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terça-feira, 3 de maio de 2022

S. Tomé e Príncipe – Assinalado o Dia Mundial da Liberdade da Imprensa – Um exemplo democrático em África: aqui não se matam jornalistas mas os salários são demasiados magros - Mas enfrentei essa ameaça por uma multidão de colonos que me quis linchar após invadirem o Palácio do Governador

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista desde 1970  - -Imagens do 3 de Maio de 2019 e outras de datas anteriores


S. Tomé e Principe, um exemplo de liberdade de expressão em África, salvo alguns episódios, em certo período, de sufoco à liberdade de expressão, que se deseja não se repitam

SÃO TOMÉ E PRINCIPE É O 2º PAÍS MAIS PEQUENO DE ÁFRICA -Rico em recursos no mar e na terra, mas ainda com rendimento médio baixo, com uma economia frágil. - Se bem que haja a esperança de que, "Com a potencialização de recursos da economia azul, venha a transformar-se numa grande nação oceânica" - Diz o Governo.

HOUVE GANHOS MAS AINDA INSUFICIENTES 

  “Ao longo dos últimos tempos, houve alguns ganhos, mas, é preciso fazer-se mais para mudar atual imagem da comunicação social e devolver dignidade a classe - Disse Presidente do Sindicato dos Jornalistas santomense, que apelou, na manhã de terça-feira,  ao Presidência da República, a celeridade no processo relativo a alteração de um articulado do estatuto de carreira de jornalistas com vista a melhoria salarial da classe.

Hélder Bexigas fez o apelo nesta manhã de terça-feira, na cerimónia alusiva ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, com realce para a “releitura de alguns diplomas publicados que contribuem para o marco legal do exercício do jornalismo em São Tomé e Príncipe”

O Secretário de Estado para Comunicação Social, Adelino Lucas, que presidiu à abertura da cerimónia organizada pela Associação de jornalistas são-tomenses em parceira com a Secretaria de Estado para Comunicação Social, o Sindicato dos Jornalistas e Comissão da Carteira da classe, .apelidada de “releitura de alguns diplomas publicados que contribuem para o marco legal do exercício do jornalismo em São Tomé e Príncipe”, .defendeu que “A nível da comunicação social tem que se melhorar o rendimento dos profissionais” 

Naturalmente, que não será com baixos salários, que se pode motivar o seu exercício - Certo que o ordenado mínimo, há menos de 4 anos, não atingia os 60 euros, tendo havido sucessivos aumentos, pese o endividamento do pais. 

Sim, nestas maravilhosas e férteis ilhas, abundantes de frutos, ninguém morre de fome - Aqui, quase tudo se produz, mas há outras necessidades que, um ordenado mínimo de 100 euros, mensais, dificilmente poderá resolver

E, também, nestas luxuriantes Ilhas Verdes do Equador, ninguém é morto por expressar a sua opinião, mas os baixos salários, são realmente um grande entrave à dignidade e ao cabal exercício da profissão


Nestas ilhas pacificas do Equador, não se matam jornalistas mas os salários são demasiado magros para estimular a profissão - 
Em
 diversas regiões do mundo, todos os anos vários jornalistas são capturados, assassinados ou mantidos prisioneiros, com destaque para os países onde vigoram regimes ditatoriais.

Os jornalistas são sempre as primeiras vítimas, os bodes-expiatórios da ira popular, das guerras e conflitos - 


Estou nesta imagem atrás da viatura
Em S. Tomé, após o 25 de Abril, só não me lincharam, talvez por milagre - Mas não foi da população nativa que partiram as agressões e ameaças. Aliás, foi no seio desta que eu fui protegido.

O povo é por natureza pacífico. Em São Tomé e Príncipe, não existia criminalidade, senão esporadicamente e mais do foro passional. Os maiores problemas, com que a colonização portuguesa nas ilhas, teve de se  bater, foi com os corsários franceses e holandeses.

A revolução apanhou de surpresa, a generalidade dos colonos, uma vez que, no arquipélago, não havia a guerrilha e a instabilidade das outras colónias - Quando o Povo Santomense, teve oportunidade de  sair à rua e se manifestar, exigindo abertamente a independência, fê-lo calorosamente, mas sem atos de violência


 Mas a  verdade é que havia um movimento silencioso mas ativo. O  MLSTP , que começou estar sediado em Fernando Pó e depois se transferiu para o Gabão,  fazia as suas emissões de rádio, em dialeto e  também atuava no interior das ilhas ( em reuniões sob o maior sigilo, a PIDE andava à coca e, de volta e meia, prendia e espancava. - Tais factos estão hoje suficiente documentados e descritos. 

