Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Video e texto da entrevista
JTM – Em relação à Guiné Equatorial: já há pouco me falou, que a Guiné Equatorial, apoiou o MLSTP… Mas, as relações com a Guiné Equatorial, não têm avançado muito: como explica isso?
MPC – Os Partidos Políticos, em S. Tomé e Príncipe!... Uma boa parte dos Partidos, querem o poder para resolver problemas do pessoal do grupo!... Não para resolverem os problemas do país!
JTM – Fale-me de Obiang: na altura ele era o Comandante. Que palavras é que gostava de aqui registar?... A Guiné Equatorial, atual, é muito diferente daquela época?
MPC – Completamente!... A Guiné Equatorial, que eu conheço hoje, não tem nada a ver com a Guiné Equatorial do tempo de Macias!... Nada!... O Presidente Obiang, tirou a Guiné Equatorial da obscuridade!... E da opressão!
A crítica que se faz à Guiné Equatorial!... É que tem a pena de morte!... Mas existe nos EUA e existe em muitos outros países!... S. Tomé e Príncipe, teve a pena de morte!... Mas nunca foi aplicada!... Nós temos de saber a razão porque é que, nos nossos países, isso foi decretado!... Não foi decretado, porque cremos matar gente!... Não!... Porque, situações concretas, obrigam-nos a isso!... Quem é que critica os EUA por terem decretado a pena de morte?!... Ninguém
MPC – É diferente!... Eu sou a favor de um país com relações com todos os países do mundo!...
Mas é preciso reconhecer que os países que têm relações connosco, não nos dão por caridade mas porque eles também têm alguns interesses!...
Nós estamos em democracia!... De acordo!... Mas eu sempre defendi o seguinte: nós não vamos inventar uma nova democracia!... Mas, a fórmula da implantação da democracia tem que ter em conta as realidades de cada um dos países!..
S. Tomé e Príncipe, tem quadros no interior do país! E há muitos quadros que estão a sair do país, porque não têm condições de fazerem ver, que, estão lá para trabalhar e desenvolver o país…. E têm que emigrar.
De seguida em texto, o excerto da amável e honrosa entrevista, que me concedeu, nesta última terça-feira, no interior da residência de pessoa amiga, algures nos arredores de Lisboa, por parte da mais prestigiada e carismática figura histórica do MLSTP, um dos mais distintos heróis da fundação da pátria santomense – O único sobrevivente dos primeiros presidentes das ex-colónias portuguesas.
Os anos vão pesando, no entanto, apesar de alguns problemas de saúde, com que se tem confrontado, confessou-nos, que está recuperando e sentindo-se melhor, esperando voltar brevemente ao seu amado país
Respondendo à pergunta sobre seu estado de saúde, disse-nos; está boa!.. Para a minha a idade!.. Parece-me que está a recuperar!... Após o que lhe agradecermos a oportunidade de, uma vez mais, nos conceder a honra e o prazer de nos receber: agora em Portugal, depois nos ter já concedido três audiências:
a primeira vez, em Nov. de 2014, no Palácio da Trindade, para lhe oferecermos
a única lembrança que nos restava, uma camisola com o símbolo do MLSTP, 39 anos depois de termos partido para a grande
aventura numa frágil piroga, que acabaria por se saldar numa dramática odisseia
de 38 dias.
A segunda vez foi em Agosto
de 2015, para lhe mostramos dois importantes achados históricos; uma antiga
espada e um punhal nas pesquisas das águas costeiras com jovens são-tomenses,
achado esse que depois entregaríamos ao Ministro
da Cultura, Educação e Ciência, Olinto
Daio, a fim de se proceder a um aprofundado estudo da sua origem e antiguidade.
Em Maio de 2019,
Manuel Pinto da Costa, receber-nos-ia na
sua residência pessoal, oportunidade para o registo de um interessante diálogo, cujos
vídeos foram divulgados em canoasdomar.
Agora, a nossa principal intenção, era mais para sabermos o seu estado de saúde e de lhe darmos a nossa palavra amiga de admiração e simpatia – Momentos, igualmente, de honroso e amável diálogo e convívio, proporcionando uma troca de memórias de ambas as partes, no aconchego, acolher e discreto, de uma residência de pessoa amiga.
“O facto de se pertencer ou
não pertencer ao mesmo partido, não conta… Mas a gente que tem qualidades para isso…Os
ministros e os diretores, devem ser figuras que têm qualidade suficientes para ocuparem
esse lugar. – disse”
Embora longe do seu país,
mas procurando seguir com atenção, dentro do que lhe é possível, a vida social e politica - Confessando-nos, entanto: “Eu não me envolvo
em politiquices!...Mas, em política, sim!...
