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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Pico Cão Grande, em S. Tomé - A épica escalada, concluída com êxito, em Outubro de 1975, a um dos picos mais altos em forma de agulha "vulcânica" na Terra (300 m), talvez ainda mais impressionantes do que a Torre dos diabos em Wyoming"

Pico Cão Grande, in S. Tomé - The epic climb, successfully completed in October 1975, to one of the highest "volcanic" needle-shaped peaks on Earth (300 m), perhaps even more impressive than the Torre Hell in Wyoming"

Pico Cão Grande is a needle-shaped peak of volcanic formation, which rises to the south of São Tomé Island, in the Caué district, in the Obô Natural Park of São Tomé. Its summit is 663 m (2,175 ft) above sea level, and it towers some 370 m (1,210 ft) over the surrounding terrain.
The first attempts to climb Pico Cão Grande, led by a Portuguese-Santomean team, took place in 1970-71-72-73-74, with the final ascent being successfully completed, without special technical resources, with very rudimentary equipment, in mid-October 1975 by Jorge Trabulo Marques, Portuguese and the two Santomeans, Cosme Pires dos Santos and Constantino Bragança 

Jorge Trabulo Marques - Jornalista –Líder da escalada do Pico Cão Grande

"This is one of the highest needle-shaped "volcanic plug" peaks on Earth (300 m), perhaps even more impressive than the Devils Tower in Wyoming (386 m)"  - Maybe you've read Stephen King's huge fantasy epic "The Dark Tower", or perhaps the Tower of Mordor from "The Lord of the Rings" more readily comes to mind? In any case, you'll be surprised to find the fantastic huge black tower actually exists... on a small island near Africa. More precisely, on the São Tomé island in the Gulf of Guinea. It's called Pico Cão Grande, or the Great Dog peak.http://test123-destroyer77.blogspot.com/2011/11/dark-tower-found.html


MARAVILHA GEOLÓGICA DO PLANETA TERRA -   O Pico Câo Grande, que  se ergue no coração da floresta equatorial, ao sul  da Ilha de São Tomé, não é apenas um gigantesco falo de pedra basáltica - que chegou a ser batizado  por "Caralhete"  elevando-se acima de 300 m de altura em relação ao solo, por 663 m de  de altitude, acima do nível do mar. é,  indubitavelmente, uma das mais singulares maravilhas  geológicas da terra: não tanto pela altitude mas pela forma e verticalidade. 






Quem o vir de longe,  seja da clareira da floresta,  seja a surgir da curva de uma estrada ou até a levantar-se  no meio de uma pequena reta, seja de que ângulo for, de perto ou mais afastado, o Pico Cão Grande é único no seu género: não pode deixar de  sentir o pasmo de uma majestosa aparição,  de ser tentado a contemplar, algo  que parece divinizar toda a natureza selvagem envolvente – Qual gigantesca testemunha, simultaneamente, terrena e cósmica! Ou qual expressão  genuína de  um monumento, erguido da terra, aos céus!  -



"Quem tiver o singular privilégio de visualizar esta rara pedra preciosa certamente ficará repleto de variadíssimas e agradáveis sensações"  - In Património de S. Tomé.: Roça Porto Alegre

Se quiser desembolsar uns milhares de dólares, levam-lhe a mochila e até o levam ao colo - "Pessoas que pagam até US $ 50.000 para escalar o Monte Everest muitas vezes o fazem por motivos egoístas, diz um estudo" Selfishness drives people to climb Everest  Mas não foi o caso do corajoso - Alpinista cego escala o Everest  Um dos mais extraordinários exemplos de coragem, companheirismo e força de vontade


Escalada ao Pico Cão Grande e outras aventuras – A Heroicidade e humanismo de um valoroso companheiro




Recordações do santomense Constantino Bragança- Atualmente Pai de sete filhos e um dos dirigentes da Associação Viver no Mundo, para defesa dos emigrantes  - Um dos meus corajosos companheiros, com o Pires dos Santos, além dos meus guias,  do Sebastião e do Chico,  na dificílima escalada do  Pico Cão Grande, em Outubro de 1975  – Era também ele que me distribuía a revista Semana Ilustrada, de Luanda, de que era correspondente, em STP,  

Chegou a trocar a sua roupa com a minha para me ajudar a sair de casa e a defender dos ataques de alguns colonos tendo sido também ele agredido – E, mais tarde, quando tive de precipitar, clandestinamente,  a minha travessia de canoa de S. Tomé para a Nigéria, por via das sucessivas agressões de que estava sendo alvo,  a ser inquerido pela policia, visto se desconhecer onde me  encontrava

MONSTRUOSO PÁRA-RAIOS - EM DIAS DE TEMPESTADE  - É  de tal  maneira fustigado por faíscas e relâmpagos, que, mais lembra uma Torre Negra, incendiada do Inferno  - A sua forma, quase esférica e pontiaguda, funciona como um portentoso para-raios! - Várias vezes vi esse espetáculo pirotécnico noturno  da Roça Ribeira Peixe, quando ali trabalhava, como empregado de mato - Dizia-se lá: "Olha lá está o Cão Grande a ser bombardeado pela fuzilaria do diabo!!...  - Não tarda a  trovoada a vir por aí abaixo!...

Curiosamente, mais das vezes, as nuvens faziam por lá a descarga e a chuva não atingia o  terreiro da roça, que ficava ali junto ao mar - É, sem dúvida, a zona onde chove mais! - Em São Tomé há cinco microclimas - Que vão desde os 300mm na cidade São Tomé, até aos 5000mm, onde se situa aquele pico.

A Bandeira Portuguesa , antes da Independência
Bandeira de STP na ponte do Caué,  última expedição 
Daí o fascínio que exerce aos olhos de quem o contempla. Mas, sobretudo, o permanente desafio que se revela aos amantes da escalada vertical -  Pessoalmente, pude  viver tais emoções, sentir o grande prazer  – misto de glória, apreensão e receio – com com a minha valorosa equipa de santomenses; Pires dos Santos e Constantino Bragança e dos meus guias: Sebastião e do Chico.

Não disponho das imagens da última escalada, visto  ter partido, dias depois para uma tentativa de travessia oceânica - Os negativos, até ficaram bem guardados, mas o comerciante, Jorge Moisés Teixeira Coimbra, que os foi levantar, até hoje não teve a hombridade de mos entregar, bem como o restante vasto espólio  que deixei em casa de minha companheira   http://www.odisseiasnosmares.com/2008/02/sao-tome-atitude-do-empresario-jorge.html

As imagens  das escaladas, que qui revelo, são praticamente as que pude extrair das publicações que fiz na revista angolana, Semana Ilustrada, de que era correspondente em STP – 

A imagem da Bandeira Portuguesa, foi registada antes da independência, numa das bordas do cume,  num dos ramos do arbustos, a que foi ali desfraldada foi a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, da qual apenas disponho uma foto que a equipa fez na ponte do Caué.

