Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Testemunho histórico na literatura luso-santomense - Excerto de entrevista em 1992 para a Rádio Comercial-RDP
Para a história da literatura luso-santomense - Sum Marki, na primeira pessoa Pseudónimo
(em dialeto) do Senhor Marques – - 1911- 2003
O escritor de origem portuguesa, nascido nas Ilhas Verdes do Equador, que
cativou o coração dos santomenses, pela sua coragem na denúncia dos Massacres
do Batepá, quer antes quer depois do 25
de Abril -
Já não está entre nós - Faleceu
em 2003, em Lisboa, aos 93 anos – Mas
tenho para lhe oferecer o registo da sua voz – Um breve excerto que pude
recuperar, nos meus arquivos, de uma
entrevista que me concedeu, em sua casa, em Algés, no dia 6 de Abril de 1992 - Mais tarde, foi ainda por mim entrevistado
e por Rui Castelar, nas madrugadas da Rádio Comercial, RDP, porém, de momento,
não me foi possível localizar esse interessante dialogo.
A OUTRA FACETA LITERÁRIA, MENOS CONHECIDA, DE JOSÉ FERREIRA MARQUES, NOS
PSEUDÓNIMOS de: Roy Harvey e Louis
Rudolfo – Expressa em algumas dezenas de romances e novelas do erotismo popular, expressão artística hoje
banalizada, tanto pela palavra como pela imagem, mas muito ousada nos tempos dos chamados “bons
costumes – Linguagem da qual ele se servira, dada a cerrada perseguição movida pela
policia Salazarista às suas obras de intervenção e denúncia.
Autor de quase três dezenas de romances, grande
parte dos quais proibidos pela PIDE/DGS, com processos que o levaram até à
prisão
Filho de pais portugueses, natural de São Tomé (1921), onde fez a instrução primária - A primeira voz a dar brado ao massacre do Batepá – Através de "O Vale das Ilusões" (1956), "No Altar da Lei" (1962),"Vila Flóga" (1963), ""Tempo de Flogá" (1969) e "Crónica de uma Guerra Inventada" (2000) - .
Filho de pais portugueses, natural de São Tomé (1921), onde fez a instrução primária - A primeira voz a dar brado ao massacre do Batepá – Através de "O Vale das Ilusões" (1956), "No Altar da Lei" (1962),"Vila Flóga" (1963), ""Tempo de Flogá" (1969) e "Crónica de uma Guerra Inventada" (2000) - .
Perseguido e preso pela PIDE, que lhe aprendeu e queimou várias edições
na sua própria tipografia, na Amadora - E
também mal amado pela critica, que
sempre o olhou de sobranceria pela sua
incursão na literatura popular, humor e erotismo da qual se servira como alternativa
à de denúncia e de intervenção – Porém, nem mesmo assim, o regime repressivo o
deixou em paz - O que lhe valeu é que,
os agentes da brigada, que, de volta e meia, iam passar a revista a sua casa,
eram porventura consumidores do erotismo e do humor dos “Virtuosos”, do Bom Dia Prazer, do Insaciável
ou dos Imorais – Se bem, que, para salvar as aparências, no sistema de que faziam
parte, até o aconselhassem a uma literatura mais normal, como, Júlio Dinis, ou como Alexandre Herculano!... Enfim, livros
sérios!... – A que. o escritor perseguido, respondia: bem… sabe!... Eu não
tenho o génio de um Júlio Dinis! Eu sou um escritor principiante!... Gosto de
escrever estas maroteiras!
UMA VIDA DE CONSTANTES PERSEGUIÇÕES - EIS ALGUNS TRAÇOS DA SUA EXTENSA E VARIADA OBRA LITERÁRIA
UMA VIDA DE CONSTANTES PERSEGUIÇÕES - EIS ALGUNS TRAÇOS DA SUA EXTENSA E VARIADA OBRA LITERÁRIA
"Antes do 25 de Abril foi preso pela PIDE e entregue à Policia Judiciária sob a acusação de escrever livros pornográficos. Durante 90 dias foi mantido nas celas daquela Policia, até que o processo transitou para o Tribunal e o Juiz ordenou a sua libertação. Mais tarde julgado, foi condenado a uma pesada pena de prisão, remível a dinheiro
Os primeiros livros de Sum Marky nada
tinham de obsceno ou pornográfico. A Comédias dos Sexos era uma crítica social,
em que certo meio da nossa sociedade é dissecado com profunda verdade. Logo foi
proibido pela censura e o autor entregue ao Tribunal. Em 1961 e 1962 Sum Marky
publica dois livros "No Altar da Lei" e "Vila Flogá",,, que
constituem uma denúncia terrível dos crimes praticados pelas autoridades
portuguesas sobre o indefeso povo de São Tomé e Príncipe.
