Jorge Trabulo Marques - Jornalista - C
Ontem, a meio da manhã, dia 6 de Maio, num dia tempestuoso de vento e de chuva, voltei às antigas instalações do Emissor Regional de STP da EN, que, depois da independência destas maravilhosas Ilhas, passaria a chamar-se de Rádio Nacional de S. Tomé e Principe, para gravar uma entrevista a ser transmitida no programa Retalhos da Vida, produzido e apresentado por Hermínia das Neves - Oportunidade para recordar algumas das passagens, mais marcantes, nos meus 12 anos, que aqui vivi - Entre os quais, alguns episódios, a que me refiro neste post
Minutos iniciais da longa entrevista à Rádio Nacional de S. Tomé e
Príncipe, com imagens de uma manhã de vento e chuva no dia 6 de Maio –
Em “Retalhos da Vida”, de Hermínia das Neves – A transmitir Sábado, às
14 horas, dia 11 – De volta às antigas instalações do Emissor Regional
de STP, onde iniciei a minha carreira de rádio – Recordando várias
passagens da minha vida 1963 – 1975 – Que dariam matéria para muitas
histórias e alguns livros
Ontem, a meio da manhã, dia 6 de Maio, num dia tempestuoso de vento e de chuva, voltei às antigas instalações do Emissor Regional de STP da EN, que, depois da independência destas maravilhosas Ilhas, passaria a chamar-se de Rádio Nacional de S. Tomé e Principe, para gravar uma entrevista a ser transmitida no programa Retalhos da Vida, produzido e apresentado por Hermínia das Neves - Oportunidade para recordar algumas das passagens, mais marcantes, nos meus 12 anos, que aqui vivi - Entre os quais, alguns episódios, a que me refiro neste post
2014 - Com Manuel Pinto da Costa |
2014 - Com Fradique Menezes |
6 de Maio - 2019 |
5 de Maio 2019 |
Um telegrama, enviado para a Emissora Nacional,
pelo Intendente do Emissor Regional de São Tomé e Príncipe, pressionado pelo Diretor dos Serviços Técnicos, inviabilizara a minha admissão no
quadro:
Instaurou-me um processo disciplinar, devido a um artigo publicado naquela revista – Por ter falado na problemática do Turismo, em S. Tomé – O Diretor deste serviços, não gostou e lá tive que levar com a ripada:
Este, como era amigo do Eng. Américo Freire - um fascista que havia sido enviado pela Emissora Nacional, para reestruturar os serviços técnicos do Emissor Regional, instalar uns potentes emissores de onda Média, para fazer de S. Tomé, um centro de propaganda colonial para a região dos países do Golfo da Guiné e África Central, obrigou o Intendente Carlos Dias, a enviar um telegrama para Lisboa, a anular a minha admissão, que havia sido proposta por ele mesmo à EN. – Ainda teve o descaramento de me chamar o seu gabinete e de me confessar: “você disse mal do meu grande amigo, vai-se lixar!... E não o ponho no olho da rua, porque precisamos de você!”
RECEANDO QUE PUDESSE SER ADMITIDO - A INFORMAÇÃO TEVE MESMO DE SER ENVIADA DE URGÊNCIA VIA TELEGRAMA - Este o teor:
Instaurou-me um processo disciplinar, devido a um artigo publicado naquela revista – Por ter falado na problemática do Turismo, em S. Tomé – O Diretor deste serviços, não gostou e lá tive que levar com a ripada:
Este, como era amigo do Eng. Américo Freire - um fascista que havia sido enviado pela Emissora Nacional, para reestruturar os serviços técnicos do Emissor Regional, instalar uns potentes emissores de onda Média, para fazer de S. Tomé, um centro de propaganda colonial para a região dos países do Golfo da Guiné e África Central, obrigou o Intendente Carlos Dias, a enviar um telegrama para Lisboa, a anular a minha admissão, que havia sido proposta por ele mesmo à EN. – Ainda teve o descaramento de me chamar o seu gabinete e de me confessar: “você disse mal do meu grande amigo, vai-se lixar!... E não o ponho no olho da rua, porque precisamos de você!”
