Jorge Trabulo Marques - Jornalista e utente do SNS
Fui cobaia da medicina, assumi riscos mas não estou arrependido - O medicamento salvou-me a vida
Esperei vários meses para nada. Quem lucra é o Hospital privado, onde raro há greves. Quem o fizer, já sabe o que o espera... Este tipo de greves não respeita a vida dos utentes - Estive ontem e hoje em regime de dieta rigorosa para um exame no Hospital dos Capuchos às 13.30 – De nada valeu o sacrifício.
Desloquei-me ontem para um convívio de antigos alunos à Escola Agrícola de Santo Tirso, privei-me do almoço e à noite do jantar. Hoje, ainda em jejum, e depois de ter injetado um ENEMA FLETE a conselho do prescrito para o exame, mas, quando me dirigi aquele hospital, encontro o serviço trancado.
No oficio que recebi do Processo Nº 3001114, era-me dito: “Caso não lhe seja possível comparecer na data marcada, por favor contacte-nos através do email balcaounicoz@chc.min-saude.pt – Mas não tiveram a gentileza de me informar que o serviço ia estar encerrado por via da greve.
A NOTÍCIA DESTAS MANCHETES NÃO NOS PARECEU A MELHOR SOLUÇÃO E TAMBÉM NÃO SE DESEJA QUE VOLTE ACONTECER
Na segunda feira passada, dia 2 às 11 horas tinha uma ecografia marcada naquele mesmo hospital – Estava a sair de casa quando sou informado de que a médica tinha faltado e já não devia ir
O exame ficou adiado – Espero que não seja a mesma médica que, há cerca de um ano, me fez esperar deitado na marquesa, mais de meia hora, para convencer uma colega aderir a uma greve.
Por este caminho, a vida do SNS não parece que vá muito longe – Uma boa parte dos utentes, vêm do estrangeiro para se utilizarem unicamente da sua generosidade; nunca descontaram e nem sequer falam português. Uma coisa são os nossos irmãos dos PALOP, com os quais nos identificamos. Outra, são aqueles que têm vindo a fazer da nossa hospitalidade, uma oportunística plataforma de obscuros interesses . Este devia ser um cuidado prioritário de qualquer governo, por forma a favorecer as condições salariais dos seus servidores.
Devo a vida ao Serviço Nacional de Saúde, designadamente a dois excelentes médicos da gastro: que até sacrificam as suas férias para tratarem os seus doentes - A dois médicos : um do Hospital dos Capuchos e outro do Hospital de Santa Maria - O deste hospital, onde o iniciei o tratamento, sugeriu-me que participasse num estudo de um certo medicamento (cobaia) que ia ser iniciado no H. dos Capuchos em 20 de janeiro de 1999 – Aceitei todos os riscos - Que mais não fosse em prol da ciência médica. Não estou arrependido, porque me livrei de um desfecho que poderia ser fatal.
Pessoalmente, não tenho tido razão de queixa dos profissionais de saúde que me têm atendido: quer quando vou à minha aldeia e preciso de ser atendido no posto médico do meu concelho, em V. N. de Foz Côa, quer noutros serviços públicos e privados: já sem falar dos médicos da Casa da Imprensa, de que sou associado - Além dos serviços prestados na estomatologia e urologia no Hospital de S. José
O mesmo não posso dizer do posto médico da Alameda D. Afonso Henriques, onde, no período em que foram entregues 25 hospitais às misericórdias, nem único médico ali ficou.
Compreendo que os profissionais de saúde, defendam os seus legítimos interesses - E é uma profissão de risco e não tão bem renumerada, por exemplo, como a dos políticos e outras atividades - Mas façam-no de modo a não prejudicar a saúde das pessoas, que são a razão da sua presença
Os trabalhadores rurais ou da construção civil que andam de espinha vergada, nas 8 horas de trabalho, não fazem greves. Em democracia, ninguém é obrigado a seguir esta ou aquela profissão.
A lei permite-lhe fazer as suas reivindicações e lutar por melhores salários. Mas manifestem-se de modo a não prejudicar a vida de terceiros. Por isso, quem não se sente bem, se acha que não ganha o suficiente, que procure outro emprego ou então mude de patrão.
Eu nunca fiz greves na minha vida e comecei aos 12 anos a trabalhar como menino escravo, nas velhas mercearias de lisboa, o marçano que tinha de carregar as compras dos clientes e levá-las a suas residência, subindo as íngremes escadas em caracol, visto lhe ser vedado usar o elevador ou as escadas da porta principal
Claro que a vida hoje também não é fácil. Sobretudo em termos de habitação e de alimentação.
No salazarismo - e sem com isto querer dizer que tenho saudades desses tempos - ao menos havia preços tabelados e rendas de casa fixadas para toda a vida, com a entrada do liberalismo selvagem, disfarçado das vestes de democrata, afinal, por este caminho, também não vamos bem.
Há que procurar outras vias, elegendo pessoas e não partidos, visto os atuais regimes, tanto as ditaduras, como as democracias liberais, não oferecerem a melhor qualidade de vida à maioria dos cidadãos, salvo as elites privilegiadas.
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