MARES DA MINHA VIDA..DA MINHA INFINITA ANGÚSTIA, DOS MEUS TORMENTOS, ENCANTOS E AFLIÇÃO - POUPASTE-ME À MORTE MAS OUTROS INFELIZES NÃO TIVERAM A MESMA SORTE
com
todo amor e bondade do meu coração!
Eu
vos bendigo em exaltação ao génio Criador!
Eu
vos evoco pelos momentos de rara beleza e de imensa alegria,
e
também de outros de não menor tristeza e dor, por mim vividos,
durante
dias e dias a fio, no meio da vossa vastidão!
-
Obrigado por haverdes compreendido a minha temeridade.
a
minha intenção!... Fui um homem de sorte!... - Obrigado, também,
Embora,
já muito longe de vós, na distância e no tempo
(pois,
há quantos anos vos não vejo? ó mares da minha vida,
ó
mares da minha perdição! - nem por isso deixo de perscrutar
os
vossos chamamentos, de escutar os vossos rumores e rugidos!
-
Ouço-os, claramente! - Sobretudo nos momentos
mais
meditativos, mais pensativos,
à
semelhança do que me acontecia, quando,
na
solidão do caos tempestuoso, sozinho me debatia
por
entre a fúria das enormes vagas - Ó imensidade!
Ó
pálido e brumoso mar!... Ó noites de mar tenebroso e bravo!
Noites
fosfóricas, de assombrosa aparição!...
a
angústia sentida desses cruciais instantes!...
Relembro-os
e perscruto-os de olhar triste e magoado,
como
se estivesse ainda a ver as cristas brancas
a
ondularem ao largo, a levantarem-se do fundo das sombras,
tão
altas que até quase tocavam as difusas estrelas,
e
subitamente estrondearem e a desfazerem-se ao meu lado!
-
E eu, pobre de mim, vagueando, nesse horror alucinante!...
Rolando,
rolando, pela noite adiante, só e desamparado!
Errando,
errando, na pequena piroga, sem rumo e sem destino,
no
meio do tumulto avassalador, no centro rodopiante,
do
turbilhão fervente e ameaçador! - Transido
pela
humidade! Ensopado como um trapo. Mortificado
pela
sede e esfomeado Um verdadeiro farrapo!
Todavia,
lutando, resistindo,
Ó
ondas lívidas e soluçantes! Ondas lúgubres
e
agrestes dos trágicos naufrágios, ainda hoje
aos
meus ouvidos, vão ecoando, vão soando, repercutindo,
os
ecos de todos os estrondos, sílvios e ruídos
da
vossa portentosa orquestra! Ainda agora ouço o ressoar
de
todos esses sons! - No marulhar de vós, distingo - ó impiedosa
negridão!
-, por entre o rebentar e o estertor dos vossos rugidos,
o
imenso clamor dos gritos, os rumores dos milhentos gemidos,
choros
e suplicas, os ecos das imensas vozes aflitas,
perdidas,
já agonizantes, moribundas, das pobres almas
que
foram tragadas! - Sim, dos inumeráveis desgraçados
que
se perderam, que foram esquecidos, abandonados,
Ai de vós, ó pobres náufragos!
Ai
de vós, desventurados! - Foi horrível
o
vosso sofrimento - eu sei! Também experimentei o mesmo drama!
Porém,
se estais em paz no outro mundo, continuai em paz, nesse mesmo limbo!
Esquecei
o vosso infortúnio! Não o choreis!... Ninguém
mereceria
as vossas lágrimas! - Nem Deus, certamente,
que,
naqueles momentos fatídicos, permaneceu impassível,
vos
abandonou e vos esqueceu!
Jorge
Trabulo Marques
12
de Julho de 2005
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