VIRTUDE DE SUMÁRIO INQUÉRITO SOBRE PROCEDIMENTO OPERADOR
JORGE LUIS MARQUES. REFERIDO NSI 1929 12 CORRENTE FECAEEE PELO VEXA NÃO
CONSIDERAR AQUELE OPERADOR PARA INCLUSAO ARTIGO
19/0
CUMPRIMENTOS
CARLOS DIAS ER STP"
PASSAGEM DO ANO DE 1973/74 - NESSA NOITE ESTIVE ESCALADO COMO OPERADOR E REPÓRTER
Momentos felizes e de euforia que não iriam repetir-se no rosto dos portugueses, ali radicados ou nascidos, que não esperavam por um 25 de Abril, mas a que a população aderiu com sentimento de alegria e libertação -
Era na altura, operador de rádio, no Emissor Regional de São Tomé e Príncipe – Nesse dia, fui destacado para fazer a cobertura, na esplanada da Pensão Henriques, com a comunidade portuguesa, oriunda das Beiras - o Núcleo Beirão: desempenhava a dupla função de operador e de repórter.
Já lá vão uns pares de anos, porém, recuando no tempo, até me parece que foi ontem! Tão vivas ainda estão as memórias. Sim, desse dia mas não das afrontosas represálias, dos tormentos e brutais agressões por parte de alguns colonos, que se opunham à descolonização, das más recordações que o Novo Ano, me havia de trazer por denunciar o que era proibido dizer antes do 25 de Abril - Nomeadamente, os macabros episódios do Batepá. Mas, ainda antes de ter publicado esses artigos, logo a 8 de Janeiro, sou afastado, através de um telegrama enviado para a Emissora Nacional, de ser admitido nos quadros da rádio, devido a uma pequena critica a um organismo público, acerca do turismo - Para já não falar da chantagem do Presidente do Instituto de Trabalho e Acção Social (pós 25 de Abril) que ameaçara demitir-se do cargo se eu não fosse expulso de S. Tomé.
Nunca nenhuma revista ou jornal dedicara tanto espaço nas suas páginas, como a Revista Semana Ilustrada – por duas vezes, até houve uma casa comercial, a Firma Alves e Ribeiro Lda, que decorou as suas montras com as capas da nossa revista - A iniciativa partiu do então jovem, de 18 anos, Horácio de Sousa Ribeiro, empregado na referida loja, que, com agradável surpresa, quatro anos depois, viemos a reencontrar na bancada do Estádio da Luz, no exercício da nossa atividade jornalística, nomeadamente, na reportagem fotográfica – Naturalmente, que foi um momento de calorosa surpresa e emoção, que aqui registo, com muito agrado, com a evocação do passado e do presente.
Meu nome próprio, é Jorge Luís Marques, filho de Manuel Joaquim
Marques e de Maria Joaquina Trabulo – Adotei o pseudónimo literário e jornalístico
de Jorge Trabulo Marques, em homenagem à minha saudosa mãe, que deixei aos 18
anos, quando embarquei para S. Tomé. para nunca mais a voltar a ver
PASSAGEM DO ANO DE 1973/74 - NESSA NOITE ESTIVE ESCALADO COMO OPERADOR E REPÓRTER
Momentos felizes e de euforia que não iriam repetir-se no rosto dos portugueses, ali radicados ou nascidos, que não esperavam por um 25 de Abril, mas a que a população aderiu com sentimento de alegria e libertação -
Claro,
dir-se-á hoje que tudo foi muito precipitado, é verdade, com prejuízos para
ambas as partes e que podiam ter sido evitados se o regime colonial - antes do
25 de Abril- tivesse compreendido os ventos da História e preparasse uma elite
africana - Além de não o ter feito, perseguiu aqueles que pretendiam novos
rumos. Promovendo uma guerra inútil com milhares de vítimas.
Era na altura, operador de rádio, no Emissor Regional de São Tomé e Príncipe – Nesse dia, fui destacado para fazer a cobertura, na esplanada da Pensão Henriques, com a comunidade portuguesa, oriunda das Beiras - o Núcleo Beirão: desempenhava a dupla função de operador e de repórter.
Já lá vão uns pares de anos, porém, recuando no tempo, até me parece que foi ontem! Tão vivas ainda estão as memórias. Sim, desse dia mas não das afrontosas represálias, dos tormentos e brutais agressões por parte de alguns colonos, que se opunham à descolonização, das más recordações que o Novo Ano, me havia de trazer por denunciar o que era proibido dizer antes do 25 de Abril - Nomeadamente, os macabros episódios do Batepá. Mas, ainda antes de ter publicado esses artigos, logo a 8 de Janeiro, sou afastado, através de um telegrama enviado para a Emissora Nacional, de ser admitido nos quadros da rádio, devido a uma pequena critica a um organismo público, acerca do turismo - Para já não falar da chantagem do Presidente do Instituto de Trabalho e Acção Social (pós 25 de Abril) que ameaçara demitir-se do cargo se eu não fosse expulso de S. Tomé.
