- Jorge Amado: passam hoje 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima. Na altura o Jorge Amado, teria os seus?... Quantos anos?..
JA – Eu tinha 33 anos.
JTM – Recorda-se?....Tem alguma lembrança, dessa data, dessa data, tão trágica para a Humanidade?
JÁ – Eu me recordo perfeitamente. Foi durante a guerra; foi lançada sobre o Japão! No momento em que já não havia absolutamente necessidade de que a bomba atómica fosse lançada, a guerra estava ganha pelos aliados, foi um crime! Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a Humanidade!... Não havia absolutamente nenhuma necessidade de lançar a bomba atómica naquele momento sobre o Japão: o Japão já estava vencido.
JTM – No entanto, há quem pense o contrário; há quem diga que foi realmente uma maneira de resolver o conflito!
JA - Não acredito. Foi a fórmula de querer mostrar a superioridades, que, naquele momento os Estados Unidos, com aquela arma, passariam a ter para as negociações no após guerra
JTM – Já que, ambos os blocos, as possuem: pois há também quem defenda que é uma maneira de se respeitarem mutuamente, de evitarem a guerra: o que é que pensa, Jorge Amado, a esse respeito? JÁ – Eu sou pelo desarmamento: eu acho que a guerra se evita não tendo armas; se nós estamos nós os dois, aqui e não temos armas, é mais difícil que nos matemos de que você estiver aí com vários revólveres e eu com armas brancas e revólveres, mais facilmente nos mataremos.
Eu acho que essa coisa das armas, incluindo as armas atómicas, é um negócio sujo: é um negócio sujo, porque, por um lado envolve dinheiro, e não é uma maneira de chegar dinheiro à custa da morte! À custa da desgraça dos demais!... E é realmente um crime!... Esta coisa dos grupos antagónicos de nações, se equilibram e isto evita a guerra, eu acho extremamente discutível!... Eu acho que isso nos coloca sempre no perigo da guerra! Diante do perigo da guerra!... Eu acho que, se os homens que dirigem as nações, tivessem mais sentido de humanismo, pensassem mais na humanidade de que nos seus interesses pequenos e mesquinhos, nós teríamos o desarmamento - não é o desarmamento geral –que colocaria a guerra muito mais distante e muito mais difícil. É isso que eu penso.
JTM - Haver paz sem se recorrer à existência de armas?
JA – Eu acho que sim; que haverá, realmente, no dia em que se deixar de recorrer às armas.
JTM – Acredita que, num futuro próximo ou distante, essas armas que são uma ameaça à Humanidade,
possam deixar de existir? Que sejam postas de lado, uma vez para sempre?
JA - Eu sou otimista em relação ao futuro da humanidade; eu acredito no homem: o homem, apesar de tudo, evolui e marcha para diante e que chegará o dia em que, realmente, a humanidade deixará de lado, todas essas armas e que os homens do futuro pensarão: como foi possível esse acumular de armas! Que loucura! Deu na humanidade e nos homens! Nos dirigentes dos países, para que se ameaçasse a humanidade, com essas armas tão terríveis!... Note que não é o povo de nenhum país que deseja as armas: são sempre os grupos dirigentes, aqueles que estão no poder!... Os povos não desejam as armas, muito menos as armas atómicas! Os povos desejam viver em paz! Tranquilamente, trabalhando.
JTM – Mas, a corrida ao armamento, parece cada vez mais aguerrida! As aramas aparecem cada vez mais aperfeiçoadas!... Como ver isto? JA – Eu vejo, sempre como um perigo para a humanidade! Eu vejo como uma desgraça!... É uma desgraça e um crime! – É isso que eu penso.
JTM – A nível mundial, que é que, Jorge Amado, acha que devia ser feito para que as nações depusessem as armas e não apostassem nessas forças diabólicas? E que podem, de um momento para o outro destruírem a existência do homem na Terra?
JA – Eu acho que devia ser feito aquilo que a sua rádio está fazendo, mas a nível mundial! Por todos! Uma campanha contra as armas atómicas e contra todas as armas!... Uma campanha mundial de todos os homens, pelo desarmamento!... Mas não uma campanha feita com interesse desse ou daquele grupo, não: uma campanha que fosse de todos os homens e no interesse, sim, da humanidade e não desta ou daquela superpotência, deste ou de outro grupo de nações!... Mas pela Humanidade!
JTM – Jorge Amado, falou da Humanidade mas os escritores também têm um importante papel na humanidade!
JA – Com certeza: os escritores, os artistas, sobretudo os cientistas, porque sabem que uma guerra atómica seria a destruição da vida sobre a Terra: não apenas da vida humana mas de toda a vida sobre a Terra! … Todos nós temos essa obrigação, é nosso dever! Todos nós: a luta contra a corrida armamentista! A luta contra as armas atómicas!
JTM – Já agora, uma última pergunta, sobre o mesmo assunto: já alguma vez, Jorge Amado, nos seus livros abordou esta questão ou pensa abordá-la futuramente?
JA – Eu abordei essa questão, em inúmeros artigos! Em conferências! Em discursos no Parlamento, quando fui deputado… De todas as maneiras, lutando contra as armas atómicas, e, de certa maneira, eu diria que os meus livros refletem o desejo de Paz da Humanidade!
Mesmo que eu não tenha tido nenhum tema em nenhum deles, a luta contra as armas atómicas, porém, os meus livros refletem a luta do homem por uma vida melhor e de paz e uma vida mais feliz.
BIOGRAFIA - Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado.Com um ano de idade, foi para Ilhéus, onde passou a infância. Fez os estudos secundários no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, em Salvador. Neste período, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes.
Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.
A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de audiolivro.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos. - Mais pormenores em http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75
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