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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Ilha do Príncipe – Descoberta em 17-01-1471, por navegadores portugueses – Em janeiro de 1970, fiz a TRAVESSIA DE CANOA de S. Tomé ao Príncipe – A 1ª das três travessias para demonstrar que as antigas canoas podiam ter povoado as ilhas do Golfo da Guiné, tal como sucedeu nas ilhas do Pacífico – PRÉMIO da ousadia: espancado pela PIDE-DGS e pesada coima da Capitania dos Portos.

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista, navegador solitário em canoas e investigador

João de Santarém e Pero Escobar,  depois de terem desembarcado na Ilha de S. Tomé, a que deram o nome do apóstolo S. Tomé,  em 21 de Dezembro de 1470,  acostaram  no mês seguinte,  em 17 de Janeiro de 1471,   à ilha a  que deram o nome de Santo Antão.  - Pai do monaquismo cristão, nascido  no Egito em 251 e falecido a 356, com 105 anos Celebrado em 17 de janeiro de cada ano.

TAMBÉM EU FIZ A  MINHA TRAVESSIA  DE S. TOMÉ AO PRÍNCIPE - 500 ANOS DEPOIS 

Diário Popular - Lisboa

 Receando que não fosse autorizado, parti à meia-noite, clandestinamente, disfarçado de pescador, levando para me orientar, apenas uma rudimentar bússola. Fui preso pela PIDE (polícia política do velho regime colonial), por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de STP, sediado no Gabão. Enfrentei dois tornados, à segunda noite, adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar. Esta era minúscula e foi um verdadeiro drama ter-me conseguido salvar.

Revista Semana Ilustrada - Angola

Deu-se a circunstância, de nessa altura, depois de ter sido libertado dos calabouços da  PIDE-DGS, se encontrar em S. Tomé, o chefe de redação da revista de Luanda, Semana Ilustrada, que me convidou a descrevê-la. Mais tarde seria também publicada em jornais portugueses.

Essa reportagem, publicada em cinco edições, sob o titulo de Viagem Clandestina ao Paraíso, deu-me a oportunidade dos primeiros passos no jornalismo e de alterar o curso da minha vida em S. Tomé, onde desembarquei em Nov de 1963, a bordo do paquete Uíge  para um estágio de técnico agrícola na Roça Uba-Budo - Era   o começo de muitas histórias .


JOÃO DE SANTARÉM E PERO ESCOBAR -  Quando partiram já sabiam o que procuravam  - Mas, nesse tempo, já as pirogas eram soberanas e cruzavam as águas do Golfo da Guiné -  Pelos menos aos cartógrafos do século XVII, não passava despercebida a sua importância  -  "Ao mar do cabo de Lopo Gonçalves, sessenta léguas de caminho ao lés-noroeste deste cabo, está a ilha que se chama S. Tomé, a qual mandou descobrir o Sereníssimo Rei D. João o Segundo de Portugal, e a povoou" . E descobrir, naquela época, significava explorar.

É reconhecido por historiadores, que foram  os navegadores portugueses João de Santarém e Pedro Escobar, que, depois de terem desembarcado na Ilha de S. Tomé, a que deram o nome do apóstolo S. Tomé,  em 21 de Dezembro, e, no ano seguinte,  no dia 17 de Janeiro de 1471, avistaram no alto mar a ilha verde a 140 quilómetros, situada a cerca de 250 e 225 km da costa noroeste do Gabão, a  que a denominaram como "Ilha de Santo Antão".

Visando incentivar o seu povoamento, em 1502 tornou-se uma donataria, denominada como "Ilha do Príncipe", sendo-lhe introduzida a cultura da cana-de-açúcar. Fora nomeada ilha do Príncipe por D. João II de Portugal. O rei tanto adorava o seu único filho e herdeiro Afonso, Príncipe de Portugal (1475) que, em sua homenagem, designou como "Príncipe" a ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe. - Em 1573 a donataria reverteu à posse da Coroa Portuguesa.

