O Dia Mundial dos Oceanos é celebrado anualmente a 8 de junho e
pretende lembrar a importância dos oceanos no nosso quotidiano, enquanto
«pulmões do planeta».
Este dia é assinalado por
muitos países, especialmente depois da Conferência sobre o Ambiente e
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992.
Algures no Golfo da Guiné, 23 de Novembro de 1975 - Há 47 anos - Jorge Trabulo Marques - Não arrisquei a vida em busca de efémeras glórias e de medalhas, nem as desejo aceitar mas por que me bati por nobres ideais e quis dar sentido à minha vida
«Sempre, enfim, pera o Austro a aguda proa,
No grandíssimo gôlfão nos metemos,
Deixando a Serra aspérrima Lioa,
Co Cabo a quem das Palmas nome demos.
O grande rio, onde batendo soa
O mar nas praias notas, que ali temos,
Ficou, co a Ilha ilustre, que tomou
O nome dum que o lado a Deus tocou.
(...) «Contar-te longamente as perigosas
Cousas do mar, que os homens não entendem,
Súbitas trovoadas temerosas,
Relâmpados que o ar em fogo acendem,
Negros chuveiros, noites tenebrosas,
Bramidos de trovões, que o mundo fendem,
Não menos é trabalho que grande erro,
Ainda que tivesse a voz de ferro" - Lusíadas.
Em meu redor é o mar! E é noite de luar!... No alto do
cósmico arco, e já muito acima do ponto onde se ergueu do fundo das
águas, brilha um impressionante disco lunar, cuja claridade se espalha por uma imensa superfície espelhada de
infindos brilhos de prata e por infindas pregas de enrugada extensão, ora
cintilando, ora desmaiando, mas cá em baixo o seu brilho vem somente tornar
ainda mais visível a face
conturbada da infinita solidão que me submerge. Pois, de tão longínquo, não
desfaz por completo as negras nuvens que pairam em torno do obscuro
horizonte que me envolve, que continuam a revelar-se, como olhos de
assombrosa e velada ameaça!..
.
Sim,
alta vai a noite e alta brilha a lua e eu não durmo! - Ondulam nervosas
e escuras águas e, por tão agitadas, adio o meu repouso; nem tão pouco posso dormir
nem descansar. No entanto, completamente alheia à minha incerteza, a
canoa lá vai subindo e descendo a cova e a dobra de cada onda do imenso manto
tumultuante. Sei a direção que
toma mas não faço a mínima ideia onde estou nem para onde vou.
Sozinho, apreensivo e triste, lá
vou balanceado pela noite afora, velejando ansioso, proa apontada
ao desconhecido. Tosco pano içado em tosca vara de mato a desafiar os ares
destes turbulentos mares. Atento e vigilante. Atormentado pela incerteza, pela
fome e pela sede- sim, a água que recolhi das chuvas, é pobre. Sem comer e sem
poder dormir, lá vou velejando, impossibilitado, mais das vezes, de
o fazer. Derivando, indo arrastado, ignorando o destino para onde me conduz o
movimento incessante deste ondulante e lívido manto líquido.
Mas,
oh Deus, a lua, descoberta ou encoberta, lá segue imperturbável o seu percurso
- Jamais força alguma a desviará a impedirá de mostrar à
Humanidade e a toda a Criação, as várias faces do seu rosto. Mas, o meu
destino, como será?!... Sozinho e abandonado, debaixo da sua luz, ao sabor dos
caprichos do mar e do vento, para onde me levará a noite?!... Qual o
meu caminho?!... .. Quem me responde?!...
A que enseada de águas calmas, límpidas e profundas,
a que bom porto de abrigo ou praia de areia fina, a minha
canoa, poderá tranquilamente acostar? Ou a que íngreme escarpa,
promontosa arriba, rochosa falésia, poderei vir a ser atirado e
despedaçado?!... E, depois, o que poderá acontecer-me se pisar a tão
desejada floresta, luxuriante e fértil, carregada de frutos silvestres, chão
viçoso e perfumado, a tão ansiada terra firme?!..
Como
irei ser recebido?!...Apiedando-se de mim, deste miserável náufrago,
acolhendo-me, humanamente, ou intrigando-se com o meu aspeto, magro,
atormentado, queimado e olheirento, de criatura vinda de outro
mundo?!...
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Âncora flutuante |
Recebendo-me com desumana desconfiança e
hostilidade, como perigoso invasor e foragido?!.. Vendo em mim o ser pacífico,
que ousou enfrentar sozinho as procelosas ondas dos tornados ou o vil
estranho, o suspeito, desembarcado de barco
espião ou pirata?!...
Dez dias depois, conheceria a resposta - detido, algemado, encarcerado!... Mas,
agora, era a noite, mais uma longa noite equatorial, um longo e exaustivo desafio - E, cada
noite, nestes mares, não é uma noite, como outra qualquer, mas a
sombria eternidade, a sempre misteriosa e antiquíssima noite, que, a cada
momento, vai mostrando, aos meus olhos, ansiosos e perscrutadores, as
mais diversas máscaras e fantasmas, com que se cobre ou revela.
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