Negra gentil,
carvão mimoso e lindo
Donde o diamante sai,
Filha do sol, estrela requeimada,
Pelo calor do Pai,
Encosta o rosto, cândido e formoso,
Aqui no peito meu,
Dorme, donzela, rola abandonada,
Porque te velo eu.
Não chores mais, criança, enxuga o pranto,
Sorri-te para mim,
Deixa-me ver as pérolas brilhantes,
Os dentes de marfim.
No teu divino seio existe oculta
Mal sabes quanta luz,
Que absorve a tua escurecida pele,
Que tanto me seduz.
Eu gosto de te ver a negra e meiga
E acetinada cor,
Porque me lembro, ó Pomba, que és queimada
Pelas chamas do amor;
Que outrora foste neve e amaste um lírio,
Pálida flor do vale,
Fugiu-te o lírio: um triste amor queimou-te
O seio virginal.
Não chores mais, criança, a quem eu amo,
Ó lindo querubim,
O amor é como a rosa, porque vive
No campo, ou no jardim.
Tu tens o meu amor ardente, e basta
Para seres feliz;
Ama a violeta que a violeta adora-te
Esquece a flor-de-lis.
Caetano Costa Alegre - Diz a sua biografia
A sua poesia revela a dolorosa angústia de quem teve a cor como estigma indiciando já, um certo negrismo literário, configurador da etnicidade que marcará a literatura africana de língua portuguesa. Foi compilada postumamente no livro Versos (1916), cuja edição foi promovida pelo seu antigo companheiro e amigo Artur da Cruz Magalhães (1864-1928).
À edição original seguiram-se três edições, em 1950, 1951 e 1994
A obra, escrita em estilo romântico, popular na época, foi um êxito imediato pela forma em que celebra suas origens africanas, a expressão de nostalgia do estilo de vida de São Tomé, e a descrição do sentimento de alienação em se encontrava sua raça, sendo dos primeiros poetas africanos a lidar com assuntos raciais.
Manuel Ferreira, das Ilhas São Tomé e Príncipe, dava a seu conterrâneo Caetano de Costa Alegre o título de "criador da negritude em poesia",
Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas A imprensa (Revista científica, literária e artística 1885-1891) e A Leitura Magazine Litterario (1894-1896 Lisboa: Empresa Internacional,).
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