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terça-feira, 12 de abril de 2022

Barão de Água Izé – O mui nobre visionário mestiço, João Maria de Sousa e Almeida - O poeta e agricultor que introduziu a árvore da fruta pão e desenvolveu a cultura do Cacau no arquipélago, natural da Ilha do Príncipe, descendente de uma família mulata abastada , de São Salvador da Baía, que o Reino distinguiu de Barão e Conselheiro – Nasceu há mais de 2 séculos, em 12.3.1816 - Um dos filhos ilustres das Ilhas Verdes do Equador que caiu no esquecimento - Era justíssimo erguer um busto ou descerrar uma lápide em sua memória

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador   C


João Maria de Sousa e Almeida, nasceu na Ilha do Príncipe, no dia 12.3.1816 e faleceu em  S.Tomé 17.10.1869, filho do coronel de milícias Manuel de Vera Cruz e Almeida e D. Pascoela de Sousa Leitão . Casou com D. Maria Antónia de Carvalho sg. Não deixou filhos legítimos, “mas muitos filhos de amigas que trabalhavam nas suas roças".

O poeta agricultor que, em 1855,  um dos maiores impulsionadores da agricultura em S. Tomé e Principe 

É reconhecido, num opusculo, em sua memória, publicado, em 1934, , aquando da 1ª Exposição colonial, na cidade do Porto, que JOÃO MARIA DE SOUSA E ALMEIDA, foi   um grande agricultor das ilhas de S. Tomé e Príncipe, dirigindo ele próprio as suas importantes plantações   de café e de cacau. Tendo introduzido a  árvore da fruta-pão,(artocarpus incisa 1.bella, vindo a publicar diversas instruções sobre a sua cultura

Os seus serviços foram reconhecidos e galardoados: “Fidalgo da casa real, do conselho de Sua Majestade, comendador das Ordens de Cristo e da de “Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, tenente- -coronel de 22 linha dos voluntários de Benguela. Foi 1º Barão de Água-lzé em sua vida, por decreto de 16 de Abril de 1868,,.  Na colónia exerceu, com elevado apreço, o cargo de presidente do município da capital.  

1910 - De Francisco Mantero - Água Izé - Praia do Rei

Em 1858 - ou seja três anos depois da cultura do cacau - o mesmo fidalgo introduziria  a árvore da fruta pão (artocarpus incisa 1.bella, tendo o referido barão publicado diversas instruções sobre a sua cultura

O GRANDE IMPULSIONADOR DA CULTURA DO CACAU 

Tal como é recordado, num dos estudos do Eng. Agrónomo José Eduardo Mendes Ferrão. Professor catedrático jubilado de Agronomia Tropical, que tive o prazer de conhecer como consultor Científico da «Brigada de Fomento Agropecuário de S. Tomé e Príncipe», em África, segundo o que geralmente se admite, o cacaueiro foi introduzido na Ilha do Príncipe em 1822 vindo do Brasil e daqui passou para S. Tomé em 1830

Num período em que  “ a Ilha do Príncipe  foi aí a sede do Governo desde 1753 até 1852 e, por isso mesmo, da maior actividade. Durante este período governavam em S. Tomé capitães-mores. António Rodrigues Neves foi o último governador que, nesta época, viveu em S. Tomé. O «coronel Ferreira» a que se refere Nava, foi José Ferreira Gomes, o maior proprietário da província naquele tempo  e considerado o introdutor do cacaueiro (como planta ornamental durante o governo interino de Filipe de Freitas . Teria sido nas Terras de Cima Ló na ilha do Príncipe que o cacaueiro se desenvolveu pela primeira vez. A oeste desta ilha ainda existia em 1877 um dos primeiros pés de cacau «que ali deram frutos em 1822»

 "Os espanhóis levaram o cacau para Fernando Pó no século XVII  possivelmente dos territórios portugueses  ou só entre 1875 e 1880 na opinião de Schwarz . Na Costa do Marfim o cacaueiro foi introduzido em 1870 e na Costa do Ouro (hoje Ghana) o cacau surgiu em 1878 ou em 1879, vindo de Fernando Pó e levado por um negro. O cacau da Nigéria teve origem na mesma ilha e foi levado por um chefe nativo em 1874. Nos Camarões já existia a cultura em 1884 quando este território ficou sob o domínio alemão (355) embora Hubert afirme que a introdução do cacaueiro só se efectuou em 1886 (239). O ano de 1887 é referido como data em que o cacaueiro começou a ser cultivado no Gabão (239) e no ex-Congo Belga. Neste último território é possível que o cacaueiro tenha sido introduzido nos tempos de Stanley, juntamente com outras plantas .

