Jorge Trabulo Marques – Jornalista e investigador
Artur Cupertino de Miranda ,nasceu em 15 de Setembro 1892, em Louro, de Vila Nova de Famalicão, faleceu em Lisboa, 13 de Julho de 1988, aos 96 anos
O banqueiro mecenas, fundador da Fundação Arthur Cupertino de Miranda, em Famalicão, sede do seu torrão natal, e a quem Salazar recorreu, em aperto de crise, para fundar um banco, com a solidez que não existia, houve quem lhe chamasse, um predestinado para outras funções diferentes de cantor de musas e de ninfas, do poeta, prosador, escritor

A minha visita, não fora previamente combinada - e, a bem dizer, confesso que também nem eu conhecia muito bem o passado de quem ia entrevistar, senão de uma curta biografia inserida numa revista de personalidades, com que por vezes me orientava, já que, naquela altura, a informação disponibilizada pela Internet, dos dias de hoje, não passava ainda um sonho - Mesmo assim, sabendo da sua avançada idade, preferia agir pela surpresa, olhos nos olhos, cativando a simpatia do próximo interlocutor , pois depreendia, que, o famoso banqueiro, nos seus noventas e tais, não estaria muito inclinado a quebrar a sua rotina para receber um inoportuno repórter.Felizmente, fui bem sucedido - Creio que, desta vez, em boa parte, graças à minha companheira, daquela altura – De origem judia, nascida numa das antigas colónias francesas, do norte de África, simpática e bonita, e, para desbravar obstáculos, não havia melhor companhia de que a dela: bastava aquele seu jeito de expressão amável, caloroso, espontâneo e sorridente, a que ninguém recusava uma palavra amiga ou corresponder com idêntico sorriso – E foi na verdade o que sucedeu, após hesitação, nos primeiros momentos, de Cupertino de Miranda, mas logo superados pelo breve diálogo travado em fluente francês, tendo-nos imediatamente franqueado a entrada em sua casa
E o curioso, é que, além da primeira surpresa, que se me estampava numa das paredes da sala, com a imagem de um famoso quadro, daqueles que só são possíveis de ver nos grandes museus ou em réplicas de postais ilustrados ou então em livros da arte mundial, afinal, quem vou ali encontrar é justamente um homem, embora franzino - mas ainda cheio de uma grande cordialidade e jovialidade , a fazer-me lembrar Azeredo Perdigão, que havia entrevistado, igualmente acima dos 90 e ainda muito ativo – O mais complicado era no falar: pois, tal como nos explicara, ele recusava-se a usar prótese dentária, recomenda pelo seu médico, o que dificultava a articulação de algumas palavras, e, como a gravação se destinava a uma estação de rádio, esse era realmente o maior handicap – Daí a razão de praticamente a maior parte da entrevista, ainda hoje se conservar inédita.Fora esse aspeto, ficava com a impressão de que, o peso dos anos, não contavam na magra e estatura daquele simpático, famoso e dialogante cidadão, de quase centenária idade – E, pelos vistos, em parte graças a uma certa disciplina, tanto em horários, como em distribuição de tarefas, imposta por ele, levando uma vida metódica e organizada, preenchida de ginástica matinal e de alguns passeios, com o carinhoso apoio da governanta de sua casa, a D. Irene, a quem ele chamava por seu anjo da Guarda.
Eurico Gonçalves - Professor e pinto - Pioneiro na educação artística em PortugalUm dos nomes do surrealismo português, pioneiro na educação artística em Portugal, autor de uma estética pessoal baptizada como o Dadá-Zen, Nasceu em 1932 em Abragão (Penafiel). Reconhecido especialista no conhecimento da expressão plástica da criança, deu o nome à Escola Básica Eurico Gonçalves - Faleceu no Lumiar, em Lisboa12 de julho de 2022 https://www.p55.art/blogs/p55-magazine/faleceu-pintor-eurico-goncalves
Tive oportunidade e o prazer de ser amigo de Mário Cesariny de Vasconcelos, de ter partilhado com ele variadíssimos e inesquecíveis momentos de agradável convívio, com um dos mais singulares poetas pintores e do surrealismo português -
Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu a 9 de agosto de 1923, em Lisboa. Foi poeta, pintor, tradutor e considerado um dos grandes Mestres do Surrealismo Português.
