Jorge Trabulo Marques - Jornalista desde 1970 - Os textos editados neste blogue, não visam fins lucrativos, não são renumeados por ninguém
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Imagem do Coronel Conde Facão |
O 25 de Abril devolvera a liberdade ao Povo Português e a promessa da libertação dos povos sob o jugo colonial. A censura foi erradicada e a imprensa passou a publicar livremente os seus artigos, reportagens e a exprimir as opiniões. A minha experiência na Roça, fora suficiente dura e dececionante para tomar consciência de que o colonialismo, não servia nem os povos das ilhas nem sequer muitos dos pobres colonos, que para ali iam na esperança de uma vida melhor. Também fora enganado.
Todavia,
para que a prosperidade possa abranger o sacrificado povo destas tão maravilhosas e férteis ilhas, onde o ordenado mínimo ronda as 2.500 dobras (cerca de 100 euros), pelos
vistos, há ainda muito para fazer
Carlos Tiny,
antigo membro do Comité Central do MLSTP e elemento activo da
Associação Cívica no âmbito da luta pela independência do País, que depois
viria a desempenhar o cargo de ministro são-tomense da Saúde, que faleceu
em Portugal vitima de doença, foi
sepultado no seu pais na tarde de sábado no cemitério de Alto
São João num cenário de dor e consternação entre familiares, amigos e entidades
públicas do País com destaque para Presidente da República, Carlos Vila Nova,
Presidente do Parlamento, Delfim Neves e Primeiro-Ministro, Jorge Bom Jesus. - Refere STP-Presshttps://www.stp-press.st/2022/04/24/o-ultimo-e-doloroso-adeus-a-carlos-tiny/
Viva o 25 de Abril e a liberdade de Expressão –
Bati-me pela sua defesa em S. Tomé, numa revista angolana, de que era
correspondente – Ia-me custando a vida: uma forca pendurada à porta de minha
casa por alguns colonos, pneus do meu carro furados à navalhada, agressões
violentas na rua, entre outras diatribes, pelo que tive que me escapar de canoa
para a Nigéria
Ainda entrevistei algumas das vítimas - "Prenderam-me durante 45 dias. Houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí surgiram as prisões, mais prisões sem quaisquer razões para isso. Procurava-se emprego e não se encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam eram presas. É claro que houve um ou outro que reagiu sobre essas atitudes." Declarações de Bartolomeu Cravid
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Imagem do Coronel Conde Falcão |
NÃO ME MATARAM PORQUE ME ESCAPEI NUMA CANOA PARA A NIGÉRIA - Largando à noite, discretamente, da Praia Melão, em quase 13 dias de terríveis tempestades e podres calmarias -MAS ANTES DE PARTIR, CHEGUEI A ESTAR REFUGIADO NO MATO EM CASA DE AMIGO SANTOMENSE – DENTRO DO QUE ME FOI POSSÍVEL, FIZ O REGISTO DA CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS E TESTEMUNHEI HISTÓRIA - O que profundamente lamento é o comportamento do comerciante de origem portuguesa, Sr. Jorge Moisés Teixeira Coimbra, que, tendo ido buscar os milhares de negativos a casa da minha companheira, uma amável nativa santomenses (única pessoa que me viu partir rumo ao desconhecido, numa noite profundamente escura e com o horizonte rasgado por sinistros relâmpagos, tornado esse, que horas depois, me envolveria no seu fantasmagórico carrossel de alterosas vagas), sim, que, em posterior aventura, não teve a gentileza de até agora me entregar o meu espólio
UNS MESES DEPOIS, APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E DE INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DE COLONOS ENFURECIDOS, MUNIDOS DE MACHINS, DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM - O QUE ME VALEU FOI TER DESCOBERTO A ESCADA DE UMA PORTA ABERTA E REFUGIAR-ME NO TELHADO DESSE PRÉDIO
Ao saírem do palácio, depois de insultarem, o Governador, Pires Veloso – mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde pretendia inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente correram furiosos atrás de mim! E eram umas largas centenas. Se me apanhassem, naquele momento, estou convencido que me tinham esmagado e linchado. -
Mesmo assim, quando corria à sua frente, ainda levei com uma pedra nas costas e outra na cabeça - Depois de descarregarem toda a ira e ódio na minha modesta viatura, furando-lhe os quatro pneus à navalhada, arrombara-me a casa, partiram-me tudo: escaqueiraram-me a máquina de escrever, onde nem sequer ficou um simples copo inteiro para beber água - Não satisfeito com a malvadez, deixaram uma forca pendurada na porta, e, na parede ao lado, uma cruz desenhada e a inscrição: " a morte sanciona cada traidor".
