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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Escritor Jorge Amado –Nasceu há 111 anos - 10-08-1912 - " As armas atómicas, é um crime contra a Humanidade" - Mas que estranha coincidência! - Iria falecer no dia 6 de Agosto de 2001, a 4 dias de completar 89 anos, no dia em que passavam 56 anos sobre o lançamento da bomba de Hiroshima, - Pois foi também no dia 6 de Agosto de 1981 que me falou dessa sua memória: Eu tinha 33 anos!... Eu me recordo perfeitamente"

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Registo sonoro  de uma das várias entrevistas que me concedeu  um dos mais premiados e populares escritores brasileiros. Dono de uma obra numerosa, sempre privilegiando a Bahia como cenário de suas narrativas, cativou o público com suas histórias que foram largamente adaptadas para a televisão. 

 

BOMBA DE HIROXIMA -" Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a Humanidade!.."

Há 111 anos nascia, Jorge Amado,  um dos escritores mais populares  do Brasil. Um grande contador de histórias, apaixonado pela literatura e pelo país, sempre atento às questões sociais. Suas obras foram traduzidas para 49 idiomas e ganharam diversas adaptações para o cinema, para a televisão e o teatro. Hoje nós vamos conhecer um pouco da biografia e da obra desse incrível escritor. Ele  logrou conciliar o realismo e lirismo poético, as causas sociais e erotismo, trazendo consigo uma identificação afetiva com o povo brasileiro.

DEU--ME O PRAZER DE DIALOGAR COM E ELE E SUA ESPOSA - ZÉLIA GATAIA - POR VÁRIAS VEZES - Hoje recordo uma das entrevistas que me concedeu no dia 6 de Agosto de 1981


O ESCRITOR RECORDA DATA TÃO FUNESTA PARA O JAPÃO E PARA A HUMANIDADE

Jorge Amado – Eu tinha 33 anos: eu me recordo perfeitamente. Foi durante a guerra; foi lançada sobre o Japão!
No momento em que não havia necessidade de que bomba atómica fosse lançada, a guerra estava ganha pelos aliados, foi um crime! Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a humanidade!

Entrevista concedida por Jorge Amado, em 6 de Agosto de 1981, a escassos dias do seu aniversário e da morte do seu grande amigo, o cineasta, Glauber Rocha, um dos cineastas mais notáveis do chamado Cinema Novo Brasileiro, iniciado no começo dos anos 60. – Esta entrevista, feita no dia em que se completavam 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima, assunto que também é colocado ao escritor Jorge Amado, foi transmitida na então Rádio Comercial – RDP e escutada por Glauber, então enfermo no Hospital da CUF, a quem telefonei, dando-lhe conhecimento, a pedido de Fernando Namora, com o fim de lhe dar ânimo.



Voa meu sonho! Voa além dos escombros 
das cinzas dos incêndios e das desoladas ruínas!
Voa meu sonho, em noite de luar ou de sombras!
Efémera é a vida e eterna é a saudade e a ousadia!
Ainda que vivas com a promessa eterna de outra vida!
Que esta te seja tranquila, harmoniosa e bem vivida

JTM


Depois do 25 de Abril. Jorge Amado, deslocou-se várias vezes a Portugal: vindo, nomeadamente, de Paris, onde passava algumas temporadas, sobretudo na década de 80, numa fase, literáriamente,  ainda muito ativa – Não era que gostasse mais de viver na Europa de que no Brasil; o motivo não era esse mas a falta de privacidade e o necessário isolamento, que não conseguia encontrar na sua cidade natal, onde era constantemente solicitado     - Nascido em Tabuna,  a 10 de Agosto de 1912, Estado da Baía, e, em cujas terras,  havia também de falecer:  Em Salvador, 6 de Agosto de 2001