Com a marmita do almoço - Uba-Budo 1963

Considerando,  também, que o grande impulsionador da cultura do cacaueiro em S. Tomé e Principe,  foi o Conselheiro Comendador João Maria de Sousa e Almeida, Barão de Ãgua Izé (11) (182) (338). Pelo seu conselho e exemplo conseguiu transferir o cacau daquela posição humilde que disfrutava até torná-lo o pequeno senhor acarinhado pelos agricultores que começavam a augurar para esta planta um futuro prometedor. O Barão de Ãgua Izé sabia muito bem quais os argumentos mais convenientes à propaganda da nova cultura. A grande economia de mão-de-obra que ocasionava — factor sem dúvida de decisiva importância num território que tinha na escassez de serviçais o seu principal problema agrícola — foi a base mais convincente da sua propaganda. Não foi espectacularmente rápido o desenvolvimento da cultura do cacaueiro. Pode dizer-se até que durante os vinte anos a seguir à sua introdução mal se esboçaram os primeiros passos; a exportação em 1842 pouco passava das duas toneladas anuais. Como a exploração agrícola em S. Tomé era realizada, como ainda hoje, à custa de mão- -de-obra quase toda importada, o problema tornou-se mais difícil com a restrição da escravatura decretada em 29-4-1852 e em 14-12-1854 e sua abolição completa pelo Decreto de 25-2-1869 pelo qual os escravos eram convertidos em libertos. A cultura do café, mais exigente em mão-de-obra, começou a dar lugar à do cacaueiro e esta foi-se impondo lentamente. 

Uba-Budo 1963

Apesar disso em 1870 ainda se não tinham atingido 100 toneladas anuais de exportação. A redução de mão-de-obra ocasionada pela cultura do cacaueiro é um argumento a partir de 1879 reforçado por uma sensível elevação das cotações do cacau nos mercados internacionais. Durante os dez anos seguintes, o café ia diminuindo progressivamente de importância, o valor do cacau processava-se em ritmo ascendente e a capacidade produtiva e económica de S. Tomé repartia-se, praticamente, por estas duas culturas  A partir daquele ano o cacaueiro tomou nítida ascensão a tal ponto que no curto período de 8 anos (1891-1898) o valor da exportação (que mede de forma bem nítida a produção) subiu quase 400 por cento. Entrou-se assim no período de produção acima das 10 000 toneladas. O cacaueiro passou a dominar o interesse dos agricultores. 

Senzalas de Água Izé - 

Em 1894, numa produção mundial de cerca de 70 000 toneladas, S. Tomé e Príncipe ocupava a quarta posição, logo a seguir ao Equador, Brasil e Trindade. Em 1897 cedeu o seu lugar a favor da Venezuela retomando-o no ano seguinte. Em 1901 S. Tomé e Príncipe ascendeu ao 3.° lugar e passados dois anos ultrapassou as 20 000 toneladas atingindo em 1905 a posição de primeiro produtor mundial de cacau.Em 1909 a exportação passava já das três dezenas de milhar de toneladas. 

O valor máximo da produção atingiu-se em 1913 e o ritmo manteve-se estacionário durante a primeira grande guerra. Em 1918 a exportação diminuiu sensivelmente como consequência da falta de transportes mas os «stocks» lançados no mercado no ano seguinte provocaram o maior valor de exportação de cacau das ilhas de S. Tomé e Príncipe.Mas nem tudo foram sucessos. A falta de conhecimentos da técnica de agricultar nos países tropicais ocasionou erros de base cujas consequências não tardaram a fazer-se sentir. Já no fim do século passado, quando os agricultores tiveram conhecimento de que em alguns territórios centro-americanos se cultivava o cacau em pleno sol.

As espécies do género Theobroma são originárias da América Tropical  mas aquelas a que hoje se reconhece interesse económico tem uma área de origem mais restrita, constituída apenas pelos territórios das bacias do Amazonas  ou do Amazonas e do Orenoco ou pela zona localizada a este dos Andes perto da fronteira da Colômbia com o Equador. Outros autores atribuem aos cacaueiros uma origem mexicana (135), possivelmente por ter sido naquela região que os europeus o encontraram pela primeira vez e donde se teria propagado para o Sul até às terras da Baía 