S. Tomé e Príncipe, precisa, realmente, de encontrar um rumo e de
saber qual o caminho a seguir!... Se houvesse um diálogo nacional, com todas as
forças da sociedade civil, para nós voltarmos, outra vez, a fazer uma análise
profunda, sobre o são-tomense e sobre o país que nós temos!...
Desde 1975, até agora, e sem complexo algum, devemos identificar,
publicamente, os erros que foram cometidos!... E sabermos, exatamente, qual a direção,
consensualmente, que devemos tomar para permitir, a este país, traçar um plano
de desenvolvimento, que nos vá permitir, realmente, combater
a pobreza. E, com dignidade, criar uma
vida melhor para toda a gente.
JTM – E privilegiar o
diálogo entre todos!...
MPC – Claro!...
JTM – Porque, não é o facto
de se estar ligado ao Partido, que se devem ou não ir buscar as pessoas: o que
interessa é que a pessoa tenha boas intenções e que seja competente e amigo da terra..
MPC – E que, os órgãos de
soberania, devem ser preenchidos por gente que dê educação adequada para isso.
JTM – O facto de pertencer
ou não pertencer ao mesmo partido….
MPC – … Não conta… A gente
que tem qualidade para isso…Os ministros e os diretores, devem ser figuras que
têm qualidade suficientes para ocuparem esse lugar.
JTM – E S. Tomé e Príncipe
tem bons quadros!
MPC – Tem quadros no interior
do país! E há muitos quadros que estão a sair do país, porque não têm condições
de fazerem ver, que, estão lá para trabalhar e desenvolver o país…. E têm que
emigrar.
JTM – E. S. Tomé e Príncipe,
tem, de facto, muita gente capaz.
ACONTECIMENTOS DE 25 DE
NOVEMBRO
MPC – Assembleia! Os
deputados!... Todos deviam estar altamente interessados e fazer com que, os acontecimentos
de 25 de Novembro, sejam esclarecidos! … Que as pessoas saibam, realmente, quem
fez o quê?|… Quem são os culpados! E exercer uma justiça adequada e conveniente
para fazer com que, se há culpados, têm de ser castigados!...
Se não for assim, nunca
mais encontraremos a paz e a tranquilidade!... Se não for assim, vão continuar
a acentuar na nossa sociedade, o ódio! O rancor!... Porque nós somos uma grande
família!...
JTM – Em Tomé e Príncipe, há mais uni-los que a separá-los….
MPC - Sim, sim!.. Devemos ter muito cuidado com isso!..
JTM – Sobre as origens dos
acontecimentos, não tem informação: o que queria é que a situação fosse esclarecida.
MPC – Tem que ser esclarecida!…
Quando acontece qualquer coisa em S. Tomé e Príncipe…. dá sempre a impressão que se trata de gente que está a agir sobre a influência de
Pinto da Costa ou de Miguel Trovoada!... Bom… E facilitava a vida dos
oportunistas!...
Neste acontecimento,
agora… o Pinto da Costa, mesmo sem falar… já há gente que está por detrás das
pessoas que querem acusar o Governo!….
Portanto, não devo de
maneira nenhuma, alimentar esse clima para permitir aos oportunistas!.... de eu
servir de escudos para os atos que estão a ser cometidos….
JTM – Mas está preocupado?!..
MPC – Altamente preocupado!...
Altamente preocupado!...
JTM – Mas é um observador
atento!....
MPC - Atento!... E não estou em silêncio!...
JTM – E vive com muita preocupação!...
MPC – Muita preocupação!...
Porque, repare!... Se este problema, em S. Tomé e Príncipe, não for resolvido de
forma correta!... Para se identificarem os responsáveis!... E os responsáveis não
receberem o castigo que merecem!... Se isso não acontecer!…eu duvido que o país
possa vir a ter um clima de paz e de tranquilidade, absolutamente necessário, para permitir o desenvolvimento deste país!
O DIÁLOGO CONSTRUTIVO COMO
FORMA DO PAÍS EVOLUIR
Eu sempre defendi! em
vários artigos, o diálogo!... É a única saída para isso tudo!...
Nós temos que respeitar
as diferenças, que existem no país!... E, através do diálogo, buscar consensualidades
suficientes para permitir que o país mobilize toda a gente!... E sairmos, definitivamente,
desse clima de mediocridade!... De pobreza!... De miséria!...
