Reportagem especial dos Jornalistas: Jorge Trabulo Marques e Adilson Castro
O documentário já foi exibido, por duas vezes, na
televisão de S. Tomé e Príncipe, e é do
que se fala na atualidade, ao mesmo tempo que se anuncia a chegada do Presidente
da República de Cabo Verde, da Guiné Equatorial, entre outros altos dignitários,
que vêm associar-se às comemorações do 12
de Julho, alusivas ao 40º aniversário da Independência destas Ilhas.
Mas foi no passado dia 3, pelas 17 horas, que teve lugar a antestreia
mundial, numa sala de conferências do Hotel Omali Lodge , localizado na Praia Lagarto, com alguns dos protagonistas e outros
convidados.
O vídeo, que aqui apresentamos, é constituído
por registos fotográficos que obtivemos durante a exibição do referido filme,
outros da assistência, e, na ponta final do vídeo, de alguns recortes do nosso
arquivo da Semana Ilustrada, tendo alguns dos quais servido de ilustração no referido documentário
Trata-se, com efeito, de um excelente trabalho televisivo, que fala das várias fases e episódios por que passou o processo de Libertação do domínio colonial português sobre S. Tomé e Príncipe, que, além de recuperar memórias, vai certamente fazer história e animar futuros debates, tal o
profissionalismo e a qualidade com que,
Nilton Medeiros e Jerónimo Moniz,
realizadores do programa “Nós por lá”, da TVS pegaram nos
diversos capítulos da história de um
país, que no dia 12 de Julho, comemora o 40º aniversário da sua
independência, ou seja, a idade da prata, em que, nas pessoas, começam a aparecer os primeiros cabelos brancos, sinal de experiência e de maturidade para tomarem boas decisões, não se cometerem erros, que, aliás, é o que se espera e deseja dos seus governantes.
Sem dúvida, um excepcional trabalho
televisivo, que procurou recuar à década
de sessenta, altura em que um grupo de nacionalistas, organizavam as primeiras
reuniões clandestinas na localidade de
Bobô Fôrrô, distrito de Água Grande, génese do Comité de Libertação de S. Tomé
e Príncipe, que, anos depois, haveria de transformar-se no MLSTP – Documentário
este, inserido nos diversos atos comemorativos do 40º aniversário da República Democrática
de S. Tomé e Príncipe, que procurou abarcar
o período marcante da luta pela
independência, antes e após o 25 de Abril, incluindo o impacto desta revolução no
processo descolonizador e libertador, até às primeiras ações governativas, com
a nacionalização das roças. Tema este que continua a dividir opiniões e a ser um dos pontos mais controversos da sociedade Santomense,
Recuar-se ao período pós 25 de Abril era inevitável a abordagem da dinâmica e importante acção mobilizadora (para outros destabelizadora) da Associação Cívica Pró-MLSTP. Das sinuosidades da Frente Popular Livre, que surge, inicialmente, como que impulsionada, ainda por ventos neo-coloniais, inspirada por uma certa burguesia santomense, que temia perder os seus privilégios, começando por defender uma federação com Portugal, – A desmilitarização da Companhia de Caçadores de STP, o acordo
de Argel, assim como o papel do Alto Comissário, Pires Veloso (no nosso ponto
de vista, o homem certo no momento certo), bem como os momentos emocionantes do dia da
Independência, no 12 de Julho de 1975, estes, entre outros temas colocados também aos deponentes.
“São Tomé e Príncipe –“Retalhos de uma História” – Diga-se que não é propriamente um documentário de
retalhos, mas um documentário sabiamente composto por
várias declarações, que, embora surgindo avulsas, se encadeiam, nos prós e nos
contras, surgindo com vivacidade e oportunidade
na abordagem de uma história com os seus principais intervenientes e capítulos.
Com depoimentos: de Manuel Pinto da Costa, Miguel Trovoada,
Olegário Tiny, José Freet Lau Chong, Leonel Mário D’Álva, Filinto Costa Alegre,
António Pires Veloso, António Tomaz Medeiros, Moreira de Azevedo, Albertino
Bragança Neto, Almeida Santos, Maria do Carmo Bragança Neto, Almeida Santos, Guadalupe
Ceita, António Pires dos Santos e Pedro Umbelina.