Fora
admitido a operador de Rádio, a nível de
um regime precário, salvo erro, em 1971 – Lograra entrar para a rádio, no seguimento dos
meus artigos publicados na Semana Ilustrada, de Luanda – Deu-se a feliz coincidência,
de, após a minha travessia de canoa de S. Tomé ao Príncipe, em Fevereiro de
1970, se encontrar o chefe de redação daquela revista, em S. Tomé, que, ao
tomar conhecimento da minha aventura, me convidou a fazer o relato na referida
publicação, que acabou por ser ali editado
em quatro edições, situação que iria dar novo rumo à minha vida em S. Tomé
Dois meses antes, ou seja, na véspera do início
das comemorações da descoberta da Ilha pelos navegadores portugueses, havia
realizado a ligação de canoa, da cidade até à praia de Anambô, onde se encontra
o padrão dos descobrimentos, sim, porque, embora o regime colonial, já me
houvesse dececionado bastante, com os abusos e as prepotências nas roças, eu continuava
a admirar a coragem dos homens das frágeis caravelas, que haviam sulcado os
vários oceanos. Em sua homenagem (mas também como um teste para outras
aventuras mais arrojadas, e com outros propósitos) decidira empreender a tão arriscada
ligação, indo ali desfraldar a bandeira portuguesa, ao lado daquele monumento
histórico.
O facto mereceu relevo na imprensa local, o mesmo não sucedeu, quando, um mês depois parti de canoa, clandestinamente, largando à meia-noite, da Baía Ana de Chaves, disfarçado de pescador. No regresso, ao desembarcar do avião, fui espancado pela PIDE e encarcerado, por ter sido tomado como desertor. A Voz de S. Tomé, limitou-se a umas escassas linhas, a citar o correspondente da EN, que havia dado a noticia para Portugal
O facto mereceu relevo na imprensa local, o mesmo não sucedeu, quando, um mês depois parti de canoa, clandestinamente, largando à meia-noite, da Baía Ana de Chaves, disfarçado de pescador. No regresso, ao desembarcar do avião, fui espancado pela PIDE e encarcerado, por ter sido tomado como desertor. A Voz de S. Tomé, limitou-se a umas escassas linhas, a citar o correspondente da EN, que havia dado a noticia para Portugal
Contudo,
mesmo assim, o bastante para o chefe de redação, da Semana Ilustrada, Sr.
Mourão de Campos, se aperceber que a minha aventura era merecedora de outro
destaque.
As reportagens tiveram um grande impacto e, mercê dos meus dotes literários, fui então convidado a continuar a colaborar, ao mesmo tempo que trabalhava como Técnico Agrícola, na Brigada de Fomento-Agro-Pecuário, na tentativa de ali concluir o meu estágio de Agente Rural, já que fora este o motivo que, antes da tropa, aos 18 anos, me levara a embarcar para S. Tomé, o que não conseguira nas roças, onde não me adaptei
As reportagens tiveram um grande impacto e, mercê dos meus dotes literários, fui então convidado a continuar a colaborar, ao mesmo tempo que trabalhava como Técnico Agrícola, na Brigada de Fomento-Agro-Pecuário, na tentativa de ali concluir o meu estágio de Agente Rural, já que fora este o motivo que, antes da tropa, aos 18 anos, me levara a embarcar para S. Tomé, o que não conseguira nas roças, onde não me adaptei
Mais tarde, deixei aquele organismo e pude
então entrar como operador de rádio, naquela estação e desenvolver, com mais
tempo e oportunidades, a função jornalística .
Alguns dos meus artigos, não chegaram a ser publicados, foram-me devolvidos com o risco da censura – Mesmo assim, apesar dessas limitações repressivas, pude publicar ainda muita coisa –
Com o
25 de Abril, as liberdades de expressão foram instauradas, e, obviamente, os
meus artigos passaram a incomodar as mentalidades que não aceitavam a descolonização
e novos ventos da história. Fui vitima de feroz perseguição por alguns colonos,
de traiçoeiras e cobardes agressões, ao ponto de ter que me sair da ilha, numa
canoa, com destino à Nigéria: eu já andava
há algum temo com o desejo de fazer essa viagem para comprovar que as canoas poderiam
fazer longas travessias, entre a continente e as ilhas e terem sido os primeiros povoadores, pelo
que, em vez de procurar sair de barco ou de avião, aproveitei para o fazer de canoa. Uns meses
depois, no mesmo ano, voltei a São Tomé, já país independente, para empreender um
teste, ainda muito mais ousado: a travessia de S. Tomé ao Brasil. Não vou agora
aqui descrever os pormenores, desses longos e atribulados 38 dias, pois, já os relatei
neste site, e tal me levaria longe.
