Jorge
Trabulo Marques - Jornalista - "VER
PARA CRER COMO O SÃO TOMÉ “ Citação de um livro sem imagens mas com palavras que valem
por mil metáforas sagradas - Rescritas por MARCELO, O POLÍTICO SEDUTOR E O SÁBIO EVANGELISTA – A obra, de 347 páginas, que três meses depois, ia já na 5ª edição
e que também rapidamente esgotou - Parece
ter caído no esquecimento: - Hoje lembrei-me de a reler e retirar da minha
biblioteca pessoal. A única riqueza na modesta mansarda de águas
furtadas em que me abrigo.
"Cristo está vivo na sociedade. Em rodas as sociedades. De todos os tempos.
"Cristo está vivo na sociedade. Em rodas as sociedades. De todos os tempos.
Vivo, porque a sua
mensagem está viva. Vivo, porque a necessidade, o desafio, o imperativo de pôr
em prática essa mensagem se encontra presente na vida dos seres humanos".
(…) O Cristianismo
como permanente presença de Deus na Humanidade e apelo da Humanidade à
divindade, sendo um repto exigente, não é um repto impossível, porque situado
para além das capacidades humanas.
E embora possa e
deva ser vivido pessoalmente- isto é, de forma diversa para cada pessoa-,
recebe o apoio da igreja – enraizada no mandato conferido aos Apóstolos - e,
sobretudo fortalece-se, a todo o instante, através da Eucaristia.
Ainda assim
continua o não ser fácil o mistério da Fé.
São Tomé é,
tradicionalmente, o exemplo do dúvida, da descrença, do desânimo "Ver para
crer, como São Tomé" - é o dito popular.
O tempo que
vivemos é, ademais, o tempo do audiovisual, do peso decisivo da imagem, da
alienação perante muito do que se vê, acriticamente.
Para uns, Deus não
existe. Senão morte, violência, sofrimento, opressão, injustiça, não
existiriam.”
Marcelo Rebelo de
Sousa, Presidente da República Portuguesa, desde 9 de Março de 2006, oriundo de
Celorico de Basto, no distrito de Braga, onde tem raízes familiares e
católicas, tinha 52 anos, quando deu à estampa, um dos mais belos livros de
inspiração bíblica, magnifico guia espiritual, leitura importantíssima para o
Cristão, e com esta NOTA PRÉVIA"
Ocupa,
assim, papel muito importante na Missa ou celebração da Eucaristia.
De todas as
Missas, assumem particular relevo na vida do crente as de domingo, dia
consagrado a Deus e ao encontro das comunidades cristãs.
Cada ano
litúrgico, e de acordo com critério rotativo, o Evangelho lido e comentado é de
um dos quatro evangelistas ou narradores da vida e da mensagem de Jesus Cristo
-São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João.
Em 2001, é
São Lucas o evangelista dominantemente presente.
As páginas
que ora se publicam recolhem o Evangelho de São Lucas, domingo a domingo, em
2001, assim como brevíssimas notas de reflexão pessoal, escritas ao correr da
pena e, por isso, de dimensão e alcance diversos".
"Marcelo
Rebelo de Sousa, licenciou-se em Direito (1971) e doutorou-se em Ciências
Jurídico-Políticas (1984), com uma tese intitulada Os Partidos Políticos no
Direito Constitucional Português, pela Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa.
Dedicou a sua vida
profissional ao ensino, ao jornalismo e ao comentário político."
Autor de vasta
biografia e bibliografia: porém, quando, em Janeiro de 2001, a Bertrand
Editora, lançou "Os Evangelhos de 2001" - Introdução e Anotações de
Marcelo Rebelo de Sousa", na badana da capa deste livro, eram descritas apenas
estas palavras:
"Marcelo Rebelo de Sousa, tem 52 anos. Pertenceu `Acção Católica Portuguesa de 1959 até 1967, ano em que aquela cessou as actividades na escola que frequentava. Integrou a Pré-Juventude Escolar Católica (JEC) e a Juventude Universitária Católica (JUC)
"Marcelo Rebelo de Sousa, tem 52 anos. Pertenceu `Acção Católica Portuguesa de 1959 até 1967, ano em que aquela cessou as actividades na escola que frequentava. Integrou a Pré-Juventude Escolar Católica (JEC) e a Juventude Universitária Católica (JUC)
Primeiro,
no Liceu Pedro Nunes, depois na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi dirigente na
JEC.
Aderiu e
colaborou com diversos movimentos
cristãos com e sem representação diocesana.
É
professor universitário e autarca em Celorico de Basto”.
