Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Pormenores atualizados em https://canoasdomar.blogspot.com/2022/05/funeral-de-evaristo-carvalho-realiza-se.html
Evaristo Carvalho Março 2016 - |
Morreu este sábado, aos 80 anos, em Lisboa, vítima de doença prolongada, o Ex-Chefe de Estado de S. Tomé e Principe, Evaristo Carvalho - Pude com ele testemunhar a pedra gravada na orla marítima de S. Tomé, com parte da célebre divisa do Infante Dom Henrique, que os navegadores portugueses das caravelas, ali teriam deixado, há mais de V séculos, quando aportaram, naquele local, a chamada Lagoa Azul, uma singular baía de águas profundas, situada a nordeste de S. Tomé, num espaço privilegiado e protegido dos ventos - Infelizmente, já foi desfeita. Houve na área umas triturações nas pedras e esses vestigios ficaram irreconhecíveis. Para meu desapontamento, pude comprovar esse facto em Maio de 2019 - http://canoasdomar.blogspot.com/2018/12/descoberta-de-s-tome-ha-uma-pedra.html
As minhas sinceras e mais sentidas condolências aos familiares e amigos, do meu antigo camarada da Brigada de Fomento Agropecuário, cidadão santomense, já então muito estimado entre todos os que o conheciam ou com ele trabalhavam.
Do antropólogo, Prof. Gerhard Seibert, devotado e prestigiado estudioso de S. Tomé e Príncipe, recebi por email estas sentidas palavas, que aqui reproduzo “Lamento muito o falecimento de Evaristo Carvalho. As minhas sinceras condolências à toda a sua família enlutada".
O Governo decretou 5 dias de luto nacional, a partir do meio dia do ultimo domingo, em honra a Evaristo Carvalho,referindo que «A bandeira nacional deverá manter-se em meia haste e ficam proibidas a prática de atividades desportivas, a atuação dos conjuntos e bandas musicais, discotecas e demais atividades recreativas»,
Tomei conhecimento da inesperada noticia, que muito me entristeceu, antes de ser divulgada na imprensa, por gentileza do Sr. Embaixador da Guiné Equatorial Tito Mba Ada, visto saber dos laços que nos ligavam desde há longos anos - Aliás, também Evaristo de Carvalho, era uma personalidade muito admirada na Guiné Equatorial
De recordar a mensagem de profunda consternação e sentida comoção, que enviara, em Março do ano passado, ao Chefe de Estado Obiang, ao tomar conhecimento da enorme explosão num paiol militar que causou dezenas de mortes e centenas de feridos, mergulhando assim o povo da República Irmã da Guiné-Equatorial na dor e luto”- Lia-se na mensagem, que então enviou ao seu hómologo - E que, agora, certamente, a sua morte, não deixará de ser manifestada por parte de Malabo.
Sim, havia, entre nós, laços de amizade e de camaradagem, desde os distantes tempos, em que ambos trabalhávamos na Brigada de Fomento Agropecuário: ele, como Chefe de Secretaria, eu como modesto técnico agrícola.
Mesmo assim, ele sempre foi humilde, pacato e cordial, igual a si próprio, relacionando-se com todos, da mesma maneira respeitosa, simpática, cordata a e comunicativa
Impunha-se pela qualidade do seu trabalho, em que toda a gente confiava: não era estilo subserviente ou de vergar-se em devaneios artificiais para cair nas graças hierárquicas, tal como também não era suposto que se lhe conhecesse qualquer tendência anticolonialista, ao contrário de um funcionário (já me não ocorre o nome) que fazia de capataz nos trabalhos agrícolas e, dada a sua impertinência, na voz e na postura, até se dizia que ele ia ser o dono daqueles terrenos e da ilha, se algum dia S. Tomé, ascendesse à independência.
Esta palavra, não era comum ser pronunciada (era proibida no léxico linguístico colonial) mas pessoalmente também não duvidava que não deixasse de ser pensada e até muito desejada, numa certa elite da Ilha – Nomeadamente por aquela que sofrera os horrores do Batetá, ainda com a memória bem fresca, daquelas atrocidades do Governador Carlos Gorgulho. Nessa altura, o jovem Evaristo, já tinha 14 anos: por certo que dificilmente se esquecerá – e se calhar aquele seu ar introspectivo, um tanto ou quanto contristado, que evidencia quando não sorri, lhe terá ficado do que observou nesses atribulados dias, porventura aos seus pais, amigos ou familiares. - Filho de Pedro Carvalho dos Santos e de Maria do Espírito Santo Dias – Sim, pois qual foi a família que escapou à fúria colonial desses conturbados dias?!..
Amuletos históricos |
Foi uma tarde, que dificilmente esquecerei; que não esperava viver naquele dia, quando me encontrou na Praça da independência e teve a amabilidade de me convidar a dar um passei no seu carro.
Evaristo de Carvalho, além dessa interessante experiência, pouco comum, a um são-tomense, no período colonial, o facto de, em duas ocasiões (Julho a Outubro de 1994 e de Setembro de 2001 a Março de 2002), ter desempenhado as funções de Primeiro-Ministro ou seja, o politico a quem fora confiada a missão de preencher os espaços vazios na ação governativa, devido à demissão dos Governos, que estavam em exercício.
O Presidente da República Português, Marcelo Revelo de Sousa, apresentou, através do site oficial da PR, as mais sinceras condolências ao povo de São Tomé e Príncipe e ao seu Presidente Carlos Vilanova, pelo falecimento do antigo Presidente Evaristo Carvalho, que sempre teve excelentes relações com Portugal, antes e durante o seu mandato.
Evaristo Carvalho teve uma longa trajetória política: Presidente da Assembleia Nacional entre 2010/2012, foi primeiro-ministro por duas vezes, em 1994 e entre final 2001 e inicio 2002, ele ocupou ainda as funções de ministro da Defesa e Ordem Interna. Em 2011, candidatou-se pela primeira vez à Presidência do país. Desta vez ainda sem sucesso.
Foi chefe de gabinete de Miguel Trovoada quando este foi Presidente da República e aderiu ao Ação Democrática Independente (ADI), partido hoje liderado por Patrice Trovoada, pelo filho daquele antigo primeiro-ministro
De recordar, que, o ex-Chefe de Estado Santomense, nas comemorações dos 46 anos da independência, em 12 de Julho 2021, disse à nação santomense que sociedade nenhuma desenvolve estando mergulhada numa tão profunda crise de valores.«Respeito ao próximo, em particular aos pais, aos professores, aos chefes e aos idosos. Tratamos os outros cada vez com menos atenção e consideração», declarou o Presidente da República.
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