No contexto da Dinastia Filipina foi invadida e ocupada por corsários Neerlandeses de agosto a outubro de 1598, e novamente em 1600. Nesse ano, visando incentivar o seu povoamento e defesa, a Ilha do Príncipe recebe Carta de Foral


Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!


São Jerónimo era geralmente a baliza de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao fim da tarde e pela noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um pouco isolado e retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o mar.

Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, assim como dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado.



Alcandorado na ponta de Sagares - aos 16 anos
Sabia dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! mas entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas orientado por razões mais fortes


Havia algo, no fundo de mim,  impelido como que por um pendor sobrenatural inexplicável que me fazia acreditar que, mesmo que apanhasse alguns sustos, tal como já havia acontecido em anteriores viagens, lá haveria de sobreviver e de me safar!.

O mar também é generoso quando quer ... A sorte protege os audazes e acreditava que o mar haveria de compreender os objetivos pelos quais que norteava o meu espírito e a minha temeridade.

Há que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém,  embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros

 

Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  

Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações. Eu próprio me desloquei de canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves ao recanto de  Anambó Local onde é suposto terem aportado pela primeira vez, João de Santarém e Pero Escobar  - Mas não foi neste local mas sim na Lagoa Azul  onde posteriormente vim a encontrar a inscrição do lema do Infante Dom Henrique, que os navegadores portugueses costumavam deixar em pedras ou em troncos de árvores, onde aportavam pela primeira vez.


O PASSADO JÁ NÃO PODE SER ALTERADO, REPETIDO OU MODIFICADO: A ligação histórica, afetiva e cultural de Portugal, é indubitável,  com as  Ilhas Verdes do  Equador, tanto S. Tomé e  Principe, como Ano Bom e Bioko, ex-Ferando Pó, - Só que, muito antes dos portugueses, ali terem desembarcado, havia outra realidade que nunca foi dita e persite em ser ignorada  

Deve ser investigada e estudada sem preconceitos ou reservas de qualquer espécie para melhor compreensão da origem de um pouco e da própria identidade 

Os tempos já não se compadecem, nem com obscurantismos nem com hipocrisias ou submissões mas devem ser de frontalidade e de esclarecimento. Só compreendendo as verdadeiras raízes históricas, se alicerça o momento presente e se parte com coragem e determinação para os desafios do futuro. 

Pouco tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, fiquei logo com a impressão de que as ilhas, eram possuidoras de uma história muito mais antiga, que a admitida pelo colonialismo. Aos povos africanos, situados no litoral e a sul de São Tomé, não teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das correntes.

HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃOQUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.

Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou  a que convinha ao Reino..

Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira. 

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico


Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem bóias, meios de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase desprovido de tudo. Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do Golfo da Guiné

Ilha do Príncipe é Reserva da Biosfera mundial – Motivo de orgulho 

Foi  em Julho de 2012,  quando se comemoravam  os  37 anos de independência de São Tomé e Príncipe, que a UNESCO decidiu reconhecer,  a ilha do Príncipe, como Reserva da Biosfera Mundial.

É uma das regiões do arquipélago,  onde a pobreza, é dominante. A descontinuidade geográfica, provocou duplo isolamento da ilha, isto é, em relação a São Tomé e ao continente africano

Com mar rico em pescado, Príncipe é coberto de uma floresta virgem, contornado por praias também em estado virgem. É atualmente o único berço seguro de uma das espécies de tartarugas em fase de extinção no mundo, a SADA. O Papagaio do Príncipe, é outra espécie animal em vias de extinção na região do Golfo da Guiné.  Terra de plantas endémicas com propriedades curativas já comprovadas a nível científico, Príncipe tem todas as condições para ser um pequeno jardim do Éden, para o turismo

(construção da canoa Yoan Gato - que usei na minha última viagem)  Defendo, pois,  a teoria de  que os primeiros povoadores, aqueles que, pela primeira vez,  aportaram nas suas baías,  foram os hábeis navegadores das canoas, vindos da costa africana. 

