Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solitário em pirogas de S. Tomé
Realização de uma regata bianual de canoas nativas à vela e a remos, tripuladas por 4 a 6 pescadores ou desportistas, entre as duas maiores ilhas do Golfo da Guiné - Ou como alternativa de circum-navegação em torno de cada uma destas ilhas.
Desejaria que pudesse partir de Ano Bom, mas talvez ficasse demasiado longa, pelo que essa opção poderia ser estudada para outra expedição
As canoas são as embarcações mais antigas da Humanidade e já deram bastas provas de terem sulcado os mares, nomeadamente no Oceano Pacífico, o maior da Terra
A piroga é uma embarcação, característica da África, da Oceânia e da América nativa, e que também foi utilizada desde a Idade do Ferro até à Alta Idade Média, no Rio Lima, no Norte de Portugal
Uma canoa, com 8000 anos, descoberta na Nigéria – Considerado o “barco mais antigo de África - Foi descoberta perto da região do rio Yobe, pelo pastor Fulani, em maio 1987, Vila Dufuna ao escavar um poço. "Madeira quase negra" da canoa, que dizem ser de mogno Africano, como "inteiramente de material orgânico". Vários testes de rádio-carbono realizados em laboratórios de universidades de renome na Europa e América indicam que a canoa tem mais de 8.000 anos de idade, tornando-se assim a embarcação mais antiga na África e a terceira mais antiga do mundo. 8000 years ago africans invented a dufuna canoe in nigeria
De referir, que, no Senegal, já se realizam regatas de canoas, que despertam vivo entusiasmo - "Les meilleurs rameurs de Dakar s’affrontent à l’occasion du Grand prix du président de la République pour le civisme et l’excellence. https://au-senegal.com/Regate-a-Soumbedioune.html?lang=fr es régates de Dakar : 1ère édition : Yarakh Téfess devant Soumbédioune https://wiwsport.com/2021/06/22/les-regates-de-dakar-1ere-edition-yarakh-tefess-devant-soumbedioune/
Mas o projeto ambicioso que venho expor, ainda é mais ambicioso
Tratando-se de uma regata inédita, mesmo sem carácter competitivo ou de acordo com o que se julgasse mais conveniente: com atribuição de medalhas comemorativas, trofeus e prémios remunerados, estou certo de que, uma tal expedição, poderia ser suscetível de mobilizar não apenas a imprensa africana, como a mundial - Constituindo-se, também, como oportunidade de debate e reflexão - Sobretudo, numa altura em que, os países do Golfo da Guiné, se deparam com um inimigo comum, a pirataria, a pesca ilegal e os ataques marítimos que ocorrem nesta área do Atlântico - E se promovem conferências e organizam comissões, ao mais alto nível
O Passado já não pode ser alterado ou modificado: A ligação histórica, afetiva e cultural de Portugal, é indubitável, com as Ilhas Verdes do Equador, tanto S. Tomé e Príncipe, como Ano Bom e Bioko, ex-Ferando Pó e os demais países de expressão portuguesa - Só que, muito antes dos portugueses, ali terem desembarcado, havia outra realidade que nunca foi dita e persiste em ser ignorada
A história deve ser investigada e estudada sem preconceitos ou reservas de qualquer espécie para melhor compreensão da origem de um pouco e da própria identidade - Só compreendendo as verdadeiras raízes históricas, se alicerça o momento presente e se parte com coragem e determinação para os desafios do futuro
Pecador de S. Tomé |
Canoas - De Bioko |
Regata de bianual de Canoas - Em homenagem aos heroicos navegadores das pirogas – Os primeiros a sulcarem rios e mares, a povoarem ilhas e continentes - Com a participação dos países limítrofes e da CPLP - E também com vista a incentivar a canoagem nas gerações mais jovens - Por forma a não se perderem uma das principais memórias da identidade histórica das ilhas
Evento esse de modo a proporcionar a que, todas as embarcações, em prova, pudessem ser acompanhadas por navios da marinha, devidamente seguidas e protegidas, aproveitando os ventos e as correntes dominantes, que correm e sopram do Sul, através da chamada corrente de Benguela.