Eu e a minha equipa, prezamo-nos de termos sido os primeiros seres humanos  a escalar a fantástica torre: - A pisar as rochas da sua monumental crista! - Ante de nós, só as aves que lá poisam ou nidificam nos arbustos  - Três anos em tentativas solitárias, e, nos quase dois seguintes, com a minha valorosa equipa santomense 






Majestosa e imponente agulha: Cão Grande, o pico que sai do coração do obó, da floresta virgem! - Rasga as densas nuvens ou se envolve em novelos de etéreas neblinas como se um enorme falo estivesse em contínuo coito a penetrar o éter donde caiem copiosas chuvadas sobre o denso e deslumbrante verde, que exalam aromas e perfumes intensos, perenes de vida, inebriantes, exultam a opulência, o milagre e a pujança viçosa do manto arbóreo que assim é fecundado pela estreita simbiose equatorial  que permanentemente se estabelece entre o húmus da  fértil terra vermelha e os ardentes céus azuis ou nublados  de chumbo ou prata - Sendo, por isso, simultaneamente, o guardião de uma prodigiosa vegetação, que floresce e se expande, desde o lume da espumosa e negra orla marinha aos mais altos e verticais penhascos, tão frondosa, bela e  luxuriante, como  a do Éden no  primeiro dia, em que Deus Supremo,  concebeu a  mulher e o primeiro homem , face aos olhos do Maravilhoso  Universo.




Obrigado por me acompanhar na memória à tão difícil escalada de um dos mais  belos e singulares picos do Mundo - Depois, se lhe sobrar um bocadinho do seu tempo, não deixe de  viver algumas das  emoções, por que passei, expressas no diário de bordo dos 38 logos dias numa simples piroga 30º Dia - Não comi nada: limitei-me a comer uma das barbatanas do tubarão. Tentei pescar e não consegui pescar nada 
.........ª .....33º Dia - Estou exausto!...........Dia 34º -  Sinto uma grande dureza no estômago.....37ª Dia Estou partidoTenho o estômago metido para dentro..




Escalada do Pico Cão Grande – em São Tomé – Reencontro de Jorge Marques e o Cosme Pires dos Santos , 40 anos depois – 05 - Agosto 2015 


DESMONTAGEM DA FALSA ESCALADA 

 Têm sido várias as apregoadas escaladas ao Pico Cão Grande -No entanto, pese o facto de as equipas que ali se deslocaram -  outras forjando escaladas ao Pico Cão Pequeno - disporem do  mais avançado equipamento, todos os testemunhos que tornaram públicos. videos e imagens, deixam mais duvidas de que certezas - Uma dessas equipas mandou-me um video, proclanando que está no Pico Cão Grande, mas com o seu perfil no hozionte 


Lá atrás fica o Cão Grande 
Estas duas imagens, com a legenda do Pico Cão Grande, que  Matteo Rivadoss"ha realizzato la prima salita assoluta dell’inviolato monolite di Cao Grande", pelo contrário, foram obtidas na crista do Cão Pequeno.
O Sr. Matteo Rivadoss, reagiu, através e e-mails, mas de forma grosseira e insultuosa - Mandou-me um filme mas  não veio acrescentar nada de novo - Respondi-lhe que, “a avaliar pelas imagens que faculta na internet e do filme que realizou, poderá convencer quem não escalou aquele pico –  A mim, que o escalei, não me convence. Mas estou certo que não estarei só, quando voltar a este assunto publicamente”  -Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

A escalada do Pico Cão Grande, em 12 de Outubro de 1975, foi tema de uma palestra  promovida pela Associação Desnível – Palestra: 40 Anos sobre a Escalada do Pico Cão Grande  Três horas de entusiástico convívio e fraternal diálogo, em que as ilhas de S. Tomé e Príncipe, embora bem longínquas, estiveram  continuamente no pensamento  de todos os presentes, não apenas do tema em questão mas sobre  outras abordagens - Nomeadamente a desmontagem da encenação  da “via mambo italiana”  de Matteo  Rivadossi - A que me refiro em  http://www.odisseiasnosmares.com/2016/01/escalada-do-pico-cao-grande-em-s-tome.html


Já lá vão quarenta e cinco anos, todavia as memórias, permanecem ainda hoje tão vivas, tão vibrantes, como se o tivesse acabado de  escalar – O que parecia  custar aceitar era o não reencontro, a não  partilha dessas mesmas emoções,  com o valoroso Pires dos Santos – Mas, felizmente quis o destino que, finalmente, na tarde de 5 de Agosto, 2015, nos reencontrássemos, num abraço fraternal e amigo, tal como o testemunha  o vídeo, gravado junto de sua casa, na companhia da sua mulher, e dois dos seus irmãos e do jornalista Adilson Castro.

Memórias ainda bem vivas - Quando ali voltei 

No centro culminante da sua crista, embora mais circular e maior do que aparenta na fotografia(também não se julgue que é a ponta de algum cinzel, pois, Cão Grande, é gigante dos pés à cabeça!) mas impensável  lá permanecer-se de pé! -. 
Só  num dia excepcional de bom tempo. Sob pena de  se  ser imediatamente varrido!   - Por isso, era humanamente impossível fixar lá fosse o que fosse, devido à força das correntes de ar (e do vento) e das condições em que se encontra a pedra, bastante rachada e muito  laminada! No entanto, há por lá pequenos arbustos que milagrosamente vegetam e resistem, graças à intensa humidade! -  Estávamos envolvidos por névoas e densos nevoeiros, que oram ficavam completamente cerrados ora se enrolavam  e fugiam de nós como trapos . Nem sei como logramos sair daquele  terrível sítio!

Quando iniciei a escalada fui alertado pelo comandante do Aeródromo de São. Tomé, da perigosidade das fortíssimas rajadas, devido às baixas pressões  e fortíssimas  correntes de massas de ar quente(que, em contacto com as mais frias descendentes) envolvem-se ou giram em torno dele, provocando chuvas inesperadas,  tornando-o  num centro aglutinador de imprevisível  turbulência e instabilidade atmosférica, dificultando e pondo em perigo qualquer avioneta que se aproxime.  Ou por via de  ficar instantaneamente encoberto, podendo ser  arrastada  para o eixo da sua ação centrifugadora ou estatelando-se às cegas contra a vertigem do negro e fusiforme rochedo  -  Tendo-se recusado a lavar-me lá para  fazer um reconhecimento aéreo. Por esse facto, escolhi a face menos exposta


Em Lisboa. Lembrando memórias
Constantino subindo subido uma escada


CONSTANTINO BRAGANÇA, UM DOS VALOROSOS MEMBROS DA EQUIPA - ENTÃO COM 19 ANOS  - Imagem à direita, nos degraus de uma escada  para vencermos uma superfície, dura e lisa, onde não era possível cravar cavilhas e que, se resvalasse, nos atiraria para o fundo do abismo nublado - REENCONTRO COM UM GRANDE AMIGO - A ESCALADA É ISSO MESMO:  UMA SÓLIDA AMIZADE E UM PROFUNDO COMPANHEIRISMO. - JÁ LÁ VÃO  37 ANOS,  AS BOAS RECORDAÇÕES MANTÊM-SE INALTERÁVEIS 

Auto-retrato - do Peregrino da luz - por  mares,  montes e picos

 
NÃO PERMITAS QUE NO MEIO DO CAMINHO DA TUA VIDA HAJA UMA PEDRA  QUE TE IMPEÇA DE SONHAR E DE TE TRANSCENDER -  Mas que seja o marco que abra os horizontes de esperança e de luz

MAS QUE SEJA O MARCO QUE TE ABRA OS HORIZONTES DE ESPERANÇA E DE LUZ 
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
 Carlos Drummond de Andrade


Um dia eu vi  uma enorme pedra no meio de uma linda floresta  - Atraído pelo seu fascínio, fui ao seu encontro - E, quando me apercebi, parecia  que essa pedra se atravessava no meu caminho - E só havia uma forma de impedir que essa pedra esmagasse os meus sonhos, escalá-la - E foi o que fiz:  inicialmente sozinho, depois com outros companheiros - Pois vi que era demasiado grande para as minhas possibilidades - A vida também nos ensina a ser solidários e a mostrar que a união faz a força - Foi o exemplo que depois tomei. E julgo que do mesmo modo, assim pensaram os meus companheiros que seguiram os meus passos.