TIVE QUE ME REFUGIAR, EM CASA DE UM SANTOMENSE: dos pais do Constantino Bragança, que, tendo assistido à perseguição, se deslocou à noite ao local para me colher no seu modesto casebre, algures no mato: Sr. Jorge! Pode descer, que os brancos foram todos para o quartel da Polícia Militar e do Cinema Império e venha para a minha casaA minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam lá no seu interior, deixaram-me à porta o laço da prometida forca de corda. Pelos vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever estas linhas, se me toldam os olhos, tal os maus momentos por que passei. Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me importo de ser confrontado com os elementos da natureza mais hostil, mas ser atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um sentimento de profunda tristeza e revolta
PIRES VELOSO ALUDE, NO SEU LIVRO: “VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À INESPERADA INVASÃO DOS COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR
A manifestação podia ter acabado numa tragédia: havia o desejo de pegar em armas e atacar os defensores da Independência Total. Estes depressa galvanizaram as populações e o movimento do pró era imparável. Só se matassem o povo inteiro. Houve quem estivesse quase a perder as estribeiras.
Faltou-lhes lá o Tenente-Coronel Ricardo Durão a liderar a revolta, que, uns dias antes, desembaraçara no aeroporto de São Tomé. Se o Tenente-Coronel Pires Veloso (hoje General), não o obrigasse a voltar no mesmo avião, estou certo de que, as águas que correm nas pacíficas Ilhas de São Tomé e Príncipe, ter-se-iam toldado por muitas manchas de sangue. E, sobretudo, se o Governador, não apelasse à calma dos manifestantes: os quais se rebelaram por motivos absolutamente injustificáveis, pois ninguém os molestou - Seguiram, depois, para o quartel da Polícia Militar e Cinema Império. Porventura, na perspectiva de que, Ricardo Durão, os viesse comandar - Já que a o episódio do seu regresso forçado não fora tornado público.
CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS - DA REVOLUÇÃO DE ABRIL EM S. TOMÉ-
Era naquela altura - aliás, desde meados dos ano 70 - correspondente da Revista Semana Ilustrada, de Luanda - Naturalmente, que, a repercussão do 25 de Abril, nas Ilhas Verdes do Equador, nomeadamente, em S. Tomé, onde residia, não podia passar despercebida ao jornalista - De resto, com o fim da censura, não havia mãos a medir Muitos dos meus trabalhos, não passavam no crivo dos censores, em Angola, pelo que, finalmente, com a despertar da liberdade de expressão, havia que aproveitar os novos ventos da história ,que, aliás, muitas contrariedade me haviam de trazer, da parte dos colonos - Na edição da semana seguinte, fiz um relato circunstancial dos principais acontecimentos na Ilha, que julgo ter sido o único a nível da imprensa - Só que era-me difícil encontrar a revista onde fiz essa publicação.
DE SEGUIDA VOU REPRODUZIR ALGUNS EXCERTOS DOS QUE JÁ DESCREVI DESENVOLVIDAMENTE NOUTROS POSTS DESTE SITE - SOBRE A CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS APÓS O GOLPE DA REVOLUÇÃO DE 24 PARA 25 DE ABRIL
Alvorada da revolução do 25 de Abril, de 1974, não foi praticamente notada neste dia em S. Tomé e Príncipe, senão para quem acompanhava as emissões estrangeiras de rádio, que não era, naturalmente, o grosso da população mas quando raiou foi como um rastilho que se ateasse a um foguete – Mesmo assim, houve quem quisesse ofusca-la – E pouco faltou para que os roceiros provocassem um banho de sangue e Movimento das Forças Armadas ali fosse abortado – Ou antes, um pouco retardado, já que a população, galvanizada pelas manifestações populares, não o ia permitir
Mas eu soube da notícia ao raiar dessa alvorada. Era operador na rádio local e correspondente da revista angolana, Semana Ilustrada. A estação encerrava à meia-noite e abria (se a memória não me falha) às cinco e meia da manhã.