Viveiro de Cacau Brig. Fomento AP

Não admira, portanto, que a base das plantações tenha sido feita com cacaus forasteros amazónicos. Criou-se assim o chamado cacau amelonado de S. Tomé, também designado por creolo de S. Tomé, pelo facto de corresponder ao primitivo cacaueiro cultivado nas Ilhas, mais tarde a base da constituição das plantações do continente africano. O tipo de cacau inicialmente introduzido em S. Tomé e Príncipe era de frutos amarelo-alaranjados. Pelo fim da segunda década do século actual já se tinham introduzido outros tipos


Água Izé - 1910
Água Izé - 2016

João Maria de Sousa e Almeida,, nasceu  na Ilha do  Príncipe descendente de uma família mulata abastada , de São Salvador da Baía, que emigrou  para o Príncipe nos finais  do século XVIII. Faleceu aos 53 anos - Naquele tempo, a media de vida era bem mais curta de que atualmente. No seu espírito dinâmico e empreendedor, brilhava também a inspiração e a verve poética -  É  o que demonstram os extremosos versos que dedicou ao seu pai, numa lápide tumular, na cidade de Santo António, na Ilha do Príncipe, o coronel de milícias Manuel de Vera Cruz e Almeida Viana, nascido em 1750 -  Não tendo tido porém, o mesmo procedimento para com  a sua mãe,  D. Pascoela de Sousa Leitão, nascida em 1790


1910 - Senzalas - Água Izé  - In A Mão d'Obra em S. Tomé




João Maria de Souza e Almeida, Barão de Água Izé e Conselheiro do Reino,  o primeiro mestiço nobre a ser distinguido com tão alta distinção, o qual, além do “importante e abastado proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé, Castelo do Sul e Alto Douro,  a quem se deve o fomento da cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em tão pequena escala que – nem sequer constava dos  seus famosos «Ensaios Estatísticos.


Referem estudos genealógicos que, João Maria de Souza e Almeida casou com D.Maria Antónia de Carvalho sg.  ( e Antónia Carolina da Rocha Guimarães - Não deixou filhos legítimos,"mas muitos filhos de amigas que trabalhavam nas suas roças".http://geneall.net/pt/forum/97022/familiares-dos-baroes-de-agua-ize/

Baía de Água Izé 
Baía de Água Izé

 “Para S. Tomé, não se poderia encontrar figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento agrícola

Sim, hoje venho trazer-lhe o que penso ser uma outra novidade, que logrei extrair de uns cadernos dactilografados caídos no esquecimento, que, um feliz acaso me proporcionou – sim, porque, já em avançado estado de decomposição, nem fácil de localizar nem de forma ordenada - Diz o seguinte:



Bisneto do Barão de Água Izé


Ao meio da Rua de  S. Gregório, hoje  Rua Francisco Mantero,  por deliberação da C.M. de  1-4-1937, está indicada uma igreja que se chamou S. Gregório. O caminho conduz ao cemitério e a igreja ficava onde termina hoje o terreno pertencente a uma casa de Adolfo Ferreira Lousada.

Ao fim da Rua Tenente Valadim está marcada na carta, finalmente a última igreja: era a Igreja do Senhor do Bom Jesus dos Passos, conhecida por Igreja do Senhor (Gueja Sinhô) – Esta igreja foi construída benta procedendo autorização do cabido em S. Tomé no ano de 1825 (Reg. De of. e Registos a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos da Graça, 1824, a  flhs 1) – Os restos das desmoronadas paredes serviram para a construção  de um Matadouro Municipal. Nessa ocasião – 1925 -  foi ali encontrada uma sepultura coberta com uma lápide; Ali estavam enterrados os restos mortais de Manuel da Vera Cruz Almeida, pai de João Maria de Sousa e Almeida que foi o primeiro Barão de Água Izé.

Tributo de amor filial levantado por João Maria de Sousa Almeida


Aqui jaz os restos mortais de Manuel da Vera Cruz Almeida – Coronel das Ordenanças natural da Baía de Todos os Santos, cidade de S. Salvador, Província do Império Brasileiro – nasceu a 22 de Setembro de 1780 e faleceu a 31 de Maio de 1833 com 53 anos  8 meses  e  8 dias


Esta pedra que voz incerta e dura,
De humano explendor frágil padrão,
É das cinzas dum nobre capitão
Das relíquias mortais a sepultura

Encera o corpo se,  que a alma pura
Que habita em virtuoso coração
Vão nos céus receber o galardão
Vai viver no reino da ventura.

Morreste; eterna he a tua memória
Teu nome será sempre venerado
Pois a tua virtude foiche motorista

Morreste pelos homens ser coroado
E nos eternos volumes da Glória
Também foste ó Almeida retardado

Perdemos um amigo  um protector
Quanto nos he cara a lembrança
De todos foi amparo foi a esperança
Ao pobre ao infeliz sanou a dor.