COM PARTIDAS E CHEGADAS EM AMBIENTE DE CONVIVIO E DE FESTA
Antigo encaixe do mastro |
Com duas etapas: de S. Tomé ao Principe, os 140 Km que separam as duas ilhas, creio que poderiam ser vencidos em menos de dois dias - Com uma paragem de descanso por um ou dois dias para convivio com a população e melhor conhecimento das belezas naturais desta Ilha
E, os 268 Km do Principe à Ilha de Bioko, admito que possam ser percorridos entre 3 a 4 dias - Oportunidade também para convivio festivo e de um mais aprofundado conhecimento das suas belezas e potencialidades, com a exibição do seu riquíssimo e variado folclore nativo.
Cada canoa, disporia à proa de uma pequena ponte, onde fosse possível, cada turno, poder ir descansando e retemperando forças.
Recordando as épicas heroicidades dos extraordinários homens das canoas, desde os mais recuados tempos até à atualidade, enfrentando as maiores adversidades, muitos deles perdendo a vida, quer pescando nos rios ou na orla costeira, buscando alimentos indispensáveis, quer nas suas migrações avançando mar a fora, sulcando vastas extensões, povoando ilhas desertas que a natureza formou.
A GRANDE EPOPEIA AFRICANA NÃO PODE SER IGNORADA - - O continente africano é o berço da humanidade: foi daí que irradiou o Homo sapiens . Os seus homens e mulheres, povoaram lugares nunca dantes povoados; atravessaram continentes, criaram civilizações, culturas e formaram reinos - E, mesmo os que nunca dali partiram para a grande aventura da Diáspora, tinham os seus costumes, as suas tradições e as suas hierarquias - Eram livres à sua maneira.
Atual exploração Infantil |
O europeu veio mais tarde para retalhar os espaços geográficos à mercê das suas conveniências e a cumplicidade do caciquismo dos sobas e comerciantes de escravos (sim, porque a escravatura, é tão antiga como o homem): para dividiram territórios, humilharem, dominarem e escravizarem as populações a seu belo prazer, usurpando as suas riquezas
Mas, infelizmente, o século XXI ainda não erradicou a escravatura: “Todos os anos, centenas de milhares de pessoas são vítimas da escravatura moderna. . https://www.acegis.com/2020/03/escravatura-moderna-25-milhoes-de-vitimas-em-todo-o-mundo/
A canoagem desportiva, tanto no Brasil como em Portugal, está muito desenvolvida, pelo que poderia solicitar-se o apoio aos seus organismos principais no sentido de contribuírem com a sua experiência organizativa e participativa
Quer à Confederação Brasileira de Canoagem, http://www.canoagem.org.br/#gsc.tab=0, como à Federação Portuguesa de Canoagem https://www.fpcanoagem.pt/ De referir que, no Brasil, já se efetua uma regata de canoas desde há mais de cem anos, a chamada Regata de Santo Estevão, município do estado da Bahia - . https://saofranciscodoconde.ba.gov.br/santo-estevao-foi-palco-da-tradicional-regata-de-canoas
Na América do Norte, desde 1990, que são praticados eventos multidesportivos, a que chamam de “Jogos Indígenas da América do Norte” envolvendo competições de canoas nativas e caiaques, com vista a melhorar a qualidade de vida dos povos dessas regiões, apoiando-os e incentivando-os à participação no tecido social, cultural, espiritual em que residem e respeitem as suas tradições e peculiaridades
Demonstrando que a fixação dos primeiros povos nas Ilhas do Golfo da Guiné, tal como nas Ilhas do Pacifico, não fora apenas obra da colonização, mas tendo início em períodos históricos bastante anteriores através de travessias em pirogas - E também com vista a incentivar a canoagem nas gerações mais jovens Realização de uma regata bianual, envolvendo, canoas primitivas à vela e a remos, tripuladas por 4 a 6 pescadores ou desportistas.