Nesse dia, eu era o técnico escalado para abrir a estação e pôr o Hino Nacional no ar, seguido de um programa de música variada – era mais uma das bobines gravadas que recebíamos regularmente da extinta Emissora Nacional. Poucos depois, chega o Raul Cardoso, que, na redação, passava ao papel as noticias transmitidas, em onda curta, por aquela estação, para depois serem lidas nos noticiários da "província". Pois não dispúnhamos de fax.
Houve um golpe militar!!... Há uma revolução em Lisboa!", Confessava-me, mal pôs os auscultadores à escuta. Porém, as notícias dos acontecimentos em Lisboa, foram encaradas com reservas e a sua divulgação, começou por ser bastante lacónica - Só, depois do pôr-do-sol. já noite, às 19 horas, é que O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T
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2014 - Recebido pelo PR Manuel Pinto da Costa |
"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar." |
Frente ao Portal da Praia da Roça Uba Budo anos 60 |
«S. Tomé-25. O dia amanheceu sereno e calmo como outro qualquer. As pessoas dirigem-se para os seus locais de trabalho habituais. Um sol resplandecente e equatorial banha de luz e de vida a pequena cidade de S. Tomé. A vida parece continuar com a mesma rotina dos demais dias da semana. Porém, para um número muito restrito de cidadãos, começam a chegar os primeiros rumores de que algo de estranho se passava na capital do País. Há interrogações. Expectativa geral. Tudo o que se fala e se sabe, é escutado de estações de rádio estrangeiras. Por isso a dúvida subsiste. As perguntas sobre o que há ou não, de verdade, sobre a situação em Lisboa, começam a suceder-se a cada instante. E a não encontrar uma resposta exacta, Tudo o que se fala é incerto e impreciso.
S. Tomé-25. É quase meio-dia. O Governador da Província é já conhecedor das noticias que pela manhã começaram a ser radiofundidas por Emissões do exterior. Terá, naturalmente, como qualquer outro habitante alertado sobre as ocorrências, mantido as suas reservas e dúvidas. Toma conhecimento do teor do comunicado emanado pela Repartição do Gabinete do Governo de Angola, transmitido pela Estação Oficial deste Estado. Que nada de correcto diz, pois é bastante lacónico.
S. Tomé-25. Estamos no começo da tarde. Chega-nos ao conhecimento que parte do efectivo militar aquartelado na cidade entra de prevenção. Notícias não confirmadas começam a partir de agora a circular com maior intensidade pela população que, com crescente expectativa, se interroga ansiosamente.
S. Tomé-25. São 19 horas. O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T
"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."
Lampejos de um defunto moribundo. Pois escusado seria dizer que àquela hora ainda o Governo derrubado estaria no exercício pleno das suas funções. Um comunicado, portanto, que não veio trazer luz alguma sobre as dúvidas que já existiam. Maior confusão, porventura, estamos certos, foi o que veio provocar.
Pois se as estações estrangeiras já àquela hora estavam fartas de deitar cá fora a noticia do golpe militar aos quatro ventos. Um caso mais ou menos consumado, era a ideia que começava já a prevalecer em muita gente, tal a veracidade e o pormenor com que o desenrolar dos acontecimentos passavam a ser pelas mesmas relatados. Uma sensação de alívio notava-se nas pessoas, se bem que juntamente com alguma inquietação pela incerteza que, não obstante, ainda pairava. Oficialmente nada de concreto se sabia, apenas o conteúdo daquela comunicação que, àquela hora, e dada de maneira como foi redigida, terá sido bastante inoportuna. S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.
S. Tomé-26. É meia-hora da madrugada. Algum do pessoal do E. R. de S. Tomé e Príncipe que se havia mantido em escuta depois de encerrada esta estação, houve e regista, em fita magnética, as primeiras palavras do grande general António Spínola. Fala como Presidente da Junta de Salvação Nacional, que então se constituira após o Glorioso Movimento das Forças Armadas, em tão boa hora levado a cabo, segundo as sua próprias palavras, no seu memorável comunicado à Nação Portuguesa, de que, a partir daí, assumira a enorme e pesada responsabilidade da condução dos novos destinos.
S. Tomé-26. São cinco e meia da manhã. O Emissor Regional, embora tivesse já pleno conhecimento da situação e das palavras do Presidente da Junta de Salvação Nacional, abre a sua emissão como habitualmente. O programa musical continua a cumprir-se na íntegra. Não faz qualquer referência, entretanto, sem autorização superior. Apenas uma ligeira alteração na programação: Não transmite o noticiário das 6.30.