Também estes dois livros foram proibidos
pela censura, com as consequentes perseguições ao autor.
Depois disso, publicou mais duas dezenas
de novelas ou romances e todos eles foram proibidos pela censura. Sum Marky é,
sem dúvida, o escritor português com mais livros proibidos pela censura.
Sum Marky tornou-se assim, um escritor
"underground" cujos livros se vendiam ( e ainda vendem) por redes
subterrâneas e como se constituíssem algo de abominável.
Enfim, um escritor Maldito, de quem a
critica e os jornais nunca se ocuparam, antes ou depois do 25 de Abril.
Pág. 9 - A cidade acordou, alvoraçada, com a rusga
nas ruas. Os cipaios, de cassetetes arrogantes,
procuravam trabalhadores para as obras do Estado. Um ou outro, mais zeloso, batia
logo, sem meso perguntar pelo “papel”. E as camionetas das Obras Públicas,
iam-se enchendo de homens assustados.
Sum Olímpio estava na manhã de sorte. Um
grupo de cipaios, empenhado na singular caçada, tal como cães raivosos, já se preparava
para lhe deitar a mão, quando surgiu o portão salvador.
Refugiou-se no quintal e subiu a escada a
correr, só respirando ao ver-se por detrás da porta cerrada. Durante um
instante, restou imóvel, a ouvir o burburinho dos soldados, o estrondo das
armas, os gritos de pavor dos homens perseguidos. Depois, pouco a pouco, os gritos
foram cessando, diluídos a distância, e ele pôde dirigir-se à escolinha.
Página 104
Tudo começara na vila da Trindade, com a população nativa a ser perseguida há meses com rusgas permanentes e arrebanho de pessoas para as obras do Estado. Ao anoitecer do dia 3 de Fevereiro de 1953, o tenente Ferreira e o Zé Mulato, acompanhados de soldados armados de espingarda e baioneta, apareceram num jipe em atitude provocatória. Um homem que passava, descuidadamente, na rua principal abatido pelas costas. A população, aterrada com o tiroteio, corre a refugiar-se no mato. E, no dia seguinte, principiaram as prisões em massa, as rajadas de metralhadora, morte de gente indefesa. Com a desculpa, disparatada, de que os nativos, armados machins, se preparavam para marchar sobre a cidade para matar o Governador. E, por fim, nomeariam como governantes personalidades desafetas ao Governo, como o Engº Graça , os professores Januário e Maria de Jesus, os chefes e mentores da revolta. E também alguns brancos-forros, Vergílio Lima, Carlos Soares, Américo Morais - In Crónica de uma Guerra Inventada – por Sum Marki
As ruas da cidade jaziam em quase completa obscuridade, de lampiões elétricos apagados. E não se via vivalma, nem sequer um cão. Uma cidade-fantasma, ou ~r, uma cidade ocupada com jipes e camionetas carregadas de homens armados a impor a lei da guerra. E as palavras do Songo, em segredo: "O senhor Doutor : saia de casa depois das 21 horas! Está em vigor o recolher obrigatório e o senhor está na lista dos inimigos a abater! Dirão, depois, que não respeitou a lei, que não passou de um lamentável incidente ... "
Consultara o relógio: 6 horas da tarde. Dispunha do tempo necessário para ir a casa tomar um duche e mudar de roupa, antes do jantar. Depois, voltaria para casa e restaria ali, tranquilamente, coligindo todas as informações que conseguira recolher.
Porém, o seu plano fora alterado. O restaurante estava cheio de risos, conversas e músicas de rádio. Um mundo alegre, confortável, diferente do mundo tenebroso que Songo descrevera, em palavras de alarme. Qual era o verdadeiro? - Interrogara-se.