GUARDIÕES DA UTOPIA”
Manuel Pinto da Costa, disse: “Nós não estávamos muito acreditados na
sinceridade dos dirigentes portugueses”
Olegário Tiny: “Nós temos muito orgulho e honra em dizer que fomos os
principais mobilizadores para esta caminhada da independência. A direção
do MLSTP, que na altura se encontrava em Libreville, teve um papel
muito importante – e Porquê?... Porque eles foram os guardiões da utopia”.
Miguel Trovada: - Referindo-se igualmente à Associação Cívica
Pró MLSTP“ diz que “ foi extraordinariamente importante: primeiro, porque
permitiu dar uma face legal à luta de libertação
na fase em que ela se encontrava (…) Na vontade, no dinamismo e nos sonhos próprios da
idade da juventude, que trouxe realmente um grande contributo, (…) no agitar do
bom sentido, de ir para a luta da independência.
Maria do Carmo Bragança – A Frente popular
Livre foi uma organização que nasceu antes da independência; antes de nós conhecermos
a existência da Associação Cívica
José Freet Lau Chong.
José Freet Lau Chong, referindo-se à Frente Popular Livre diz que os seus
membros “não estavam de acordo com a
independência defendida pelo MLSTP, queriam a federação com Portugal“.
Maria do Carmo, contrapondo, alega
desfiando quem quer que seja que afirme que a FPL defendia uma federação com
Portugal.
Abílio Neto: -Por seu turno, pergunta: o que é que a Federação Popular
livre pretendia?... Era uma Federação com Portugal. E o que é que o MLSTP, através da Associação Cívica, mobilizava?... A Independência total!
Maria do Carmo, acabou por justificar que “Nós
entendíamos que, a independência total e completa e imediata, não devia ser aplicada a S. Tomé
e Príncipe: Primeiro, porque, S. Tomé e Príncipe, não estava em luta armada. O Povo
de S. Tomé e Príncipe, não teve que pegar em armas!”.
Filinto Costa Alegre, dirigente da
Associação Cívica Pró-MLSTP, recorda, que, naquelas “ circunstância, a federação
era uma solução que convinha mais ao poder colonial, A nossa não convinha de
todo ao poder colonial! E a Frente
Popular Livre tinha um projeto que devia ser acarinhado pelos colonos que
estavam presentes; quer pelo Alto Comissário, quer pelos representantes do Poder colonial.
Maria do Carmo, refuta a acusação alegando
que “nós nunca admitimos que, para haver independência,
tinha de haver gente morta. Nós fomos ao Gabão contatar o MLSTP.
Filinto Costa Alegre: “ todos os
santomenses falavam uma única linguagem, a da” independência total Sá Cuá Cu
Pôvô Mécê”.Mesmo a Frente Popular Livre, que, em dado momento era adepta da Federação, defendia que continuássemos ligados a
Portugal, depois de terem ido falar com a direção do MLSTP, em Libreville, deixou
de aparecer como defensora da Federação".
.
Manuel Pinto da Costa: “ Nós recebemos os elementos da FPL, em Libreville,
e, quando regressaram a S. Tomé, vinham com instruções de se chegar a um
acordo; que deviam apresentar-se na sede da Associação Cívica, no Riboque”.
Maria do Carmo: “Nós fomos à sede da Associação
Cívica mas fomos recebidos como leprosos”
Filinto Costa Alegre – Nós adotávamos
formas de luta que levassem a população manifestar-se;
organizávamos greves (…)nós procurávamos
as mais diversas formas de dizermos aos colonos que o colonialismo é passado”
NACIONALIZAÇÃO DA ROÇAS
José Freet Lau Chong – As pessoas pensavam
que éramos malucos. Mas naquela altura não havia outra saída
António Tomaz Medeiros – “Os santomenses
eram bons funcionários, bons escriturários”, mas não tinham experiência nenhuma
das roças”
“Vivi com alegria e mágoa: alegria porque,
no fundo, era o que eu queria. Mágoa, por não poder estar presente.
Manuel Pinto da Costa: ´”O estado viu-se
obrigado assumir a responsabilidade das
roças” alegando que os colonos as abandonaram.
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