S. Tomé-26. Aproxima-se as sete horas de um novo dia. De um dia que traria de facto uma bela e risonha mensagem a toda a população destas ilhas. Era a mensagem de um Portugal livre. De um Portugal para um futuro melhor, cujo raiar havia começado já na madrugada da véspera do dia anterior.
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Fermino Bernardo - Meu antigo camarada do ERSTP |
(....) S. Tomé-26. São 10.30. O Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe lê uma comunicação das Forças Armadas da Província dando conhecimento do telegrama por elas enviado à ]. S. N. e com o seguinte teor: "Tomado conhecimento proclamação]. N. S., Forças Armadas de S. Tomé e Príncipe garantem total apoio destes objectivos. Política Nacional anunciados. Mais asseguram perfeita calma e tranquilidade população e controle situação local". S. Tomé-26. 19.00. Uma comunicação do Governo da Província anuncia que, segundo telegrama do Ministério do Ultramar, o Governador de S. Tomé e Príncipe é reconduzido.
S. Tomé-27. O Comandante Militar em exercício, tenente-coronel Ricardo Durão, é chamado pela Junta de Salvação Nacional a desempenhar importante cargo no Ministério da Defesa Nacional. Função essa que, segundo posteriormente veio a público, não chegou a ocupar visto ter sido mais tarde designado delegado da J.S.N. junto do Ministério das Corporações.
S. Tomé-29. Em cumprimento de um despacho da Repartição de Gabinete, o pessoal da extinta D.G.S. é obrigado a abandonar o edifício onde se situavam as instalações desta corporação, feito o espólio de todo o material e recheio à mesma pertencente e entregue ao Comando Territorial Independente de S. Tomé e Príncipe. Segundo o mesmo despacho, as ditas instalações passavam a pertencer, o 1.0 andar à Guarda Fiscal, e o rés-do-chão à Policia Judiciária.
S. Tomé-29. Perante a surpresa geral, o governador de S. Tomé e Príncipe, coronel Cecílio Gonçalves, anuncia que, embora reconduzido e tendo na sequência dessa recondução garantido adesão aos princípios da Junta de Salvação Nacional, não havendo assim quaisquer motivos de consciência, mas que no interesse da Província achava melhor entregar a encarregatura do Governo ao Intendente Administrativo, Pinto de Souto.
S. Tomé-29. São cerca de 18.30. Verificam-se os primeiros passos, por parte de um grupo de democratas na ilha, para a criação de uma Associação Democrática. O mesmo grupo, em reunião havida naquela noite, decide convidar todas as pessoas que partilhem dos sentimentos democráticos e estejam de acordo com os objectivos preconizados pela J. S. N. a fazer um "abaixo-assinado" a manifestar o seu inteiro e incondicional apoio a esta Junta. S. Tomé-30. Por despacho do Encarregado do Governo, é anunciada a dissolução em S. Tomé e Príncipe das comissões de Freguesia, Concelhia e de Província, da A. N. P.
Cerca das 16 h. da tarde regista-se o embarque do coronel Cecílio Gonçalves. A sua partida foi sentida com bastante comoção por todas as pessoas que se encontravam presentes no aeroporto. O caso da partida do Sr. coronel Cecílio Gonçalves, segundo sublinha a folha dominical, "O Dia do Senhor" deu a impressão geral de tratar-se de um dia de luto para a população. O ex-Governador amava S. Tomé. Confessava com frequência que gostava das gentes de S. Tomé ... e assim o demonstrou até ao fim. O coronel Cecflio Gonçalves, segundo diz ainda a mesma folha, para além do mais, possuía o dom da sensatez, raro em nossos dias, o equilíbrio e serenidade mental, o apreço da justiça, a firmeza de um militar, a visão clara dos problemas e a vontade de resolver com urgência os que fossem do interesse comum; simplicidade e entrega ao trabalho no silêncio. A educação, as comunicações, o operariado, o turismo, a indústria mereceram-lhe atenção e carinho. S. Tomé fica a dever-lhe muito nestes diversos sectores.
S. Tomé-30. No noticiário da noite do Emissor Regional é tornado público um despacho, ainda emanado pelo Governador cessante, que eleva para novos limites mínimos os salários dos trabalhadores rurais, em regime transitorial, enquanto não é devidamente revista nova legislação sobre o problema. Os ditos aumentos de salários foram pois acolhidos com certo agrado pela população rural, mas, dada a pequena margem acrescida com que foram contemplados, cremos ainda estarem muito aquém da satisfação "dos justos desejos da classe trabalhadora rural.