Perdoem-me se veem nas minhas palavras autoelogio - Mas, a certeza dos nossos atos, quando bem sucedidos, porque não reconhecermo-los?.. -  Sim, poderei dizer, que, enquanto ao monte mais alto do mundo, acorrem, todos os anos, uns largos milhares de desportistas  - e é porque há limites ao número de expedições, mesmo tendo de desembolsar em equipamento,  viagens e taxas aí uns 100 mil dólares, mais deles vão lá apenas para o ver de perto - não são autorizados -  (Everest By the end of the 2010 climbing season, there had been 5.104 ascents to the summit by about 3.142 individuals)- e já foi escalada por alpinista cego e outro com próteses nas pernas) aos picos, às agulhas de pedra, a essas anónimas torres verticais, mais delas continuam ignoradas, muitos torcem o nariz - Parece ser o caso do Cão Grande: até hoje, além de minha equipa,  não houve alguém, antes ou depois de nós,  que ateste  ter subido as suas rochosas escarpas  As nossas fotos é que já foram reeditadas para sites da especialidade, extraídas da publicação que tínhamos noutro espaço, que para aqui transferimos - Mas soubemos que já houve quem lá fosse com esse propósito: Viram, contemplaram, admiraram, deram meia volta e foram-se embora - para desfazer dúvidas, fizemos o registo no site apropriado, em: - peakery No qual constam os picos de todo o mundo e as escaladas -: até agora fomos os únicos e os primeiros.  Não é motivo para nos pormos nos bicos dos pés - isso fizemo-lo lá muitas vezes -  mas para humildemente reconhecermos que no ser humano moram insuspeitáveis forças capazes de superar as maiores adversidades e de o transcender.

ACIMA DOS 200 METROS ERA DE CORTAR A RESPIRAÇÃO

Se a corda rebentasse ou uma cavilha se desprendesse (e era tudo tão improvisado e tão artesanal) estatelávamo-nos imediatamente no sopé. Talvez amortecidos pelas copas  da floresta que o cercam, mas apenas o tempo para a queda ser ainda mais horrível: de tomarmos consciência da morte que nos esperava sobre os blocos  de basalto em  redor - Numa das escaladas, o meu companheiro, que seguia uns metros acima, só teve tempo de me dizer: pedra!!! E eu encostar a cabeça à rocha. Ainda me tocou na orelha. Ele, foi menos feliz: uma lasca que se desprendeu apanhou-lhe o pulso, fez-lhe um grande golpe - Ainda hoje me custa a crer como ele se   aguentou e não cedeu à queda.  

A chuva era o maior  constrangimento  - quando chove a pedra fica como uma  enorme garrafa de vidro - E onde há musgos,  pior ainda! E, ali, no sul, chove quase todos os dias (pelo menos naquele tempo), e nós não não nos conformávamos por tão prolongada espera. A neve é o tapete ideal para se cravarem os pitões das botas na alta montanha, mas numa rocha lisa, deseja-se o mais seca possível.

No período da Gravana, que corresponde aqui ao Verão no Hemisfério Norte, chove um pouco menos. E, tal como em toda a ilha, não há praticamente crepúsculo. Logo que o disco solar se esconde no oceano, rapidamente anoitece; o mesmo acontece ao alvorecer; passa-se rapidamente da noite mais espessa à claridade mais radiosa. Quem anda na floresta ou faz uma escalada, já sabe que não se pode descuidar - Eu naquele dia descuidei-me.

Enquanto me aproximava do exíguo abrigo, uma trovoada  tornou repentinamente a parede basáltica  numa gigantesca garrafa de vidro - fiquei praticamente pendurado, e, nessa altura, estava sozinho sobre o abismo e fora do lugar de segurança - Foi uma noite horrível! A bem dizer, também não estava só: do fundo do arvoredo, ouviam-se muitos sons.E o que, hoje eu  mais recordo, é o cheiro do musgo húmido e da pedra (aquela pedra parece que ainda tem o cheiro da incandescência dos  magmas) e os perfumes inebriantes que vinham lá das copas e da folhagem. Onde os macacos faziam geralmente uma enorme algazarra e, quando por lá se passava (com o Sebastião abrindo caminho com o machim, a zagaia e as suas matilhas para capturar os porcos bravos) por entre fetos gigantes e lianas, não havia vez alguma que não deparássemos com as temíveis cobras pretas! - Mas ali também não há leões nem tigres ou outras feras selvagens

 Raras eram as noites ali bem passadas, mas aquela, de facto (e eu naquele  dia eu estava sozinho) afigurava-se ser de todas a mais dramática. A mente teve que funcionar a duzentos por cento. Impondo ao meu corpo a firmeza e a robustez de uma estátua. Envolto em espessas neblinas, chuva diluviana tropical e densas trevas, era impossível arredar pé. Era uma situação muito perigosa e desconfortável. O Ilhéu das Rolas, fica ali ao largo, não muito longe, frente a Porto Alegre - Estava quase sobre a linha do equador, mesmo assim, exposto todo à  noite, chuva, senti um grande desconforto,  devido arrefecimento do corpo..


Não dormi um minuto.  Abraçado àquele negro penedo, como que pedindo-lhe proteção. O que me valeu foi que havia uns esporões debaixo dos meus pés que me impediram de escorregar. A rocha estava escorregadia como óleo sobre mármore.

QUANTAS VEZES DESEJEI SER HOMEM PÁSSARO! - NO ENTANTO, NÃO PODENDO ALCANDORAR-ME A ESSA METAMORFOSE -   POR ALEGRIA OU TRISTEZA E IMPOTÊNCIA  -  , DEI MUITOS GRITOS COMO OS "GABÕES" DO MATO!... 


Quando era garoto eu adorava ir para a ladeira do nosso Lavor do Ferro, lá para os lados do Côa e correr por ali abaixo, abrir os braços e ter a sensação de voar. Depois, nas veredas da  boiça da Escola Agrícola, em Santo Tirso, ainda mais testei essa tentação de pássaro voador. Às tantas da noite, vendo-me ali pendurado, pensei mesmo nisso; algumas dessas recordações afloraram-me à mente... Apetecia-me ser um homem pássaro, ter asas de condor e voar ou ser o falcão que persegue os papagaios -Mas dei muitos berros.. À índio ou à gabão do mato. Cada ascensão mais difícil conquistada, era encher pulmões e extravasar a alegria! - A macacada no obó da capoeira, dava logo sinal e ficava em alvoroço! - Era uma coisa que eu fazia muitas vezes... De dia e de noite, sobretudo nas minhas escaladas solitárias.

De noite era mais para espantar fantasmas ou comunicar com os meus companheiros ermitas. Naquela altura, havia trabalhadores que fugiam das roças(devido aos maus tratos - sobretudo moçambicanos e cabo-verdianos) que se refugiavam no mato - chamavam-lhe os gabões; viviam da caça, que trocavam com outros bens alimentares nas aldeias. Eu imitava o grito deles. E, por vezes, eles correspondiam: dos arredores e lá do fundo do arvoredo, em torno do  Cão Grande

 Oh! sim, mas ali no meio daquela escuridão alagada de chuva, se despegasse os braços da rocha e os abrisse, a queda era fulminante como o chumbo. Mais tarde pedi ao meu grande amigo Pires dos Santos para me tirar ali uma foto. Queria recordar aquela noite que poderia ter sido a última da minha vida - Tudo era escuro e viscoso. Mas eu tinha que zelar pela minha vida: não queria precipitar-me no abismo e morrer;  lá fui resistindo, conforme pude. Só Deus, sabe como...

