Jorge Trabulo
Marques – Jornalista – Líder da Escalada ao Pico Cão Grande
Uma equipa mista de alpinistas, vindos de Portugal, no dia 2 de Fevereiro de 2016, composta por uma canadiana, uma portuguesa e um português, deslocaram-se a S. Tomé para conhecer as suas belezas naturais e fazer um teste no Pico Cão Pequeno, querendo aproveitar para hastearem as bandeiras nacionais de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, no seu cume, como um gesto de amizade e de cooperação, entre os dois países irmãos
Na verdade, em 12 de Outubro, de 1975, a três dias da minha partida para uma aventura marítima de longos 38 dias e noites no Golfo da Guiné, a minha equipa, conquistava, finalmente, o tão desejado cume do Pico Cão Grande, tentado por várias equipas estrangeiras, sem êxito -
Corajoso Constantino Bragança |
Dois anos sozinho, e, por fim, de, 73 a 75, com uma
equipa de valorosos santomenses - Constantino Bragança, Cosme Pires dos Santos,
e os guias, Sebastião e o Chico - conquistávamos a crista de um dos mais
difíceis e caprichosos monólitos do planeta
Agora a minha intenção,
não era propriamente a de fazer mais uma escalada mas de realizar a reportagem
de uma equipa de alpinistas ao Pico Cão Pequeno A bandeira portuguesa,
trouxeram-na de avião; a de S.T.P, foi oferecida pelo Coronel Victor Monteiro,
então Diretor do Gabinete do Presidente da República.
Ao lado do jovem guia |
Primeiros socorros |
Realmente, a noite fora muito chuvosa e a rocha basáltica das paredes do Pico Cão Pequeno, que é coberta na sua base por espessa vegetação, encontrava-se muito húmida e escorregadia - Havia muitos arbustos, mas hesitava-se em fazer uso seguro deles - Pelo que me apercebi, o entusiasmo parecia arrefecer e adiar a tentativa para outra oportunidade. . No entanto, eu que já conhecia bem esse tipo de vegetação no Cão Grande e dela me havia servido, tanto para iniciar a escalada, como em várias fases do percurso, sabia que, com algum cuidado, podia ajudar a resolver as dificuldades iniciais, nomeadamente onde a pedra está menos enxuta e se cobre de vegetação, agarrada aos milenares sedimentos da erosão Face a uma certa hesitação, que parecia deitar por terra, tanto esforço da exaustiva caminhada, sugeri para que permitissem ao guia Admilson, dar a sua ajudinha.
Sim, ele que tão útil fora a desbravar caminho até ao local: - um jovem e atlético santomense, de origem cabo-verdiana, que já evidenciara as suas capacidades quando cumpriu serviço militar e que agora trabalha com o seu pai, mãe e demais irmãos, na dependência de Santa Josefina, da antiga Roça Porto Alegre, sim, sugeri para que o deixassem mostrar as suas habilidade e trepar pelos arbustos, levando consigo a corda da escalada, de modo a prendê-la a uns arbustos, aí a uns 20 ou 30 metros acima, ou seja, junto à parte da rocha, que passava a encontra-se livre de vegetação e seca - Numa área já mais exposta ao ar, logo menos escorregadia e mais adequada à fixação de pitões e das tradicionais técnicas cabalísticas
E, na realidade, num ápice,
o jovem, tira o sapatos, fica descalço e trepa por ali acima, como se estivesse
a trepar em qualquer árvore da floresta, garantindo que podiam iniciar a
escalada com segurança. Quando deixei de os ver, descalcei os sapatos e tentei
a minha chance para fazer umas imagens à equipa, que, do ponto onde me
encontrava, não podia registar Não podendo trepar o mesmo arbusto que o jovem,
tentei fazê-lo de outra forma, ou seja, agradando-me a outro arbusto,
justamente onde os elementos da equipa se haviam agarrado à corda inicial.
Ao puxá-lo. mesmo antes de trepar, como estava em meias - e não descalço - escorrego com o arbusto atrás de mim - Rolando desamparado ravina abaixo, batendo com as costas e a cabeça de pedra em pedra- Sabia que não era a forma ideal e a mais segura - Mas fui traído pelo musgo escorregadio - Caso a ponta da corta não tivesse sido recolhida, penso que podia ter ido até onde o guia foi, podendo acompanhar fotograficamente a escalada Qualquer repórter fotográfico - seja qualquer for a sua idade - arrisca para fazer o melhor possível a sua reportagem -Era o que pretendia fazer.
Quando me vi a sangrar da
cabeça de vários pontos e de um braço, com fortes dores nas costelas, entreguei
o telemóvel ao jovem guia para comunicar com a equipa - sim, ali, àquela
altura, havia rede - Esta decide desistir da escalada e regressar - Porém,
receando que pudesse vir a desmaiar e a constituir algum estorvo acrescido ao
seu retorno, através da espessa floresta, resolvi ir descendo, amparado a um
pau, depois de ter informado o Coronel Victor Monteiro do meu acidente, o qual,
desde logo, diligenciou para que uma ambulância me pudesse esperar quando
chegasse à estrada, ao mesmo tempo que havia pedido para que uma equipa de
maqueiros fosse ao meu encontro e me prestasse os primeiros socorros.