De formação
profundamente católica, é dos tais políticos que assume, com sinceridade e
espontaneidade, as suas profundas
convicções cristãs, mas com absoluta
tolerância para com outros credos: o que ficou patente, no inicio da sua agenda presidencial: - É recordado, que, “entre as solenidades,
que se seguiram à sua investidura,
destacam-se uma celebração inter-religiosa na Mesquita de Lisboa, um
concerto dedicado à juventude na praça do Município em Lisboa e uma visita à
cidade do Porto, que culminariam com uma receção no Vaticano, a 17 de Março,
pelo Papa Francisco.
Na atual
biografia, entre vastas referências, lê-se que “Desde jovem Marcelo Rebelo
de Sousa foi dirigente associativo, nomeadamente nas formações de jovens da
Acção Católica Portuguesa (Juventude Escolar Católica e Juventude Universitária
Católica). Ainda hoje é membro de um sem número de instituições particulares de
solidariedade social e outras: foi membro da Junta Diretiva (1994-2012) e
presidente (2012-2016) da Fundação da Casa de Bragança — instituição estatal
que administra o património expropriado pelo próprio Estado (era António
Salazar chefe do governo) à família dos Duques de Bragança —, por designação do
Estado Português, desde 2012 até 2016; foi presidente da Associação de Pais da
Escola Salesiana do Estoril, na década de 1980; é curador do Museu Nacional de
Arte Antiga e das Fundações Árpád Szenes-Vieira da Silva e António Quadros.[1]
É adepto e associado do Sporting Clube de Braga”. – Excerto de https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelo_Rebelo_de_Sousa
INTRODUÇÃO
O EVANGELHO
SEGUNDO SÃO LUCAS
"1. O ano
litúrgico de 2001 - em rigor iniciado ainda em 2000 e a terminar em Novembro -
é um ano em que nas missas ou celebrações eucarísticas os Evangelhos adoptados
são os redigidos por São Lucas.
É a colectânea
desses Evangelhos com a correspondência às respectivas celebrações dominicais,
que se reúne neste volume, acompanhada de breves apontamentos pessoais sobre
cada Evangelho.
Conforme escrevia
o Papa João Paulo II, na sua recente Cana de 15 de Outubro, enviada ao
Arcebispo-Bispo de Pádua acerca do Congresso Internacional sobre São Lucas:
«Desejaria também estimular todos - presbíteros, religiosos, religiosas e
leigos-, a praticarem e promoverem a lectio
divina, até fazerem com que a medicação da Sagrada Escritura se torne um
elemento essencial da própria vida."
2. Compreender a
razão de ser e o enquadramento dos Evangelhos de São Lucas implica recordar, de
modo sumário, o que os define e também o que sabemos acerca daquele discípulo
de Cristo.
3. Os Evangelhos integram-se na Bíblia ou Sagrada
Escritura que, para os Cristãos, representa a colecção de livros escritos sob
inspiração do Espírito Santo - uma das crês pessoas da Divindade- e legados à
Igreja como principal repositório dos princípios e das regras a respeitar no
dia-a-dia ao longo do caminho para a vida crema.
Compete, assim, à
Igreja guardar, interpretar e expor os ensinamentos da Bíblia, completando-os
com a chamada Sagrada Tradição, que engloba o seu magistério universal, cm
particular os textos dos Papas e os contributos da Sagrada Liturgia.
4. Para o Cristão,
a Bíblia representa, portanto. a vontade de Deus de não só se manifestar
através da Criação, mas de explicitar essa Revelação através de escritos que
inspira. e que falam de Si e do desafio colocado a todos os seres humanos de
aceitarem e aderirem à Salvação que lhes propõem.
Mais ainda: para
tornar totalmente evidente a Sua Existência e o Seu desígnio de Salvação
universal, Deus faz-se homem. partilha a vida dos humanos, sofre e morre, para
depois ressurgir.
E são essas
encarnação, em Cristo, morte e ressurreição que os discípulos testemunham - que
traduzem, para o cristão, a confirmação plena de que Deus existe. quer salvar a
humanidade e lhe reserva a vida eterna.
5. A Bíblia narra
a história dos seres humanos desde a Criação. Mas junta-lhe um fim, um objectivo
futuro, no Além.