 DESDE AGOSTO DE 1970  (17 ANOS APÓS A CONQUISTA DO EVAREST  - Ainda quase nos alvores do alpinismo - PRINCIPIAVA UMA DAS MAIS ARROJADAS AVENTURAS DA  MINHA VIDA - Que iria prolongar-se por quase cinco anos de sucessivas tentativas - Sem os recursos técnicos da atualidade -  para os quais não há impossíveis! Em dezenas de escaladas de ascensão livre, subidas a pulso, exceto  dois  lanços com escadas, servindo-nos dos meios mais artesanais. Quem lá for ao sopé, só ali poderá admirar o nosso esforço épico.

 Pois, mesmo  recorrendo às mais modernas técnicas, o Cão Grande continua a ser um desafio à altura das grandes escaladas mundiais do alpinismo extremo e vertical -  Quem tiver dúvidas, vá lá: experimente encostar a barriga à pedra,  suba-o, que ele é grande mas não faz mal.



  EQUIPA: Eu próprio, Jorge Trabulo Marques; Cosme Pires dos Santos - pai de uma criança, arriscando a vida e pondo em causa a sobrevivência familiar; o Constantino Bragança, que, por algumas vezes,  também chegou a pernoitar por baixo da cume do pico, onde mal cabiam duas pessoas sentadas  e tínhamos de ficar com as pernas ao dependurão, amarradas por cordas a frágeis arbustos e a cavilhas. Pois era ali que pernoitávamos e se fazia o último assalto ao cume.  Os guias, Sebastião, Banga e o  Chico, que era capataz na Ribeira Peixe. Além de nos  ajudarem a transportar o equipamento até ao sopé, um deles, o Sebastião, chegou mesmo a acompanhar-nos na escalada   até ao acampamento base, situado, sensivelmente, a dois terços da crista.




Envolvidos por nuvens e denso nevoeiro. Raramente havia uma aberta. De facto, tanto o Constantino, como Pires dos Santos, foram valorosos e destemidos alpinistas - Porém, foi na companhia do Constantino que iniciei as  primeiras escaladas  - E, obviamente,  com os meus inseparáveis guias: o Chico, trabalhador da Roça Ribeira Peixe, que nos acompanhava, sempre que podia, especialmente aos fins de semana. E o Sebastião, morador na pequena aldeia dos "angolares" da Praia Grande, companheiro, sempre voluntarioso, quer para nos orientar na floresta, quer para nos ajudar a transportar o material. Caçador de javalis - abria caminho e, por vezes, também lá ia na lâmina do machim uma serpente. Sobretudo as que estavam dependuradas nos ramos do nosso trilho, não escapavam.

NO DIA 12 DE OUTUBRO DE 1975, NO BORDO DA CRISTA, VOLTADO A NASCENTE E PRESA A UM RAMO, FOI HASTEADA A  BANDEIRA NACIONAL DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE  de que não temos imagem  - Oferecida pela Associação Cívica Pró-MLSTP, no princípio desse ano.

 É da tradição alpinista içar a  bandeira, quando se conquista pela primeira vez um cume  -  Da nacionalidade de quem faz a escalada e também do país onde se vence o cume do pico ou da montanha - E assim procedemos. Hoje é já um hábito, quem escale o Evarest levar um pendão do seu país -  Eis o número de visitantes, em Julho de 2008: "40 000 pessoas fazem a escalada pelo lado chinês e 20.000 pelo lado nepalês. O Nepal, que não divulga cifras sobre o lixo em sua face do Everest, diz que não pretende limitar o número de turista" - E o resultado é Um Everest de lixo

OS ARBUSTOS QUE SE VEEM NA FOTO E ACIMA DA CABEÇA DO PIRES É O CUME DO CÃO GRANDE - PARA LÁ  COLOCARMOS A BANDEIRA NACIONAL DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, FOI QUASE MAIS DIFÍCIL DE QUE O RESTO DA ESCALADA. - Infelizmente, não tenho as imagens - Saí de São Tomé para atravessar o oceano  numa canoa. E deixai lá o meu espólio.

Vencidos os maiores obstáculos, com as escadas  que o Constantino logrou construir nos estaleiros do meu amigo Germano Castela (o principal colaborador  e onde também  cortávamos as cavilhas, sim, graças às cantoneiras que eu levara de Lisboa, no seguimento da travessia de canoa à Nigéria), também os pontos mais altos atingidos foram balizados, agora pelas duas bandeiras: a  portuguesa,  uns metros abaixo da crista e a do jovem pais, já nos arbustos do cume. Onde, só com muita dificuldade, se logrou  hastear a bandeira de São Tomé e Príncipe - E que bem ali ficou! com os seus verdes e amarelos a drapejar! Aliás, qualquer delas. Ambas foram lá colocadas pelo  Pires dos Santos; eu encarregar-me-ia de fazer a foto para a posteridade  -  Veja onde ele assenta os pés: não mais de um palmo! Estava descalço e na ponta dos dedos  era o abismo. - Os arbustos que se vêem acima da sua cabeça, são já os da crista

 A bandeira portuguesa foi içada no Pico Cão Grande, em Março de 1974 - antes do 25 de Abril  - no ponto máximo então atingido - Imagem à direita - Mais tarde,  com as novas conquistas, hasteámo-la a escassos metros abaixo da crista, presa a um ramo. - imagem acima à esquerda.  A de São Tomé e Príncipe, num dos ramos do cume. - Mas, antes de ali a desfraldarmos, já, em Janeiro de 1975, a havíamos içado junto à bandeira portuguesa -  Era a primeira bandeira a ser publicamente desfraldada  num dos pontos mais inacessíveis do arquipélago! -Não pudemos levar para lá o tubo,  onde era costume assinalarmos o ponto máximo conquistado. Usámo-lo no apoio da última escada, que ficou ligeiramente horizontal para vencermos uma enorme concavidade. . Tiveram  de  ficar lá presas a frágeis  ramos de arbustos.


ÚLTIMA ESCALADA,  - A grande conquista ao cume sem todavia nos podermos pôr de pé e erguermos os braços - Lá no alto, nunca descolámos o corpo da rocha. Mais nos assemelhávamos às serpentes da floresta de que a alpinistas! 

No dia em que nos preparávamos para  desfraldarmos a bandeira  no centro da crista (pois já tínhamos o último lanço vencido) houve uma ameaça de chuva, e, fazendo-se tarde e para não sermos surpreendidos pelo mau tempo e ficarmos encurralados, dada a ventania que então já soprava, só tivemos tempo de a fixar a um ramo (em área abrigada da crista, no bordo a nascente)  não ao centro, como seria nosso desejo, onde, aliás, também não seria possível segurá-la.  Pois a  rocha estava (está) toda lascada e fragmentada pela erosão, devido aos raios, que ali caem com frequência, que provocam fissuras e desmoronamentos - Meu Deus! E que tremenda sinfonia de estampidos, ali não cheguei a ouvir, sozinho num dia à noite, em que fui surpreendido por copiosa trovoada! Com os relâmpagos a fuzilarem as paredes de alto abaixo, o estrondo do trovão a repercutir sobre o escuro tecto - Mais parecia  a Torre do Inferno, em que o diabo andasse por ali de forquilha incendiada à solta!- O que vale é que é basalto maciço, senão o pico há muito não existia! - Mesmo assim, vêem-se  por lá muitos blocos rachados, em vias de se desprenderem.