Demonstrei essa possibilidade através das várias travessias que empreendi - De resto, não será por mero acaso que as canoas surgem nas cartas do século XVII, com idêntico destaque ao das caravelas
Em minha modesta opinião, a história das descobertas prima mais pela ficção e efabulação de que em dar-nos conta do que se verdadeiramente se passou. Mas o fenómeno da sublimação foi transversal a outras potências coloniais.

 .Mesmo, acerca do ano e dia da chegada dos Portugueses, às Ilhas do Golfo da Guiné, há mais dúvidas de que certezas. Era cómodo fixar uma data e julgo que foi o que sucedeu.

Para alguns cartógrafos do século XVII, as pirogas assumiam a mesma importância  que as caravelas - lá tinham as suas razões: ambas dominavam os mares no Golfo da Guiné  -
 Jodocus Hondius (1606; 1628 or 1633)...Bertius (1649), mapas onde as canoas não são ignordas

Quando os europeus demandaram a costa de África, já os africanos, há muito mais tempo, haviam sulcado o litoral marítimo, subido e descido os rios e ligado as ilhas limítrofes  com as suas pirogas talhadas em enormes troncos de árvore

O mesmo sucedeu em várias ilhas do Pacifico:"  Muitos antes dos navegadores europeus, chegarem ao Pacificio ou tão pouco suspeitarem sequer da sua existência, praticamente todos os habitantes das suas ilhas  como das suas praias, eram  de origem asiática: já esses povos haviam sulcado  de ponta a ponta esse imenso oceano e se  estabelecido  nas suas inúmeras ilhas.

Os polinésios sabiam orientar-se pelo sol, pelas estrelas e pelo voo das aves migatórias. Esses extraodinários navegadores, que foram chamados , com propriedade "os navegadores supremos da história", devassaram todo o pacífico e colonizaram todas as ilhas, algumas delas isoladas a milhares de milhas da vizinha mais próxima, em barcos sem coberta e não dispondo de bússola ou qualquer instrumento náutico.

Esta colonização  levou, naturalmente, muitos séculos a consumar-se. Era feita por grupos de familias embarcadas nas suas canoas que velejavam em linha, cada uma à distância da visão da que se lhe seguia atrás, até delas divisar uma ilha habitável. Aí se instalavam , então, e viviam,  até que, crescendo em número , as reservas alimentares  da ilha se tormnassem escassas, ou até que o amor da aventura os levasse à demanda de nova paragens - Diz L. F Hobley, em Oceano Pacífico. origem asiática: já esses povos haviam sulcado  de ponta a ponta esse imenso oceano e se  estabelecido  nas suas inúmeras ilhas.

 
São Tomé e Principe  - Ilhas maravilhosas! - Verdadeiros paraísos verdejantes, orlados de espuma, situados no Equador! Perdidos como frondosas umbelas de Deus no meio do mundo. 

Não se sabe ao certo, em que ano e  dia ali teriam chegado as primeiras canoas com os primeiros povoadores a bordo dos grandes troncos escavados das árvores gigantescas, cortadas nas florestas costeiras africanas, nomeadamente a sul do Gabão e a Norte do Zaire - Canoas essas, que, aproveitando as correntes e os ventos favoráveis, ali teriam aportado.
Seguramente, que os intrépidos navegadores africanos, ter-se-iam dirigido, para essas ilhas, muito antes do homem europeu ter-se deslumbrado com a sua vegetação luxuriante.

Defendo, pois,  a teoria de  que os primeiros povoadores, aqueles que, pela primeira vez,  aportaram nas suas baías,  foram os hábeis navegadores das canoas, vindos da costa africana, tal como sucedeu nas ilhas do Pacífico. 