Q
E creio que foi realmente o que me valeu; de outro modo acabaria por desmaiar, tendo-me saturado o golpe da cabeça e tratado outros arranhões que tinha pelo corpo Uma parte do percurso foi desbravando a floresta, outra, já em caminhos de mato, pelo jipe da equipa - Na estrada, a ambulância, conduzir-me-ia ao Hospital onde foi assistido nos três dias seguintes, tendo, ali, também contado, com uma equipa de assistência medica e de enfermagem, muito dedicada e generosa. E também com a presença do Coronel Victor Monteiro, que, de facto, fico a dever a vida - Estou certo que se não tivesse feito essas diligências, nao teria sobrevivido enfermagem, muito dedicada e generosa. E também com a presença do Coronel Victor Monteiro, que, de facto, fico a dever a vida - Estou certo que se não tivesse feito essas diligências, nao teria sobrevivido
Escalada Vertical ao pico Cão Grande Cão Grande a épica escalada https://canoasdomar.blogspot.com/2020/08/pico-cao-grande-em-s-tome-epica.html Desmontagem de uma encenação https://canoasdomar.blogspot.com/2016/01/escalada-do-pico-cao-grande-em-s-tome.html Acidente no Pico Cão Pequeno https://canoasdomar.blogspot.com/2016/03/sao-tome-acidente-na-escalada-do-pico.html - Rumo ao Sul https://canoasdomar.blogspot.com/2016/02/pico-cao-pequeno-rumo-ao-sul-e-latitude.html
Palestra
dos 40 anos, em cascais https://canoasdomar.blogspot.com/2015/11/casa-da-gruta-em-cascais-encheu-para.html
A minha tenda na Praia Jalé |
Em todo o caso, este pico, que mais lembra um enorme falo de que um simples bloco maciço, ia-me pregando uma grande partida e devorando-me a vida, justamente onde começa a libertar-se dos restos da última mancha verde da brenha densa arbustiva e arbórica, que o envolve desde as mais fundas grotas – Mas a culpa nem é dele mas minha: porque, eu não ia com o intuito de o escalar mas tão somente de o fotografar -Essa proeza, que tem outra história, pertence-me a mim e a mais três valorosos santomenses - E já lá vão quarenta anos; é muito tempo na vida humana
Caro amigo Jorge Trabulo Marques.
Gostava de aproveitar agora, depois do alívio, porque o susto já passou, de desejar-te rápidas melhoras.
Os meus agradecimentos, por isso, devem ser extensivos a todos quantos espontaneamente acudiram ao meu grito de socorro e colaboraram incondicionalmente para que tudo andasse bem:
De entre tanta gente, gostava de destacar as seguintes pessoas:
PRIMEIROS SOCORROS NA FLORESTA
+Enfermeiro de Porto Alegre- Juceley (estancou a hemorragia no crânio, com uma sutura de 3 pontos)
+Motorista-Manuel
EQUIPA DA AMBULÂNCIA
+Enfermeiro-Germias
+Maqueiro-Antonai
+Motorista-Cunha
HOSPITAL Dr.Ayres de Menezes
+Administrador-Dr.Carlos Neves
+Dr. Lima
+Dr. Pascoal
+Dr. Gian (Costa-marfinense)
+Dr. Guilherme
+Enfermeira-Cipriana
- Enfermeira Elka da Cruz
.-Enfermeiro Jerceley
+Maqueiro-Ângelo
- Maqueiro Antunay
ECO-RESORT JALÉ
+Coordenadora-Evarilde
+Gerente do Restaurante-Manuel.
Um grande Bem-haja a todas as pessoas que tiveste a gentileza de enunciar; ao seu espírito de bem servir e de abnegação - Sem o teu grito de alarme e a sua generosidade, dificilmente teria resistido.
Salvaste-me a vida - Quem saiu aos seus não degenera e tu tens a quem sair: a uma querida e corajosa mãe e a um pai extremoso e corajoso que também salvou muitas vidas de serem atiradas ao mar. Conheci-o quando era empregado de mato na antiga Roça Rio do Ouro e quando tu ainda eras um adolescente - Lembro-me bem do teu rosto. porque o teu pai era um cabo-verdiano muito estimado e comunicativo naquela roça e tu quase não o largava de mão, agarrado às suas calças, descalço e de calção Mal te pus ao corrente do meu acidente ( e ainda bem que àquela altura o telemóvel funcionou) sei que nem mais um instante teu coração descansou: foi um dia arrasador para ti - Fazendo diligências várias para ser prontamente socorrido - E assim aconteceu - Graças à tua generosidade e o teu abnegado esforço - Que rapidamente puseste em movimento um grande abraço de solidariedade - Operaste um autêntico milagre - E também porque as pessoas que contactaste, compreenderam que o momento não era de esperas mas de acção: desde o maqueiro que prontamente me saturou dos grandes golpes na cabeça, que não paravam de jorrar sangue - Mais uns minutos, dificilmente podia manter-me em pé, pois já começava a sentir fortes tonturas - Depois, foi a pronta evacuação na ambulância que me transportou para o hospital. E, ao chegar ali, tanto carinho, tanta disponibilidade, que,a bem dizer, nem sei onde hei-de começar a agradecer - Sim, a todos os rostos que me acarinharam e me assistiram , aos meus companheiros que também tanto se esforçaram por me salvar - Um grande abraço amigo - De ti, já tinha as melhores recordações, mas com esta grandeza, penso que é inigualável
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