Jorge Trabulo Marques - Jornalista
2014 |
Os
santomenses comemoram hoje o DIA 30 DE SETEMBO- mais um feriado do dia da
nacionalização das roças coloniais que ocorreu no dia 30 de Setembro de 1975,
ao abrigo do Decreto-Lei n.º 24/75, que sancionou a nacionalização das
principais roças exploradas pelos roceiros portugueses em S. Tomé e Príncipe.
O feriado é assinalado hoje com uma Mega Feira Agrícola”, de produtos
da terra, Bananas, fruta-pão, mandioca, matabala, batata doce, todo tipo de
hortaliças, carnes diversas, ovos, animais vivos ; peixes diversos« Produtos
biológicos e ecológicos como Carvão ecológico ; produtos agrícolas
biológicos como a pimenta, hortaliças, etc », – lê-se no documento
Conta com animação de vários grupos musicais - Refere a STP-Press, que o evento é organizado pelo Ministério da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento, abriu por voltas das 06 horas da manhã , está a decorrer nas 3 ruas em torno da Escola Preparatória Patrice Lumumba, nomeadamente, a Rua Barrão de Água Izé, a Rua de Ponte Tavares, e a Rua entre a Escola e a EMAE, num formato de U ». https://www.stp-press.st/2022/09/30/mega-feira-agricola-marca-hoje-30-de-setembro-dia-da-nacionalizacao-das-rocas/
Caué - 1964 |
LAMENTÁVEL É QUE O PATRIMÍNIO DAS ROÇAS, NÃO TENHA SIDO PRESERVADO - Ao menos, que, as tais antigas propriedades, fossem minimamente limpas e preservadas. E não é isso que acontece,em muitas delas, para prejuízo do povo destas maravilhosas ilhas
Em 2014 , o então Primeiro-ministro Gabriel Costa, anunciou que o seu Governo com menos de dois meses de mandato, vai lançar um concurso público internacional, para salvar cerca de duas dezenas dos antigos palácios das roças.
Bom era que, as afirmações, que se têm feito em torno da sua preservação, passassem das palavras às ações, no entanto, o problema, é que, a Ilha, nomeadamente a maior, onde a natureza é fértil e generosa, oferecendo todo o tido de fruta, ao longo do ano e tem o nome do apóstolo São Tomé – Ora, como é do conhecimento bíblico, São Tomé, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo, era muito cético - só vendo é que acreditava.
Praia do Uba-Budo - 2014 |
De facto, as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de meros capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais.
Fala-se muito mas desconhece-se o essencial: que eram campos de escravatura. Trabalhei nesses feudos: na Roça Uba-Budo, na Roça Ribeira Peixe e na Roça Rio do Oiro
Conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos
Roça Rio do Oiro 1977 |
2014 |
Roça Uba-Budo-2014 |
A DIFÍCIL VIDA NAS ROÇAS DE MÁ MEMÓRIA - Para a maioria dos que ainda nelas resistem - sobretudo, de origem cabo-verdiana, com o coração ruído de saudades das suas queridas ilhas, a situação, em que se encontram, atualmente, não é boa, mas verdade é que, para quem ali trabalhou, como eu, esses enormes feudos coloniais, trazem também lembranças de febres palustres e rosários de humilhações, de muitos sacrifícios e adversidades
Roça Agostinho Neto - 2014 - Ex-Rio do Oiro |
No meu tempo, a vida por lá também era bem dura e penosa, tanto para os empregados de mato, tal o meu caso, como para os escravizados trabalhadores .Quer chovesse ou fizesse sol, o trabalho não se suspendia e tinha de começar muitos antes dos seus raios raiarem por entre a floresta ou lá no horizonte do fundo do mar.
Com os fulgores da independência, foram nacionalizadas, porém, como, as suas instalações, careciam de arranjos periódicos de conservação, depressa passaram a ruínas e a mato. Agora, naquelas que não foram privatizadas, cada um vai plantando e colhendo o que pode para a sobrevivência pessoal ou familiar.
Escola Agricola - Num dia da Praxe do Caloiro |
Uba-Budo 1963 |
Tal como é reconhecido, grande parte da comunidade cabo-verdiana, em S. Tomé e Príncipe, continua a viver nas antigas roças em condições muito precárias – De algum modo, abandonados à sua sorte.
Desembarquei, em S. Tomé, a bordo do navio Uige, em Novembro de 1963 para fazer o meu estágio de Agente Técnico Agrícola, da Escola Agrícola Conde S. Bento, em Santo Tirso - Não tendo condições, devido à forma desprezível como ali eram encarados os técnicos, por indivíduos que ascendiam apenas à custa dos anos de serviço e de uma certa brutalidade; acabei por concluí-lo na tropa, quando ali fui encarregado do sector da Messe dos Oficiais e da Agropecuária do quartel .
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