A Repartição do Gabinete informa que foi posta à disposição do Governo, pelo
seu titular. O lugar de Presidente do Instituto de Trabalho e Acção Social, o
que não foi aceite, por continuar a merecer a confiança do Governo.
Repartição do Gabinete, em S. Tomé, aos 5 de Junho de 1974 Pelo Chefe do Gabinete
Jorge Trabulo Marques - Jornalista e líder da equipa da primeira escalada ao Pico Cão Grande, concluída com êxito em meados de Outubro de 1975, após anos de sucessivas tentativas

- Fui a primeira pessoa a escalar sozinho este majestoso pico. Dizia-se que o Cão Grande tinha feitiço e quem ousasse escalá-lo, ficava lá morto. Por isso, não constava que alguém tivesse ousado subir as suas paredes verticais. Eu achei que devia quebrar esse enguiço. Mas também por se me impor como um desafio desde o primeiro dia que fui trabalhar como empregado de mato para a Roça Ribeira Peixe - E que veio a tornar-se ainda mais intenso depois de abandonar aquela propriedade agrícola.
Impunha-se-me a sua conquista como uma espécie de desforra às humilhações de que fui alvo por parte da administração daquela roça e da Roça Uba-budo, pertencentes à mesma empresa: A companhia Agrícola Ultramarina.
O administrador mandara-me para ali de castigo a contar cacaueiros, numa área abandonada e infestada pela cobra-preta, pelo facto de me ter recusado a tratar os trabalhadores por tu e de forma autoritária, ao velho estilo colonial. Andava eu com um trabalhador cabo-verdiano: ele de caldeirinha na mão cheia de água de cal para marcar os cacaueiros que eu ia contado. Eu andava de galochas e ele descalço: um dia uma serpente picou-o e morreu no local. Nesse mesmo dia à noite abandonei a Roça.
O Sebastião, que residia numa pequena aldeia, próximo da ponte do Caué,, era quem me acompanhava até ao sopé de um dos flancos. Era caçador de porcos. E aproveitava para, com os seus cães, fazer as suas caçadas. seguidas de várias subidas solitárias, até que, em Outubro de 1975, na companhia de dois jovens e corajosos santomenses, conseguimos completar a subida.
Desprovidos dos recursos técnicos usados nas grandes escaladas, sem calçado adequado, luvas ou capacetes, munidos apenas de vulgares cordas e de uma vareta de pontiaguda numa mãos com que nos segurávamos nas reentrâncias naturais ou onde não nos era possível fixar umas cavilhas improvisadas, com os pés apenas cobertos por vulgares meias, lá íamos subindo descalços.
Depois do 25 de Abril, passei a poder escrever o que antes me estava vedado, porém, só Deus sabe as represálias de que fui alvo: desde pressões para ser expulso de S. Tomé, a bárbaras agressões de alguns colonos , tendo sido forçado a antecipar a minha travessia de canoa de S. Tomé à Nigéria, em Março de 1975. O meu regresso, só o pude fazer, dois depois da independência do 12 de Julho, num voo militar, para concluir de escalar o Pico Cão Grande e tentar a travessia oceânica de canoa pela rota da escravatura, que acabaria por se saldar num naufrágio de 38 longos dias e noites. –
.A revolução de Abril apanhou de surpresa, a generalidade dos colonos. A liberdade de expressão, ainda não era bem aceite: a mentalidade colonial, reinante, não ia mudar de um dia para o outro. Por isso, caso não viesse a contar com a compreensão e o apoio do então Alto-Comissário, Pires Veloso, estou certo que tinha sido demitido da rádio e expulso para Portugal, tal como foram alguns revolucionários do MLSTP -Aliás, já, em janeiro de 1974, havia sido saneado .

A primeira grande pressão partiu do Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social, que, em vez de defender os trabalhadores, esteve sempre ao lado dos grandes roceiros e dos patrões mais abusadores – Chamavam-lhe o cavalo branco, pela sua cabeleira grisalha e postura autoritária.
Era uma figura mal vista, sinistra, que passava os fins-de-semana nos banquetes dos roceiros . Quando tive oportunidade de criticar a sua atuação, colocou imediatamente o lugar à disposição: ou eu era expulso ou ele se demitia
Dei-me conta de tal atitude através do Emissor Regional.de S. Tomé e Príncipe, que difundiu um oficio emanado da Repartição de Gabinete, dizendo que “uma noticia publicada em Semana Ilustrada, na edição Nª 362, levou o Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social, a pôr à disposição do Governo o seu lugar naquele organismo público, o que não foi aceite, segundo o mesmo comunicado, por continuar a merecer a confiança do Governo".A bem dizer, tanto a fruta como a comida não faltavam, mesmo que fosse de má qualidade, como sucedia ao feijão vindo de Angola. Sim, porque, fosse fubá podre, peixe seco e podre e feijão cheio de bicho, vindo de Moçâmedes. O que não mata engorda. Pois, naquele tempo colonial, tal como então se dizia: saco vazio não aguenta em pé e o importante na mentalidade colonial era tirar o máximo rendimento mas pagando salários de miséria.
Por isso, as principais roças, todas dispunham de hospitais e de senzalas e de outras instalações, que, infelizmente, hoje estão em ruinas ou irreconhecíveis, tanto os armazéns, creches e chalés ou edifícios dos escritórios, oficinas e administrações

