Casa Museu Almada Negreiros, é inaugurada hoje na Roça Saudade onde nasceu - E para quando a homenagem em Cascais para onde foi viver de tenra idade - - Por Jorge Trabulo Marques - jornalista
Postagens neste blogue de Almada https://canoasdomar.blogspot.com/2014/12/sao-tome-museu-almada-negreiros-na-roca.htmlhttps://canoasdomar.blogspot.com/2013/04/almada-negreiros-comemoracoes-dos-120.htmlhttps://canoasdomar.blogspot.com/2014/11/sao-tome-39-anos-depois-roca-saudade.html
"Naquele berço encantado, que era a
sede da Roça Saudade, nasceu José de Almada Negreiros, a 7 de Abril de 1893. Da terra da sua naturalidade foi arrancado, na
tenra idade de 2 anos, e transplantado para Lisboa, em 23 de Abril de 1895,
passando a viver em Cascais, em casa dos avós e tios maternos, da família
Freire Sobral" - Padre. António Ambrósio.
Transformar as ruínas da
casa onde nasceu Almada Negreiros, numa Casa de Arte, foi o pensamento que
norteou Joaquim Victor, mesmo partindo quase de mãos vazias, confiante na sua
determinação e no alcance cultural e turístico da sua iniciativa -A edificação de uma casa de madeira, alpendrada, assente justamente sobre
algumas colunas e rebocos do antigo solar, é já uma espantosa realidade
Joaquim Victor, que
recolheu vários apoios em Portugal, menos oficiais “por se tratar de uma
iniciativa particular”, é, com certeza, hoje um homem muito feliz. Teve a gentileza
de nos dar a boa nova, ontem, através de um telefonema, que, com muito prazer, aqui divulgamos.
Já nos tínhamos apercebido
dessa comovente surpresa, a que neste site fizemos referência, nomeadamente, na
visita que ali fizemos em Outubro passado, numa fase em que ainda decorriam
obras de acabamento, mas, finalmente, aí está a concretização de
um projeto cultural e turístico, muito interessante. que é inaugurado, oficialmente,
com a presença de familiares, amigos e admiradores da vida e obra do autor do autor
do “Manifesto Anti-Dantas - Artista multidisciplinar que se dedicou fundamentalmente às
artes plásticas e à escrita, ocupando uma posição central na primeira geração
de modernistas portugueses.
Quem gostaria de também ali estar era o seu filho Arquiteto José Afonso Almada Negreiros, que, no mesmo ano em que falecera, nos chegara a manifestar o seu grande desejo de ir conhecer a Roça onde seu pai nascera
Quem gostaria de também ali estar era o seu filho Arquiteto José Afonso Almada Negreiros, que, no mesmo ano em que falecera, nos chegara a manifestar o seu grande desejo de ir conhecer a Roça onde seu pai nascera
José de Almada
Negreiros nasceu em São Tomé na Roça Saudade, freguesia da Trindade, às 3
hora da manhã do dia 7 de Abril de 1893.
Da terra da sua
naturalidade foi arrancado, na tenra idade de 2 anos, e transportado para
Lisboa, em 23 de Abril de 1895, passando a viver em Cascais, em casa dos avós e
tios maternos, da família Freire Sobral.
«Aos vinte e quatro dias do mez de Junho do
anno mil oitocentos e noventa e três, nesta Egreja Parochial da Santíssima
Trindade, Concelho de S. Thomé, Diocese de S. Thomé e Príncipe, baptizei
solemnemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de - JOSÉ- e que
nasceu nesta freguesia, na Fazenda Saudade, às tres horas da manhã do dia sete
do mcz d' Abril do anno de mil oitocentos e noventa e tres, filho illegítimo de
digo legitimo de António Lobo d' Almada Negreiros, casado, natural de Portugal,
proprietário, agricultor e de Dona Elvira Sobral de Almada Negreiros, casada,
natural desta freguesia, proprietária, parochianos desta freguesia, moradores
na mencionada Fazenda, neto paterno de Pedro d' Almada Pereira e de Margarida
Francisca de Almada Lobo Branco de Negreiros. Foi padrinho José António Freire
Sobral, casado, proprietário e agricultor e madrinha Dona Marianna Emília de
Souza Sobral, casada, proprietária e agricultora, os quaes todos sei serem os
próprios. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de ser
lido e conferido perante os padrinhos comigo o assignaram”-In Almada Negreiros Africano - António Ambrósio
Este o poema que, seu pai, lhe dedicaria, no livro
Equatoriaes, escrito no dia 7-4-1894 -
Ou seja, um ano depois do seu nascimento:
Um anno! Um beijo de luz
Na tua fáce, criança!