Quando os exploradores do "Velho Mundo" se aventuraram pela primeira vez a navegar no Pacífico, além de encontrarem as ilhas povoadas, e outras como monumentais estátuas, como na Ilha da Páscoa, ficaram verdadeiramente surpreendidos com a velocidade das embarcações que lá encontraram E mais ainda ao se aperceberam que a mesmas canoas haviam sido usadas para alcançar essas ilhas distantes nos confins do maior oceano..
Objectivo da regata: demonstrar a possibilidade das canoas terem feito ligações anteriores à colonização, entre o continente e as ilhas, desde os tempos mais recuados
- Possibilidade, de resto, já mais de que demonstrada quer pelas travessias solitárias que efetuei entre as ilhas e o continente, quer pelas canoas dos pescadores naufragados, que, depois de terem perdido a sua ilha de vista, acabaram por acostar a outra ilha ou à costa africana. Além das mesmas terem sido usadas, quando foi decretada abolição oficial da escravatura por navios negreiros mas que continuou a processar-se nas canoas à margem das convenções.
Em 1964, ainda pude ver a carcaça de uma dessas enormes canoas, em Fernão Dias, das que foram usadas desde o sul do Gabão para S. Tomé. – E que chegaram também a ser usadas, com a mesma finalidade. entre todas as ilhas e o continenete africano.
CINCO DIAS À DERIVA - A Odisseia de dois pescadores da Praia Gamboa que foram parar ao Gabão - O drama ocorreu há quase 50 anos, a que me referi numa reportagem da revista angolana, Semana Ilustrada, protagonizado por dois pescadores da Praia Gambôa : o Manuel Quaresma, de 32 anos e Fernando Afonso de 40 anos - Mas, desde então para cá, muito casos, têm ocorrido, noticiados ou simplesmente ignorados
Quando os europeus demandaram a costa de África, já os africanos, há muito mais tempo, haviam sulcado o litoral marítimo, subido e descido os rios e ligado as ilhas limítrofes com as suas pirogas talhadas em enormes troncos de árvores
Muito antes deles, vaga após vaga de outros povos devassaram de ponta a ponta o oceano imenso e estabeleceram-se nas suas ilhas. Quando os navegadores europeus chegaram ao Pacífico, praticamente todos os habitantes das suas ilhas como das suas praias eram de origem asiática. Sabiam construir canoas de grande envergadura, capazes de viagens mais longas. Nas ilhas maiores, os seus habitantes fugiram para o interior à sua chegada , onde continuavam a sua vida de caçadores; noutras, aprendiam com os recém-chegados e tornavam-se fazendeiros. Diz L.F Hobley
AS CANOAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - São mais pequenas que as do litoral africano - As ilhas são montanhosas e as roças também não permitiam o abate de grandes árvores - Mas a ligação dos primeiros povos foi realizada a partir da costa africana para as ilhas à vela e a remos. Depois da independência, seguiu-se um período em que as viagens em canoas da Nigéria para São Tomé, eram frequentes - Vejam-se estes dois exemplares
Demonstrei essa possibilidade através das várias travessias que empreendi entre as ilhas e o continente - De resto, não será por mero acaso que as canoas surgem nas cartas do século XVII, com idêntico destaque ao das caravelas
Em minha modesta opinião, a história das descobertas prima mais pela ficção e efabulação de que em dar-nos conta do que se verdadeiramente se passou. Mas o fenómeno da sublimação foi transversal a outras potências coloniais.
.Mesmo, acerca do ano e dia da chegada dos Portugueses, às Ilhas do Golfo da Guiné, há mais dúvidas de que certezas. Era cómodo fixar uma data e julgo que foi o que sucedeu.
A FUGA DE ESCRAVOS NAS CANOAS – Referida por Gerhard – Também comprova a possibilidade de ligações em pirogas, entre as ilhas e o continente, tal como comprovam os vários naufrágios de pescadores de S. Tomé e Principe, que perdendendo a sua ilha de vista, vão parar ao Gabão à Ilha de Biokjo ou a outras costas do Golfo da Guiné
Não Cheguei a Atravessar o Oceano Atlântico, tal como esperava, mas Continuo Acreditar que são Possíveis Longas travessias:
Aproximando-me de Bioko |
Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente.
