Jorge Trabulo Marques - Jornalista
O ex-presidente do parlamento são-tomense
Delfim Neves, na entrevista que me concedeu, em Lisboa, onde se encontra, desde
há cerca de mês e meio, a receber assistência médica, cujo texto
reproduzo, integralmente, além do registo gravado, diz que “Tudo indica
que há um orquestrador disto tudo…. Não há dúvida alguma, que o nome do PM
aparece na 1ª linha, porque ele assim quis ser o grande protagonista deste processo.
Visto, que, a primeira pessoa a pronunciar-se sobre os acontecimentos e falar
dos objetivos dos acontecimentos, foi o PM de S. Tomé e Príncipe, Patrice
Trovoada.
Interrogado, sobre a rejeição da moção de
censura, confessou-nos que "dessa questão posso falar… Enquanto deputado…
Enquanto de ex-Presidente da Assembleia Nacional… Julgo-me no direito de
esclarecer essa questão… E tudo isso se associa, claramente!... Ao Sr
Primeiro-Ministro, enquanto líder da ADI!... E chefe dos seus militantes da
ADI!.. Que estão hoje no poder!... A ignorar o Estado de Direito Democrático!..
Então, se ele ignora o direito do Estado Democrático, num acontecimento desta natureza!... Que se revela de interesse nacional!... Ele sabe o que é que está a fazer!... Porque não é aceitável!... Num Estado Democrático, uma moção de censura ser rejeitada!.. Salvo se ela não for bem explicitada!... O Presidente ou a Presidente da NA, não tem competências constitucionais e regimentais para tomar essa decisão!... Porque, as moções de censura não são requeridas!... São apresentadas!..
.
Novembro 2022 |
Fev 1953 |
Portanto, quando há um requerimento…
Claro, quando se requer tem que se ter uma resposta!... Mas não é o caso!... É
uma apresentação!... Cabe à Mesa da Assembleia reunir os líderes parlamentares
e definir a data para a sua discussão e ponto final!... Não é rejeitar e com os
argumentos, que eu ouvi e que nada têm a ver… Porque, uma coisa é o debate
parlamentar!... E outra coisa é a investigação judicial e criminal… Não tem
nada a ver uma coisa com outra!... E temos que tomar o exemplo… Houve um caso
em Portugal, de uma indemnização que foi paga a um membro do Governo e houve
uma moção de censura e foi discutida!
Eu admiro-me… Então um partido, com 30
deputados na Assembleia!... Tinha garantias que este moção não seria viabilizada!...
Mas tem medo do debate!?... Ou tem medo das perguntas?!... E que não tem
respostas claras para convencer a opinião pública?!...É o mais evidente!
REPRODUÇÃO GRAVADA E EM TEXTO DA
ENTREVISTA -
Delfim Neves, libertado por falta de
"indícios fortes de envolvimento" no alegado assalto ao quartel de 25
de Novembro, após ter sido detido pelos militares como alegado mandante,
segundo me declarou, nem por isso deixou de passar largas horas numa situação
de humilhante tortura psicológica
Confessou-nos que está um pouco melhor mas
ainda a necessitar de sessões de fisioterapia. "Estou ainda em
tratamento, caminhando para uma relativa melhoria à forma como estava a minha
saúde quando cheguei em Portugal, há pouco mais de mês e meio…. Já passei
pelas consultas, exames e análises… E agora estou na fase das sessões de
fisioterapia
JT Marques -Mas, se está aqui, é também a consequência dos sustos que passou em
S. Tomé?
D.Neves - Naturalmente, pese embora, esses factos, já estava prevista a minha
viagem para seguimento médico, tendo em conta que fiz uma cirurgia à hérnia
discal há pouco mais de nove meses, tendo estado na data previsível para a
revisão periódica. No entanto, o susto alterou o quadro: quer o quadro clínico,
quer o quadro psicológico…
JT Marques -Esteve mesmo no corredor da
morte!...