O senhor Gomes, dono do restaurante, aproximava-se: "Então, senhor Doutor, que tal estava o jantar?" Era um homem gordo, bonacheirão, de riso fácil como os nativos, a palavra discreta. "Conspiração dos pretos contra os brancos, matar o Governador?" Nisso, ele não falava, não sabia nada e pronto!
De súbito, lembrara-se da hora de recolher, alarmara-se: "Bem, tenho de ir, está na hora!"
Um dos brancos ouvira-o, soltara urna gargalhada de troça: "O recolher obrigatório? Isso é prós pretos!"
A ILHA DE NOME SANTO
A ILHA DO SANTO:
Sum Marky, como nos seus anteriores romances e no seu habitual estilo sarcástico, vem denunciar as condições pungentes em que as autoridades coloniais portuguesas exerciam a sua autoridade discricionária sobre os nativos da Ilha de São Tomé, a Ilha Santa,
Sum Marky, como nos seus anteriores romances e no seu habitual estilo sarcástico, vem denunciar as condições pungentes em que as autoridades coloniais portuguesas exerciam a sua autoridade discricionária sobre os nativos da Ilha de São Tomé, a Ilha Santa,
Neste livro, Sum Marky também prova que
Salazar e os seus cúmplices, com a célebre
"Lei do Indigenato", instauraram
um regime ·de escravatura, que lhes permitiu mandar
arrebanhar pessoas nos sertões de Africa,
metê-las nos porões de barcos de carga, como se· rezes humanas fossem,
transportando-as para São Tomé, para trabalhar nas roças de cacau e café em
regime de pura escravidão.
Mas, Salazar com a hipocrisia que lhe era
peculiar quis dar a tal trabalho um cunho legal, chamando-lhe de contrato, o que na realidade não era; uma vez que nele
só prevalecia a vontade de uma das partes.
Neste livro também ,se prova· que a , colonização
portuguesa, em Africa não foi tão exemplar corno nos querem fazer crer.
Aconselhamos vivamente a leitura deste livro a todas as pessoas que se
interessam pela Liberdade e seus valores eternos. - ttexto na contra-capa
Capítulo 12
Abandonara tudo para perseguir
Quando Carvalho entrou ria fábrica de
óleo, a maquinaria estava em pleno funcionamento, num estrondo ensurdecedor.
Ele ainda sentia o gosto amargo dó quinino e as fontes latejavam-lhe numa dor
de cabeça intolerável. O ruído brutal repercutia-se inteiro na sua cabeça, mas
a Suzana estava ali, entre as mulheres - a escolher caroço e ele queria vê-la,
pousar os olhos, ardendo de febre, no colo redondo, virginal, trocar com ela um
olhar cúmplice onde havia promessas de inefáveis delícias. Às vezes, parado
junto dela, ficava a olhá-la por uma eternidade. E ela, sem desviar o olhar, à
olhá-lo também. As outras mulheres, observavam a cena, disfarçadamente, a gozar
o seu enleio. Então, ele dava um berro, soltava um palavrão obsceno, para se
libertai do sortilégio, fugia ao encantamento de amor, enquanto que- as
mulheres baixavam os olhos e retomavam a sua tarefa. Mas ele sabia que lá muito
no íntimo continuavam a troçar dele, a rir-se daquele amor envergonhado, pleno
de medos. Então, fugia, encabulado, jurando nunca mais se submeter à cena
humilhante. Mas voltava sempre, como cão espancado, de rabo entre as pernas. E
. elas sorriam, numa cumplicidade feliz e sorridente, prontas à ajudar o branco
e a garota dum modo tão petulante, que ele, de humilhado, fugia
definitivamente.
Mas, nessa manhã, as pernas tremiam-lhe e
o sangue escaldava, mas não de amor e desejo. Não era mais o mendigo de amor
que suplica por uma caricia, mas antes
se comportava como alguém aflito que precisa de auxílio. Não lhe apetecia sonhar
delícias secretas, tudo o que queria era deixar-se cair no chão de cimento e
depositar à cabeça ardendo em febre no colo macio de Suzana . E que ela colocasse as suas mãos
frescas sobre as fontes latejantes, para sentir a carícia dos seus dedos
frescos. E esquecer tudo, a mulher e o filho, a terra distante que abandonara
para conseguir a quimera de uma fortuna fácil…
Aeroporto «Leonardo da
Vinci», Fiumicino. São 18.30 horas.