Sozinho e ao longo de sucessivos dias é extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis embarcações - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso - mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar descansados: - Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto
Não cruzem os braços e se deem por vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar
Basta que não percam a calma e se alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda melhor
Título de dois artigos, de minha autoria, publicados no extinto Diário Popular (27-12-76 e 4-12-76) depois de várias travessias em pirogas no Golfo da Guiné, com as quais pretendi demonstrar que as canoas são capazes de fazer grandes viagens e resistir às maiores tempestades - admitindo, por isso, a possibilidade de as mesmas terem sido usadas pelos primeiros povoadores das ilhas, oriundos do litoral africano.
Li o que diz a versão colonial e os contributos de outros autores, que se têm debruçado sobre este assunto. Tenho também comigo textos que nunca publiquei. Sempre na perspetiva de os reunir num livro, juntamente com os relatos das minhas aventuras.
Seibert, numa conferência, em 2009, referia-se aos "escravos fugidos de São Tomé ou do Príncipe, que realizaram em suas canoas pelas correntes marinhas ligações à ilha de Fernando Pó. Em 1778, o ano da transição do domínio Português ao da Espanha, um grupo de ex-escravos de São Tomé e Príncipe viveu no sul de Fernando Pó. (..)Após a abolição da escravatura em 1875, trabalhadores contratados africanos fugidos respetivamente, foram frequentemente devolvidos pelas Autoridades espanholas para os seus senhores em São Tomé e Príncipe. Outros foram simplesmente entregues aos empregadores locais.
Um século mais tarde, em 1975, Jorge Trabulo Marques, partiu sozinho desta ilha numa canoa em uma tentativa de atravessar a Atlântico. Em vez disso, depois de uma odisseia de 38 dias, ele desembarcou em Fernando Pó. Ele era detido e interrogado pelas autoridades locais e depois repatriado - Excertos de ]Equatorial Guinea's External Relations: São Tomé e
Seguramente. que as Ilhas do Golfo da Guiné - desde a mais meridional à setentrional; desde Ano Bom, S. Tomé, Príncipe e Fernando Pó, atual Bioko, sim, todas elas, já haviam sido ligadas por canoas
E, porventura, também por embarcações que partiam do mediterrâneo, fenícios, entre outros. Quando foram mandadas “descobrir” , diga-se explorar, a palavra adequada da época, já havia noticia da sua existência.
A ligação a Fernando Pó, descoberta pelo
navegador português do mesmo nome, em 1472, que se avista perfeitamente dos
Camarões, não fincando a mais de 30 milhas, sendo provavelmente feita em canoas
com ligações vindas do Norte, daquele território ou de outras áreas
continentais limítrofes, onde prosperavam vários reinos e antigas civilizações
africanas
O mundo não é de ontem nem de hoje. E nem
só de há cinco séculos que o homem se arrojou nas grandes viagens de
navegação. Mesmo que o povoamento das ilhas do Golfo da Guiné, não fosse
feito através de pirogas, já os navegadores fenícios, cartagineses e árabes, há
muito haviam demandado aqueles mares, pelo que não deixariam de procurar
extrair alguns benefícios das ilhas e deixar lá algumas pessoas.
Porém, muito antes mesmo dessas viagens, julgo que já os africanos eram os senhores dos mares, costa africana e ilhas - Atlântico, Mediterrâneo e no Índico - experientes artesãos e audaciosos mestres na arte de navegar nas suas canoas Formaram verdadeiras civilizações, que foram retalhadas pela expansão colonial. .A supremacia do homem branco sobre outras raças, não passa de uma ideia absurda, de um preconceito..
Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.
Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões de que não há relatos ou dos segredos que não convinha tornar públicos.
Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.
Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história": que, velejando em linha, cada uma à distancia da visão da canoa que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico
Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem boias, meios
de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase
desprovido de tudo. Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram
sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do
Golfo da Guiné
Estes meus olhos têm muito que contar - Viram muitas tempestades, noites medonhas, inarráveis!...Manhãs e tardes de ameaça e assombração!... Mas também se maravilharam com muito azul do céu e do mar...
A única novidade nesta minha última canoa, era um pequeno rebordo e uma pequena ponte de contraplacado para a proteger das ondas.. Parte do qual vim a sacrificar para improvisar um remo.
Qualquer das duas canoas que utilizei - à exceção da usada na travessia de São Tomé ao Príncipe - exigiam, no mínimo, duas pessoas - Muitas das minhas dificuldades, que enfrentei, teriam sido superadas. Todavia, parti sozinho.
Na viagem dos 13 dias à Nigéria nem coberta levara... Na travessia de
São Tomé ao Príncipe, a canoa era minúscula e ainda mais frágil de que a
generalidade das canoas dos pescadores.. Não tive dinheiro para comprar
uma melhor...O mastro um pau vulgar do mato e as velas, do mesmo pano que as
tradicionais, com sacos de farinha das padarias.
Peixes estranhos (talvez vindos das profundidades, aproveitando-se da escuridão à superfície) vagueavam por baixo da canoa: não os via mas sentia-os quando se encostavam ou roçavam sob o bojo e nas trevas mais negras....
Baleias que se levantavam a alguns metros e que, só por um golpe de sorte, não a despedaçavam...Cardumes que chegaram arrastá-la por várias horas, como se fosse um mero despojo...Bebendo água das chuvas ou do mar, quando faltou a água potável e os alimentos... - À flor do mar e sempre com o abismo por baixo dos pés: enfraquecido e esgotado mas nunca desanimado e dado por vencido
CUSTAVA-ME A CRER QUE OS PESCADORES - TÃO EXÍMIOS NAS CANOAS - SENTISSEM ALGUM PAVOR EM PERDER A SUA ILHA DE VISTA
A cada pescador que eu perguntasse se já tinha ido à Ilha do
Príncipe, a resposta era invariavelmente a mesma: "Quando vem tornado e leva
canoa, só gente de feitiço é que vai lá parar. Vem gandú e come perna de
gente" - Achava a justificação um bocado fatalista:
O colonialismo contribui para criar muitos fantasmas nas populações nativas. Pelo vistos, os pescadores, estavam em vias de perder a sua memória ancestral. Se eles eram arrastados, involuntariamente, com a sua canoa para as costas do Gabão, dos Camarões ou da Ilha do Príncipe, era sinal que as canoas resistiam e também lá podiam ir voluntariamente.
Este o meu primeiro desafio: pretende contrariar esse fatalismo, que parecia instalar-se
na sua mente e nos seus olhos. Mostar-lhes que as suas canoas - mesmo que o
tornado as arrastasse - sendo de madeira do ócá (quase tão leve como a
cortiça), podiam ir dar a qualquer parte - Eu precisava de lhe fazer essa
demonstração.
Quando comprei a primeira canoa (por 200$00)a um pescador na Praia do Lagarto, eu justifiquei-me dizendo que queria ir nela ao Príncipe: "Você não seja louco!" Você, morre no caminho!.... Se você vai fazer isso, eu digo capitania!"
Não tive outro remédio senão mudar de praia... Quando, mais tarde, se constou que fizera essa travessia, passei a ser encarado como feiticeiro - E a ser procurado, por um dos profissionais - Ele pedia-me que lhes ensinasse os meus segredos - mas que segredos?...
No pós 25 de Abril, fiz a travessia à Nigéria. Mesmo assim, foi à socapa. Porém, quando regressei a S. Tomé, para tentar a travessia transatlântica - para seguir pela rota dos escravos - felizmente que já o seus povos eram soberanos, e as ilhas independentes.