Confessou-me que adorava o nosso país:   deliciar-se com a sua gastronomia, admirava o artesanato do Minho  (nomeadamente o da cerâmica),  as belezas naturais, o nosso sol,  nosso clima, a simpatia das nossas gentes, onde contava com  bons amigos, alguns dos quais, fonte de inspiração, como personagens nas suas obras: é o caso, por exemplo, de Nuno Lima de Carvalho, diretor da Galeria de Arte do casino Estoril


Tanto ele, como Zélia Gattai, sua esposa, deram-me o prazer de me concederem várias entrevistas, que aguardo no meu arquivo. Uma das quais feita por ocasião do Congresso de Escritores Portugueses, em 1988 (creio que o 2º), ou seja, dois anos antes da assinatura do então já  polémico acordo ortográfico – Obviamente, que o tema não deixou de vir à baila,  gerando acaloradas discussões, tal como, de resto, ainda hoje continua a suscitar,

Jorge Amado: passam hoje 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima

- Jorge Amado: passam hoje 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima. Na altura o Jorge Amado, teria os seus?... Quantos anos?..

- Eu tinha 33 anos.
 "Eu me recordo perfeitamente. Foi durante a guerra; foi lançada sobre o Japão! No momento em que já não havia absolutamente necessidade de que a bomba atómica fosse lançada, a guerra estava ganha pelos aliados, foi um crime! Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a Humanidade!... Não havia absolutamente nenhuma necessidade de lançar a bomba atómica naquele momento sobre o Japão: o Japão já estava vencido."

Jorge Amado foi um dos mais premiados e populares escritores brasileiros. Dono de uma obra numerosa, sempre privilegiando a Bahia como cenário de suas narrativas, cativou o público com suas histórias que foram largamente adaptadas para a televisão.

Traduzido para dezenas de idiomas e aclamado nacional e internacionalmente, Jorge Amado conciliou realismo e lirismo poético, causas sociais e erotismo, trazendo consigo uma identificação afetiva com o povo brasileiro


BOMBA DE HIROXIMA -" Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a Humanidade!.."



- Jorge Amado: passam hoje 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima. Na altura o Jorge Amado, teria os seus?... Quantos anos?..

JA – Eu tinha 33 anos.
JTM – Recorda-se?....Tem alguma lembrança, dessa data, dessa data, tão trágica para a Humanidade?
JÁ – Eu me recordo perfeitamente. Foi durante a guerra; foi lançada sobre o Japão! No momento em que já não havia absolutamente necessidade de que a bomba atómica fosse lançada, a guerra estava ganha pelos aliados, foi um crime! Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a Humanidade!... Não havia absolutamente nenhuma necessidade de lançar a bomba atómica naquele momento sobre o Japão: o Japão já estava vencido.

JTM – No entanto, há quem pense o contrário; há quem diga que foi realmente uma maneira de  resolver o conflito!
JA -  Não acredito. Foi a fórmula de querer mostrar a superioridades, que, naquele momento os Estados Unidos, com aquela arma, passariam a ter para as negociações no após  guerra

JTM – Já que, ambos os blocos, as possuem: pois há também quem defenda que é uma maneira de se respeitarem mutuamente, de evitarem a guerra: o que é que pensa, Jorge Amado, a esse respeito?
JÁ – Eu sou pelo desarmamento: eu acho que a guerra se evita não tendo armas; se nós estamos  nós os dois, aqui  e não temos armas, é mais difícil que nos matemos de que você estiver aí com vários revólveres  e eu com armas brancas e revólveres, mais facilmente nos mataremos.

Eu acho que essa coisa das armas, incluindo as armas atómicas,  é um negócio sujo: é um negócio sujo, porque, por um lado envolve dinheiro, e não é uma maneira de chegar dinheiro à custa da morte!    À custa da desgraça dos demais!... E é realmente um crime!... Esta coisa dos grupos antagónicos de nações, se equilibram e isto evita a guerra, eu acho extremamente discutível!... Eu acho que isso  nos coloca sempre no perigo da guerra! Diante do perigo da guerra!... Eu acho que, se os homens que dirigem as nações, tivessem mais sentido de humanismo, pensassem mais na humanidade de que nos seus interesses pequenos e mesquinhos, nós teríamos o desarmamento - não é o desarmamento geral –que colocaria a guerra muito mais distante e muito mais difícil. É isso que eu penso.