Suavíssima esperança
Que desabrócha e seduz!
Nunca se acábe a bonança
Que a tua frônte tradúz,
Como um beijo de Jesus
Da Mãe na virginea trança
António Lobo de Almada Negreiros
A ROÇA SAUDADE: UM SONHO E UM BERÇO
Sim, foi um sonho e um berço para
quem lá nasceu e viveu. Mas a vida das pessoas não é eterna, tal como também
não são as construções humanas. E a sua longevidade é curta, sobretudo quando
desabitada e deixada ao abandono. Foi o que sucedeu ao principal edifício da
Roça Saudade, que, muito antes de se falar da independência de S. Tomé e
Príncipe, acabara por ficar reduzida a meras ruínas. irreconhecível -
Mas eis a descrição do que chegara a ser
"A casa onde Almada
nasceu, na sede da Roça Saudade – diz ainda António Ambrósio – “estava suspensa
sobre uma profunda grota, e aberta a nascente, por uma varanda corrida, ao
estilo tropical, para um mar de verdura, que, depois da primeira quebra, se
espraiava, numa ondulação aparentemente suave, por vários quilómetros de
extensão, em forma de leque rendilhado, até ao mar-oceano.
(…)Por fora, a Saudade era um mimo. O
comendador José António Freire Sobral fizera da sede uma estância modelar: além
das instalações para habitação e trabalho, das sanzalas e dos secadores,
e do hospital de boa construção, a Roça tinha um amplo terreiro, onde, como uma
bandeira hasteada, se erguia uma elegante palmeira de 54 metros de altura
(Veja-se: Almada Negreiros, História Ethnographica da Ilha de S. Tomé, p.272).
Na parte superior do terreiro, em zona mais elevada, situavam-se os jardins,
dispostos em socalcos. No meio, sobressaía um artístico
caramanchão, todo coberto de buganvílias e trepadeiras. Junto, uma
nascente de água puríssima foi aproveitada para construir uma pequena
fonte, bem adornada de azulejos pintados e com dois grandes
jarrões de porcelana envidraçada, aos lados” Im Almada Negreiros Africano”
Órfão desde tenra idade, viajou para Lisboa com sete anos para casa de uma tia materna. Frequentou os estudos primários e liceais em Lisboa, no Colégio Jesuítico de Campolide, Liceu de Coimbra e Escola Nacional de Lisboa. Entre 1919 e 1920, seguiu estudos de pintura em Paris, aí trabalhando como bailarino de cabaré e empregado numa fábrica de velas, redigindo na capital francesa muitos dos textos e grafismos que viriam a ser célebres, como o "autorretrato". Viveu entre 1927 e 1932 em Espanha, onde realizou várias encomendas para particulares e públicos – Excerto de Almada-Negreiros -
A ALMADA NEGREIROS
voltaste enfim ao regaço das palmeiras
onde serpentes volteiam
e navegam na claridade. Voltaste
porque os teus olhos mitigavam
palavras entontecidas cheias de água fresca
da Cascata. Voltaste trazendo cânticos
de outras terras
cânticos de trovadores desconhecidos
teceste roupas diferentes mas sempre
com as cores das buganvílias da Saudade
apagaste pegadas antigas no luchan
da tua meninice. Mas voltaste!
esperaste que o ranger da porta
da casa onde nasceste se prolongasse
no júbilo do teu regresso
hoje
sentado no presídio da marginal
onde ninguém nota o teu vulto altivo e belo
só eu sei que voltaste
e por que voltaste
Olinda BEJA in "Água Crioula" Pé-de-Página
A NOTICIA QUE FALA DE UM FILME
"O artista que marcou a arte e a cultura
portuguesa, nasceu em São Tomé mais concretamente na roça saudade, exactamente
a 7 de Abril de 1893. Entre Maio a Junho próximos, Almada Negreiros, vai
regressar a sua terra natal.
