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domingo, 27 de fevereiro de 2022

OS TUBARÕES ATACAM NAS HORAS MAIS FATÍDICAS E MORTAS!...

 Jorge Trabulo Marques


O mar não me dá tréguas!...
Não me dá uma pausa de descanso!...
Raros os momentos de absoluta tranquilidade!...
Tenho sempre o meu coração suspenso, em sobressalto!
Todos os meus sentidos em alerta máximo!...

Mas a minha tristeza e o meu infortúnio
nem sempre me deixam isolado... também têm
os seus visitantes inesperados!... –Mas muito indesejados!...
Mesmo assim, ignoram os meus pacíficos sentimentos
e não deixam de voltar com assiduidade!
- Quando vêm em cardumes, não se demoram...
Espalham-se para todos os lados, e, conforme chegam,
assim desaparecem!... Mas, quando solitários, e bem maiores,
noto que não há nada que os amedronte e lhes refreie o instinto
de vorazes predadores...

Por isso, mesmo antes de os ver, é muito difícil
que a raiz dos meus cabelos, os poros dos meus braços
e dos meus pulmões, a palpitação do meu coração
os não pressintam a rondarem a canoa... a apertarem o cerco!...
Girando em círculos, cada vez mais apertados, concêntricos!...
Até investirem como se fossem disparos de violentos torpedos!...

São os tubarões gigantes!...Surgem nas horas malditas!...
Nas horas que antecedem as tempestades, os habituais tornados,
quando o horizonte se reveste de névoas ameaçadoras,
o céu se cobre de cinza, a cor do mar se altera
e passa de azul cobalto a um agitado mar de chumbo!...
- São a imagem viva da morte aos olhos aterrorizados
dos náufragos e desamparados!... Atacam quase sempre!...
Até parece que sabem escolher os momentos fatídicos
para serem bem sucedidos com os seus fulminantes golpes!...

Vêm sempre ladeados por uma autêntica flotilha
de pequenos peixes zebrados! – Lembram
pequenos submarinos de guerra!... Há quem os endeuse
e diga que são seres pacíficos... Mas tudo isso é muito contingente...
Aqui portam-se como feras! - Quais sinistras criaturas vigilantes,
a fazerem em surdina os seus giros... Com a barbatana dorsal
singrando à flor das águas, tal qual uma navalha apontada aos céus!..
- Investem com inesperada ferocidade!.. . -Afasto-os à machinada!..
Depois deixam-me em paz... Uma paz podre, temporária...
Até agora tenho tido muita sorte...

DESLIZANDO SOBRE O ABISMO
À FLOR DO MAR...
Diário de Bordo 1- Hoje é manhã do 31ª dia. Passei uma noite incómoda. Não consegui conciliar o sono. Fiquei praticamente sempre acordado. O mar muito cavado, fortemente cavado! Devido possivelmente a trovoadas vindas do sul ou de outras bandas...Próximo da canoa apenas choveu ao fim da tarde de ontem... A noite pôs-se normal, até com aberturas de luar muito bonitas!... Eu é que não consegui dormir em toda a noite. A pensar na minha vida... Até agora tenho pensado no mar, nas dificuldades a vencer no mar...mas esta noite estive a pensar em terra.... Porque, efetivamente, eu tenho de ter um destino...certo... Comecei a pensar o que é que eu irei fazer agora... Portanto, esta noite os meus pensamentos ocuparam-se no que vai a ser a minha vida em terra.

MAIS UM TUBARÃO A INVESTIR CONTRA A CANOA

Diário de Bordo 3 Agora, neste preciso momento, talvez quatro horas da tarde, apareceu um enorme! um gigantesco tubarão! Mesmo gigantesco!! Estava deitado no fundo da canoa.... e senti roçar!... Depois vi logo que era um tubarão! Pois investiu várias vezes contra a canoa!... À proa! À popa! Até que eu agarrei no machim e consegui dar-lhe umas machinadas na cabeça! E então fugiu!...Não sei onde é que ele agora se encontra! Mas, efetivamente, é um monstro!!.. Uma coisa pavorosa!... Um monstro autêntico!... A acompanhá-lo havia uma série de peixinhos!...

A canoa a meter água cada vez mais!.... Isso preocupa-me um bocado. A fraqueza a invadir-me o corpo...Não tenho anzóis que deem para pescar os peixes que aqui há. Os anzóis que disponho são para peixes muito grandes e o nylon é fraco. A situação não é desanimadora mas também não é muito agradável. Tenho que ter calma. Muita calma! Mas, sinceramente... Tudo tem limites...

Não tenho meios de comunicar com ninguém. Disponho apenas da orientação de duas bússolas: uma que trago no pulso, como se fosse o meu relógio, outra fixada junto à ponte da proa. Se morrer afogado no mar eu tenho a certeza que ninguém vai saber o que me aconteceu ou chorar nesse momento a minha falta. Mesmo a família, da qual tenho estado bastante ausente.

A minha mãe faleceu, dois anos depois de eu ter chegado a São Tomé . Sei que o meu pai, os meus dois irmãos e a minha irmã me não esquecem. Mas a vida deles e de todos os meu familiares, é como se fizesse parte de outro mundo...Quem é que poderá imaginar onde eu agora estou e a fome que me tortura e a solidão em que me encontro?

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