S. Tomé-1 de Maio. À semelhança do que aconteceu pelo País fora, também o Dia do trabalhador de S. Tomé foi vivido com manifestações do mais veemente apoio ao novo regime português, no qual se depositam as melhores esperanças para uma nova vida e um futuro mais próspero para todos, designadamente para o trabalhador, até agora o menos favorecido e regra geral o mais injustamente remunerado de todas as classes sociais. O Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura convidou todos os seus associados e trabalhadores para uma manifestação cívica frente ao Palácio do Governo, à qual, de facto, compareceram em peso tendo, após a mesma, seguido em cortejo até às instalações da sede social daquele organismo.
S. Tomé, 2 de Maio. A Direcção do Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura de S. Tomé e Príncipe, interpretando os direitos de liberdade proclamados pela J.S.N. resolveu em reunião extraordinária apresentar à Assembleia Geral o seu pedido colectivo de demissão, proporcionando assim aos associados desse sindicato o direito à livre escolha dos seus dirigentes.
S. Tomé, 2 de Maio. - Os corpos Gerentes da Caixa de Previdência dos Funcionários Públicos de S. Tomé e Príncipe, reunidos em sessão conjunta aprovaram uma exposição ao Encarregado do Governo, pela qual solicitavam a exoneração dos actuais Corpos Gerentes, visto que, embora há longo tempo no exercido das suas funções, nelas não se têm mantido por vontade própria durante todo esse lapso de tempo. Na mesma exposição, pediam simultaneamente, disposições adequadas onde se determine a constituição de uma Assembleia Geral de todos os da Caixa que eleja, sem quaisquer restrições, salvo o pleno uso dos seus direitos de associados, uma Direcção e um Conselho Fiscal.
S. Tomé, 3 de Maio. - É extinta a Comissão de Censura, nomeada por despacho n.019-1966, de 4 de Abril de 1966, publicado no B.O. do mesmo mês e ano.
S. Tomé, 3 de Maio. - É criada nesta Província uma comissão "adhoc", para controlo da Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e Cinema, de carácter transitório até à publicação de novas leis que regulem estes meios de comunicação sociais.
S. Tomé, 5 de Maio. A rádio de S. Tomé vive momentos altos desde a sua fundação, devido à intensa divulgação e abertura dada à informação que passou a verificar-se a partir do dia 26 de Abril. Por outro lado, a imprensa vive a sua hora mais morta de sempre. O jornal" A Voz de S. Tomé", que era propriedade da extinta A.N.P. continua a ter a sua publicação suspensa, Por seu turno, a folha dominical, "O Dia do Senhor", que devia sair neste dia, não foi autorizada a sair pela Comissão "ad-hoc", por inserir afirmações segundo declarou a própria comissão controladora, de carácter ambíguo e pouco expirei to em relação a referências elogiosas a instituições do regime anterior. Tal suspensão acontece pela primeira vez na existência desta publicação semanal»'
A ABOMINÁVEL Polícia Internacional e de Defesa do Estado NÃO DESMOBILIZA E CONTINUA ACTIVA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
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O prémio da travessia de S. Tomé ao Principe |
Enquanto, na Rua António Maria Cardoso, capital do Império Colonial, os PIDES se entrincheiravam, metralhando quem se lhe opusesse ou eram presos e humilhados onde fossem localizados, em São Tomé, nada parecia perturbá-los: mesmo depois de já não existirem dúvidas, quanto ao êxito do Movimento dos Capitães de Abril, a PIDE teimou manter-se em atividade por algumas semanas, fazendo de contas que a situação na colónia não se ia alterar: porém, à cautela, houve o cuidado (com a conivência das secretas do CTI de STP)levarem os arquivos para aquele quartel e limparem os cadastros.
Vi lá um Tenente, daqueles serviços, muito lesto à frente do edifício a conduzir as operações da remoção e transporte do recheio, que lhes interessava apagar. Fotografei a situação mas os negativos, infelizmente (tal como algumas centenas) ficou-me um colono com eles. Depreendi imediatamente que havia por ali marosca.