Alguns dos meus artigos, não chegaram a ser publicados, foram-me devolvidos com o risco da censura – Mesmo assim, apesar dessas limitações repressivas, pude publicar ainda muita coisa –
1964 - Roça Rio do Ouro |
Sede da Roça Rio do Ouro |
SEMANA ILUSTRADA – O ÓRGÃO DA IMPRENSA ESCRITA - DO EXTERIOR – QUE MAIS PÁGINAS DEDICOU A S. TOMÉ E PRÍNCIPE, ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL
A Semana Ilustrada, era muito apreciada e popular, nas Ilhas Verdes do Equador, tanto pelos santomenses, que a chegaram até a homenagear, como pela comunidade portuguesa – Esta só nos deixou de apoiar, quando passamos a publicar artigos das manifestações pró-independência e dos massacres do Batpá
Adicionar legenda |
De recordar, que, quando a TAP resolve suspender as suas três carreiras e passa a operar apenas um voo, foi a manchete deste semanário, que obrigou, aquela empresa pública, a repor os mesmos voo. Nas Ilhas, o único banco era o Banco Nacional Ultramarino – E foi um artigo, igualmente de minha autoria, com as declarações de vários comerciantes e industriais, que levaram a que fosse autorizada a abertura de um Banco Comercial. E tantas outras coisas: a elogiar, quando achávamos que o devíamos fazer, e, quanto a criticas, aquelas que a censura nos deixava passar – O que nem sempre sucedia, pois vários foram os artigos que me foram devolvidos pela redação com o bisturi da censura.
Obviamente, que, com a libertação do regime ditatorial, o que é que se esperava?... Que continuássemos a ter que medir bem as palavras? – Por nossa parte, não hesitamos: entendemos que o caminho era o da democracia e da libertação do domínio colonial – É um facto que, muitos erros se cometeram, num pais que ensaiava os primeiros passos do seu próprio caminho, e, então, em Portugal, não se cometem ainda grandes erros, hoje? – Por nosso lado, não nos estamos arrependidos dos que escrevemos.
DEPOIS DO 25 DE ABRIL - O O Presidente do Instituto de Trabalho, pressionou o Governador a expulsar-me de S. Tomé: colocou o seu lugar à disposição do Governador: ou era eu expulso ou ele se demitia - Mas, a revolução do 25 de Abril de 1974, estava na rua e trocou-lhe as voltas
AS BRUTAIS PERSEGUIÇÕES E
SELVÁTICAS AGRESSÕES FÍSICAS DE ALGUNS COLONOS
DEPOIS DO 25 DE ABRIL, A TROPA FEZ A LIMPEZA DO CONTEÚDO DOS PROCESSOS INSTAURADOS PELA PIDE - E SE NÃO FOSSE A SEMANA ILUSTRADA, ATÉ PARECIAM QUE ESTAVAM A GOZAR UMAS FÉRIAS
Atualmente, mesmo que queira fazer-se uma investigação, em relação à atuação da PIDE; em S. Tomé, penso que não é possível: tanto pelos condicionalismos da lei, como pelo facto dos arquivos terem sido todos limpos. Assisti ao transporte dos armários.dos arquivos
Como fui preso, quis saber o que constava da minha fixa, só lá descobri as capas do processo: - A tropa, subordinada ao Comando Territorial Independente, foi lesta em defender a PIDE -
Se não fosse uma manchete da minha revista, os agentes da PIDE continuavam a passear.se por lá, como se nada tivesse mudado - Pena não terem chegado algumas edições a Portugal, após o 25 de Abril.
Aliás, numa certa manhã, um dos PIDES,, sentado com outros PIDES, ao lado da minha mesa, na esplanada do Rialto, afirmava, de expressão risonha, alto e em bom para que toda a gente o ouvisse: "eles vão precisar também de nós!" - E toca de entornar cervejas para as gargantas - Curiosamente, lembro-me que nessa mesa, até estava o tal Duarte, mais bebericando e rindo do que falando - Mas, como toda a gente os conhecia, muitos colonos conviviam com eles.