Um sol ainda
resplandecente inunda a campina romana. Estou a 25 quilómetros de Roma,
informa-me um funcionário do aeroporto. Só tenho avião para Palermo às 21.15.
Disponho, pois, apenas de duas horas, impossível visitar a cidade, que adivinho
perto, mas está invisível, para além das colinas. Resigno-me e vou fazer o
«check-in», entro para a sala de embarque e sento-me.
«Banco dÍ Santo Spirito»,
leio num vasto painel luminoso, à minha frente. Desvio o olhar, mas logo se me
depara o «ecran» de uma televisão, que mostra a imagem de uma pequena ilha,
ligada a terra por uma passagem. «Azienda Soggierne Isole Eolie», leio a
legenda. O paraíso para umas férias, adivinho facilmente. Mas já a imagem
desapareceu e, em seu lugar, surge um carro «Fiat», a grande marca italiana,
que logo se dissipa, para dar lugar ao refresco «Pepsi». Umas a seguir às
outras, num desfilar contínuo, surgem mais imagens: «HERTZ - rent a car»,
CAMPARI, AVIS, MONTECATIM TERME, COCACOLA. A última imagem desaparece e surge
agora uma frase em italiano, que traduzo rapidamente: «13 milhões de pessoas
vêm os teus produtos». Seguem-se, mais imagens publicitárias: «RENAULTI>,
«FAZIENDA SOGGIERNE AGRICENTI». E, finalmente, reaparece a primeira imagem, o
paraíso dos turistas. E a solidão mais completa a cerrar-se sobre mim.
A meu lado, uma jovem
morena lê um livro numa língua qualquer deste mundo. Deve ser italiana,
presumo. Ela tem um perfil romano era provavelmente francesa ... Agora,
somos 18 pessoas e o cão, sentado no colo da dona, de orelhas caídas e olhar
triste ... Tudo imagens de um mundo distante e diferente, que não me diziam
respeito. As pessoas continuam a desfilar, incessantemente, no corredor
envidraçado. O autocarro, repleto de passageiros, arranca e dirige-se para o
avião de Alghero. Carrinhos, carregados de bagagens, cruzam o aeroporto «GULF»,
lê-se no enorme camião-tanque. A buliciosa Teresa e seu pai, desapareceram para
sempre. Ainda não anoiteceu completamente, o céu é de um azul escuro anilado.
Acendem-se as luzes, a fria claridade do «neon». Um carro da «polizia», um Fiat
evidentemente. O «gong». A solidão ... Uma italiana gorda, senta-se à minha
frente. Há, apenas, dez anos, ela era uma mulher de sonho: alia, esguia,
elegante, o cabelo louro a emoldurar um rosto bonito de epiderme muito branca,
um encanto. Agora, ainda conserva alguns traços da sua passada beleza, mas é
quase um estafermo,· que se inclina para a frente e esboça uma carícia no
focinho triste do cão.
Afinal, reparando melhor,
a rapariga a ~eu lado têm tipo de francesa. Parisiense, mais exactamente. O
«gong», .as palavras obscuras e cantantes, o avião de vigias iluminadas, pronto
a subir no céu onde só resta uma vaga claridade.
O VALE DAS ILUSÕES – SUM MARKY - Romance
Pág. 7 - Quando, cinco anos antes,
desembarcara na Ilha , sentira, vagamente,
que a terra lhe era hostil.
Depois, durante a luta que se seguira, verificara a realidade de tal
hostilidade. Mas, nesse tempo, possuía a força e energia
que agora lhe faltavam. Lutara e vencera. Ou antes, jugara vencer; o
presente difícil e amargo mostrava-lhe quão precária tinha sido a vitória e
como estava longe do ansiado fim…
Do caminho que o levara até ali , já nada restava . Aqueles anos tinham-se
esfumado sem deixar cinzas , deixando, dentro dele, um incrível vazio, uma
sensação de vacuidade que se traduzia em impotência , amarga inutilidade. O
passado recente apagara-se, sem deixar vestígios. Apenas, no seu cérebro restavam sombras vacilantes e a
lembrança pertinaz, do longo caminho…
17 . pag. 146-147- 148
Na varanda, ao sentir a brisa da manhã a refrescar-lhe
o rosto. Julgou sair de um estranho
pesadelo. Sentia os músculos lassos, invadido por
invencível cansaço. A custo, desceu a
escada que conduzia ao jardim. Com passos incertos, como se estivesse embriagado,
dirigi1u-se ao caramanchão.