Assistimos a alguns desprendimentos e derrocadas, com enormes estrondos na floresta - E é nos dias de maior calor que se soltam! - Mas não é caso para se pensar que o Cão Grande tem a morte anunciada ou os dias contados: nada disso! O fantástico monstro canino está ali como sentinela para resistir e se perpetuar! - Sabe-se lá que por milénios! - Oxalá a  Humanidade o possa continuar a merecer. - Pois,  mais de que um espantoso testemunho da Mãe-Natureza,  sobressaindo majestoso do seio da verdejante floresta, em toda aquela maravilhosa vasta área  do sul da Ilha, doado  pelos supremos deuses ao seu generoso e pacífico povo, é, indubitavelmente, uma das mais impressionantes jóias negras do Património Natural da Humanidade!




QUANDO O SILÊNCIO FALA MAIS ALTO  DE QUE TODAS AS PALAVRAS OU PICOS DA TERRA...

Rastejamos como as cobras...que evoluem nos troncos e pernadas, sejam de casca dura ou mole e em qualquer posição.   Não se distingue outra paisagem que as névoas que nos envolvem e quase apenas os escassos palmos de rocha negra e agreste que temos debaixo do corpo e dos pés. Paira sobre nós e à nossa volta, não a sensação  de liberdade (que tanto desejávamos) aquele  sentimento de nos sobrepormos aos flancos de um perpendicular e inóspito monumento  à  natureza, mas um tremendo vazio, algo que mais nos aprisiona à sua dureza de que nos liberta dele.  Naquela altura, em que ali nos encontrávamos, os nossos nervos estavam tão ou mais maleáveis que as cordas de nylon (que, aliás, nunca dispusemos) e talvez  tão duros e flexíveis como fibras de aço. A nossa sensibilidade era tal qual a corda de uma arpa que reagem conforme a humidade atmosférica. Quase não falávamos e não festejamos a nossa conquista. O Constantino é que de volta e meia insistia para nos retiramos e não sermos apanhados pelo tornado. No entanto compreendíamos perfeitamente a ansiedade ou serenidade que ia no coração de um e do outro.  Só nos concentrávamos na nossa única obsessão. Concluir a escalada e abandonar aquele lugar (fantasmal) o mais cedo que pudéssemos. Sairmos dali vivos!..  E era essa certeza que não tínhamos.



Confesso, porém, que hoje me arrepio, ao lembrar-me dos riscos a que nos expusemos.  As névoas e o nevoeiro, que rodopiavam e se  envolviam em grossos rolos movediços, embora nos poupassem da vertiginosa visão do abismo, quase nos arrastavam no mesmo turbilhão, tornando a rocha escorregadia e fazendo-nos redobrar os cuidados!. Foi na segunda semana de Outubro de 1975 - Já em plena época das Chuvas. Mas, em qualquer altura do ano, ali o tempo é muito instável. Apesar de tudo, no ponto onde desfraldamos a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, também ficou bem. Consideramos, por isso, vencida a escalada. E não voltámos lá - Não arriscámos a vida por medalhas - (e também ninguém no-las daria) foram escaladas solitárias, longe das vistas de toda a gente e dos holofotes de que gozam as montanhas famosas - No entanto - e falando por mim - haverá maior alegria de que não depender de ninguém e vencer o impossível?!...



Nesta última escalada, poucas fotografias fizemos, além da tiradas à bandeira, envolvida em novelos de espessas névoas num dos arbustos do cume. - Mas eu tinha muitas fotos de outras escaldas - e das duas Ilhas. -  Possuía várias  centenas de negativos, mas não os levei comigo, receando que se pudessem estragar com a água do mar.  Foi pena: de véspera,  eu tinha-os recortado e metido em várias caixinhas. Mas, ao abandonar  a casa da minha companheira, hesitei... E por lá  ficaram.. Infelizmente, já faleceu. .Tudo o que tenho é de fotos de um álbum e de um antigo postal, que pessoa amiga (o Sr. Afonso Henriques),  mais tarde, me fez o favor de me trazer. Estive doze anos em São Tomé e o que de lá trouxe, pouco mais foi que algumas peças para me vestir.  - E se não fosse o apoio que tive de algumas generosidades, nem sequer tinha dinheiro para mandar  abrir a canoa num  tronco da floresta  - E que longos e atribulados não foram aqueles 38  dias!... A maioria dos quais sem água potável e alimentos

A ÚLTIMA ESCALADA:  FOI DE COROAÇÃO MAS NÃO DE GLÓRIA  - POIS BEM PODIA TER SIDO  O ÚLTIMO DIA DA NOSSA VIDA - ESCALARMOS E DESCERMOS, JÁ NOS DÁVAMOS POR FELIZES.

 A derradeira escalada não foi para nós o  motivo do júbilo que esperávamos - As condições atmosféricas agravaram-se e, devido à força do vento e à chuva iminente, deparámos com imensas dificuldades na retirada (estávamos a ver que éramos varridos) e foi  tremendamente difícil hastear a bandeira num dos ramos dos arbustos que despontam nos bordos da crista. Nesse dia,  a sensação foi mais de apreensão de que glória e alegria.  Mas estivemos lá. Não  podíamos era descolar o corpo da rocha.  Foi tal o risco a que nos expusemos, que, nem mesmo já depois de estarmos a caminhar tranquilamente na floresta, quebramos o   silêncio  profundo a que nos remetemos - 

De regresso, por vezes, parávamos e assomávamo-nos  por alguma clareira  para lhe darmos  a última olhadela,  em jeito de despedida. Como se olhássemos para um amigo que, apesar de tudo, nos  havia protegido e poupado a vida.   Caminhávamos calados e algo confusos.. O Sebastião, nosso guia, daquela vez, ousou subir até ao acampamento base para nos ajudar a puxar algum material. Na primeira noite ficámos ali todos juntos, recostados às reentrâncias da rocha. E foi até ele, recordou-me o Constantino, que, com os seus olhos argutos de experimentado caçador,  se apercebeu de uma cobra preta, pouco antes do pôr do sol. Nas duas noites seguintes, ele ficou sozinho e o resto da equipa, pernoitou junto ao cume. Os cães ficaram por lá, em redor do pico, à caça dos porcos bravos.  

JUNTO AO CUME, ESTÁVAMOS ENVOLVIDOS NUM  TAL TURBILHÃO DE NÉVOAS, QUE A REALIDADE TAMBÉM ERA DISTORCIDA  -  QUE O DIGA O CONSTANTINO - MESMO 37 ANOS DEPOIS - A MEIO DA ESCALADA (NA SUBIDA) A SERPENTE DA PREMONIÇÃO -  EPISÓDIO QUE ELE TAMBÉM NÃO ESQUECE - Video editado no Yotube -https://www.youtube.com/watch?v=2zUMvTbzpUQ


 COBRA PRETA DO BOM AUGÚRIO NO MEIO DO PICO...NAQUELE DIA DEU-NOS TUDO: ASSOLOU-NOS  COM UMA VIOLENTA TEMPESTADE, FEZ-NOS APANHAR ALGUNS SUSTOS E ABRIU-NOS AS PORTAS PARA CONCLUIRMOS COM ÊXITO  A NOSSA ESCALADA