D.Neves- Bom, eu estive mesmo no corredor da morte!... E devo agradecer, em
primeiro lugar a Deus, à minha família, aos amigos!... E a muitas pessoas, que
eu desconheço, inclusive, que, atentas à situação despertaram a Comunidade
Internacional, sobre o perigo… E o meu advogado… E fizeram tudo para que eu
fosse hoje alguém entre os vivos. Porque, a forma como conduziram o processo,
foi claramente visível a apetência de sacrificar até à morte as pessoas
JT Marques – Já disse que isto tinha a mão no Governo: acha que isto é mais uma
encenação de Patrice Trovoada?
D.Neves – Repare… Tudo indica que há um orquestrador disto tudo…. Não há dúvida
alguma, que o nome do PM aparece na 1ª linha, porque ele assim quis ser o grande
protagonista deste processo. Visto, que, a primeira pessoa a pronunciar-se
sobre os acontecimentos e a falar dos objetivos dos acontecimentos, foi o PM de
S. Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada.
Portanto, quando há uma situação desta natureza, daquilo que ele apelidou de
assalto ao quartel e de tentativa de golpe de Estado!....O PM, o Presidente da
Assembleia, o Presidente da República, são pessoas visadas!... Logo, quem devia
vir a falar, era, em primeira linha, o Chefe Estado-General!... Eu diria mesmo,
as chefias militares!... E o Ministro da Defesa!... E, até certo ponto, o
Presidente da República, enquanto Comandante e Chefe das Forças Armadas!...
Nunca o Primeiro-Ministro!
E, a forma como ele falou, ficou objetivamente claro, que eu é que tinha orquestrado
esse processo!... Eu, por acaso, não tive a feliz sorte de o ouvir a falar em
primeira mão… Eu tomei conhecimento, muito mais tarde, doze horas depois…
Porque eu fui buscado em casa, por volta das sete e quinze minutos!.. A convite
de alguns militares!... Estranhei a quantidade de alguns militares, que me
foram convidar, naturalmente, porque, aquilo que me foi dito é que há uma
situação no quartel!... E que o Chefe do Estado Major-general , nesse caso o
Brigadeiro, gostaria de falar comigo!..Quer falar comigo, quando?!...
Agora?!... No Quartel?!...
J.T.Marques - Questionado se lhe apontaram as armas, respondeu:
D.Neves – Apontar as armas, diretamente não foi!... Mas, a presença dos
militares que estavam à volta, em todos os cantos da casa, era muito opressiva!...
Houve até alguns que diziam!... Vai buscar o homem!... Vai buscar o homem!
..Enquanto os oficiais, que estavam à porta, à espera!.... Não podemos esperar
mais!... É muita diplomacia!.... Isto tudo indica que havia uma organização
clara que houvesse uma reação minha!... Mesmo de recusa ir ao quartel podiam
disparar contra mim! …Estava claro!..
J.T. Marques – E, no quartel, foi
maltratado?
D. Neves - No quartel, não posso dizer que fui maltratado!... Mas,
psicologicamente, sim!... Porque, logo à chegada, havia na parada, umas três
dezenas de militares à paisana, que gritavam!... Tragam o homem à parada!!...
E, levar o homem à parada, significava que eu ia ter o mesmo tratamento que o
Arlécio teve!... Mas eu não sabia!...
J.T. Marques – À pergunta, se o Arlécio, tinha sido levado para lá, disse-nos:
D. Neves – Também foi levado para lá!... Mas eu só tomei conhecimento mais
tarde, porque eu não sabia do que se passava! Nem a razão da minha busca!.. A
mim só me disseram que o Brigadeiro queria falar comigo!..
A verdade, é que eu fiquei dez horas no quartel!... Não vi o
Brigadeiro, nem o vice-Brigadeiro! Nem o Comandante do Exército!... Salvo as
pessoas que me convidaram para lá!... Nesse caso, o capitão Stoy!.. Depois,
apareceu, um senhor que se me apresentou como Capitão da Mata, que disse ser o Procurador militar!... Que não fez nenhuma pergunta!... Apenas, apresentou-se.
Mais tarde, veio o oficial de dia!... Daquele dia!.. Acompanhado de outro
militar à paisana! … Olhou para mim!... E perguntou-me:
“Porque é que o Senhor se meteu
nisto?!!...”
