Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador C
João Maria de Sousa e
Almeida, nasceu na Ilha do Príncipe, no dia 12.3.1816 e faleceu em S.Tomé 17.10.1869, filho do coronel de
milícias Manuel de Vera Cruz e Almeida e D. Pascoela de Sousa Leitão . Casou
com D. Maria Antónia de Carvalho sg. Não deixou filhos legítimos, “mas muitos
filhos de amigas que trabalhavam nas suas roças".
O poeta agricultor que,
em 1855, um dos maiores impulsionadores da agricultura em S. Tomé e Principe
É reconhecido, num opusculo, em sua memória, publicado, em 1934, , aquando da 1ª Exposição colonial, na cidade do Porto, que JOÃO MARIA DE SOUSA E ALMEIDA, foi um grande agricultor das ilhas de S. Tomé e Príncipe, dirigindo ele próprio as suas importantes plantações de café e de cacau. Tendo introduzido a árvore da fruta-pão,(artocarpus incisa 1.bella, vindo a publicar diversas instruções sobre a sua cultura
Os seus serviços foram reconhecidos e galardoados: “Fidalgo da casa real, do conselho de Sua Majestade, comendador das Ordens de Cristo e da de “Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, tenente- -coronel de 22 linha dos voluntários de Benguela. Foi 1º Barão de Água-lzé em sua vida, por decreto de 16 de Abril de 1868,,. Na colónia exerceu, com elevado apreço, o cargo de presidente do município da capital.
1910 - De Francisco Mantero - Água Izé - Praia do Rei |
Tal como é recordado, num
dos estudos do Eng. Agrónomo José Eduardo Mendes Ferrão. Professor catedrático jubilado de Agronomia
Tropical, que tive o prazer de conhecer como consultor Científico da
«Brigada de Fomento Agropecuário de S. Tomé e Príncipe», em
África, segundo o que geralmente se admite, o cacaueiro foi introduzido na Ilha
do Príncipe em 1822 vindo do Brasil e daqui passou para S. Tomé em 1830”
Num período em que “ a Ilha do Príncipe foi aí a sede do Governo desde 1753 até 1852 e, por isso mesmo, da maior actividade. Durante este período governavam em S. Tomé capitães-mores. António Rodrigues Neves foi o último governador que, nesta época, viveu em S. Tomé. O «coronel Ferreira» a que se refere Nava, foi José Ferreira Gomes, o maior proprietário da província naquele tempo e considerado o introdutor do cacaueiro (como planta ornamental durante o governo interino de Filipe de Freitas . Teria sido nas Terras de Cima Ló na ilha do Príncipe que o cacaueiro se desenvolveu pela primeira vez. A oeste desta ilha ainda existia em 1877 um dos primeiros pés de cacau «que ali deram frutos em 1822»
"Os espanhóis levaram o cacau para Fernando Pó no século XVII possivelmente dos territórios portugueses ou só entre 1875 e 1880 na opinião de Schwarz . Na Costa do Marfim o cacaueiro foi introduzido em 1870 e na Costa do Ouro (hoje Ghana) o cacau surgiu em 1878 ou em 1879, vindo de Fernando Pó e levado por um negro. O cacau da Nigéria teve origem na mesma ilha e foi levado por um chefe nativo em 1874. Nos Camarões já existia a cultura em 1884 quando este território ficou sob o domínio alemão (355) embora Hubert afirme que a introdução do cacaueiro só se efectuou em 1886 (239). O ano de 1887 é referido como data em que o cacaueiro começou a ser cultivado no Gabão (239) e no ex-Congo Belga. Neste último território é possível que o cacaueiro tenha sido introduzido nos tempos de Stanley, juntamente com outras plantas .
Com a marmita do almoço - Uba-Budo 1963 |
Considerando, também, que o grande impulsionador da cultura do cacaueiro em S. Tomé e Principe, foi o Conselheiro Comendador João Maria de Sousa e Almeida, Barão de Ãgua Izé (11) (182) (338). Pelo seu conselho e exemplo conseguiu transferir o cacau daquela posição humilde que disfrutava até torná-lo o pequeno senhor acarinhado pelos agricultores que começavam a augurar para esta planta um futuro prometedor. O Barão de Ãgua Izé sabia muito bem quais os argumentos mais convenientes à propaganda da nova cultura. A grande economia de mão-de-obra que ocasionava — factor sem dúvida de decisiva importância num território que tinha na escassez de serviçais o seu principal problema agrícola — foi a base mais convincente da sua propaganda. Não foi espectacularmente rápido o desenvolvimento da cultura do cacaueiro. Pode dizer-se até que durante os vinte anos a seguir à sua introdução mal se esboçaram os primeiros passos; a exportação em 1842 pouco passava das duas toneladas anuais. Como a exploração agrícola em S. Tomé era realizada, como ainda hoje, à custa de mão- -de-obra quase toda importada, o problema tornou-se mais difícil com a restrição da escravatura decretada em 29-4-1852 e em 14-12-1854 e sua abolição completa pelo Decreto de 25-2-1869 pelo qual os escravos eram convertidos em libertos. A cultura do café, mais exigente em mão-de-obra, começou a dar lugar à do cacaueiro e esta foi-se impondo lentamente.
Uba-Budo 1963 |
Apesar disso em 1870 ainda se não tinham atingido 100 toneladas anuais de exportação. A redução de mão-de-obra ocasionada pela cultura do cacaueiro é um argumento a partir de 1879 reforçado por uma sensível elevação das cotações do cacau nos mercados internacionais. Durante os dez anos seguintes, o café ia diminuindo progressivamente de importância, o valor do cacau processava-se em ritmo ascendente e a capacidade produtiva e económica de S. Tomé repartia-se, praticamente, por estas duas culturas A partir daquele ano o cacaueiro tomou nítida ascensão a tal ponto que no curto período de 8 anos (1891-1898) o valor da exportação (que mede de forma bem nítida a produção) subiu quase 400 por cento. Entrou-se assim no período de produção acima das 10 000 toneladas. O cacaueiro passou a dominar o interesse dos agricultores.