De regresso, o Constantino, naquele dia  - avaliar pelas perguntas que nos fazia -, parecia não estar ainda certo se havíamos atingido o cume - É que ele deu lá uma escorregadela, que por pouco não o atirou para  os pés do pico. Vendo que o mau tempo se agravava, abrigara-se numa pequena gruta que as névoas cobriram completamente. E insiste para nos retirarmos. Ele fala de um altar, como se fosse a morada de alguma entidade sobrenatural. Era certamente o efeito visual, a distorção que lhe produziriam as cerradas  névoas que nos fustigavam em permanente convulsão (a que ele hoje chama de neve) que certamente lhe daria essa sensação ou imagem distorcida. Se não fosse ajuda dele, já não conseguia lembrar-me da misteriosa gruta: e também já não me recordava da cobra preta, que vimos a meio da escalada - a única até então naquelas vertentes rochosas  -Ele fala de um sinal - Pelos vistos, um sinal com várias leituras

"A serpente é uma antiga divindade da sabedoria no Médio Oriente e na região do mar Egeu,  sendo, intuitivamente, um símbolo telúrico. No Egipto de Rá e Àton "aquele que termina ou aperfeiçoa") eram o mesmo deus. Áton o "oposto a Rá," foi associado com os animais da terra, incluindo a serpente.In Serpente (simbologia - Eu e Pires preparávamos-nos para o assalto à crista, estávamos  um pouco mais a cima do ponto onde ele se encontrava - Mas relativamente próximos. Não o víamos. E ele, também,  só com muita dificuldade nos podia ver.  Mas era mais fácil ver-nos de que nós a ele. De volta e meia insistia para que nos retirássemos, devido à tempestade que nos atingia. Ventania e névoas - com iminência de chuva. Mas, enquanto não prendemos a bandeira num arbusto da crista, não arredamos dali pé. 

Porém, a maior chuvada - felizmente - só foi a meio da descida - De regresso, pelo espesso obó, as nossas mentes ainda não tinham serenado complemente; não nos sentíamos ainda refeitos do  desgaste e da ansiedade.  No entanto, o Constantino,  não sei onde é que ele ia buscar tanta coragem e tanta energia, era sempre o que parecia  denotar menor cansaço; caminhava mais folgado  de que nós. Foi sempre um bom amigo e muito solidário - Distribuía-me a revista Semana Ilustrada, editada em Luanda. Foi em casa dele que eu estive vários dias refugiado - quando os colonos, abandonaram as roças e invadiram o Palácio do Governador,  quiseram fazer de mim o bode expiatório da conturbada e precipitada descolonização. Salazar e Caetano, tiveram todo o tempo do mundo para o fazer mas perderam o comboio da história -  Evitava-se uma guerra estúpida e o derrame de tanto sangue -  Mesmo assim, em São Tomé, embora com muitas privações, apenas  houve uma vítima. Numa manifestação, embora acalorada mas pacífica, uma bala da tropa, colheu uma vida.






O Pires dos Santos,  que sempre se revelara um extraordinário escalador, naquele dia, regressava um bocado afetado: a queda de uma pedra, não sei como não atirou de ali abaixo. De volta e meia, saía-se sempre com a mesma observação: - parece que estava a delirar: "Jorge: a bandeira de São Tomé e Príncipe tem de lá ficar hasteada num ferro cravado; assim, a  chuva e o vento vão arrancá-la...Nos derradeiros lanços, só estávamos os dois...  Numa parede vertical, cheia de afiados esporões!  Imersos em tão cerradas névoas, quase perdemos a noção donde nos encontrávamos. Pelo menos eu,  ainda não seria nos dias seguintes que ficaria complementarmente recuperado - Andei várias noites, acordar com pesadelos. Aliás, ainda hoje os tenho: às vezes acordo a gritar, que vou cair por  ali abaixo. E comovo-me muito..  Muitas  destas linhas, que já revi por várias vezes, estão cheias de lágrimas.

Mas, voltando ainda à forma como nos sentimos na nossa retirada, após alcançado o cume: oh Deus!... Que vertigem!...Não víamos nada, mas pairava aos nossos pés um imenso vazio!...Descer, ainda chegava  a ser bem mais difícil de que a subida, sobretudo quando não víamos onde apoiar a ponta dos pés . E o Pires vinha ainda possuído da mesma obsessão da bandeira... "Onde tens a bandeira, Jorge?!.".. Lá só me perguntava pela bandeira.. Queria ver a bandeira como se fosse  hasteada no topo da torre do campanário de  uma igreja.... - Também eu alimentava a mesma  determinação... Mas onde a desfraldarmos?!... Senão num dos frágeis ramos  descaídos. Era o vento e não havia como!... E os relâmpagos, que riscavam o cerrado manto nublado, com os seus flashes incandescentes, dávam-nos sinais sinistros e preocupantes   Pressentíamos os riscos e tínhamos consciência de que nos devíamos imediatamente retirar. 

Porém, ao mesmo tempo, algo de luminoso e de terrível nos de seduzia e  nos fazia quase perder a noção da realidade. Sim, a nossa escalada ao cume do Cão Grande, era mais de que uma ideia fixa: uma porfiada e obsessiva imagem! - À medida que subíamos, sentíamos o prazer da conquista e deslumbrávamo-nos com a paisagem, mas  o nosso maior desejo era vermos desfraldada a bandeira no cume (drapejando  acima de todos os ramos), essa era a nossa grande meta - o nosso  maior sonho! - Vê-la apenas hasteada ao resvés da ramagem,  era muito pouco para quem arriscara tanto. Mesmo assim, acima dos nossos olhos e à nossa volta, só havia um mar de névoas!
 ....
Ele que  chegara a hastear a bandeira portuguesa, lá num ramo, próximo da crista (eu fazia as fotos) via, porém,  na bandeira do seu jovem país, o grande motivo de orgulho da sua escalada, parecia ainda não estar conformado. Eu partilhara com ele do mesmo entusiasmo mas respondia-lhe: "Está tranquilo. No sítio  onde hasteaste  a tua bandeira,  ela ficou lá muito bem colocada!..Agora vou pensar noutra aventura" " - Pois, mesmo que fosse içada numa verga de ferro, também não tardaria  a ficar só o ferro. E, este, por sua vez,  a desaparecer com a corrosão.  A bandeira não era para ficar ali perpétuamente mas para assinalar um momento - E  esse momento, quase nos ia custando a vida. 

Nesse dia, uma pedra desprendeu-se e voltou a feri-lo num braço. E  já noutra escalada havia apanhado um enorme lenho num pulso e a mim quase me ia caindo uma na cabeça, que ele desprendeu. O Constantino também escorregou -  Eram riscos permanentes: o de nos cair uma pedra, não tínhamos capacete (e havia constantes desmoronamentos de lascas) o perigo de escorregarmos e nos estatelarmos ao fundo do abismo, eram situações que moravam lado a lado connosco. Não havia uma escalada, em que não  conhecêssemos um instante, em que não pensássemos... "Ai meu Deus!... Por pouco!..." - E, desta última vez, tivemos muitos desses instantes... Daí,  nem sequer  depois me atrever  a exprimir as emoções a  ninguém. Optei pelo silêncio. Chegando mesmo a dizer (para abreviar a conversa) que ainda lá tínhamos que voltar, que nos faltavam uns metros. Quem nos tomaria a sério?!...Se calhar, ainda agora. E, na verdade, eu próprio, ao relançar a memória nas várias tentativas por aquelas alucinantes escarpas, ainda hoje mal acredito  do que fomos capazes. Mas fomos!