Olhei para ele… e disse-lhe: mas meti-me
em quê?!...
Militar -- “Então o Senhor está
a negar!... Porque, os civis, que vieram cá para o quartel morreram todos!!
D.Neves - Mas eu não sei do que é que o
senhor está a falar!!.
Militar - Ah, não?!... É que, um desses
civis, havia dito que o senhor é que ia financiar a operação de um
golpe de Estado!
D.Neves - Que golpe de Estado?!... Estamos
a falar de quê?!... Mas que golpe de Estado?!..Quem disse que eu ia financiar?!...
Militar - Ele disse que, o Arlécio, que
era o Comandante! E que disse a ele que o senhor era o financiador!
D. Neves - Então se for o caso disso, não
há problemas!... Tragam o Arlécio à minha presença para nós aqui aclararmos
isso!..
É claro!...Fazíamos uma acareação para
sabermos quem fala a verdade ou onde foram buscar isso!
Foi só nessa altura, que eu próprio,
assim:
Arlécio?!!... Que Arlécio?!...O Arlécio
que o Sr. acabou de pronunciar!
Militar - Ah!.. O Arlécio morreu na troca
de tiros!
D. Neves - Olha!... Eu não sei do que se
passa!... Se morreu na troca de tiros, eu não sei com quem ele falou!...
Portanto, eu não posso pronunciar-me sobre tudo isso
JTMarques – Sobre factos que desconhece….
Portanto, grande susto!...
Há quem diga que estava lá um oficial da
confiança, o ajudante de campo do PM: sabe alguma coisa disso?
D.Neves: O que eu posso dizer, honestamente,
é que, quando me foram buscar a casa, eu não sabia
de nada!... Eu só identifiquei dois ou três militares!... Um deles,
o Capitão Stoy. E outro um tenente… Esquece-me agora o nome dele mas que eu conhecia…
Quanto ao atual ajudante do PM!... Esse
esteve no quartel!... Tanto mais, quando fui convidado a ser transferido
do quartel para a PJ, Policia Judiciária!... Eu fui transportado pela viatura
que ele estava a conduzir!... Foi ele o chofer!!...
JTMarques – Diz-se que os miliares caíram
da viatura!...
Delfim Neves, respondeu que desconhecia
esses acontecimento, “porque eu estava num apartamento fechado, no primeiro
piso e as coisas aconteciam no rés-do-chão!”… Eu não vi nada! Não
sabia de nada!”
JTMarques – Entretanto, isto continua numa
indefinição! Já passou algum tempo!.. Acha que era altura dos factos serem
apurados, na sua opinião?
D.Neves - Eu acho que já
era altura - e já é tarde demais - dos factos serem apurados! E da
verdade vir à tona!...O silêncio do Ministério Público! A forma como o processo
está sendo conduzido! Tentando investigar o que não é
investigável!... Porque a investigação das pessoas que morreram, não é tão
difícil!... Não é necessário, porque as imagens que morreram falam por si e
toda a gente sabe!
Bom… Se estão a inquirir outros
assuntos!... A tentativa de assalto ao quartel! Ou a tentativa de golpe de
Estado!... Isso é um problema deles! Mas que eu acho desnecessário!... Porque
não há factos! Que prove ou que tenha havido essa tentativa!... Senão mesmo uma
encenação!
Qualquer pessoa do seu bom senso!... Do
espírito e da mente, nunca poderá acreditar!... Até porque isso fragiliza o própio Estado Santomense e não dignifica a instituição das Forças Armadas!
JTMarques – Que meia dúzia de pessoas….
D.Neves – Aliás, quatro civis!
Despreparados!... Desarmados!... Terem acesso ao Quartel General!... Ao seu
interior!... Sequestrarem o oficial de dia!... Três deles!... E o outro estava
de fora!!... Mas eu pergunto?... Depois de duas horas é que começa haver
tiroteios!... E no sentido vertical!... Ou seja, tiro ao ar?!... O que é que
estava lá a fazer o individuo que estava fora?!... Quem estava com ele?!... A
conversar ou a jogar cartas?!...