Só depois de um artigo de minha autoria, alertando para a provocação da sua ostentação pública, é que então foram mandados para a Quinta de Santo António, a mesma que havia albergado as crianças do Biafra. Essa minha consulta, na Torre do Tombo, ainda ocorreu em boa altura, ou seja, antes de algumas forças políticas, aprovarem leis restritivas
Mas a verdade é que havia um movimento
silencioso mas ativo. O MLSTP , que começou estar sediado em Fernando Pó
e depois se transferiu para o Gabão, fazia as suas emissões de rádio, em
dialeto e também atuava no interior das ilhas ( em reuniões sob o maior
sigilo, a PIDE andava à coca e, de volta e meia, prendia e espancava. - Tais
factos estão hoje suficiente documentados e descritos. Os colonos é que
desconheciam essas aspirações: julgavam que a guerra, em Angola, não lhes dizia
respeito - E, a bem dizer, do desfecho desta dependia também o
futuro de S. Tomé e Príncipe - E foi justamente o que sucedeu, com a revolução
do 25 de Abril "Nem mais um soldado para a guerra" - E, a
partir daí, não havia outra solução que não fosse a dos acordos, em
Argel, para dar a independência às colónias - Há quem diga que foi mal
feita - Sim, dito sobretudo por aqueles que, alheios à mortandade dos soldados
e dos guerrilheiros, apenas olhavam para os seus interesses pessoais.
VÍDEO DE HUMOR, ROSTOS, PAISAGENS E MÚSICA DE SÃO TOMÉ – “Turista Americano” entrevistado pelo “Emissor Anfíbio do Pantufo” – Memórias do ERSTP de há 42 anos –
Naquele
mesmo ano, quatro meses depois, surgia o 25 de Abril: passei a poder escrever o
que antes me estava vedado, porém, só Deus
sabe as represálias de que fui alvo: desde pressões para ser expulso de S.
Tomé, a bárbaras agressões:
A revolução apanhou de surpresa, a generalidade dos colonos. A liberdade de expressão, ainda não era bem aceite: a mentalidade colonial, reinante, não ia mudar de um dia para o outro. Por isso, caso não viesse a contar com a compreensão e o apoio do então Alto-Comissário, Pires Veloso, estou certo que tinha sido demitido da rádio e expulso para Portugal, tal como foram alguns revolucionários do MLSTP.
A revolução apanhou de surpresa, a generalidade dos colonos. A liberdade de expressão, ainda não era bem aceite: a mentalidade colonial, reinante, não ia mudar de um dia para o outro. Por isso, caso não viesse a contar com a compreensão e o apoio do então Alto-Comissário, Pires Veloso, estou certo que tinha sido demitido da rádio e expulso para Portugal, tal como foram alguns revolucionários do MLSTP.
A
primeira grande pressão partiu do Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência
e Acção Social, que, em vez de defender os
trabalhadores, esteve sempre ao lado dos grandes roceiros e dos patrões mais abusadores
–
Chamavam-lhe o cavalo branco, pela sua cabeleira grisalha e postura autoritária.
Era uma figura mal vista, sinistra, que passava os fins-de-semana nos banquetes dos roceiros . Quando tive oportunidade de criticar a sua atuação, colocou imediatamente o lugar à disposição: ou eu era expulso ou ele se demitia
Chamavam-lhe o cavalo branco, pela sua cabeleira grisalha e postura autoritária.
Era uma figura mal vista, sinistra, que passava os fins-de-semana nos banquetes dos roceiros . Quando tive oportunidade de criticar a sua atuação, colocou imediatamente o lugar à disposição: ou eu era expulso ou ele se demitia
Dei-me conta de tal atitude através do Emissor
Regional.de S. Tomé e Príncipe, que difundiu um oficio emanado da Repartição
de Gabinete, dizendo que “uma noticia
publicada em Semana Ilustrada, na edição Nª 362, levou o Presidente do
Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social, a pôr à disposição do
Governo o seu lugar naquele organismo público, o que não foi aceite, segundo o
mesmo comunicado, por continuar a merecer a confiança do Governo".
Os jornalistas são sempre as primeiras
vítimas, os bodes-expiatórios da ira popular, das guerras e conflitos - Em S.
Tomé, só não me linxaram, talvez por milagre - Mas não foi da população nativa
que partiram as agressões e ameaças. Aliás, foi no seio desta que eu fui
protegido.