COBRA PENDURADA NUM RAMO, QUASE ME IA PICANDO - POR ALI ANDAM AOS MOLHOS - A FLORESTA ESTÁ INFESTADA POR SERPENTES NEGRAS, QUE BRILHAM COMO ESPELHOS  E DE  ACASTANHADAS E PELUDAS TARÂNTULAS DE ENORMES PATAS

" Jorge! Baixe-se!" - Naquele dia eu ia à frente e o cães, nossos habituais batedores, andavam entretidos em farejar os porcos bravos:  e, sem me aperceber, parado e olhando para trás,  tinha uma enorme cobra dependurada pelo rabo e meia enrolada quase a tocar-me na cabeça . Nesse dia era a única que vimos, mas podia ser fatal. Num golpe fulminante de mestria, cortou-a junto a um palmo da língua.  

De facto, ali  é necessário algum cuidado: o obó mais denso é o ninho preferido delas. À volta do Cão Grande, andam aos molhos. Não é uma imagem  muito agradável Ver-lhe aquele brilho negro brilhante metálico, cabeça achatada a lembrar a dos patos e umas excrescências amarelas no pescoço. Com os porcos,   mal os presentem, deslizam  logo para os buracos  ou pelas árvores.  Se lá for, faça como se fosse ao jardim zoológico: veja-as e deixa a bicharada selvagem em paz.

 Hoje reconheço que não é preciso  matá-las - Porém,  quem se depare com tão arrepiante imagem, a tentação de as eliminar, é quase irresistível. As cobras pretas comem os ratos, os maiores roedores do cacau.E só mordem se forem pisadas ou tocadas.E tantas as vezes que por lá passámos!... Só por muito azar...  Quem se submetia mais a esses riscos eram os pobres trabalhadores nas roças, que andavam descalços. E até à mordedura de enormes centopeias e tarantulas De facto, alguns, também  foram vítimas de mais essa adversidade. Pessoalmente testemunhei um caso.

CONQUISTA PALMO A PALMO 

Dobragem de perigosa saliência - no ataque à crista.Enquanto não prendemos la uma corda (com um arame fixo a uma cavilha, para maior reforço) era uma autêntica jogada de roleta russa.

Na zona da garganta, em que o "Cão" levanta altaneiro  a sua cabeça,   ficávamos sempre com os pés e as pontas dos dedos das mãos a sangrar. Escalávamos descalços, em meias, para uma maior adesão à pedra.Não dispúnhamos de calçado adequado. A rocha, corroída pela erosão, sendo a mais exposta aos ventos, nevoeiros e às chuvas, estava laminada como navalhas.


 A escalada ocupava-nos sempre três dias: o primeiro para chegarmos ao sopé e atingirmos o único abrigo - e tínhamos de largar da aldeia dos "angolares", na Praia Grande,  cedinho, onde, aliás, pernoitávamos; o segundo dia era para progressões e o terceiro para descida e o regresso. Mas houve várias escaladas de quatro dias. Cada tentativa ao Pico Cão Grande,  era o recomeçar de novo pelas mesmas paredes rochosas e escarpadas arestas, apoiar os pés nas mesmas cavilhas e ter por baixo dos olhos, a vertigem do abismo abrupto. 

Foram dezenas de idas e vindas - de persistentes e perigosas escaladas -No abrigo, junto à crista, numa pequena reentrância que ali existe, pernoitávamos apenas com o espaço de nos podermos sentar, com os pés soltos sobre a grande vertigem., amarrados pela cintura a uma corda que pendíamos a uma cavilha de um lado e do outro. Era praticamente uma noite inteira de vigília: - imersos em cerradas trevas de névoas, era-nos  muito difícil adormecer e pregar olho.

As horas eram infinitas, uma sensação horrível!... Aí  respirávamos mais humidade (nevoeiro)  de que ar atmosférico. Passávamos o tempo a tossir.  Houve um dia em que fui apanhado pela noite na floresta. Pois nem sempre o Pires dos Santos ou o Constantino, estavam disponíveis E o Sebastião, levava-me lá mas depois ia-se embora. Lá ficava eu entregue ao meu silêncio e à minha sorte. E, nesse dia, eu não esperei por ele, choveu e a rocha estava muito escorregadia, tive que me vir embora - Mas anoiteceu-me no caminho.. Surpreendido pela  escuridão, comecei andar por um ribeiro abaixo, como um tolo: no emaranhado da floresta era impossível caminhar. Mas desisti, pois escorregava, caía e mergulhava nos pequenos açudes a cada passo. Queria era fugir aos mosquitos, que os apanhava na cara às mãos cheias e quase me devoravam vivo. Mas lá tive que os suportar até que amanheceu, sentado na boda da linha de água, que às tantas (devido a uma trovoada a montante) engrossou de caudal e me ia arrastando.

Cavilha que nos soltasse das mãos, não mais a víamos O equipamento rudimentar e todo improvisado. Cada  um dispunha de uma verga de ferro, com cerca de dois metros de comprimento (das  usadas no betão da construção civil), recurvada num dos extremos e pontiaguda, com o ferrão da  qual, por vezes, nos elevávamos para escalar ou transpor faces das rochas ou outros obstáculos onde não nos era possível fixar cavilhas ou estribos de corda. Aliás, graças à mestria do Constantino, era com essas vergas que também fazíamos as cavilhas.  No entanto, não nos davam muita confiança. O risco era permanente: mas tínhamos que nos habituar a conviver com ele. O apelo ao cume, era maior - O Pico  fascinava-nos!

NO DIA EM QUE,  AO SUBIR  A ESCADA, SENTI TREMURAS NUMA DAS PERNAS  E TIVE DE ME ABRAÇAR AOS DEGRAUS PARA NÃO ME ESTATELAR LÁ  AO FUNDO!

Falando, por mim: houve momentos em que cheguei a recear que não ia aguentar: que podia voltara a ter mais alguma cãibra . Eu já as havia tido no degrau de uma escada, de 20 metros, com secções de cantoneiras de 3m em alumínio, que lá montámos, para vencermos uma rocha maciça sem fendas regulares onde não conseguíamos meter uma cavilha. Que fixámos por arames e com uns apoios do mesmo material . Os degraus eram muito finos. Às tantas, deixei de ter resistência numa das pernas e senti  tremuras. Valeu-me o Pires dos Santos, que já tinha subido e me mandou uma corda, à qual me amarrei à escada, até atenuar a cãibra. Enquanto, no sopé, era segurada pelo Constantino. Os últimos cinco metros eram inclinados, o que impelia a escada a dessoltar-se a cada instante e a projetar-nos no espaço - Sempre que pisávamos esses últimos degraus cimeiros e nos desviávamos da vertical, era uma sensação que provocava  alguns calafrios


Nunca subíamos ao mesmo tempo, receando que, com o peso dos dois, se  desprendesse. Enquanto, um subia, o outro ficava a segurá-la na base. Depois do primeiro subir, este aguardava lá em cima, com uma corda pronta para qualquer emergência. A nossa sorte é que, a partir dali, havia quase sempre nuvens ou nevoeiro e não víamos nada lá para baixo. Mas era sempre uma sensação estranha de abismo e de vazio.

Era preciso ter muita serenidade e presença de espírito. Nada de pressas!...Era a nossa vida que estava em risco...Cada movimento era feito com muita calma. Requisitos que fomos adquirindo com o tempo e à medida que nos íamos adaptando à convivência com as alturas. Porém, só Deus sabe!... O risco era constante e exigia-nos muita agilidade, paciência e um enorme esforço. Os nossos olhos só viam o cume... e parecia-nos sempre tão perto!... Até parecia que nos desafiava: vinde, amigos a ter comigo! Eu sou a ponte no meio do Mundo entre a Terra e o Céu!... Deus vos abençoará!...