Apesar das prepotentes ameaças, nunca me deixei atemorizar – E voltei à carga: Eis a passagem da minha resposta: (…) "Pelo que nos parece, o Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social, não se tem conformado com verdades que lhe apontamos ( e verdades quem gosta que lhas digam?) facto que até o levou a colocar o seu lugar a disposição do Governo(atitude esta que nos deixa um bocado confusos} vamos pois dar-lhe conhecimento de mais qualquer coisa. Até para defesa do seu prestígio pessoal, que mais não seja.
Por· outro lado, o seu pessoal, os funcionários que estão sob as suas ordens, igualmente, grande número deles não gostam de V.Exa. Nem confiam em V. Exa. Disseram-nos que tem sido muito injusto para com eles. Que não se tem interessado nem utilizado o mesmo critério para todos no que respeita a promoções, e, consequentemente, compensação dos seus serviços. Se V.Exa. não sabia disso então fica desde já sabendo. Mas é muito natural que, quando o senhor ler estas linhas, parte dos seus subordinados, já se tenha manifestado e feito compreender perante a sua pessoa: pois já nos disseram que iam marcar uma reunião com V.Exa.
No que respeita à calasse dos trabalhadores, vários têm sido os trabalhadores que se nos têm vindo a lamentar da sua pessoa. Não pretendemos apontar ninguém, até porque não é essa nossa função. Ainda, há dias, por exemplo, um trabalhador de uma roça veio ter connosco dizendo que tinha sido despedido sem justa causa da propriedade onde trabalhava. Ainda por cima lhe passaram uma guia (cuja fotocópia temos connosco ) para efeitos. de apresentação às entidades oficiais, em que se referia que o dito trabalhador se havia despedido, mas tinha sido precisamente o contrário, segundo ele próprio nos declarou.” – ExcertoSenhor
Governador de São Tomé e Príncipe
Excelência
CARLOS
CARDOSO GOUVEIA FRANCO, intendente administrativo do quadro de Administração
Civil do Ultramar , exercendo, em comissão de serviço, as funções de Presidente do Instituto de
Trabalho de Acção e Segurança Social,
desta província, respeitosamente , vem explicar a V. Exa. o seguinte.
O
nº 362 de 29 de Maio de 1974, da publicação “Semana
Ilustrada”, publica nas folhas 20, uma local do seu correspondente, local de
que junto uma cópia, em que, em resumo,
e “julgando interpretar, os sentimentos de parte da opinião pública”, se
permita dizer que “o actual responsável naqueles serviços (Instituto de
Trabalho Previdência e Acção Social de S. Tomé e Príncipe), agora signatário
desta exposição, “não merece a simpatia
nem a confiança das classes que serve”
E
prossegue dizendo , que ´”É considerado demasiado agarrado à defesa dos interesses das entidades
patronais. O que devia ser o contrário”.
Pretende
alicerçar essa sua conjectura em “já lhe
ter sido movido um voto de desconfiança, há tempos, pelo Sindicato Nacional dos Empregado do Comércio, Indústria
e Agricultura de São Tomé e Príncipe”.
Termina
essa local da seguinte maneira: “Foi nomeado para o exercício daquelas funções
ainda no tempo do Governador Silva Sebastião. Não tem jeito nenhum, cremos, no
momento actual, que as mesmas se estendam por um terceiro período. Era
demasiado poder de adaptabilidade.”
Finalmente,
e porque é frequente e generalizada a confusão, quando não é mal intencionada,
afigura-se-me útil que pelo Governador da Província, seja esclarecido o
público, e especialmente o Sindicato dos
Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura, de
que a este Instituto não cabem funções de defesa percicial
e de outro dos sectores concernentes às relações de trabalho.
O
último parágrafo da local insinua ligações que se podem de carácter político
pelo que importa esclarecer que o signatário nunca teve qualquer filiação
política. Ao contrário teve não poucos dias.
Assim,
tenho que considerar a local em apreço, como verrinosa, injuriosa e
difamatória, atingindo gravemente o prestígio pessoal e profissional do
signatário que sofre assim, um insulto gratuito, o que
parece que se enquadra no
ambiente e atitudes que o senhor General
Galvão de Melo, bem definiu numa carta lida
aos microfones da Emissora Nacional e lhe não foi aceite.
Talvez
por isso, por muito que pese a opinião do senhor correspondente, tenham
contribuído as suas informações deste serviço,
desde há vários anos, sempre o classificado de “muito bom”.
Porque
a encarregatura do Governo é uma situação transitória, não procedeu o
signatário da mesma forma com Vossa Excelência mas vem fazendo agora,
colocando à disposição de Vossa
Excelência o lugar de Presidente do
Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social desta província.
E fá-lo com a intenção de dar a Vossa
Excelência inteira liberdade de accionar imediatamente o termo da sua comissão ordinária de serviço ou da opinião do Governo ser coincidente com a
do articulista, quer pelas razões que este invocou, quer até por outras
que julgue pertinentes.
Mas,
se ao contrário, em face actuação do signatário, provada através de toda a
documentação arquivada, o parecer do Governo da Província foi o de que continuo
a merecer a confiança que me tem sido
outorgada e da de ser tido como pessoa capaz de estudar, propor e coordenar as medidas administrativa e legislativas tenham sido ao justo equilíbrio entre os legítimos interesses dos
trabalhadores e dos empresários, então peço, respeitosamente a Vossa Excelência
que essa confiança seja tornada pública pelos meios que forem designados convenientes e responsabilizado o
articulista Jorge Marques