Senzalas de Água Izé - |
Em 1894, numa produção mundial de cerca de 70 000 toneladas, S. Tomé e Príncipe ocupava a quarta posição, logo a seguir ao Equador, Brasil e Trindade. Em 1897 cedeu o seu lugar a favor da Venezuela retomando-o no ano seguinte. Em 1901 S. Tomé e Príncipe ascendeu ao 3.° lugar e passados dois anos ultrapassou as 20 000 toneladas atingindo em 1905 a posição de primeiro produtor mundial de cacau.Em 1909 a exportação passava já das três dezenas de milhar de toneladas.
O valor máximo da produção atingiu-se em 1913 e o ritmo manteve-se estacionário durante a primeira grande guerra. Em 1918 a exportação diminuiu sensivelmente como consequência da falta de transportes mas os «stocks» lançados no mercado no ano seguinte provocaram o maior valor de exportação de cacau das ilhas de S. Tomé e Príncipe.Mas nem tudo foram sucessos. A falta de conhecimentos da técnica de agricultar nos países tropicais ocasionou erros de base cujas consequências não tardaram a fazer-se sentir. Já no fim do século passado, quando os agricultores tiveram conhecimento de que em alguns territórios centro-americanos se cultivava o cacau em pleno sol.
As espécies do género Theobroma são originárias da América Tropical mas aquelas a que hoje se reconhece interesse económico tem uma área de origem mais restrita, constituída apenas pelos territórios das bacias do Amazonas ou do Amazonas e do Orenoco ou pela zona localizada a este dos Andes perto da fronteira da Colômbia com o Equador. Outros autores atribuem aos cacaueiros uma origem mexicana (135), possivelmente por ter sido naquela região que os europeus o encontraram pela primeira vez e donde se teria propagado para o Sul até às terras da Baía
Viveiro de Cacau Brig. Fomento AP |
Não admira, portanto, que a base das plantações tenha sido feita com cacaus forasteros amazónicos. Criou-se assim o chamado cacau amelonado de S. Tomé, também designado por creolo de S. Tomé, pelo facto de corresponder ao primitivo cacaueiro cultivado nas Ilhas, mais tarde a base da constituição das plantações do continente africano. O tipo de cacau inicialmente introduzido em S. Tomé e Príncipe era de frutos amarelo-alaranjados. Pelo fim da segunda década do século actual já se tinham introduzido outros tipos
Água Izé - 1910 |
Água Izé - 2016 |
João Maria de Sousa e Almeida,, nasceu na Ilha do Príncipe descendente de uma família mulata abastada , de São Salvador da Baía, que emigrou para o Príncipe nos finais do século XVIII. Faleceu aos 53 anos - Naquele tempo, a media de vida era bem mais curta de que atualmente. No seu espírito dinâmico e empreendedor, brilhava também a inspiração e a verve poética - É o que demonstram os extremosos versos que dedicou ao seu pai, numa lápide tumular, na cidade de Santo António, na Ilha do Príncipe, o coronel de milícias Manuel de Vera Cruz e Almeida Viana, nascido em 1750 - Não tendo tido porém, o mesmo procedimento para com a sua mãe, D. Pascoela de Sousa Leitão, nascida em 1790
1910 - Senzalas - Água Izé - In A Mão d'Obra em S. Tomé |
João Maria de Souza e Almeida, Barão de Água Izé e Conselheiro do Reino, o primeiro mestiço nobre a ser distinguido com tão alta distinção, o qual, além do “importante e abastado proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé, Castelo do Sul e Alto Douro, a quem se deve o fomento da cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em tão pequena escala que – nem sequer constava dos seus famosos «Ensaios Estatísticos.
Referem estudos genealógicos que, João Maria de Souza e Almeida casou com D.Maria Antónia de Carvalho sg. ( e Antónia Carolina da Rocha Guimarães - Não deixou filhos legítimos,"mas muitos filhos de amigas que trabalhavam nas suas roças".
Baía de Água Izé |
Baía de Água Izé |
“Para S. Tomé, não se poderia encontrar figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento agrícola”
Bisneto do Barão de Água Izé |
Ao meio da Rua de S. Gregório, hoje Rua Francisco Mantero, por deliberação da C.M. de 1-4-1937, está indicada uma igreja que se chamou S. Gregório. O caminho conduz ao cemitério e a igreja ficava onde termina hoje o terreno pertencente a uma casa de Adolfo Ferreira Lousada.
"Quanto à capela do cemitério da cidade de Santo António da Ilha do Príncipe, do Ofício Nº 521 de 11 de Novembro de 1856 do Govº do Príncipe ao Govº de S. Tomé, costa o seguinte a fls 74 verso do lado do Lº do Regtº do Externos “….. porquanto o encontrado por mim quando dei “principio ao cemitério foi unicamente uma capela construída de barro, que por se achar ameaçando inevitável queda”, a deitei abaixo e em seu lugar edifiquei outra de “pedra e cal”.
Um dos quais publicado, num pequeno opúsculo, que faz parte da minha vasta bibliografia, que lhe foi dedicado, por ocasião da 1ª exposição Colonial Portuguesa, no dia 25 de Agosto de 1934
Em S. Tomé e Príncipe a grandiosa obra realizada tem ofertado generosamente um doloroso tributo de sangue a encarecer, por preço inestimável, o· sacrifício dos colonos de Portugal.
Presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca |
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