Os colonos é que desconheciam essas aspirações: julgavam que a guerra, em Angola, não lhes dizia respeito - E, a bem dizer,  do desfecho desta dependia  também o futuro de S. Tomé e Príncipe - E foi justamente o que sucedeu, com a revolução do 25 de Abril  "Nem mais um soldado para a guerra" - E, a partir daí, não havia outra solução que não fosse a dos acordos, em Argel,  para dar a independência às colónias

COLONOS APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM 
 
Um dia, umas centenas de colonos das roças,  deixaram aquelas propriedades e foram-se manifestar ao Governador Pires Veloso  - Ao abandonarem o Palácio, vendo-me junto à esplanada do Restaurante Palmar, desataram correr atrás de mim, munidos dos seus machins.

.. SE ME APANHASSEM,  TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!...  

Mesmo assim, quando corria à sua frente, ainda levei com uma pedra na cabeça e e outra nas costas - 
TIVE QUE ME REFUGIAR, EM CASA DE UM SANTOMENSE: dos pais do Constantino Bragança, que, tendo assistido à perseguição, se deslocou à noite ao local para me colher no seu modesto casebre, algures no mato: Sr. Jorge! Pode descer, que os brancos foram todos para o quartel da Polícia Militar e do Cinema Império e venha para a minha casa"


 
A minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam lá no seu interior,  deixaram-me à porta  o laço da prometida forca de corda. Pelos vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever estas linhas, se me toldam os  olhos, tal os maus momentos por que passei. Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me importo de ser confrontado com os elementos  da natureza mais hostil, mas ser  atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um sentimento de profunda tristeza e revolta.

A liberdade de expressão, ainda não era bem aceite: a mentalidade colonial, reinante, não ia mudar de um dia para o outro. Por isso, caso não viesse a contar com a compreensão e o apoio do então Alto-Comissário, Pires Veloso, estou certo que tinha sido expulso para Portugal, tal como foram alguns revolucionários do MLSTP

Segundo dados da ONU, 55 jornalistas e profissionais da comunicação foram assassinados no ano passado 2021 

A CENSURA QUE EU CONHECI ANTES DO 25 DE ABRIL

Sim, longe vão os dias da censura e dos cidadãos serem presos, perseguidos ou mal tratados por exprimiram as suas ideias. Fui testemunha desses opressivos tempo: no tempo colonial, com os impedimentos censurais do fascismo, que, por várias vezes, me não permitiram a publicação de trabalhos jornalísticos. No pós revolução, com agressões de vária ordem por parte de quem não queria aceitar os novos ventos da história. Refiro-me a atitude de alguns colonos.

SEMANA ILUSTRADA – O ÓRGÃO DA IMPRENSA ESCRITA - DO EXTERIOR – QUE MAIS PÁGINAS DEDICOU A S. TOMÉ E PRÍNCIPE, ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL

Sou Jornalista, desde 1970, então correspondente da Semana Ilustrada, a revista angolana, que mais falou destas ilhas, antes e durante o período revolucionário, após o 25 de Abril, cuja liberdade de expressão me haveria de custar barbaras agressões por parte de alguns colonos, ao ponto de ter abandonar S. Tomé de canoa para a Nigéria

Nunca nenhuma revista ou jornal dedicara tanto espaço nas suas páginas, como a Revista Semana Ilustrada - A Semana Ilustrada, era muito apreciada e popular, nas Ilhas Verdes do Equador, tanto pelos santomenses, que a chegaram até a homenagear, como pela comunidade portuguesa – Esta só nos deixou de apoiar, quando passamos a publicar artigos das manifestações pró-independência e dos massacres do Batepá



AS BRUTAIS PERSEGUIÇÕES E SELVÁTICAS AGRESSÕES FÍSICAS DE ALGUNS COLONOS


Vindas de indivíduos que ainda hoje se gabam no Facebook das sórdidas patifarias, que me fizeram  

 
Ninguém destruiu placas nenhumas  “ Manuel Correia:  Sabem porquê que eu e o Elvido, lhe cortamos o cabelo? PORQUE, NA MANHÃ DE O3 DE FEVEREIRO DE 1975, ELE E UM GRUPO DA CIVICA, PERCORRERAM AS RUAS DA CIDADE DE S.TOMÉ, DE MARRETA NA MÃO, COM ELE A COMANDAR, A PARTIREM TODAS AS PLACAS TOPONÍMICAS QUE CONTINHAM REFERÊNCIAS PORTUGUESAS. Não sabiam ??? E que o menino chorou baba e ranho, a implorar que não lhe cortássemos as lindas madeixas loiras . . Curtir · Responder · 2 · 12 de agosto às 06:29   Veja quem são  https://www.facebook.com/elvido.ricardodeviveiros?fref=ts.....https://www.facebook.com/manuel.sebastiao.75?fref=ts