Demonstrei essa possibilidade através das várias travessias que empreendi - De S. Tomé ao Principe; de S. Tomé à Nigéria 13 dias - E, por último, de Ano Bom a Bioko, 38 dias,  em consequência de um tornado,  que me fizera perder o remo principal e outros apetrechos rudimenares, quando  ali fui largado num pesqueiro para tentar a travessia do oceano Atlântico, rumo ao Brasil, pela corrente equatorial. - Pormenores mais à frente.


CUSTAVA-ME A CRER QUE OS PESCADORES - TÃO EXÍMIOS NAS CANOAS - SENTISSEM ALGUM PAVOR EM PERDER A SUA ILHA DE VISTA
 

2014
1970
A cada pescador que eu perguntasse se já tinha ido à Ilha do Príncipe,
 a resposta era invariavelmente a mesma: "Quando vem tornado e leva canoa, só gente de feitiço é que vai lá parar. Vem gandú e come perna de gente".

Achava a justificação um bocado fatalista: se ele lá iam parar involuntariamente, eu também lá podia ir voluntariamente.   - E foi o que demonstrei em três travessias solitárias no Golfo da Guiné.  

O colonialismo foi tremendamente castrador e repressor e contribuiu  para criar muitos fantasmas nas populações nativas. Pelos vistos, os pescadores, estavam em vias de perder a sua memória ancestral. Se eles eram arrastados, involuntariamente, com a sua canoa para as costas do Gabão, dos Camarões ou da Ilha do Príncipe, era sinal que as canoas resistiam e também lá podiam ir voluntariamente.


Travessia de S. Tomé ao Principe: receando que não fosse autorizado, p
arti à meia-noite, clandestinamente, disfarçado de pescador, levando para me orientar, apenas uma rudimentar bússola. Fui preso pela PIDE (polícia política do velho regime colonial), por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de STP, sediado no Gabão. Enfrentei dois tornados, à segunda noite, adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar. Esta era minúscula e foi um verdadeiro drama ter-me conseguido salvar.


Este o meu primeiro desafio: pretendeu também  contrariar esse fatalismo, que parecia instalar-se na sua mente e nos seus olhos. Mostar-lhes que as suas canoas - mesmo que o tornado as arrastasse - sendo de madeira do ócá (quase tão leve como a cortiça), podiam ir dar a qualquer parte - Eu precisava de lhe fazer essa demonstração.

Apreendida na Capitania do Principe 
Quando comprei a primeira canoa (por 200$00)a um pescador na Praia do Lagarto, eu justifiquei-me dizendo que queria ir nela ao Príncipe: "Você não seja louco!" Você, morre no caminho!.... Se você vai fazer isso, eu digo capitania!"  - Na imagem a canoa, apreendida junto à capitania da Ilha do Principe - A bordo o chefe de redação do jornal A Voz de S. Tomé, eu, o chefe de readção da revista Semana de Angola e outros três jornalistas  jornalistas portugueses, vindos da metrópole, creio que por altura da visita de Américo Tomás ao arqueipélago. 

Não tive outro remédio senão mudar de praia... Quando, mais tarde, se constou que fizera essa travessia, passei a ser encarado como feiticeiro - E a ser procurado, por um dos profissionais - Ele pedia-me que lhes ensinasse os meus segredos - mas que segredos?...Em todo o caso, não deixámos de partilhar experiências, pois também as tive em garoto.

Cinco anos depois, em Março de 1975, após 25 de Abril, fiz a travessia à Nigéria, numa canoa um pouco maior. Parti, igualmente, sem dar conhecimento a ninguém, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma modesta bússola. Ao cabo de 13 dias chegava a uma praia ao sul da Nigéria, tendo sido detido durante 17 dias, por suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os jornais nigerianos destacaram em primeira página esta minha aventura.