E o que é também estava lá dentro a fazer oficial
de dia, durante duas horas?!...Estavam a brincar?!... A lutar?!....
Eu ouvi um comentário.. uma entrevista de
um oficial de dia em casa… dizendo que entraram uns
quatro…. depois houve um que veio para fora e ficaram lá
os três!..
Então, mas como é que entraram os quatro,
um veio para fora e ficaram lá os três?!... É uma pergunta que fica por
fazer!....
Esses três ficaram lá dentro!... Eram os
seus companheiros?!...
….diz que, quando foi apanhar uma cronhada
da arma, fez um tiro!... Fez um tiro contra quem?!... A que alvo?!... O quartel
não é um edifício precário!... É um edifício consistente!... Se houve um tiro…
Ou esse tiro foi atingir o alvo!.. Ou ficou encravado numa parede!.. Ou atingiu
a pessoa qualquer, que estava lá dentro!... E ninguém saiu de lá ferido!
JTMarques – E o que aparecem são as
pessoas a serem torturadas nas imagens. Esta conversa levar-nos-ia
longe . Entretanto, há uma moção de censura que não foi aprovada: o que é que
acha dessa recusa?
D.Neves - Sobre essa questão posso
falar… Enquanto deputado… Enquanto de ex-Presidente da Assembleia Nacional…
Julgo-me no direito de esclarecer essa questão… E tudo isso se associa,
claramente!... Ao Sr Primeiro-Ministro, enquanto líder da ADI!... E chefe dos
seus militantes da ADI!.. Que estão hoje no poder!... A ignorar o Estado de
Direito Democrático!..
Então, se ele ignora o direito do Estado
Democrático, num acontecimento desta natureza!... Que se revela de interesse
nacional!... Ele sabe o que é que está a fazer!... Porque não é aceitável!...
Num Estado Democrático, uma moção de censura ser rejeitada!.. Salvo
se ela não for bem explicita!... O Presidente ou a Presidente da NA,
não tem competências constitucionais nem regimentais para tomar essa decisão!...
Porque, as moções de censura não são requeridas!... São apresentadas!...
Portanto, quando há um requerimento…
Claro, quando se requer tem que se ter uma resposta!... Mas não é o caso!... É
uma apresentação!... Cabe à Mesa da Assembleia reunir os líderes parlamentares
e definir a data para a sua discussão e ponto final!... Não é rejeitar e com os
argumentos, que eu ouvi e que nada têm a ver… Porque, uma coisa é o debate
parlamentar!... E outra coisa é a investigação judicial e criminal… Não tem absolutamente a ver uma coisa com outra!... E temos que tomar o exemplo… Houve um caso em
Portugal, de uma indemnização que foi paga a um membro do Governo e houve uma
moção de censura e foi discutida!
Eu admiro-me… Então um partido, com 30
deputados na Assembleia!... Tinha garantias que este moção não seria
viabilizada!... Mas tem medo do debate!?... Ou tem medo das perguntas?!... E
que não tem respostas claras para convencer a opinião pública?!...É o mais
evidente!
JTM – Por fim, depois de lhe agradecer a
oportunidade da entrevista e de lhe desejar a recuperação da sua saúde e de que
possa regressar ao seu país num clima de paz e de paz e de segurança
D. Neves – Congratulando-se também por
este diálogo e “de agradecer também ao Povo de S. Tomé e Príncipe!... Continuo
ainda em tratamento mas, em breve lá estarei!.. Só quero ver essa
questão, devidamente esclarecida!...E que não haja subterfúgios! … E que não
haja instantes de prova e de indícios para incriminar quem
quer que seja!..Tudo o que seja verdade, que venha ao de
cima!… porque, o nosso país, está a caminhar num sentido muito negativo!.. Que
é a desconfiança e o medo!... E, a desconfiança e o medo, num Estado de Direito
Democrático, é a pior coisa que pode acontecer!... Se a Governação não
transmite confiança! Se a Governação não transmite a liberdade de expressão!..
De circulação!...Da justiça, sobretudo!...Portanto, nós estamos a caminhar para
um beco sem saída!
Nenhum comentário :
Postar um comentário