DEPOIS DO 25 DE ABRIL, A TROPA FEZ A LIMPEZA DO CONTEÚDO DOS PROCESSOS INSTAURADOS PELA PIDE - E SE NÃO FOSSE A SEMANA ILUSTRADA, ATÉ PARECIAM QUE ESTAVAM A GOZAR UMAS FÉRIAS








Atualmente, mesmo que queira fazer-se  uma investigação, em relação à atuação da PIDE; em S. Tomé, penso que não é possível: tanto  pelos condicionalismos da lei, como  pelo facto dos arquivos terem sido todos limpos. Assisti ao transporte dos armários.dos arquivos

Como fui preso, quis saber o que constava da minha fixa, só lá descobri as capas do processo: - A tropa, subordinada ao  Comando Territorial Independente,  foi lesta em defender a PIDE  -  

Se não fosse uma manchete da minha revista, os agentes da PIDE continuavam a passear.se por lá, como se nada tivesse  mudado - Pena não terem chegado algumas edições  a Portugal, após o 25 de Abril. 

Aliás, numa certa manhã, um dos PIDES,, sentado com outros PIDES, ao lado da minha mesa, na esplanada do Rialto, afirmava, de expressão risonha, alto e em bom para que toda a gente o ouvisse: "eles vão precisar também de nós!" - E toca de entornar cervejas para as gargantas - Curiosamente, lembro-me que nessa mesa, até estava o tal Duarte, mais bebericando e  rindo do que falando - Mas, como toda a gente os conhecia, muitos colonos conviviam com eles.

Só depois de um artigo de minha autoria, alertando para a provocação da sua ostentação pública, é que então foram mandados para a Quinta de Santo António, a mesma que havia albergado as crianças do Biafra. Essa minha consulta, na Torre do Tombo, ainda ocorreu em boa altura, ou seja, antes de algumas forças políticas, aprovarem leis restritivas

IMPEDIDO DE SER ADMITIDO NOS QUADROS DA EMISSORA NACIONAL, três meses antes do 25 de Abril - Onde era operador do ERSTP, a termo precário - Por ter criticado o Diretor de Turismo, na Revista Semana Ilustrada, de Luanda - Um telegrama, enviado para a Emissora Nacional, a pedido Diretor dos Serviços Técnicos, inviabilizara a minha admissão no quadro:

RECEANDO  QUE  PUDESSE SER ADMITIDO - A INFORMAÇÃO TEVE MESMO DE SER ENVIADA  DE URGÊNCIA VIA TELEGRAMA - Este o teor:


"REPARTICAO DOS SERVIÇOS GERAIS DA EMISSORA NACIONAL LISBOA

VIRTUDE DE SUMÁRIO INQUÉRITO SOBRE PROCEDIMENTO OPERADOR JORGE LUIS MARQUES. REFERIDO NSI 1929 12 CORRENTE FECAEEE PELO VEXA NÃO CONSIDERAR AQUELE OPERADOR PARA INCLUSAO ARTIGO  19/0


NÓS E O PRESIDENTE DO INSTITUTO DE TRABALHO

DEPOIS DO 25 DE ABRIL - O Presidente do Instituto de Trabalho, pressionou o Governador a expulsar-me de S. Tomé: colocou o seu lugar à disposição do Governador: ou era eu expulso ou ele se demitia - Mas, a revolução do 25 de Abril de 1974, estava na rua e trocou-lhe as voltas - Passei a poder escrever o que antes me estava vedado, porém, só Deus sabe as represálias e agressões de que fui alvo



Eis outro excerto da cópia do ofício que foi enviado para a Semana Ilustrada
Da Repartição de Gabinete do Governo de São Tomé e Príncipe, recebemos o seguinte oficio: 

Incumbe-se Sua Excelência o Encarregado do Governo de solicitar, nos termos do art, 414,  do E.F.U., a transcrição seguinte comunicado na Revista da mui digna direcção de V. Exa, como mesmo destaque e na mesma página em que  a noticia foi publicada;

Sob o título: “Nós e o Presidente do Instituto de trabalho” , e assinado por Jorge Trabulo Marques, publica o número 366 da revista “SEMANA ILUSTRADA”, um artigo me que se produzem várias afirmações que põem em causa a actuação do actual Presidente do Instituto do Trabalho e Acção Social desta província

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