A
minha sorte foi que, nessa
altura, o governador Cecílio Gonçalves (aliás, uma excelente pessoa) já
quase não mandava, visto não se adaptar ao desenrolar dos
acontecimentos, tanto
em S. Tomé, pelas manifestações da população, que exigia a
independência, como em
Lisboa, acabando por abandonar a colónia - E, quem o veio a substituir, não quis embarcar
nas pressões pró-coloniais dos roceiros e de Spínola, optando por criar
condições para que o processo da descolonização, decorresse, pacificamente
sem derrame de sangue. Tal como escrevi neste site, em -
http://www.odisseiasnosmares.com/2014/08/general-pires-veloso-e-hoje-sepultado.html
“NÓS E O PRESIDENTE DO
INSTITUTO DE TRABALHO
“Da Repartição de Gabinete
do Governo de São Tomé e Príncipe, recebemos o seguinte oficio:
Incumbe-se Sua Excelência
o Encarregado do Governo de solicitar, nos termos do art, 414, do E.F.U., a transcrição seguinte comunicado
na Revista da mui digna direcção de V. Exa, como mesmo destaque e na mesma página
em que a noticia foi publicada;
Sob o título: “Nós e o
Presidente do Instituto de trabalho” , e assinado por Jorge Trabulo Marques, publica
o número 366 da revista “SEMANA ILUSTRADA”, um artigo me que se produzem várias
afirmações que põem em causa a actuação do actual Presidente do Instituto do Trabalho
e Acção Social desta província”
NÃO CEDI ÀS AFRONTOSAS AMEAÇAS E CHANTAGEM
Apesar das prepotentes ameaças,
nunca me deixei atemorizar – E voltei à carga: Eis a
passagem da minha resposta: (…) "Pelo que
nos parece, o Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social,
não se tem conformado com verdades que lhe apontamos ( e verdades quem gosta
que lhas digam?) facto que até o levou a colocar o seu lugar a disposição do
Governo(atitude esta que nos deixa um bocado confusos} vamos pois dar-lhe
conhecimento de mais qualquer coisa. Até para defesa do seu prestígio
pessoal, que mais não seja.
Não
sei se V. Exa
já tinha dado conta que não goza de muitas simpatias em S. Tomé. (no
Príncipe, não sei o que lá vai). E parece-me que afinal não só das
classes trabalhadores com até de certas entidades patronais, para as
quais, V. Exa,
não vem tomando idêntico critério que usa para com outras.
Por· outro lado, o
seu pessoal, os funcionários que estão sob as suas ordens, igualmente, grande
número deles não gostam de V.Exa. Nem confiam em V. Exa. Disseram-nos que tem sido
muito injusto para com eles. Que não se tem interessado nem utilizado o mesmo
critério para todos no que respeita a promoções, e, consequentemente,
compensação dos seus serviços. Se V.Exa. não sabia disso então fica
desde já sabendo. Mas é muito natural que, quando o senhor ler estas linhas,
parte dos seus subordinados, já se tenha manifestado e feito compreender
perante a sua pessoa: pois já nos disseram que iam marcar uma reunião com
V.Exa.
No que respeita à
calasse dos trabalhadores, vários têm sido os trabalhadores que se
nos têm vindo a lamentar da sua pessoa. Não pretendemos apontar ninguém, até
porque não é essa nossa função. Ainda, há dias, por exemplo, um
trabalhador de uma roça veio ter connosco dizendo que tinha sido despedido sem
justa causa da propriedade onde trabalhava. Ainda por cima lhe passaram
uma guia (cuja fotocópia temos connosco ) para efeitos. de apresentação às
entidades oficiais, em que se referia que o dito trabalhador se
havia despedido, mas tinha sido precisamente o contrário, segundo ele próprio
nos declarou.” – Excerto
Vindas de indivíduos que ainda
hoje se gabam no Facebook das sórdidas patifarias, que me fizeram - Os
mesmos que se opuseram à descolonização de S. Tomé e Príncipe, e que
hoje têm lá empresas a desfrutarem dos benefícios de um Povo Livre e
Pacífico .