JTM – S. Tomé e Príncipe
tem condições!...
MPC – Tem potencialmente condições
para resolver os problemas internos!
JTM – Uma ilha que não
tem fronteiras!... Uma ilhas que fica no centro do Mundo!...
MPC - Sim, no
centro do Mundo!... Era meu sonho fazer de S. Tomé e Príncipe, um cantinho
da Terra onde dê gosto viver!...
Fazer destas pequenas ilhas, um país que pudesse jogar um papel importante no
Golfo da Guiné, junto dos países da África Central para, inclusivamente, ajudá-los
a superar as divergências que esses países tem!.. E S. Tomé e Príncipe, podia jogar esse papel!
Em primeiro lugar, criar condições
internas para permitir que o Estado São-Tomense, esteja em condições de permitir
jogar esse papel
COOPERAÇÃO COM A GUINÉ
EQUATORIAL - E os grupos partidários mais
de interesses pessoais do que resolver os problemas do país.
JTM – Em relação à Guiné Equatorial:
já há pouco me falou, que a Guiné Equatorial, apoiou o MLSTP… Mas, as relações
com a Guiné Equatorial, não têm avançado muito: como explica isso?
MPC – Os Partidos
Políticos, em S. Tomé e Príncipe!... Uma boa parte dos
Partidos, querem o poder para resolver
problemas do pessoal do grupo!... Não para resolverem os problemas do país!
JTM – Dá-me a impressão,
que, no MSTP há várias famílias!...
MPC – Sim! Sim!...O atual
MLSP …. Exato!… Não tem nada a ver com o MLSTP do Pinto da Costa!...
JTM – É diferente…
MPC – É diferente!... Eu
sou a favor de um país com relações com todos os países do mundo!...
Mas é preciso reconhecer que
os países que têm relações connosco, não nos dão por caridade mas porque eles
também têm alguns interesses!...
Nós estamos em
democracia!... De acordo!... Mas eu sempre defendi o seguinte: nós não vamos
inventar uma nova democracia!... Mas, a fórmula da implantação da democracia tem que ter em conta as realidades de cada um
dos países!...
JTM – No caso concreto da
Guiné Equatorial, há uma fronteira e o projeto do tão falado o petróleo!... Até
hoje não avançou!....
MPC – Sim. Até hoje não
avançou!.. Porque há interesses obscuros de pessoas ou de grupos, que impedem que isso
avance!...
JTM – E acha que se
deviam privilegiar as relações com a Guiné Equatorial?
MPC – Claro!...
JTM – Dada a afinidade
histórica que há!...
MPC – Sim!... A Ilha de
S. Tomé e Príncipe e a Guiné Equatorial, é uma arquipélago único!... E foram descobertas
pelos portugueses!...
JTM – E foi Manuel Pinto
da Costa, que fez com que ficasse ligada à CPLP!
MPC – Sim, porque. S.
Tomé e Príncipe e a Guiné Equatorial, historicamente, pertencemos à mesma
família!... A língua de Ano Bom, que fica a sul de S. Tomé, é igual ao crioulo de S. Tomé!... É muito parecida!
JTM - Aliás, eu sou defensor, que antes da
colonização, já havia ali ligações através canoas. Também é dessa opinião?
MPC – Sim. Sim. Nas
canoas.
JTM – Esteve na Guiné
Equatorial, na altura do exílio! Não foi?
PMC – A partir de 72/74
JTM – Conheceu o Presidente
Macias, não foi?..
MPC – Estive com o
Presidente Macias! Conheci o Presidente Obiang!
JTM – Fale-me de Obiang: na
altura ele era o Comandante. Que palavras é que gostava de aqui registar?... A
Guiné Equatorial, atual, é muito diferente daquela época?
MPC – Completamente!... A Guiné Equatorial, que eu conheço hoje, não tem nada a ver com a Guiné Equatorial do tempo de Macias!... Nada!... O Presidente Obiang, tirou a Guiné Equatorial da obscuridade!... E da opressão!
A crítica que se faz à
Guiné Equatorial!... É que tem a pena de morte!... Mas existe nos EUA e existe
em muitos outros países!... S. Tomé e Príncipe, teve a pena de morte!... Mas
nunca foi aplicada!... Nós temos de saber a razão porque é que, nos nossos
países, isso foi decretado!... Não foi decretado, porque cremos matar gente!...