Frequentou a Escola Artística António Arroio (1936-1943) onde conheceu António
Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Fernando José Francisco, José
Leonel Martins, Júlio Pomar, Pedro Oom e Marcelino Vespeira. Na companhia
destes jovens artistas, que fomentaram o movimento surrealista, reuniu-se em
tertúlia de características dadá no Café Herminius, em Lisboa. https://www.cupertino.pt/centenario-de-nascimento-de-mario-cesariny/mario-cesariny/
Outro dos seus grandes amigos e confidente era o mestre Cruzeiro Seixas
Cruzeiro Seixas - Decano da arte portuguesa e um dos grandes nomes do Surrealismo português e europeu, Cruzeiro Seixas nasceu a 3 de Dezembro de 1920 na Amadora. No seu longo percurso artístico, conta com uma fase expressionista, outra neo-realista e outra, com início no final dos anos 40, mais prolongada, em que integra o movimento Surrealista Português, ao lado de Mário Cesariny, Carlos Calvet, António Maria Lisboa, Pedro Oom ou Mário Henrique Leiria https://www.cps.pt/pt/artistas/cruzeiro-seixas

Foi um diálogo, muito interessante, uma excelente oportunidade para conhecer o perfil de um notável português, alguns dos passos de uma vida exemplar e coroada de extraordinários êxitos, mas também conhecedor de algumas vicissitudes, deferidas pelo velho regime, com alguns dias nos calabouços pela PIDE, e , até mesmo após o 25 de Abril, com a privatização das suas empresas - Cujo conteúdo integral da entrevista espero poder vir a reproduzir,, em texto - talvez em forma de pequena brochura - e também em vídeo, com uma reprodução técnica mais aprimorada, que não disponho neste momento, pois o registo foi feito em cassete e já conta quase 30 anos - Mas não só por esse facto, pela articulação das suas expressões, pelas razões atrás explicadas
Por agora, apenas aqui reproduzo, um breve excerto, nomeadamente do grande desgosto que sofreu pelo roubo de muitos dos mais famosos quadros da sua coleção de arte - Mas não apenas pela perda irreparável de famosas obras, avaliadas em milhões de dólares - que hoje valariam,por certo, ainda muito mais - mas sobretudo por saber quem tinha sido o autor do roubo e, por razões de ordem sentimental, se ver impedido em apresentar queixa crime.

Quando, a dado passo do diálogo, lhe observei que "o Sr. Cupertino de Miranda, era um grande apaixonado pela arte", ele começou a chorar e tive que suspender a gravação por alguns minutos para a voltar a retomar, pouco depois - Não vou aqui apontar nomes nem ele me indicou nome algum Porém, tanto ele com a Sr. Irene, foram muito claros em apontar a origem da autoria desse crime - Levada a cabo por pessoa que lhe era próxima - Mas essa é uma questão que não dizia - nem mesmo hoje - diz respeito ao repórter mas aos herdeiros da sua fortuna.
Na sua resposta, que a seguir se reproduz e gravada da cassete para o video que aqui edito, com algumas fotos gentilmente oferecidas pela Câmara Municipal de Famalicão - cortesia essa que aqui desejo sublinhar - , sim, creio estarem implícitas pelo menos as razões pelas quais o levaram a retrair-se num doloso sofrimento e a coibir-se de apresentar a devida queixa crime, que o roubo justificaria - E até estou em crer que, um tal desabafo, o fazia pela primeira vez, além da esfera íntima e restrita, que dava mostras de manter com o seu anjo da guarda e única confidente, ou seja, a D. Irene - Pois pareceu-me, que, naquele momento, foi mais a emoção que superou a frieza racional, que, no seu ponto de vista, o caso aconselharia, face à preservação do que ele, certamemnte, consideraria a defesa de certos princípios e valores pelos quais orientara a sua vida e da sua família: desde os filhos aos netos.
TEXTO DA ENTREVISTA
JTM - O Sr. Cupertino de Miranda, sempre gostou da arte! Teve sempre uma grande inclinação para a arte!