Vomitando ódio e falsidades - Ninguém destruiu placas nenhumas “ Manuel Correia: Sabem
porquê que eu e o Elvido, lhe cortamos o cabelo? PORQUE, NA MANHÃ DE O3 DE
FEVEREIRO DE 1975, ELE E UM GRUPO DA CIVICA, PERCORRERAM AS RUAS DA CIDADE DE
S.TOMÉ, DE MARRETA NA MÃO, COM ELE A COMANDAR, A PARTIREM TODAS AS PLACAS
TOPONÍMICAS QUE CONTINHAM REFERÊNCIAS PORTUGUESAS. Não sabiam ??? E que o
menino chorou baba e ranho, a implorar que não lhe cortássemos as lindas
madeixas loiras . . Curtir · Responder · 2 · 12 de agosto às 06:29 Veja quem são https://www.facebook.com/elvido.ricardodeviveiros?fref=ts.....https://www.facebook.com/manuel.sebastiao.75?fref=ts
DEPOIS DO 25 DE ABRIL, A TROPA FEZ A LIMPEZA DO CONTEÚDO DOS PROCESSOS INSTAURADOS PELA PIDE - E SE NÃO FOSSE A SEMANA ILUSTRADA, ATÉ PARECIAM QUE ESTAVAM A GOZAR UMAS FÉRIAS
Atualmente, mesmo que queira fazer-se uma investigação, em relação à atuação da PIDE; em S. Tomé, penso que não é possível: tanto pelos condicionalismos da lei, como pelo facto dos arquivos terem sido todos limpos. Assisti ao transporte dos armários.dos arquivos
Como fui preso, quis saber o que constava da minha fixa, só lá descobri as capas do processo: - A tropa, subordinada ao Comando Territorial Independente, foi lesta em defender a PIDE -
Se não fosse uma manchete da minha revista, os agentes da PIDE continuavam a passear.se por lá, como se nada tivesse mudado - Pena não terem chegado algumas edições a Portugal, após o 25 de Abril.
Aliás, numa certa manhã, um dos PIDES,, sentado com outros PIDES, ao lado da minha mesa, na esplanada do Rialto, afirmava, de expressão risonha, alto e em bom para que toda a gente o ouvisse: "eles vão precisar também de nós!" - E toca de entornar cervejas para as gargantas - Curiosamente, lembro-me que nessa mesa, até estava o tal Duarte, mais bebericando e rindo do que falando - Mas, como toda a gente os conhecia, muitos colonos conviviam com eles.
Só depois de um artigo de minha autoria, alertando para a provocação da sua ostentação pública, é que então foram mandados para a Quinta de Santo António, a mesma que havia albergado as crianças do Biafra. Essa minha consulta, na Torre do Tombo, ainda ocorreu em boa altura, ou seja, antes de algumas forças políticas, aprovarem leis restritivas
COLONOS APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL
ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM
.. SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as guerras e conflitos - Mas não só.
Um total de 110 jornalistas foram mortos em todo o mundo em 2015, informou a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta terça-feira (29), destacando que a maioria foi vitimada por causa de seu trabalho em países supostamente pacíficos.Mais de 100 jornalistas foram mortos em 2015,....Os países onde mais morreram jornalistas em 2015 -.....Dois jornalistas mortos a tiro em direto nos EUA.................Brasil registra o maior número de jornalistas assassinados ....
.. SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as guerras e conflitos - Mas não só.
Um total de 110 jornalistas foram mortos em todo o mundo em 2015, informou a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta terça-feira (29), destacando que a maioria foi vitimada por causa de seu trabalho em países supostamente pacíficos.Mais de 100 jornalistas foram mortos em 2015,....Os países onde mais morreram jornalistas em 2015 -.....Dois jornalistas mortos a tiro em direto nos EUA.................Brasil registra o maior número de jornalistas assassinados ....
..
Naturalmente que
não posso culpabilizar a generalidade dos colonos portugueses pelas
suas atitudes intempestivas: - os brancos foram apanhados de surpresa pelo
desenrolar dos acontecimentos e andavam muito nervosos, receando pelo seu
futuro. Ninguém os molestou fisicamente - E a única vida que se
perdeu, até foi a de um santomense, com uma bala da tropa: o acidente ocorreu
a 6 de Setembro: Rodrigues Pinta de 59 anos, estivador, conhecido por
Giovani, foi morto "por uma bala perdida" durante uma manifestação
acalorada no Bairro do Riboque -
Nesse mesmo dia, .Paulo Ferreira, um soldado de 23 anos da Companhia de Caçadores de S. Tomé e Príncipe, morreu num brutal acidente de viação, quando a sua unidade regressava da roça de Santa Catarina.
Os jornalistas são sempre as primeiras
vítimas. os bodes-expiatórios da ira popular, das guerras e conflitos - Em S.