Fazia desse desafio um desígnio, uma missão (e também uma bofetada, sem dor, a quem me tinha humilhado ali na Roça) e incuti esse entusiasmo e essa vontade aos meus companheiros. O Pires dos Santos, trabalhara ali na Ribeira Peixe, subindo às palmeiras do dendén  e sabia o castigo que me haviam dado por eu me ter recusado a tratar os trabalhadores por tu,  segundo os velhos hábitos coloniais: - E o Sebastião, fora ali capataz.


O CONSTANTINO BRAGANÇA 

Caro companheiro, sabes quão difícil nos foi transportar as cantoneiras pela floresta e depois puxá-las uma a uma lá para cima. E também quanto nos custou montá-las naquele sítio!... Claro, com a preciosa ajuda do teu conterrâneo, Constantino Bragança. Ótimo amigo e companheiro.

Como te recordarás, houve dois grandes obstáculos: o da primeira escada e um outro (lá junto à crista) em que tivemos que dobrar aquela perigosa saliência!... Meu Deus!... Como conseguimos!... Mas este também não ficava atrás... a escada era realmente muito vulnerável.!... A superfície das travessas magoava. Mas tu ali eras mais ágil do que eu e subias a escada como se estivesses a trepar a uma palmeira.... Lembras-te daquela vez.... quando me viste atrapalhado?!... E tu insistias: Jorge!... Sobe!... Tem calma!... Tem calma! ...Não olhes lá para baixo!... Olha para mim... Jorge!...Olha para mim!... Mas... dessa vez... não sei como... comecei a tremer a tremer... Um dos meus pés começou a tremer-me cada vez mais... E, enquanto tu não me lanças-te a corda... eu tive que enfiar os braços nos degraus e apertá-los contra o peito. Obrigado, companheiro! ... Lá me vales-te!... Estava a ver que dessa vez não me controlava.


DESAFIOS PARA HOMENS VALOROSOS E ONDE POUCOS PÕEM OS PÉS! - MAS O ALPINISMO EXTREMO E LEAL, JÁ NÃO MORA NAS   MAIORES MONTANHAS DA TERRA  MAS NOUTROS MONTES E PICOS DESCONHECIDOS -  Os maiores obstáculos estão assegurados por cabos  e escadas fixas, ali deixadas pelos organizadores das expedições, que funcionam como empresas de turismo, extorquindo avultadas somas.

Diz Eric Shinpton. no livro " A Conquista do Evarest": "Ouvia-se, com frequência, a afirmação de que, infelizmente, após a conquista do Evarest, não restaria qualquer ponto da superfície da terra que o homem não tivesse pisado. Nenhum explorador concordou jamais com tal afirmação; e, para um montanhista, ela constitui um disparate" (...) "Parte dos que foram vencidos pertencem ao grupo dos que menos dificuldades oferecem. Muitos, de tantos que restam, exigirão muito mais trabalho e perícia." (...) Há milhares de outros. A grande maioria não tem nome. Nem se lhe conhece a altitude.(...) Alguns deles são bem mais difíceis de qualquer dos gigantes."

"Branca a espuma e negra a rocha,
Qual mais constante há-de ser,
a espuma indo e voltando,
A rocha sem se mexer?"

Excerto de poema de Caetano da Costa Alegre  - Nasceu em São Tomé, a 26 de Abril de 1864, faleceu em Lisboa, a 18 de Abril de 1890....CAETANO DE COSTA ALEGRE – POESIA AFRICANA - SÃO TOM


 
SE NÃO QUER FIGURAR NO ROL DOS LAMENTÁVEIS EXEMPLOS DO CONSUMISMO DESREGRADO E A QUALQUER PREÇO, AINDA HÁ UM PARAÍSO TERRESTRE QUE ESPERA POR SI - SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE!

 Se é saudável a convivência com a natureza, não menos importante é a consciência da sua preservação - Todos os anos, a montanha mais alta do mundo é invadida por  toneladas de resíduos abandonados por alpinistas ávidos de emoções mas sem escrúpulos e respeito para com o ambiente e até para com  outros escaladores, que não se importam de abandonar pelo caminho,  transformando-a numa triste montanha de lixo Por isso mesmo,  e tal como já se receia - por culpa dessa e de outras agressões, que não tarde a que Alpinistas vão escalar Everest sem neve




3D Google Earth Map of the Cao Grande

ALTURA DO CÃO GRANDE NÃO É IGUAL A TODA A VOLTA - TEM FACES MAIS FUNDAS DE QUE OUTRAS E CERCAM-NO ENORMES ÁRVORES, QUE ENCOBREM GRANDE PARTE DA SUA BASE, ACIDENTADA E MUITO IRREGULAR

    Assenta e descai num desfiladeiro, que se confunde com o próprio pico  - Pelo que  existem algumas discrepâncias quanto à sua verdadeira altura - Tudo depende da vertente em que for feita a medição - Há vertentes que se afundam, perpendicularmente, várias dezenas de metros do nível do monte onde se levanta.  Se for fotografia área, é muito difícil a sua mediação, visto estar rodeado de espesso manto verde - Impenetrável à objectiva fotográfica.  Os dados oficiais apontam para 300 metros  The Pico Cão Grande (Great Dog Peak) is a landmark volcanic plug peak, located at 0°7′0″N 6°34′00″E in southern São Tomé. It rises dramatically over 300 m (1,000 ft) above the surrounding terrain and the summit is 663 m (2,175 ft) above sea level.- Geography of São Tomé and Príncipe - Wikipedia,

Estas duas imagens não são de minha autora -  A da direita é do Instituto de Investigação Cientifica Tropical,




Há, no entanto, quem refira  824 pés / 251 m - E o caso do conceituado site http://peakery.com/pico-cao-grande - Depende da vertente. Algumas das suas faces, creio que excedem à vontade os 300 metros. 

Há flancos que não é fácil distinguir onde termina o morro e se destaca o Cão Grande.  - Devido ao cerrado tecto do gigantesco arvoredo, que o abraça e se cola a ele, desde lianas, arbustos e árvores de toda a espécie, depois dessolta-se ergue-se triunfante! - De resto, essa leitura é patente nas curvas de nível da carta de Pico Cao Grande - Sao Tome and Principe • peakery  Para desfazer dúvidas, não há como ir lá e encostar o corpo a ele e escalá-lo para se calcular  o fosso do abismo: não é vê-lo cá de baixo ou dos lados, mas olhar a vista aérea que se estende lá de cima


Imagem de The Dark Tower

Relativamente próximo, e desafiando as leis da gravidade, ergue-se o Cão Pequeno, ligeiramente tombado, igualmente escarpado e num perpétuo desafio.. Constituem o que se chamam "pães-de-açucar" ou "tores-de-penedo", ambos originários das   primitivas convulsões telúricas da  Linha vulcânica dos Camarões cujas formas acabaram por ser moldadas por copiosas chuvas, num ambiente quente e húmido, praticamente durante todo o ano, salvo um  curto período seco  e ventoso, nos três meses na gravana. - Por força de poderosas Correntes de convecção,  estes e outros picos de ambas as ilhas permanecem permanentemente escondidos nas nuvens, rodeados de linhas de água e de uma vegetação luxuriante.

Geograficamente, poderá dizer-se que, o Pico Cão Grande - o mais caprichoso e impressionante - fora implantado  no meio do mundo, dividindo – qual monumento à fecundidade e à fertilidade da zona mais ubérrima da Terra! – a separar os dois hemisférios, uma vez que se situa na pequena e luxuriante Ilha de São Tomé, dentro das coordenadas do meridiano zero e precisamente sobre o paralelo zero do Equador - Pois, o Ilhéu das Rolas, está ali mesmo em frente
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