Isabel estava, sentada no dongo .banco, de
rosto entre as mãos. Ao pressenti-lo, ergueu a cabeça e os seus olhos
encontraram-se por uma fracção de segundo. Mas, logo ela desviou o olhar. Levantou-se de um
pulo e fugiu, sem que ele, imóvel, pudesse esboçar um gesto para a reter.
Ficou parado, vendo-a afastar-se, sem proferir
uma palavra sentindo arrepios a percorrer-lhe o corpo . E seguiu-a com olhar, até vê-la desaparecer na esquina da varanda. Depois, sacudido por um tremor de febre,
arrastou-se através do jardim e atravessou o terreiro , em direcção ao seu
quarto.
Atirou-se para cima da cama, mesmo
vestido, envolvendo-se na roupa que encontrou. Apesar disso, tremia de frio. O coração pulsava com violência
e cada pulsação repercutia-se no seu cérebro, como uma martelada. Os dentes entrechocavam-se
e sentia o estômago revolvido ·pelos vómitos. A boca seca amargava-lhe como se tivesse
bebido fel. E, enquanto o corpo tremia de frio corpo tremia, a cabeça escaldava-lhe.
Todos aqueles sintomas, ele os conhecia bem: paludismo!
Perdeu a noção do tempo que jazeu ali,
amarfanhado de músculos tensos; encolhendo-se
sob a violência dos tremores. Quando de
novo, tomou conhecimento do mundo à volta,
do· quarto de paredes de madeira pintadas a óleo, despidas de adornos, sentiu a
febre queimá-lo, corno se nas suas veias e artérias, em vez de sague, houvesse
chumbo em fusão. Doía-lhe a cabeça intoleravelmente, mas uma sensação
sobrepunha-se a todas as outras·: a sede!
Era uma sede horrível, que o fazia gemer:
água, água, água! Mas, ninguém o ouvia. E até tocar o sino, dando por terminado
o primeiro período de trabalho, sofreu o atroz suplício da sede.
Passava meio-dia , quando o Rebelo, ao
passar no corredor, ouviu os seus gemidos. Entrado no quarto, foi encontra-lo,
de rosto congestionado pela febre. Imediatamente, foi buscar um copo de água, que ele bebeu, sofregamente .
Mas, depois disso, ainda tinha sede. Parecia-lhe que não havia água capaz de matar-lhe a sede ardente.
OS IMORAIS – Louis Rudolfo
Página 3 - A triste conclusão a que sou
forçado a chegar, após três meses de casado, é que minha mulher é umã autêntica
pedra de gelo.
Durante esse tempo fiz tudo quanto
humanamente é possível para derreter aquele iceberg em que ela se envolve, sem
o menor êxito.
Ainda esta noite, comecei fodê-la às dez
horas da noite e duas horas depois tive de desistir sem conseguir que ela se
viesse! Fiz tudo, senhores , desde as espremedelas nas mamas até ao beijo no ventre. Mas acho talvez melhor
descrever em pormenor tudo o que lhe fiz, não vá o leitor pensar que sou uma
pessoa sem experiência e que a culpa foi minha .
Como já disse, fomos para a· carna cedo,
ainda não e eram dez horas. Isto depois
de muitos rogos, pois minha mulher não gosta de se deitar cedo, provavelmente
porque não ignora a sorte que a espera. Assim, inventa mil desculpas para não
me fazer a vontade. Ontem, por exemplo, inventou um trabalho de costura, um vestido
que tinha de arranjar para um passeio que tínhamos combinado dar para o mês que
vem. Fiquei furioso, verdadeiramente danado, e só quando me viu assim, é que
acedeu aos meus rogos. Mas não julguem que foi logo para a casa e me abriu as
pernas. Isso sim!
Pág. 152 O dia de Natal desse ano foi mais triste de toda a minha vida. Sozinho, na terra estranha, longe de todos os meus, sentia-me o mais abandonado de todos os seres vivos. Era como se estivesse perdido num deserto ou prisioneiros nos ermos glaciais, na solidão silenciosa das regiões polares.