JTM – Naturalmente que, para um Homem, não é só o valor pecuniário, que está em causa mas a estimativa, o gosto…ARTHUR CUPERTINO DE MIRANDA - TALVEZ O ÚNICO BANQUEIRO COM TÃO RARA SENSIBILIDADE E SENTIDO VISIONÁRIO
O banqueiro mecenas, fundador da Fundação Arthur Cupertino de Miranda, em Famalicão, sede do seu torrão natal, e a quem Salazar recorreu, em aperto de crise, para fundar um banco, com a solidez que não existia, houve quem lhe chamasse, um predestinado para outras funções diferentes de cantor de musas e de ninfas, do poeta, prosador, escritor O Museu da Fundação
Cupertino de Miranda foi inaugurado a 8 de dezembro de 1972 com a I Bienal de
Artistas Novos e reaberto ao público em 1994 com a exposição “Surrealismo (e
não)”, integrando parte das obras oferecidas pelo Eng.º João Carlos Sobral
Meireles. Desde então, tem vindo a apresentar sistematicamente exposições
temporárias, onde se tem incluído obras da coleção.
Para se falar de um homem como Arthur Cupertino de Miranda não basta conhecer a sua triunfante obra como banqueiro. Torna-se necessário fazer um conhecimento directo: conviver. Foi precisamente a convivência que tive com Cupertino de Miranda que me revelou uma personalidade extraordinária, de aquelas que aparecem muito pouco em cada país e em cada geração.
É que o homem, só é verdadeiramente homem quando faz história, ou quando é história. E, Arthur Cupertino de Miranda é um Homem histórico até porque, no futuro, ele será sempre lembrado, já pela sua acção no domínio das finanças em que teve sempre um alto sentido dos problemas económicos já ainda como homem de espírito, que no silêncio do seu «habitat» ( onde o rodeiam magníficas obras de arte), ele soube encontrar na literatura dos clássicos portugueses o seu melhor «hobby» para se esquecer da vida fatigante que o destino lhe colocou no caminho.
É que o autêntico Homem - como é o caso de Arthur Cupertino de Miranda - vive no seu mundo físico aquilo que ele afinal criou sem mais finalidade do que servir-se desse cenário para representar a sua vida dentro de um trabalho ordenado numa completa harmonia entre o individual e o social. Procurando no fim uma integração entre os valores espirituais com os materiais, quando ele é realmente união entre a cidade terrena e a cidade de Deus.
Diz a dado passo, Rebelo Mesquita, num extenso e curiosíssimo texto publicado também em "Tudo Começou no Louro
Arthur Cupertino de Miranda nasce a 15 de Setembro de 1892 na Quinta de Felgueiras, na freguesia de Santa Lucrécia do Louro, concelho de Vila Nova de Famalicão. Filho de um casal de abastados lavradores, Francisco Cupertino de Miranda e Joaquina Nunes de Oliveira, é o mais novo de quatro irmãos – José, Augusto, António e Arthur.Com apenas 19 anos, casa com Elzira Celeste Maya de Sá Cupertino de Miranda e fixa residência no Porto.
Torna-se pela sua visão financeira e profícua actividade numa das maiores figuras da banca portuguesa. Em 1919, abre no Porto, com o seu irmão Augusto, a Casa Bancária Cupertino de Miranda & Irmão, Lda., transformada em 1942 no Banco Português d Atlântico.
Nos anos 60, adquire uma quinta no Algarve, com 1700 hectares, e concebe um grande projecto turístico, dotado de marina, hotéis, casino e campos de golfe, fundando deste modo a Lusotur.
Deu vitalidade a várias empresas, como a Companhia Vidreira Nacional (Covina), a Companhia Vidreira Brasileira (Covibra), a Companhia de Fomento Colonial e a Sociedade Algodoeira de Portugal.
Foi condecorado com a Comenda da Ordem Militar de Cristo (1934); Grã-Cruz da Ordem de Mérito Civil, de Espanha (1964); Medalha de Ouro da Municipalidade de Vila Nova de Famalicão (1964); Comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (1965); Medalha da Imperatriz Leopoldina, do Instituto Histórico-Geográfico de São Paulo, Brasil (1967); Grã-Cruz da Ordem de Benemerência, de Portugal (1969); Medalha de Ouro da Cidade do Porto (1969).
Institui uma Fundação com o seu nome, para fins de educação, cultura e assistência. Dela foi fundador, juntamente com sua mulher, D. Elzira Cupertino de Miranda, e Presidente vitalício do seu Conselho de Administração.
Após a morte de D. Elzira, em 1978, fixa residência em Lisboa.
Arthur Cupertino de Miranda faleceu, em Lisboa, a 13 de Julho de 1988.






Nenhum comentário :
Postar um comentário