JTM  - Haver paz sem se recorrer à existência de armas?
JA – Eu acho que sim; que haverá, realmente, no dia em que se deixar de recorrer às armas.

JTM – Acredita que, num futuro próximo ou distante, essas armas que são uma ameaça à Humanidade,
possam deixar de existir? Que sejam postas de lado, uma vez para sempre?
JA -  Eu sou otimista em relação ao futuro da humanidade; eu acredito no homem: o homem, apesar de tudo, evolui e marcha para diante e que chegará o dia em que, realmente, a humanidade  deixará de lado, todas essas armas  e que os homens do futuro pensarão: como foi possível esse acumular de armas! Que loucura! Deu na humanidade e nos homens! Nos dirigentes dos países, para que se ameaçasse a humanidade, com essas armas tão terríveis!... Note que não é o povo de nenhum país que deseja as armas: são sempre os grupos dirigentes, aqueles que estão no poder!... Os povos não desejam as armas, muito menos  as armas atómicas! Os povos desejam viver em paz! Tranquilamente, trabalhando.

JTM – Mas, a corrida ao armamento, parece cada vez mais aguerrida! As aramas aparecem cada vez mais aperfeiçoadas!... Como ver isto?
JA – Eu vejo, sempre como um perigo para a humanidade! Eu vejo como uma desgraça!... É uma desgraça e um crime! – É isso que eu penso.

JTM – A nível mundial, que é que, Jorge Amado, acha que devia ser feito para que as nações depusessem as armas e não apostassem nessas forças diabólicas? E que podem, de um momento para o outro destruírem a existência do homem na Terra?
JA – Eu acho que devia ser feito aquilo que a sua rádio está fazendo, mas a nível mundial! Por todos! Uma campanha contra as armas atómicas e contra todas as armas!... Uma campanha mundial de todos os homens, pelo desarmamento!... Mas não uma campanha feita com interesse desse ou daquele grupo, não: uma campanha que fosse de todos os homens e no interesse, sim,  da humanidade e não desta ou daquela superpotência, deste ou de outro grupo de nações!... Mas pela Humanidade!

JTM – Jorge Amado, falou da Humanidade mas os escritores também têm um importante papel na humanidade!
JA – Com certeza: os escritores, os artistas, sobretudo os cientistas, porque sabem que uma guerra atómica seria a destruição da vida sobre a Terra: não apenas da vida humana mas de toda a vida sobre a Terra! … Todos nós temos essa obrigação, é nosso dever! Todos nós: a luta contra  a corrida armamentista! A luta contra as armas atómicas!

JTM – Já agora, uma última pergunta, sobre o mesmo assunto: já alguma vez, Jorge Amado, nos seus livros abordou esta questão ou pensa abordá-la futuramente?

JA – Eu abordei essa questão, em inúmeros artigos! Em conferências! Em discursos no Parlamento, quando fui deputado… De todas as maneiras, lutando contra as armas atómicas, e, de certa maneira, eu diria que os meus livros refletem o desejo de Paz da Humanidade! 

Mesmo  que eu não tenha tido nenhum tema em nenhum deles, a luta contra as armas atómicas, porém, os meus livros refletem a luta do homem por uma vida melhor e de paz e uma vida mais feliz.


BIOGRAFIA -  Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado.
Com um ano de idade, foi para Ilhéus, onde passou a infância. Fez os estudos secundários no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, em Salvador. Neste período, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes.
Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.
A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de audiolivro.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos -  Mais pormenores em http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75

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