Na narrativa
histórica é possível encontrar quatro tempos distintos: o tempo que vai da
Criação à primeira intervenção revelada por Abraão, e no qual Deus, por regra,
deixa aos humanos a liberdade de descortinarem a sua existência no universo e
na sua busca de eterno; o tempo em que se revela ao povo de Israel, mas abre a
Salvação a todos os que vivam de acordo com a Lei Natural, os princípios por Si
imprimidos numa recta consciência; o tempo em que Deus desvenda a Moisés os
preceitos da Lei ou Mandamentos ao Povo Eleito- o povo hebreu-, e com ele
estabelece a Aliança do Sinai, que irá renovando e vivificando através dos
Profetas; o tempo em que a Encarnação divina, anunciada pelos Profetas, se
concretiza e culmina na morre e ressurreição de Cristo.
O Antigo
Testamento corresponde, essencialmente, ao terceiro tempo - embora nos fale
também dos dois primeiros-, ao passo que o Novo Testamento corresponde ao
quarto e derradeiro tempo da História Humana
6. A definição
precisa dos livros incluídos na Bíblia ou Cânone Bíblico foi efectuada nos Concílios
de Florença ( 1441) e Trento (1546), e reafirmada pelos Concílios Vaticano I
(1870) e Vaticano II (1962-1965). Este último, na Constituição Dei Verbum.
Os livros do
Antigo Testamento foram escritos, inicialmente, em hebraico, salvo casos
excepcionais, em que o foram em grego ou aramaico.
Já o Novo
Testamento foi escrito em grego, com a excepção do Evangelho de São Mateus,
redigido, originalmente, em aramaico.
O Antigo Testamento terá sido escrito entre o
fim do século XIII a. C. e o princípio do século 1 a. C., ao passo que o Novo
Testamento o foi entre os anos 50 e 100 depois de Cristo.
7. Na leitura da
Bíblia, diversa será a significação para o crente e o não-crente.
Para o crente,
juntam-se a inteligência, o coração e a certeza da inspiração divina, que
converte a Bíblia na mais constante e expressiva manifestação da mensagem de
Deus.
Para o não-crente,
confluem a riqueza do fresco histórico traçado. o retrato das sociedades em que
decorre o devir descrito, o testemunho impressivo da dialéctica entre Profetas e protagonistas do quotidiano,
e, por fim - e não menos importante os contornos da personalidade
excepcional de Jesus Cristo. Para uns, também Ele Prof era de novas terras ou
novos céus. Para todos, factor de ruptura e desafio. ao estilo do insuspeito
depoimento de Pier Paolo Pasolini, no seu Evangelho Segundo São Mateus. Crentes e não-crentes
sabem que, na Bíblia, os dados factuais ou históricos são indisputáveis, mas as
considerações sobre domínios científicos naturais ou físicos e muitas das expressões
usadas são da época da narrativa, destinadas a poderem ser percebidas naqueles
tempos.
Daí que, debalde,
se encontrará nessas considerações e expressões dados elaborados
posteriormente, assim como estes podem e devem enriquecer a compreensão do essencial
da mensagem transmitida.
Por outras
palavras, pode ou não acreditar-se em Deus. mais especificamente, naquele Deus
que se revela através da Bíblia.
Não é, porém,
legítimo fundar tal opção em descrições bíblicas em domínios em que se não
depare com matérias históricas, mas explicações de fenómenos naturais, feitas à
medida dos tempos em que ocorrem.
8. O Novo
Testamento - que contém a revelação divina de Jesus Cristo, para os Cristãos
Nosso Senhor - integra 27 livros, escritos, como atrás se disse, na segunda
metade do século 1 d. C .. Agrupam-se em livros históricos - os quatro
Evangelhos e os Acros dos Apóstolos, as 14 epístolas de São Paulo e as sete
cartas apostólicas - e livros proféticos - o Apocalipse de São João.
O Novo Testamento
revela Deus na sua unidade e trindade -Pai, Filho e Espírito Santo-, e descreve
a encarnação em Jesus Cristo. nos Evangelhos. Fala da expansão inicial da
Igreja. por inspiração do Espírito Santo, nos Actos dos Apóstolos. Ensina como
viver a Fé cristã nas Epístolas e cartas dos Apóstolos.
Anuncia a segunda
vinda de Cristo e o final dos tempos como meta a fortalecer a fé cristã, no
Apocalipse.
9. Inicialmente
recolhido oralmente. o conteúdo dos primeiros livros do Novo· lestamente foi, a
seguir. passado a escrito. Numa parte. pelos discípulos dircetos de Cristo. testemunhas oculares da sua vida.
morte e ressurreição, Noutra. por discípulos desses discípulos.
Nos primeiros se
comam São Paulo, São Pedro e São João. Isto, de acordo com uma enumeração
cronológica de redacçâo.
Nos segundos se
incluem São Lucas. discípulo de São Paulo, e São Marcos. discípulo de São
Pedro.