Um regresso a convite do Programa “ A Ilha do Meio
do Mundo”, que está a ser produzido e realizado por João Carlos Silva e Kalu
Mendes.
Almada Negreiros que deixou São Tomé com 2 anos de
idade, regressa a sua terra natal na pele do actor português João Grosso.
Uma viagem de regresso, que permitirá a Almada
Negreiros, revisitar e conhecer a ilha de São Tomé, saborear os pratos típicos
da terra, matar saudades da roça saudade, e dançar ao ritmo do Socopé, da
Ússua, mas também da Puíta ou da Tafua, cujo batuque continua a ser repicado
nas montanhas da roça Monte Café e da sua dependência Saudade, desde séculos. –
Excerto de Almada Negreiros regressa a São Tomé e a sua roça
natal-Saudade
"Almada, todas as peças da mesma
coisa"
"Olhar para Almada Negreiros, O
menino d'olhos de gigante, é ver muitos: o Almada das Belas-Artes, o Almada das
Letras, o Almada da Geometria, o Almada dos palcos e das performances ... E,
dentro destes, tantos outros. Tantos que se torna fácil imaginá-lo dentro do
tudo com que ele próprio assinou o Manifesto Anti-Dantas e por extenso (1916):
«José de Almada-Negreiros Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo». - Por Sílvia
Laureano Costa"
(...) "Pela sua obra plástica, que o classifica entre os primeiros valores da pintura
moderna; pela sua obra literária, que vibra de uma igual e poderosa
originalidade; pela sua ação pessoal através de artigos e conferências -
Almada-Negreiros, pintor, desenhador, vitralista, poeta, romancista, ensaísta,
crítico de arte, conferencista, dramaturgo, foi, pode dizer-se que desde 1910,
uma das mais notáveis figuras da cultura portuguesa e uma das que mais
decisivamente contribuíram para a criação, prestígio e triunfo de uma
mentalidade moderna entre nós". Assim apresenta Jorge de Sena, no primeiro
volume das Líricas Portuguesas, o homem que, com Fernando Pessoa e Mário
de Sá-Carneiro, mais marcou plástica e literáriamente a evolução da cultura
contemporânea portuguesa
Órfão desde tenra idade, viajou para Lisboa com sete anos para casa de uma tia materna. Frequentou os estudos primários e liceais em Lisboa, no Colégio Jesuítico de Campolide, Liceu de Coimbra e Escola Nacional de Lisboa. Entre 1919 e 1920, seguiu estudos de pintura em Paris, aí trabalhando como bailarino de cabaré e empregado numa fábrica de velas, redigindo na capital francesa muitos dos textos e grafismos que viriam a ser célebres, como o "autorretrato". Viveu entre 1927 e 1932 em Espanha, onde realizou várias encomendas para particulares e públicos – Excerto de Almada-Negreiros -
A ALMADA NEGREIROS
voltaste enfim ao regaço das palmeiras
onde serpentes volteiam
e navegam na claridade. Voltaste
porque os teus olhos mitigavam
palavras entontecidas cheias de água fresca
da Cascata. Voltaste trazendo cânticos
de outras terras
cânticos de trovadores desconhecidos
teceste roupas diferentes mas sempre
com as cores das buganvílias da Saudade
apagaste pegadas antigas no luchan
da tua meninice. Mas voltaste!
esperaste que o ranger da porta
da casa onde nasceste se prolongasse
no júbilo do teu regresso
hoje
sentado no presídio da marginal
onde ninguém nota o teu vulto altivo e belo
só eu sei que voltaste
e por que voltaste
Olinda BEJA in "Água Crioula" Pé-de-Página
Nenhum comentário :
Postar um comentário