A Maria Isabel, convidara-me
a passar esse dia com a sua família, mas o nosso conhecimento era tão recente,
que resolvi não aceitar. Ela tinha irmãos, já cassados, que se reuniriam nesse dia e eus sentir-me-iam
intruso no meio deles.
O círculo das minhas
amizades era muito restrito, posto isto recebi alguns convites para almoçar ou
jantar. Recusei-os delicadamente. O Natal é a esta da Família e eu não queria intrometer-me
num lar, que não era o meu. A minha presença seria bem recebida, estou certo,
mas , aos meus próprios olho, teria o
aspecto de intrusão. E sentir-me-ia mais só e distante da minha própria família.
SIMBADE O MARINHO – Novela edição de
autor - Sum Marky
CONTO DAS MIL E UMA NOITES
Sindbad Harum-Al-Raschid, o célebre
mercador e aventureiro, no fim do banquete, mandou distribuir a soma de mil
squins aos seus convidados mais pobres.
- Que Alá te conserve a vida e os teus
bens! -· gritou, histericamente, um dos vagabundos. E depois prosseguiu em tom
normal: - Agora, que saciaste a nossa fome e a nossa sede, rogo-te,
encarecidamente, que nos contes uma daquelas maravilhosas aventuras que, a par
de mil perigos, te trouxeram esta prestigiosa riqueza.
- Sim, sim... - gritaram várias vozes,
entusiasmadas.
- Oue Deus e Maomé seu profeta, sejam
louvados, pois só a Eles devo tudo o que possuo! E acedo, com prazer ao vosso
desejo, -uma vez que ao relembrar os perigos por que passei, não deixarei de
louvar os prodígios a que me foi dado o privilégio de assistir, que necessariamente
reverterão em louvor de Deus, meu protector.
- Oue Deus e Maomé, seu profeta, sejam
sempre louvados! - gritou a multidão em côro.
- Oue Alá esteja convosco, meus queridos
amigos. E agora, já que me pedis com tanto interesse, vou contar-vos uma das
minhas aventuras em que corri o maior perigo e que, no fim, me proporcionou grandes
prazeres e riquezas – e após um silêncio , iniciou assim a sua narrativa:
“Quando me dirigi a Bassorá numa barca de
cem remadores, com uma carga de marfim e especiarias da Índia, ao terceiro dia
de viagem de deixarmos Calecute, caiu sobre nós uma terrível tempestade. O mar
estava completamente calmo e nada deixava pressagiar a tormenta. Em poucos
minutos, porém, o sol apagou-se e quase
subitamente grossas nuvens negras surgiram nos céus.
Pág. 56 - É realmente era um prazer, apesar dos meus
dedos trémulos. Finalmente consegui correr o-fecho do vestido, que caiu a seus
pés. Fiquei a admirá-la por um instante e depois comecei a Libertá-la do soutien,
No minuto seguinte, tinha-a toda quente contra O peito, sentindo os seus seios a palpitar
contra mim
- Aposto que eu era uma virgem, disse ela
Não pude responder, com os seus seios.
hirtos e arrogantes, tão perto da minha boca. Ela começou a rir subitamente,
.num gesto brusco, deu-me os seus lábios. Mas quando tentei despojá-la das calcinhas, libertou-se do meu abraço e dirigiu-se à mesa onde estava o whisky.
Vi-a desarrolhar o frasco, com uma certa
apreensão :
- Querida!
– Disse . – Não é altura de beberes mais.
- Qual não é! – declarou a rir
A ADÚLTERA – ROY HARVEY
Pag 106/107 - À medida que bebia, Lena
sentia-se muito mais bem-disposta. Já nem sequer se recordava da diferença de
tom· da cor da sua bebida. O importante era o confortável calor a tomar-lhe o
corpo. ·E quando sentiu a carne palpitante, a excitação a encher-lhe as veias
de fogo, era como se sentisse viva outra
vez. Detestava sentir-se deprimida e infeliz. Aquela bebida transmitia-lhe urna
sensação de alegria e felicidade. Olhou o copo com reconhecimento
Lembrou-se, então, do ·prazer que Chuck
lhé, dera, apesar da aversão que sentia por ele. Era pena, afinal, que ele
tivesse· ficado com ela na cama · por tão pouco tempo. E Monroe? Onde estava
Monroe para a levar até às estrelas, conforme tinha prometido?