10. Dentro do Novo
Testamento sobressaem os Evangelhos, que assim são chamados praticamente desde
o ano 100 depois de Cristo.
Evangelho significava em grego boa notícia ou prémio dado ao seu portador. E em latim referia os
benefícios que o Imperador Augusto trouxera aos Romanos. Para os Judeus, queria
dizer anúncio da Salvação.
Os Evangelhos ou
recordações dos Apóstolos recolhem, pois, a pregação dos discípulos de Cristo,
transmitindo o seu testemunho acerca da sua vida, morte e ressurreição e o que
significava de anúncio da Salvação universal.
11.Todos os
Evangelhos tratam do nascimento e do essencial da vida de Cristo - com relevo
para os seus milagres, a escolha dos Apóstolos, a sua paixão e morte-, e
terminam na sua ressurreição.
No dizer de São
Pedro, sempre caracterizado pela simplicidade e a afeição directa da sua
expressão: «Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez na região dos judeus e
em Jerusalém; a quem mataram dependurando-O de um madeiro; mas Deus
ressuscitou-O ao terceiro dia e concedeu-lhe a graça de aparecer, não a todo o
povo, mas às testemunhas preestabelecidas por Deus, nós que comemos e bebemos
com Ele depois que ressuscitou de entre os mortos. Ele mandou-nos que
pregássemos ao povo e que déssemos
testemunho de que precisamente Ele foi constituído por Deus como Juiz de vivos
e morros. Acerca d'Ele todos os profetas dão testemunho de que quantos crêem
n'Ele recebem pelo Seu nome o perdão de todos os pecados."
12. inspirados por
Deus - para os cristãos -. os Evangelhos
foram escritos por São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João.
Já antes do ano
100 depois de Cristo há referências históricas aos quatro Evangelhos, a que se
soma a identificação dos redactores
entre 130 e 188 depois de Cristo.
Tradicionalmente,
considera-se que o primeiro Evangelho é o de São Mateus, de início escrito cm
Jerusalém, em aramaico (50-55 d. C.) e depois vertido para grego (68-70 d. C.).
Seguiu-se-lhe o de
São Marcos. redigido cm Roma, segundo o que ouvira pregar a São Pedro. E, ao
que tudo indica. ainda em vida ou logo após a morre de São Pedro (64-70 d. C.).
O terceiro
Evangelho é o de São Lucas. datado entre 62 e 70 d. C. e escrito em Antioquia.
O que significa
que os três primeiros Evangelhos são anteriores à destruição de Jerusalém. em
70 d. C.. destruição essa que todos eles profetizaram
Já o Evangelho de
São João é claramente posterior - escrito em Éfeso, entre 98c 100 d. C .. e
imediatamente antes da morre do apóstolo dilecto de Cristo.
13. Os quatro
Evangelhos narram feitos históricos. mas sobre eles também doutrinam,
explicando esses factos cm ter· mos de Revelação divina. Como afirma São João:
“Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão
escritos neste livro. Esses sinais foram escritos para que acrediteis que
jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhais a vida em
Seu nome."
Quer isto dizer
que há, nos Evangelhos, factos comprováveis por métodos históricos - como a
pregação de Jesus na Palestina, a existência de discípulos, a criação da
Igreja, o julgamento e a crucifixão no tempo de Pôncio Pilatos, e mesmo a
ocorrência de factos singulares, desde o reviver de Lázaro até ao aparecimento
de Cristo a discípulos após a morte.
Há,
simultaneamente, explicações doutrinais acerca desses factos singulares, bem
como sobre o sentido de todos os factos narrados em geral, que se encontram
para além da possível indagação histórica, e a que só é possível chegar pela
via da Fé.
De sublinhar é
ainda que haja, no essencial, coincidência das narrações dos quatro
evangelistas entre si e com a pregação de São Pedro depois do Pentecostes,
conforme consta do livro dos Actos dos Apóstolos. Isto, apesar das diversidades
de tempo, lugar e circunstâncias da redacção dos Evangelhos". – Excerto
CRISTO – PERIGO OU
SALVAÇÃO?
Este
Evangelho de São Mateus - que ainda
respeita ao tempo do Natal e é inserido no início do ano 2001, como vimos
assinalado pelo Evangelho de São Lucas -suscita uma interrogação essencial:
Jesus é um perigo
ou uma Salvação.?
É um perigo para
Herodes, e mais em geral, para os poderosos deste mundo? Ou é uma Salvação para
todos os seres humanos que queiram partilhar a sua mensagem?
Ou é uma coisa e
outra?
