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sábado, 20 de julho de 2019

POETAS DE ANGOLA - PINTO DE ANDRADE E MAURICIO GOMES - "Nosso filho chorou Mamã enlouqueceu Aiué! Mandaram-no para S. Tomé" - "Sentai-vos, irmãos, escutai: Precisamos entender As falas da Natureza, Dizendo da nossa dor, Chorando nossa tristeza

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador








Terra enorme onde o insecto impera

Nosso filho caçula
Mandaram-no para S. Tomé
Não tinha documentos
   Aiué!
Nosso filho chorou
Mamã enlouqueceu
   Aiué!
Mandaram-no para S. Tomé

Cortaram-lhe os cabelos

Não puderam amarrá-lo

   Aiué!

Mandaram-no para S. Tomé

Nosso filho está a pensar
Na sua terra, na sua casa
Mandaram-no trabalhar
Estão a mirá-lo, a mirá-lo

-Mamã, ele há-de voltar
Ah! A nossa sorte há-de virar
     Aiué!

Mandaram-no para S. Tomé

Nosso filho não voltou
A morte levou-o
     Aiué!
Mandaram-no para S. Tomé.





1928: A 21 de Agosto Mário Pinto de Andrade nasce no Ngolungo Alto (Angola). - 1929/1947: Estudos primário e secundário em Angola. - 1948: Viaja para Portugal; matricula-se no curso de Filologia Clássica da Faculdade de Letras de Lisboa. - 1949/52: Juntamente com Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro e Alda Espírito Santo, na Casa dos Estudantes do Império, no Clube Marítimo e no Centro de Estudos Africanos promove actividades culturais visando a redescoberta de África. - 1953: Com Francisco José Tenreiro organiza o Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa. - 1954: Vai viver em Paris. - 1955: Redactor da revista Présence Africaine, é também o responsável pela organização do I Congresso de Escritores e Artistas Negros; acabará por se formar em Sociologia, na Sorbonne. - 1960: Com a prisão de Agostinho Neto pela PIDE, Mário assume a presidência do recém fundado MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (MPLA); Mário como presidente e Viriato da Cruz como secretário-geral transferem a direcção do MPLA de Luanda para Conakry. - 1961: Após a independência do Congo Belga, Mário e Viriato transferem a direcção do MPLA para Leopoldville. - 1962: Mário entrega a presidência do MPLA a Agostinho Neto, que acabara de fugir de Portugal. - 1965/67: Mário coordena a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP). - 1973: É mandatado pelo Comité de Coordenação Político-Militar do MPLA, para organizar os textos políticos de Amílcar Cabral. - 1974: Mário, com o seu irmão Joaquim funda a “Revolta Activa”, corrente




ESTRELA PEQUENINA”  - “Tocadores, vinde tocar
Marimbas, n`gomas, quissanjes
Vinde Chamar nossa gente
Prá beira do Grande Mar

Sentai-vos, irmãos, escutai:
Precisamos entender  
As falas da Natureza,
Dizendo da nossa dor,
Chorando nossa tristeza.

Ora escutai; meus irmãos:
Aquele Sol no poente,
Vermelho como uma brasa
Não é Sol somente. Não!
É coágulo de sangue
Vertido por angolanos
Que fizeram o Brasil

   Ouvi o mar como chora,
Ouvi o mar como reza….

Olhai a noite que chega,
Veludo negro tecido
De mil pedaços de pele
Arrancados a chicote,
Ai! Cortados a chicote,
Do dorso da nossa gente,
No tempo da escravatura…

Noite é luto
De que Deus cobre o mundo
Com dó de nós…

Disco de prata luzente
Sob ligeiro no espaço.
Sabei que a lua fulgente
Contém lágrimas geladas
Por pobres negros choradas…

Perguntai à multidão,
Sentada à beira do Mar:

- Agora, dizei, irmão
Daquela pálida estrela
Tão pequenina e humilde
Que brilha no nosso céu
Qual é o significado?

Talvez seja finalmente
Deus a olhar para a nossa gente…

Excerto – Maurício Gomes – Natural de Luanda, onde nasceu em 14-03.1920

Excerto – Maurício Gomes – Natural de Luanda, onde nasceu em 14-03.1920

Maurício de Almeida Gomes 

Maurício Ferreira Rodrigues de Almeida Gomes  - Luandense. Integra a Antologia dos novos poetas Angolanos, de 1950 e tem colaboração na “Cultura I”, “Cultura II” e “Mensagem”.
Pode ser considerado um dos pioneiros da poesia moderna angolana. A palavra a Manuel Ferreira: “O tom messiânico, o chamamento colectivo vem de um homem cuja continuidade poética se perdeu poucos anos depois. Trata-se de Maurício Gomes e que naquele instante faz o lúcido, humaníssimo apelo à sua gente: “tocadores vinde tocar/marimbas, n’gomas quissanges/vinde chamar nossa gente/p’rá beira do grande mar!” e “ouvi o mar como chora,/ouvi o mar como reza…/olhai a noite que chega./veludo negro tecido/de mil pedaços de pele/arrancados a chicote./ai! cortados a chicote./do dorso da nossa gente,/no tempo da escravatura…”. Neste chamamento, com ressonâncias estilísticas da tradição popular e com consciência do momento que se vive, se entra, de vez, no ideário mais representativo da actual poesia angolana”.




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