Há muito vinha preparando esta travessia, que a tive de antecipar  para me livrar  das agressões e ameaças de morte, de que vinha sendo alvo por parte de alguns colonos, com  os pneus do meu carro cortados à navalhada, uma forca pendurada à porta da minha residência, depois de a terem arrombado e vandalizado, além dos espancamentos numa emboscada que me fizeram na rua à entrada do prédio onde morava..   

Era então correspondente da revista angolana Semana Ilustrada: - por não tolerarem os meus trabalhos jornalísticos, dando voz ao movimento defensor pró-independência e  publicando as primeiras imagens dos massacres do Batepá, entre outros artigos e entrevistas 


Regressado a São Tomé, ainda no mesmo ano, e já com São Tomé e Príncipe independente, tentei empreender a travessia ao Brasil, entre outros objetivos, com o propósito de evocar a rota da escravatura através da grande corrente equatorial, contribuir para a moralização de futuros náufragos, à semelhança de Alan Bombard.

Segundo este investigador e navegador solitário, a maioria das vítimas morre por inação, por perda de confiança e desespero, do que propriamente por falta de recursos, que o próprio mar pode oferecer. Era justamente o que eu também pretendia demonstrar - Navegando num meio tão primitivo e precário, levando apenas alimentos para uma parte do percurso, munido, unicamente, de uma simples bússola, sem qualquer meio de comunicar com o exterior


A canoa foi transportada num pesqueiro americano para ser largada um pouco a sul de Ano Bom, na zona de influência da grande corrente equatorial. O comandante do barco, no entanto, faltou ao prometido: tentou dissuadir-me a não fazer a viagem, a abandonar a canoa e a ficar a bordo.

Não podendo navegar para oeste, vi-me forçado a voltar a São Tomé para tentar a travessia noutra ocasião - Um violento tornado, logo na primeira noite, far-me-ia perder quase tudo. Estava-se na época das chuvas e era a pior altura para se navegar sozinho no Golfo Acabaria por acostar, 38 dias depois, à Ilha de Bioko, ex-Fernão do Pó, a mais setentrional Tendo sido preso e condenado à forca na Blak Beack, por suspeita de espionagem. Mas, milagrosamente, lá me safei, graças a uma mensagem carimbada da MLSTP, que era dirigida ao povo brasileiro, por intervenção do então Comandante Obiang, atual Presidente da Guiné Equatorial, contrariando as ordens do seu tio, o ditador Francisco Macias

Acabaria por acostar, 38 dias depois, à ILHA BIOKO - EX-FERNÃO DE PÓ - a mais setentrional .

Mas só soube, quando fui ter   a uma finca, que era a  à ilha de BiokoBioko –ex-Fernão do  ,  

Tendo assim realizado a mais longa travessia entre as ilhas;  da ilha mais meridional à mais setentrional do Golfo da Guiné - Apesar das extremas dificuldades, pude sobrevir e enfrentar as maiores adversidades, provando, desse modo, que as pirogas podem resistir às mais violentas tempestades ou situações de mar.

Mesmo assim, julgo que valeu a pena - Queria prosseguir a experiência de Alain Bombard- Mostrar aos náufragos que o maior inimigo não é o mar mas o desespero - E, afinal, acabei mesmo por lutar como o náufrago que não se rende.

Pretendia reforçar a minha teoria, sobre as capacidades das pirogas, e, mesmo sozinho, logrei por três vezes navegar grandes distâncias dentro delas, provando que também as mesmas podiam ter sido usadas pelos primeiros povoadores das ilhas. 

Qual dinheiro, qual riqueza?!... - Qual vida tranquila, qual quotidiano ocioso e sem sobressaltos! quando se prossegue um ideal, um objectivo, um sonho! - Não é exibir a vaidade mas expor com fraqueza a verdade.