Não!... Porque, situações concretas, obrigam-nos a isso!... Quem é que critica
os EUA por terem decretado a pena de morte?!... Ninguém
JTM – Alias, no Brasil
ainda existe a pena de morte ( Embora abolida na prática, ainda é prevista para
crimes militares cometidos em guerra, de acordo com o artigo 5º, XLVII)
MPC – E quem é que faz a
crítica a isso?... Ninguém.
JTM – Falando das
qualidades humanas de Obiang: sabe que eu nunca mais o esqueço, porque foi ele
que me libertou (em Dezembro de 1975)
das garras do Macias!
MPC – Repare: a Guiné Equatorial,
é pena os sucessivos governos, em STP, não terem compreendido, que, as relações
existentes entre a Guiné Equatorial e STP, tem condições, sine qua non, para
sobrevivência de STP. E, Obiang, fez uma visita a S. Tomé! Esteve em S. Tomé!
JTM – No seu tempo!
MPC – Sim. E disse que, a Guiné E. está completamente
aberta para manter relações com S. Tomé e Príncipe!
JTM – Mas há aí qualquer coisa
que dificulta!
MPC – É preciso que as
pessoas que estejam no poder, queiram realmente fazer isso!
JTM – Porque, os dois
países, tinham mais a ganhar com essa relação!
MPC – Com certeza!...
Porque, senão ficamos aqui em duas ilhas perdidas!... Temos a Nigéria!... (com a mão fez o festo de serem abocanhadas)
JTM – Pelo que eu
depreendo, há um lóbi que se inclina mais para outros países, não é?...
MPC - - Há sim senhor!
JTM - Então, na sua opinião deviam privilegiar-se
as relações com a Guiné Equatorial?
MPC - Com certeza!
JTM – Esteve na Guiné Equatorial? – Quanto tempo esteve lá?
MPC – Eu estive de 72 a 74.
Criámos o MLSTP e eu fiquei lá!
JTM – Teve o apoio da Guiné
Equatorial, na altura?
MPC – Tivemos o apoio da
nossa sede e a liberdade de movimento!... Mesmo no tempo de Macias!... Saí da
Guiné Equatorial em 74 e fui para Libreville!... Saí da Guiné Equatorial por
uma razão: tinha havido uma revolução em Portugal e tinha que ter a certeza de
uma ação política forte! E uma mobilidade suficiente que não encontrava na
Guiné Equatorial, naquela altura!
JTM – Até de deslocação!
MPC – Sim. Tivemos de sair
da Guiné Equatorial para o Gabão!... Houve até um momento, que o Presidente
Bongo, que queria a nossa presença lá!...Porque, Bongo, também pensava que STP!...
Que estas duas ilhas, podiam fazer parte do Gabão!!...
JTM – Queria anexar as
duas ilhas!
MPC – Também tinha essa
intenção!... Eu tive um encontro com o Presidente dos Camarões, em 72, em Douala,
e, nesse encontro, verifiquei que também havia intenções de ter STP, depois da
Independência, ter relações políticas à volta de uma federação com STP.
Inclusivamente, em 74,
quando houve a movimentação em Portugal, Camarões, estava disponível para nos
oferecer todo o apoio!... Mas, quando o Bongo soube disso, avançou!!... Tendo precisamente
um encontro com o Presidente Francês para levar o Presidente dos Camarões a
recuar do apoio ao MSTP!... E foi o que aconteceu!...
JTM – Então, no seu caso,
Manuel Pinto da Costa defendia mais a relação de STP com a Guiné Equatorial, de que com o
Gabão, não é assim?
MPC – Sim, porque, afinidade
com a Guiné Equatorial, era evidente!
JTM – Embora as ilhas fossem doadas, por trocas com a coroa espanhola, em 1778, depois de terem sido descobertas pelos portugueses, em 1470, há um passado histórico importante. E a língua castelhana tem afinidade com a Portuguesa!...Obiang tem uma relação familiar com uma santomense’, não é assim?
MPC – Que iria facilitar
muitas coisas!
JTM– Gostaria de voltar a encontrar-se com o Presidente Obiang?... Seria um prazer enorme voltar a encontrar-me com ele!
MPC – Sim!.. É um velho
amigo!... De voltar outra vez à quinta!... Em bata!... . Eu tenho uns papagaios!... Foi a
Guiné equatorial, que nos ofereceu!... Inclusivamente, eu mandei para a Guiné
dois técnicos da agricultura!,.. Que foram ver a plantação da banana!...
Plantas de Safú!...Estiveram lá dois meses e depois voltaram a S. Tomé!... E,
depois de um dado momento, tudo isso correu!...
JTM – Esfriaram as
relações!~
MPC – Não sei porque razão.
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