AS BRUTAIS PERSEGUIÇÕES E SELVÁTICAS AGRESSÕES FÍSICAS DE ALGUNS COLONOSDEPOIS DO 25 DE ABRIL, A TROPA FEZ A LIMPEZA DO CONTEÚDO DOS PROCESSOS INSTAURADOS PELA PIDE - E SE NÃO FOSSE A SEMANA ILUSTRADA, ATÉ PARECIAM QUE ESTAVAM A GOZAR UMAS FÉRIAS

COLONOS APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM .. SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as guerras e conflitos - Mas não só.
Um total de 110 jornalistas foram mortos em todo o mundo em 2015, informou a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta terça-feira (29), destacando que a maioria foi vitimada por causa de seu trabalho em países supostamente pacíficos.Mais de 100 jornalistas foram mortos em 2015,....Os países onde mais morreram jornalistas em 2015 -.....Dois jornalistas mortos a tiro em direto nos EUA.................Brasil registra o maior número de jornalistas assassinados ...
Tal como recordou, e muito bem, Isadora de Ataíde
Fonseca, acerca de um estudo sobre
“A imprensa e o império colonial
em São Tomé e Príncipe (1857-1974), o único jornal existente, A VOZ DE S. TOMÉ,
tinha como propósito sustentar o regime no arquipélago, e em 1950 (n.º 57,
Fevereiro) propagandeava o bairro Dr. Oliveira Salazar, o dispensário
tuberculoso e o acréscimo de estradas.
Em Outubro de 1952, o
jornal passou a semanário, e o n.º 83 (Novembro de 1952) noticiava o relatório
de contas da província com o título “Boas contas”, apesar do agravamento da
crise económica. O 1º Plano de Fomento foi publicado neste ano e pretendia
fixar 2500 famílias cabo-verdianas para reforçar a produção. Previa também a
distribuição de lotes de terra por todos os africanos e o trabalho obrigatório.
Os ilhéus ficaram receosos e panfletos anónimos apareceram nas casas a ameaçar
de morte quem contratasseO massacre de Batepá, em
03 de Fevereiro de 1953, foi quase ignorado pelo jornal. No n.º 95, em
Fevereiro, publicava uma nota oficiosa, na qual o governo afirmava: “Tendo
chegado ao conhecimento do Governo que indivíduos desafectos à actual situação
política, conhecidos como comunistas, propalam boatos tendenciosos no sentido
de que os filhos de S. Tomé irão ser obrigados a contratar-se como serviçais
para trabalhos nas roças, o Governo esclarece que nenhum filho da terra deve
dar crédito a estas atordoadas”. Note-se que o director do jornal à época, Raul
Simões Dias, também presidente da Câmara Municipal de São Tomé, esteve
directamente envolvido nos conflitos, tendo organizado (e integrado) grupos de
colonos que promoveram a violência contra os ilhéus.”
Um telegrama, enviado para a Emissora Nacional, pelo Intendente do Emissor Regional de São Tomé e Príncipe, inviabilizara a minha admissão no quadro:Instaurou-me um processo
disciplinar, devido a um artigo publicado naquela revista – Por ter falado na problemática do Turismo, em S. Tomé – O Diretor deste serviços, não gostou e lá tive que levar com a ripada: RECEANDO QUE PUDESSE SER ADMITIDO - A INFORMAÇÃO TEVE MESMO DE SER ENVIADA DE URGÊNCIA VIA TELEGRAMA - Este o teor:






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