Antigos mapas já existiam mas estavam arrumados e esquecidos em velhos arquivos. Agora, vieram à luz do conhecimento e das novas tecnologias - Mercê de dedicados investigadores. Eu, porém, continuo a recuar no tempo, muito para lá da existência de qualquer mapa


A notícia de que, naquele imenso Golfo, existiam ilhas maravilhosas, ter-se-ia espalhado, desde há muitos séculos, ao longo da costa limítrofe - De há muito que grandes canoas sulcam aquelas águas.

 CHEGUEI AVISTAR AS DUAS ILHAS:  Numa das minhas travessias de canoas, num certo dia e a meio de uma tarde na sequência de uma tempestade a Ilha do Principe e de Fernando Pó, tal como pude também ter essa comprovação, avistando, simultaneamente, S. Tomé e a Ilha do Principe, quando fiz a travessia de canoa, entre ambas as ilhas  

A GRANDE EPOPEIA AFRICANA NÃO PODE SER IGNORADA -  - O continente africano é o berço da humanidade: foi daí que irradiou o Homo sapiens . Os seus homens e mulheres, povoaram lugares nunca dantes povoados; atravessaram continentes, criaram civilizações, culturas e formaram reinos - E, mesmo os que nunca dali partiram para a grande aventura da Diáspora, tinham os seus costumes, as suas tradições e  as suas hierarquias - Eram livres à sua maneira.  

O  europeu veio mais tarde para retalhar os espaços geográficos à mercê das suas conveniências, corromper  os próprios comerciantes de escravos (sim, porque a escravatura, é tão antiga como o homem) ficando  eles com a fatia de leão: para dividiram territórios, humilharem, dominarem e escravizarem as populações a seu belo prazer, usurpando as suas riquezas


Ilha de Bioko à vista  Meu registo em 1975
A Ilha de Bioko, a mais setentrional, e também a mais próxima de terra (30 quilómetros ao largo da costa ocidental de Áfricaera fácil de ser avistada, até pelo seu imponente relevo. Desta ilha, e depois da atmosfera ficar limpa, após uma grande chuvada ou tempestade, é possível avistar o Pico do Príncipe. O mesmo sucede, em relação a S. Tomé, a quem se encontre nas partes altas da ilha irmã. Assim sendo, a existência das ilhas no Golfo, dificilmente seria ignorada

Ao fundo à esquerda vislumbra-se Bioko, desde a costa camaronesa - Imagem extraída de um interessante estudo de autoria do Tenente-coronel João José de Sousa Cruz - Publicado na Revista Militar ::- As Ilhas do Equador – II Parte

Vivi doze anos em S. Tomé. Num certo dia, pude  fotografar, na Praia das 7 ondas e Praia da Colónia Açoriana, várias toras que ali deram à costa, com a sigla de empresas madeireiras de Cabinda. E foi essa observação, que me fez também refletir para o possível povoamento das ilhas, através das primitivas embarcações, oriundas da costa africana: se uma tora ali ia parar, era sinal de que as canoas, ali também pudessem facilmente aportar, levadas por ventos e correntes favoráveis.



AS CANOAS DE  SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE SÃO MAIS PEQUENAS QUE AS DO LITORAL AFRICANO -  As ilhas são montanhosas e as roças também não permitiam o abate de  grandes árvores - Mas a ligação dos primeiros povos foi  realizada a partir da costa africana para as ilhas à vela e a remos. Após a independência,  houve um período em que eram frequentes as viagens da Nigéria para São Tomé, com auxílio de motores fora de borda- O regresso é feito à veja e a motor

Menzies pretende demonstrar que "os grandes navegadores europeus dos séculos XV a XVIII – caso de Cristóvão Colombo, de Vasco da Gama, de Fernão de Magalhães ou de James Cook, por exemplo – partiram para as suas viagens através do Atlântico ou do Pacífico sabendo de antemão o que iam encontrar uma vez que estariam munidos de cópias de mapas chineses ou de mapas que incorporavam os alegados conhecimentos cartográficos chineses resultantes das navegações patrocinadas por Yongle- In .Revista Eletrônica RETIRA.da existência de qualquer mapa

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