Na viagem à Nigéria, ainda pensei ir acompanhado, por não ter bem a certeza de que seria capaz de fazer tão extensa travessia. Como dormir?.. (o mínimo que fosse) E ao mesmo tempo assegurar a navegação e o equilíbrio da canoa, durante os vários dias que contava demorar; eram questões que então me preocupavam. Pois, a viagem ao Príncipe, fora apenas de três dias, muito complicada e pouco conclusiva. Precisava de fazer a ligação ao continente., de reforçar a minha teoria, com um teste mais arrojado
Ainda no mesmo ano de 1975, tentei a travessia oceânica de São Tomé ao Brasil. A canoa foi transportada num pesqueiro americano para ser largada um pouco a sul de Ano Bom, na zona de influência da grande corrente equatorial. O comandante do barco, no entanto, faltou ao prometido: tentou dissuadir-me a não fazer a viagem, a abandonar a canoa e a ficar a bordo.
Não podendo navegar para oeste, vi-me forçado a voltar a São Tomé para tentar a travessia noutra ocasião - Um violento tornado, logo na primeira noite, quando empreendia o regresso, (pois não tinha outro alternativa senão aproveitar os ventos e as correntes para Norte) far-me-ia perder quase tudo. Estava-se na época das chuvas e era a pior altura para se navegar sozinho no Golfo. Naquele ponto, estava a 180 Km a sudoeste de S.Tomé e a 350Km a oeste da costa africanaa
Acabaria por acostar, 38 dias depois, à ILHA BIOKO - EX-FERNÃO DE PÓ - a mais setentrional .
Mas só soube, quando fui ter a uma finca, que era a à ilha de
Bioko, Bioko –ex-Fernão do Pó ,
Mesmo assim, julgo que valeu a pena - Queria prosseguir a experiência de Alain Bombard- Mostrar aos náufragos que o maior inimigo não é o mar mas o desespero - E, afinal, acabei mesmo por lutar como o náufrago que não se rende.
Pretendia reforçar a minha teoria, sobre as capacidades das pirogas, e, mesmo sozinho, logrei por três vezes navegar grandes distâncias dentro delas, provando que também as mesmas podiam ter sido usadas pelos primeiros povoadores das ilhas.
Qual dinheiro, qual riqueza?!... - Qual vida tranquila, qual quotidiano ocioso e sem sobressaltos! quando se prossegue um ideal, um objectivo, um sonho! - Não é exibir a vaidade mas expor com fraqueza a verdade.
Antigos mapas já existiam mas estavam arrumados e esquecidos em velhos arquivos. Agora, vieram à luz do conhecimento e das novas tecnologias - Mercê de dedicados investigadores. Eu, porém, continuo a recuar no tempo, muito para lá da existência de qualquer mapa
(treinos) A História de São Tomé e Príncipe -das
descobertas, diz que as «ilhas de S. Tomé e Príncipe, foram descobertas, por
João de Santarém e Pero Escobar, entre 1470-71, estavam desabitadas e
que começaram a ser povoadas em 1493 por judeus, aventureiros, colonos
portugueses e escravos
Álvaro Caminha, a quem o rei fizera doação da capitania de S. Tomé,
trouxe para a ilha os filhos dos judeus castelhanos que não haviam deixado o
reino no prazo fixado. Essas crianças, depois de baptizadas, foram entregues
aos donatários, a "fim de que, uma vez tonadas grandes, pudessem contratar
casamento e povoar assim aqueles ilhas"» Gastão de Sousa Dias In
África Porttentosa
No tocante a Bioko (conhecida até à independência da Guiné Equatorial, por Fernão de Pó), refere-se que a ilha foi descoberta em 1472 pelo navegador Português Fernão do Pó, a que deu o nome de Flor Formosa, tendo mais tarde passado a ser conhecida pelo nome de seu descobridor. A Ilha de Ano Bom (Pagalu) foi descoberta no dia 1 de Janeiro de 1473 e, por isso, ficou conhecida por Ano Bom.
Estes territórios mantiveram-se Portugueses até 1778 altura em que Portugal os cedeu à Espanha os quais em 12 de Outubro de 1968 foram proclamados independentes da Espanha. A língua oficial destes territórios é o Espanhol GUINE EQUATORIAL...
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