Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Neste post, vídeo com as suas palavras e imagens de uma exposição e na intimidade do seu lar, No seio de uma familia carinhosa, rodeado dos seus gatos
Luís Ángel Oitaven Rodrigues, faleceu na madrugada da passada segunda-feira, no IPO, 2023-02-06, onde se encontrava em tratamento – Nasceu em 1955-01-24 . Completara 68 anos, no passado dia 24 de Janeiro .O seu corpo, foi transferido, nesta sexta-feira daquele Hospital para o crematório de Alcabideche
Tivemos oportunidade de nos associarmos ao velório e de juntarmos também as nossas mais sentidas condolências aos seus familiares, juntamente com as de um expressivo grupo de pessoas amigas, que ali foram igualmente prestar a sua última homenagem e confortar os seus entes queridos
De recordar, que, o Pintor, Luis Oitáven, sofreu um AVC em Fevereiro de 2016, porém, graças ao seu amor pelas artes e também à sua grande força de vontade, à sua inquebrantável determinação e tenacidade, logrou vencer as limitações físicas que o inesperado acidente vascular lhe provocara, prostrando-o na enfermaria de uma clínica, em Alcoitão, durante alguns meses, imobilizando-lhe a sua mão direita, aquela com que habitualmente executava os seus trabalhos.
Nem assim, se deixou vencer pelas adversidades e continuou abraçar aquilo que sempre gostou de fazer – de pintar e desenhar – Tal como nos declarou num breve registo de impressões para o video, que aqui apresentamos.
Em 2015, Luís Oitaven Rodrigues, que desempenhou as funções de secretário no Departamento da Agricultura na Embaixada de Espanha, durante vários anos, viu-se forçado a ir para a reforma, quando este departamento foi encerrado - E a ter que ir residir em Cárceres para não perder direitos sociais, nomeadamente o subsídio de desemprego – Sim, tendo partido com profunda mágoa, ao ter que se separar do lar, do convívio familiar e dos seus gatos, que também tanto amava e com os quais partilhava as longas horas de pincel na mão voltado para as suas telas, onde a inspiração ia brotando espontaneamente.
Embora com inaudito esforço, nunca se rendeu ao que parecia ser uma irremediável fatalidade para o resto da sua vida, e, sempre que podia, à medida que se ia reabilitando, lá ia pintando ou desenhando num modesto bloco de papel branco: há quem faça o seu diário escrevendo ou teclando num computador mas a linguagem de um pintor não é a da escrita mas do traço ou da pincelada - E foi justamente isso que procurou fazer, registando de forma admirável, em belíssima expressão artística, as suas emoções, quer das imagens que lhe afloravam à mente da nova experiência de vida que estava a atravessar, quer das recordações que também lhe povoam a imaginação e a memória
Pintor e escultor nas horas de silêncio e de lazer – Um autodidata, que nos confessava dialogar com o silêncio das pedras que esculpia ou das telas que pintava. Dizendo-nos que ia procurar um sítio que fosse isolado, que lhe permitisse realizar plenamente o seu trabalho artístico, tirando o máximo partido do exilio forçado.
Estando já de algum modo habituado ao diálogo silencioso com as suas telas ou quando as pedras lhe lançam o convite para as apanhar nas encostas dos montes ou montanhas, no leito dos rios e na margem das praias ou arribas, sim, de modo a passarem de matéria inerte e formas vivas e esculturais, confessava-se preparado para a nova fase da sua vida
“Eu sou um autodidata, tanto na pintura como na escultura. É a minha maneira de me expressar e de transmitir ao mundo as minhas emoções Desde pequeno, sempre gostei de desenho. Cada peça que eu faço, custa-me desfazer dela. Quanto ao valor da minha arte, não sei. Quanto me perguntam o preço, eu não sei dizer. A arte deve ser vendida àquelas pessoas que realmente a apreciem.” – Confessou-nos, na intimidade do seu lar, junto dos que são mais queridos: a esposa, filha e filho, nora, os seus quadros, esculturas
Tal como a de seu pai - Um galego, que não conheceu outra profissão que não a de servir a coroa espanhola na Embaixada em Portugal - Porém,, num tempo em que a precarização laboral se institucionaliza, em que fazer 12 horas seguidas passa a ser uma rotina e não uma exceção, em que pessoas passam a ser meros números estatísticos e todos os valores, desde a dedicação, ao esforço e à fidelidade, já não bastam para garantir o pão de cada dia
Seu sogro, de nacionalidade portuguesa, pai de sua mulher, também poderia ter sido um próspero construtor cível, se o Estado Novo, lhe tivesse pago as obras que lhe encomendou, pois construi-as e não lhas pagou, além das perseguições políticas da PIDE, que lhe moveu – Nado e criado, em Lisboa, vê-se obrigado a ter que abandonar o lar (mulher e os dois filhos) e partir para Espanha, onde o espera uma espécie de longo exílio.
QUEM HAVIA DE DIZER QUE, ALGUM TEMPO DEPOIS, AO DESEMPREGO, LHE IA BATER À PORTA TAMBÉM OUTRA CONTRARIEDADE…
Nenhum comentário :
Postar um comentário