Olhou para a porta., ansiosa, Onde estava
Monroe? - perguntou mais uma vez a si própria, sentindo que o calor se tornava insuportável. Num
gesto brusco, despiu o roupão e ficou nua. Sim, assim era melhor. As formas
redondas do seu corpo, perfeitas e belas, produziam-lhe uma sensação de
inefável prazer. Levou as mãos aos peitos e apertou-os, depois fê-las deslizar
até às ancas. Dum só trago, engoliu o resto da bebida. Onde é que estava
Monroe? - interrogou-se, mais uma vez.
Precisava, ·de outra bebida, decidiu de
repente. Nunca um, só Martini lhe, tinha provocado uma tal reacção. Estendeu as
pernas, num gesto lascivo, e ficou a admirá-las durante um instante. Eram umas
belas pernas – pensou com prazer,
grossas nas cochas e estreitando
progressivamente até ao tornozelo fino. As suas mãos tornaram a percorrer a
barriga lisa e detiveram-se nos seios hirtos. Onde estaria ele?
Que
nos dais a provar já pôdre o cono !
Vós,
vós. sois quem fazeis tanto f'achono,
Que da greta maldiz gostos e ditas!
As
galiqueiras são, são infinitas,
Alto
clamam da foda em desabonol
Pouco
a pouco já vão erguendo um trono
À
sacana bem feita heróis catitas!
Reparai
nisto bem, ó putas todas,
Deixai
por uma vez de ser tiranas
Com
esses que vos dão tão belas fodas !
Com
os tristes caralhos sêde humanas·
Ou
em breve vereis, mudando ias modas,
Triunfarem
das putas os sacanas.
O tema deste novo
romance de Sum Marky´é, sem dúvida, empolgante. Carlos da silveira, um
jovem engenheiro recém formado desloca-se à Ilha dos Papagaios, para montar a
torre do telégrafo, permanecendo ali apenas durante três meses. Surge então a
morena Valiana e a volúpia das noites tropicais.
Dezoito anos mais tarde
ele regressa para realizar uma nova tarefa: a construção de uma campo de
aviação."
(...) "Desconhecem o lealismo dos filhos de um Império, desconhecem os aviões e os navios, e todo um arsenal de história, de espírito humano e real metralha, que Deus pôs à disposição dos portugueses" - In FORROS, PRETOS E BRANCOS, do jornal A VOZ DE SÃO TOMÉ - 12 de Fev. 1953 - Um dos artigos sobre o MASSACRE DO BETEPÁ
OPINIÕES
O romance Crónica de Uma Guerra Inventada, de Sum Marky (escritor que não me merece, pela sua obra anterior, particular apreço; autor que foi de textos menores, roçando o porno-tropicalismo que a ditadura, naturalmente, proibiu – claro, que a literatura portuguesa não ficou mais pobre pelo facto, embora esses livros tenham sido precursores da subliteratura que hoje, em versão feminina, enchem de lixo mediatizado as bancas das livrarias), é um texto só possível de produzir em liberdade, suficientemente distanciado em relação aos factos que relata tornando-o assim num livro sem ressentimentos nem constrangimentos excessivos http://daliedaqui.blogspot.pt/2008/04/crnica-de-uma-guerra-inventada-de-sum.html
Incansáveis mocetões de um metro e noventa e estonteantes louras, morenas e ruivas, naturalmente insaciáveis, dedicam-se a praticar sexo fácil em várias novelas editadas em 1965. Com sugestivos títulos como O Insaciável, O Obcecado e O Violador, são livros sem editora, sem tradutor, escritos por Roy Harvey e apresentados por Sum Marky, pseudónimos de José Ferreira Marques (1921-2003), autor de outras prosas light da colecção, branco nascido em São Tomé e autor de um apreciado Vila Flogá, de 1963, libelo acusatório do colonialismo na antiga colónia portuguesa. Tanta clandestinidade serve uma literatura popular, claramente apontada à líbido masculina e ao mito, tão excitante quanto assustador, da voracidade sexual feminina. Acautelando o olho vigilante da censura, Sum Marky prefacia os três volumes nas exíguas badanas, exaltando o proveitoso exemplo destes pedaços sórdidos de uma América corrupta, racista e depravada. https://www.publico.pt/cronicas/jornal/obsessao-25047267
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