Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
A módica importância equivalente a dois euros, incluindo refeição e bebida: - foi justamente o que gastei, neste último domingo, em dois restaurantes típicos de bairro – Na companhia de um amigo, ou seja, acabei por gastar à volta de cinco euros, num total das quatro refeições. E não se pense que se trata de algum miniprato, tal como aquelas famigeradas refeições que se servem de pé e ao balcão, tipo manjedoura, de alguns restaurantes de Lisboa ou do Porto e de outras cidades - Que mal dão para saciar o estômago.
S. Tomé e Príncipe, é apontado, com um dos destinos turísticos mais recomendados do Mundo. Não somente pela beleza incomparável das suas florestas, bordejadas por um mar de um azul turquesa, água cristalina, praias orladas por frondosos coqueiros, como que vergados pelo denso manto luxuriante, que, desde as suas razies se ergue, qual presépio de multi-verdes maravilhosos, que vão perder-se nas neblinas das maiores alturas, unindo a terra e o céu, como se não houvesse qualquer distância que os separasse.
Pelos vistos, o fascínio que estas ilhas exercem nos visitantes, não resulta apenas do exotismo da sua paisagem, mas também pela hospitalidade da sua gente e ainda por não ser dos destinos mais caros.
A bem dizer, eu não vim para fazer
turismo, mas, entre outros intuitos de natureza cultural, para me associar às comemorações do 12 de
Julho, no 40º aniversário da sua independência. Já lá vão sete dias e tenho
feito uma vida regrada, pelo que optei pela comida tradicional da Ilha e nos
restaurantes de bairro ou do Povo - Por
um lado, até para me inteirar melhor de como vive a população. E é justamente isso o que vou continuar
a fazer, até regressar a Portugal -
ALMOÇO COM OS PESCADORES QUE ANDARAM
PERDIDOS NO MAR
Num destes
dias, éramos sete – era eu, mais dois amigos, das lides
jornalísticas e mais os dois pescadores (acompanhados pelo armador), que estavam
desaparecidos há cerca de um mês e meio. Tendo regressado a S. Tomé
de avião vindos do Gana. Depois de resgatados por uma embarcação que os entregou à Guarda Costeira da Nigéria,
onde permaneceram, detidos, durante vários dias. Despojados das sua
canoa e do motor, e após as diligências das autoridades,
entre os dois países, finalmente puderem voltar ao seu humilde lar, cujos horizontes, chegaram a pensar ter perdido para sempre.
Encontrei-me com eles, casualmente na cidade, por volta do meio-dia, depois de terem deixado a capitania dos Portos. Querendo conhecer as adversidades por que passaram, e, tendo-me dito que não tinham dinheiro para almoçar fora de suas casas, fiz questão que nos acompanhassem a um restaurante, onde podemos almoçar e conversar. Mesmo assim, ainda penso ir à Praia Melão, donde partiram para a dramática viagem, a fim de ali me inteirar melhor das suas vidas. – Espero referir-me, mais detalhadamente, a estas histórias, no meu site, numa próxima oportunidade
POBREZA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE – E QUE
TIPO DE POBREZA?
Na perspectiva do grande capitalismo internacional,
a riqueza de um país é aferida, não pelo número de esfomeados, desempregados, explorados, escravizados e sem teto, mas na prosperidade dos mega-negócios.
O país que não facilitar essa prosperidade enganadora, é um país mendigo – Será
que, nestas Ilhas, é esta a realidade? – Pessoalmente, tenho outra opinião – A qual. de algum modo, vem ao encontro do que dizia, Miguel Torga, num dos seus
diários, ao referir-se à propósito da CEE e dos economistas das subserviência à Europa
– Dizia o seguinte:
“Portugal não precisa de ser , de rosto
desfigurado, mimeticamente rico por conta do capitalismo internacional. Necessita,
sim, de, com fisionomia própria de sempre, ser remediado ao serviço da
humanidade".
"Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, pudemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um Povo que nela sempre os teve e com eles espiritual e singularmente a dignificou. In Miguel Torga, Diário XVI
De facto, fala-se que, S. Tomé, é um país, em que "metade da população vive abaixo da linha de pobreza e 10% das pessoas estão subnutridas". As crianças são as maiores vítimas. São Tomé e Príncipe - Príncipes do Nada - Penso que se tratam de análises, que não refletem propriamente a realidade: sim, é verdade que os ordenados aqui são baixíssimos, injustos, nalguns casos até nem vão além dos 20 euros mensais, mesmo assim, não se pode dizer que alguém aqui morra de fome ou se encontrem crianças com as pernas de galinhas ou barrigas de bola, inchadas, tal como se veem noutros países de África:
o mar é rico em peixe e está em todos os horizontes das ilhas, a natureza é generosa, oferece de tudo e os preços dos produtos da terra (salvo os importados) são acessíveis, mesmo às bolsas mais humildes. Claro que, sem dinheiro, há muita gente que nem assim os pode comprar – Então, como sobreviver? … Esse é a grande lição, o sentido de fraternidade e de solidariedade, que o Povo destas maravilhosas ilhas, aprendeu, ao longo dos séculos, com a colonização: ou alguma vez houve fartura, no período colonial, para os chamados povos indígenas?
Embora , os costumes se corrompam com a desenfreada expansão do egoísmo e mercantilismo do mercado global capitalista, ainda persistem as tais ilhas, onde a destruição dos valores humanistas, não foram completamente subvertidos: São Tomé e Príncipe, constituem, raros exemplos: em que o sentimento de generosidade e de pacifismo, ainda não foi substituído pelo da violência ou do salve-se, quem puder. Ora, é justamente esse espírito, que o capital apátrida sem fronteiras, ainda não matou, que se reflete, desde o pequeno comércio, na compra de vestuário, onde se podem encontrar “trapos” para todas as bolsas ou nos pequenos quiosques e modestos restaurantes de bairro.
Claro, que, na venda de bebidas e produtos
alimentares importados, aí a solidariedade esbarra com a tirania imposta pelos grandes monopólios de distribuição. E,
embora, toda a gama desses produtos, desde as grandes lojas às mais pequenas,
os exponham, o grosso da população não os pode comprar. Por isso, a resposta
está na bananeira ou na fruta pão, e noutras frutos, fontes de alimentação que
se encontram disseminadas em qualquer ponto das Ilhas.
Com certeza, que é preciso ter em atenção, tal como diz o velho ditado, “deita-te à sombra
da bananeira, não corras e verás o que
te acontece ” . Só que, como em todo o lado, não são os que correm muito que
ganham mais: é a minoria privilegiada dos que não vergam a mola e, todavia,
fazem vida luxuosa. Por exemplo, em S. Tomé, vêem-se muitos carros de marca a circular nas ruas da cidade e até nos subúrbios, onde já se descobre algum contraste: ver uma modesta casa de madeira, um modesto
barracão, ao lado de uma excelente vivenda - Mas pior era no tempo colonial em que, os santomenses, eram todo atirados para o meio do mato, como párias da sua terra e a cidade reservada aos colonos.
CENTRO COMERCIAL NO CORAÇÃO DA CIDADE
DE S. TOMÉ
No coração da cidade de S. Tomé, está
erguer-se um enorme centro comercial, que vai ocupar o espaço do antigo balneário público, no qual vai ser instalado o Super Mercado e várias lojas, com cinco pisos e um armazém.
Naturalmente, que o fenômeno da pobreza existe
e tende a recrudescer, tanto nestas ilhas, como em Portugal, em todo o lado, em
toda a parte: - Pois assim o dita a nova Ordem Mundial. O problema não está em
haver capitalistas ou capitalismo, mas no espírito açambarcador e monopolista, em que ele degenerou, sem leis e sem regras, não olhando a
meios para tomar conta de tudo, obrigando o grosso das populações a trabalharem para os bolsos de uns poucos de
felizardos.
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