Tomé, só não me lincharam, talvez por milagre - Mas não foi da população nativa
que partiram as agressões e ameaças. Aliás, foi no seio desta que eu fui
protegido
Por duas vezes todos os pneus à navalhada |
39 anos depois |
Nesse mesmo dia, .Paulo Ferreira, um soldado de 23 anos da Companhia de Caçadores de S. Tomé e Príncipe, morreu num brutal acidente de viação, quando a sua unidade regressava da roça de Santa Catarina.
As constantes
manifestações populares, reclamando a independência, causavam-lhes alguma
instabilidade. Ora, nestas coisas, como geralmente acontece, nos conflitos, os
jornalistas são sempre as maiores vítimas, o bode expiatório da situação
- Enquanto em Angola, havia uma guerrilha declarada, que ceifava já milhares de
vidas de parte a parte, em S. Tomé, a luta era diferente - O povo é por natureza
pacífico. Em São Tomé e Príncipe, não existia criminalidade, senão
esporadicamente e mais do foro passional - Apesar da população ter sido tão sacrificada ao longo dos séculos,
à exceção das revoltas do "angolares" (etnia, dedicada especialmente
à pesca), os maiores problemas, com que a colonização portuguesa nas
ilhas, se teve de bater, foi com os corsários franceses e holandeses.
Por conseguinte, quando o Povo Santomense, teve oportunidade
de sair à rua e se manifestar, exigindo abertamente a independência,
fê-lo calorosamente, mas sem atos de violência - No entanto, para os colonos,
tais manifestações eram entendidas, como uma ameaça à sua continuidade nas
Ilhas. De certo modo, é verdade - as roças, principal fonte da exploração
colonial, nunca serviram o povo santomense mas os donos dessas grandes
propriedades, que viviam refasteladamente em Lisboa: os chamados turistas da
Gravana, que só ali iam a dar umas passeatas e a banquetear-se em lautas jantaradas
- Salvo o administrador, o chefe de escritórios e o feitor-geral, em cada
roça, o resto, tanto empregados brancos, como trabalhadores, não passavam de
escravos: pessoalmente, passei por esse dura experiência.
ESPALHARAM-SE
POR TODAS AS RUAS - O QUE ME VALEU FOI TER DESCOBERTO A ESCADA DE UMA
PORTA ABERTA E REFUGIAR-ME NO TELHADO DESSE PRÉDIO
MESMO ASSIM,
QUANDO CORRIA À SUA FRENTE, AINDA LEVEI COM UMA PEDRA NA CABEÇA e outra nas
costas - Depois de descarregarem toda a ira e ódio na minha modesta viatura,
furando-lhe os quatro pneus à navalhada, arrombara-me a casa, partiram-me tudo:
escaqueiraram-me a máquina de escrever, onde nem sequer ficou um simples copo
inteiro para beber água - Não satisfeitos com a malvadez, deixaram uma forca
pendurada na porta, e, na parede ao lado, uma cruz desenhada e a
inscrição: " a morte sanciona cada traidor".
TIVE QUE ME
REFUGIAR, EM CASA DE UM SANTOMENSE: dos pais do Constantino Bragança, que,
tendo assistido à perseguição, se deslocou à noite ao local para me colher no
seu modesto casebre, algures no mato: Sr. Jorge! Pode descer, que os brancos
foram todos para o quartel da Polícia Militar e do Cinema Império e venha para
a minha casa"
A minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam
lá no seu interior, deixaram-me à porta o laço da prometida forca de corda. Pelos
vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras
vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever
estas linhas, se me toldam os olhos, tal os maus momentos por que passei.
Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me
importo de ser confrontado com os elementos da natureza mais hostil, mas
ser atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um
sentimento de profunda tristeza e revolta.
VÍDEO DE HUMOR, ROSTOS, PAISAGENS E MÚSICA DE SÃO TOMÉ – “Turista Americano” entrevistado pelo “Emissor Anfíbio do Pantufo” – Memórias do ERSTP de há 42 anos –
Programa de Humor com desfile de rostos e panoramas
maravilhosos de S. Tomé, e , por fim, com a audição de um antigo
trecho de música típica santomense . Acompanhe-nos na entrevista, que eu
próprio fiz a John da Purificação Semith”, o “Turista Americano”
que descobriu S. Tomé, em 1973 para visitar a ilha e escalar o Pico Cão
Grande - Uma rábula de humor, transmitida num programa radiofónico, do
extinto Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe, que aqui lhe
recordamos, com várias imagens da Ilha, que eu registei 39 e 40
anos depois de ter partido numa canoa para tentar a travessia de S. Tomé
ao Brasil
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