A todos infundiu respeito, amor
Quer Astrea pezasse na balança
Quer nos cargos de Alta Governança
Foi sempre sábio, justo e acolhedor

Mortaes que fruisteis seu amparo
Vinde orar, as saudades avivas
Por um varão em virtudes preclaro

Aqui sobre este túmulo choras
Vos amigo perdesteis, terno, caro
Eu perdi amigo e perdi pae.

As ossadas e a lápide foram transferidas, hoje repousam noutro local – Quando voltarmos ao Príncipe, esperamos poder fazer o registo fotográfico - Pois temos indicações onde se encontram.


"Quanto à capela do cemitério da cidade de Santo António da Ilha do Príncipe, do Ofício Nº 521 de 11 de Novembro de 1856 do Govº do Príncipe ao Govº de S. Tomé, costa o seguinte a fls 74 verso do lado  do Lº do Regtº  do Externos  “….. porquanto o encontrado por mim quando dei “principio ao cemitério foi unicamente  uma capela construída  de barro, que por se achar ameaçando  inevitável queda”, a deitei abaixo e em seu lugar edifiquei outra de “pedra e cal”.

Foi reedificada em 1870, segundo um auto de arrematação da obra adjudicada a José Joaquim de Melo por 182$700 reais fortes, em sessão da C.M., de 9 de Maio.  – Sofreu novas obras posteriores  e hoje está coberta de telha marselha (foto N.35),

DOS VÁRIAS OBRAS E TEXTOS  SOBRE O 1º BARÃO, NÃO CONSTA TÃO POÉTICA E SENTIDA HOMENAGEM TUMULAR – Mas há realmente alguns livros ( e muitos textos na WEB)  acerca da vida do famoso Barão


Um dos quais publicado, num pequeno opúsculo, que faz parte da minha vasta bibliografia, que lhe foi dedicado, por ocasião da 1ª exposição Colonial Portuguesa, no dia 25 de Agosto de 1934

1.ª Exposição Colonial Portuguesa – Porto 1934-comemora hoje, 25 de Agosto "O Dia de S. Tomé e Príncipe “

A homenagem veio a-propósito da passagem do aniversário da assinatura da lei que promulgou para aquela colónia a abolição do tráfico dos escravos.
A famosa colónia equatorial obriga, nesta comemoração, a salientar com realce especial o trabalho dos colonos que resultou na brilhante realização que ainda hoje refere, perante o mundo, S. Tomé e Príncipe como um exuberante atestado das especiais aptidões colonizadoras dos portugueses.


Em S. Tomé e Príncipe a grandiosa obra realizada tem ofertado generosamente um doloroso tributo de sangue a encarecer, por preço inestimável, o· sacrifício dos colonos de Portugal.
Assim a homenagem de hoje vai, em sentida saudação, para aqueles que, em sublime holocausto, no clima inóspito das verdejantes ilhas equatoriais, realizaram uma grande obra-a sua plantação.

Para essa homenagem e em representação de todos os demais, que muitos são, destacamos a figura de João Maria de Sousa e Almeida, t» Barão de Água- Izé, - um dos propulsores da grande agricultura da colónia.

O 1º Barão de Água-lzé, bem como Francisco  de Assis Belard, Manuel da Costa Pedreira e outros mais, são símbolos que bem atestam a iniciativa, a inteligência e a actividade do português que, comerciando e agricultando, realizou em África a mais incontesta ocupação de territórios para Portugal.

Movia-os o interesse mercantil, é certo, mas já hoje não se consente, nem mesmo aos mais sentimentalistas, que levem a mal a provada afirmação de que o lucro é o principal objectivo de todos os cometimentos humanos.

O 1º Barão de Agua-lzé foi essencialmente um grande agricultor das ilhas de S. Tomé e Príncipe, dirigindo ele próprio as suas importantes plantações de café e de cacau.

Os seus serviços foram reconhecidos e galardoados: "Fidalgo da casa real, do conselho de Sua Majestade, comendador das Ordens de Cristo e da de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, tenente-coronel de 2.ª linha dos voluntários de Benguela. Foi 1.0 Barão de Agua-!zé em sua vida, por decreto de 76 de Abril de 1868,,.