É caminho de
Salvação, ao abrir as portas da eternidade. E é também caminho de Salvação, ao
apontar princípios da vida, desde logo aplicáveis na vida terrena, onde deve
começar a busca daquela eternidade.
Por outro lado, é
perigo. A duplo título.
Perigo para todos
os que queiram sobrepor a autoridade temporal à livre procura do espírito.
Perigo ainda para
aqueles que, detentores de qualquer tipo de poder - político, económico,
social, cultural -, se oponham aos
princípios de que é portadora a mensagem de Cristo.
Ora, é,
precisamente, nesta riqueza de consequências que consiste o essencial da
mensagem cristã. E que a toma incómoda e difícil na sua vivência quotidiana.
É incómoda e
difícil, ao lembrar-nos que não devemos apagar o apelo de eternidade, ocupados
que estamos com os encargos, as solicitações, as metas do imediato. Ou ao
convidar-nos a não separar o Além do Aquém e a viver princípios muito exigentes
desde já. Ou ao incitar-nos a combater todas as formas de opressão ria
liberdade religiosa, ou espiritual em geral. Ou ao legitimar-nos a denunciar as
condutas sociais violadoras dos princípios rectores da vida cristã.
Evangelho-esperança
e Evangelho-risco. Sem risco, a esperança faria menos sentido, seria certeza.
Sem esperança, o risco poderia ter o sabor da impotência ou o travo da
angústia.
Risco é liberdade.
Esperança é desígnio de vida.
VER PARA CRER COMO
O SÃO TOMÉ
O mesmo Jesus que,
no domingo passado, caminhava com a Humanidade, revela-Se, no presente
Evangelho, vivo na comunidade. E essa comunidade testemunha a sua ressurreição.
Estas são duas
ideias-força que São João - que, neste tempo ainda pascal, é escolhido para dar
o seu testemunho vivido - nos transmite a propósito do reencontro de Cristo com
os seus discípulos.
Cristo está vivo
na sociedade. Em rodas as sociedades. De todos os tempos.
Vivo, porque a sua
mensagem está viva. Vivo, porque a necessidade, o desafio, o imperativo de pôr
em prática essa mensagem se encontra presente na vida dos seres humanos.
A comunidade
testemunha a sua ressurreição. Aquela que o viu ressuscitado - em presença
física.
Aquelas que,
durante dois mil anos, o não viram em carne e osso mas partilham o Seu legado e
o comungam na Eucaristia - em presença espiritual.
Aliás, a
Eucaristia como sacramento de reencontro qualificado com Deus, representa uma
ponte visível deixada por Cristo, como o é também a missão conferida aos
apóstolos de ministrarem o perdão dos pecados.
O Cristianismo como
permanente presença de Deus na Humanidade e apelo da Humanidade à divindade,
sendo um repto exigente, não é um repto impossível, porque situado para além
das capacidades humanas.
E embora possa e
deva ser vivido pessoalmente- isto é, de forma diversa para cada pessoa-,
recebe o apoio da igreja – enraizada no mandato conferido aos Apóstolos - e,
sobretudo fortalece-se, a todo o instante, através da Eucaristia.
Ainda assim
continua o não ser fácil o mistério da Fé.
São Tomé é,
tradicionalmente, o exemplo do dúvida, da descrença, do desânimo "Ver para
crer, como São Tomé" - é o dito popular.
O tempo que
vivemos é, ademais, o tempo do audiovisual, do peso decisivo da imagem, da
alienação perante muito do que se vê, acriticamente.
Para uns, Deus não
existe. Senão morte, violência, sofrimento, opressão, injustiça, não
existiriam.
Para outros, mesmo
que exista, acaba por deixar a cada qual,
isolado, a sua própria Via Sacra neste mundo.
Para terceiros,
até pode ser que exista, mas faltam mais mulheres e homens de boa vontade que
transformem o mundo no sentido do Bem.
E, para cada
cristão, a dúvida, a descrença e o desânimo assaltam quando encaram a sua
missão de Sísifo -sempre ele- devendo empurrar o rochedo pela escarpa íngreme.
Por alguns centímetros ganhos, outros - às vezes menos, outras vezes mais - são
perdidos. Tendo de recomeçar todos os dias como se fosse o primeiro.
São Tomé
acreditou. Nós podemos acreditar.
Até porque, para
além da Eucaristia e para além da Igreja, há outros sinais de Cristo connosco.
Um gesto de amor
ou de amizade. Uma palavra solidária. Uma lembrança reconfortante. Um pôr do
Sol inesquecível. Um reencontro na dor e
até na morte.
Só precisamos de
estar despertos. E de compreender que descobri-lo é o essencial na vida.- Excertos
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