devorando-me a vida, justamente onde começa a libertar-se dos restos da última mancha verde da brenha densa arbustiva e arbórica, que o envolve desde as mais fundas grotas – Mas a culpa nem é dele mas minha: porque, eu não ia com o intuito de o escalar mas tão somente de o fotografar -Essa proeza, que tem outra história, pertence-me a mim e a mais três valorosos santomenses - E já lá vão quarenta anos; é muito tempo na vida humana http://www.odisseiasnosmares.com/…/cao-grande-em-sao-tome-g… -


  Mas, nestas coisas, os azares surgem quando menos se espera - Até ao atravessar uma rua . No entanto, pressentia que algo parecia determinado, pois são das tais curvas ou cruzes da vida ou do destino, que gostam de nos fazer as suas patifarias ou testar as nossas capacidades  – A noite havia sido chuvosa, com relâmpagos a incendiar o mar a e floresta – Era deste cenário que me apercebia, dentro da minha pequena tenda, na Praia Janela, um pequeno paraíso de areias douradas e suaves, situado ao sul da Ilha de S. Tomé – Mas longe de imaginar que o inferno não era meteorológico mas outro

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