Não me enganei. Pois, logo que foi permitida a consulta pública dos arquivos da PIDE/DGS, na Torre do Tombo, me inteirei de que o meu processo levara sumiço: só lá encontrei as capas do dossier. Fora espancado e preso pela PIDE (na sequência da minha travessia de canoa ao Príncipe) e tinha a certeza que deveria lá ter alguns registos. Constatara que haviam limpado tudo. Restavam as capas e o nome. Creio que fizeram o mesmo em todos os arquivos da PIDE/DGS naquelas Ilhas. Duvido que tivessem deixado quaisquer folhas com os relatos dos seus abusos . E não foram poucos.Era uma questão que gostaria de apurar..
Por seu turno, a velha raposa do inspector (Nogueira Branco), ao dar-se conta de que o curso da revolução era irreversível, receando perder o comboio da história, quis armar-se em democrata e foi um dos primeiros subscritores do chamado Partido Democrático. - Um felizardo!... De regresso a Portugal, foi-lhe retido o "bago" mensal. Mas um oficial superior (seu amigo pessoal e conterrâneo), que havia ali comandado a Companhia de Caçadores de São Tomé e Príncipe , intercedeu e, a ovelha carneira de cabeleira branca, lá continuou a receber a avultada mesada por "honrosos serviços prestados à pátria" - Foi-me dito, recentemente, pelo próprio oficial.
Por sua vez, os agentes também não pareciam nada preocupados. Na esplanada do Rialto, continuavam a refastelar-se com cervejas, tendo-lhes ouvido dizer que "o novo governo vai precisar de nós". Passeavam-se ao estilo dos mesmos figurões do costume. Todavia, um artigo de minha autoria, na Semana Ilustrada, desmoronar-lhes-ia quaisquer ilusões. “PIDES À SOLTA! QUEM OS RECOLHE?” Logo que o escândalo veio a lume, foram enviados para a Quinta de Santo António. Essa gente era perigosa; os seus dias, já pertenciam ao passado. Eles e a quase generalidade dos colonos, continuavam a pensar, como se nada tivesse acontecido. Recuavam-se a compreender a nova realidade!
INDEPENDÊNCIA TOTAL, CÁ CU PÔVÔ MECÊ”
Cartaz com que foram dadas as boas vindas ao então Tenente Coronel Pires Veloso - O Primeiro e o último governador pós 25 de Abril - Este o aviso de que a vontade do povo santomense era soberana e imparável, por mais obstáculos que existissem.
Os ativistas – pró-independência - não enveredaram pela luta armada mas causaram forte contestação e instabilidade, não dando tréguas a qualquer ideia ou projeto que não visasse a total libertação do povo oprimido do arquipélago. Promovendo uma constante onda de agitação política e social. Não deram hipóteses a que os movimentos federalistas ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se implantassem.
“Independência-Já” era a palavra de ordem mais ouvida nos comícios e manifestações de rua. E, nos cartazes, os slogans mobilizadores pautavam-se, sobretudo, por um claro e único objetivo, expresso em linguagem popular : “Independência total, çà cu pôvô mecê ” - Independência total é tudo o que povo quer. Os jovens ativistas da Associação Cívica, foram a principal força interventiva e conciencializadora durante o processo de descolonização –. Sem a sua coragem e o seu dinamismo, porventura, ainda hoje as duas ilhas, eram colónias, tal como sucede a outros territórios que estão nas mãos de 61 países
TODAVIA, DECEPCIONANTE AMARGO É CONSTATAR, QUE, 47 ANOS DEPOIS, AS CONDIÇÕES DE VIDA DAS POPULAÇÕES, NÃO SÓ NÃO MELHORARAM COMO CONTINUAM A DEPARAR-SE COM EXTREMAS CARÊNCIAS.
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2014 |
As antigas instalações das roças estão irreconhecíveis e são escassos os modelos de desenvolvimento: - grande parte das plantações foi votada ao abandono. - Não se morre se fome, porque, a fertilidade dos solos, mesmo não sendo devidamente cuidados, têm sempre frutos para oferecer. Porém, não basta: o clima húmido e quente é bom para o turista se maravilhar com o verde luxuriante das florestas ou se refastelar nas praias por uns dias mas é propício ao aparecimento de doenças tropicais, para quem aqui vive, e, não havendo dinheiro para medicamentos e outras necessidades básicas, morre-se de morte lenta e penosa, que é justamente o que está acontecendo com o horrível sofrimento das mais dolorosas e estranhas doenças.
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