Na colónia exerceu, com elevado apreço, o cargo de presidente do município da capital  
As ilhas de -S. Tomé e Príncipe, à data do descobrimento, eram-diz Piloto, que viveu na primeira metade do século XVI – todas elas  uns bosques espadissimos, com árvores viçosas, e tam grandes que pareciam tocar no Céu.;

As ilhas referem hoje uma colónia de plantação exemplarmente apetrechada, devendo especializar-se a parte da assistência hospitalar, que mereceu ao sábio francês Brumpt os maiores encómios que foram divulgados pela imprense de todo o mundo.

Essa obra deve-se à iniciativa do colono que em "O Dia de S. Tomé e Príncipe,, a 1.ª Exposição Colonial Portuguesa-Porto- 1934 consagra, rememorando um dos mais ilustres- o Conselheiro João Maria de Sousa e Almeida, 1ºBarão de Áqua-lzé.

Da bibliografia, acerca do Barão de Água Izé,  penso que o livro  mais completo é de autoria de Amândio César, que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, numa das suas viagens a S. Tomé  - 

Mas eu vou aproveitar par aqui citar dois textos, um dos quais de  MANUEL FERREIRA (ln «O MUNDO PORTUGUÊS-1942)  inserido no ensaio que, Amândio César,  elaborou na sua obra “Presença do Arquipélago de S. Tomé e Príncipe  - Na modera Cultura Portuguesa  

O BARÃO DE ÁGUA-IZÉ

"Quando, em 1934, se ergueu, no velho burgo nortenho, essa demonstração singular das nossas possibilidades que foi a. Exposição Colonial, memoraram-se vultos de nome grado.
Para S. Tomé, não se poderia encontrar figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento agrícola.

Ele- diz a pequena mas elucidativa monografia que, no «dia de S. Tomé» saiu dos prelos - «como Francisco de Assis Belard; Manuel da Costa Pedreira e outras mais, são símbolos que bem   atestam a iniciativa, a inteligência e a actividade do português que, comerciando e agricultando, realizou em Africa a mais incontestada ocupação de territórios para Portugal».

Importante e abastado proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé, Castelo do Sul e Alto Douro, João Maria de Souza e Almeida deixou o seu nome ligado à agricultura da Colónia. A ele se deve, em especial, o fomento da cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em tão pequena escala que - refere Lopes de Lima nos seus famosos «Ensaios Estatísticos - em 1826 não havia exportação alguma.

Surgiu João Maria, em 1851, na propaganda e, dois anos depois, ensinava o modo prático de conservar o cacau, a fim de lhe conseguir exportação que, em 1857 L em vida do grande agricultor atingia já 12 735 quilos. Em 1899 -diz o Dr. Manuel Ferreira Ribeiro - a exportação do precioso fruto atingia 11 028 133 quilos. Fez do desenvolvimento dessa cultura um sacerdócio: foi quem escreveu a primeira memória sobre o assunto, em que demonstra larga cópia de conhecimentos, trabalho intitulado «As plantações de cacau nas ilhas de S. Tomé e Príncipe em 1851 e 1858, datado de 15 de Janeiro deste último ano e dado à estampa no Boletim Oficial da Colónia.

Presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca
Contudo não foi apenas o cacau que interessou o ilustre fidalgo. Era motivo dos seus cuidados a produção de tabaco, inhame e café, trabalhando, ao mesmo tempo, pela exploração f; das madeiras.
Sendo-lhe concedida, por decreto, uma área de terrenos para cultivo (1 000 braças ao longo do mar, com um porto, rio ou enseada) e permitido o transporte de 100 serviçais, João Maria cultivava, também, a palmeira e o coqueiro, oferecendo todo o óleo preciso para a iluminação pública de S. Tomé.

Fazia largas sementeiras de milho e introduzia na colónia, em 1858, as sementes da árvore da fruta-pão. Presidente da Câmara \Municipal, aproveitou o lugar de destaque que usufruía para fazer parte de todas as comissões, quer agrícolas, quer de qualquer outro interesse público.
Promoveu a construção de estradas; ensinou novas maneiras de plantar; distribuiu, largamente, aos agricultores, sementes de algodão que mandava vir de Mossãmedes ...

Evidentemente que todos esses serviços não podiam deixar de ser galardoados. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real; comendador das ordens militares de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, tomando em consideração os esforços efectuados para a construção de estradas e outros melhoramentos e tenente-coronel honorário pelos serviços em campanha. Pertenceu ao Conselho de sua Majestade e no seu peito brilhava o colar de cavaleiro da Torre e Espada, ganho em risco da própria vida. Em 1868 era-lhe concedido o título, pelo qual passou à posteridade, de barão de Agua-Izé com o respectivo brasão de armas.
Manuel Ferreira (ln «O MUNDO PORTUGUlÊS-1942)





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