Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Texto e Imagens - Além de alguns vídeos no Youtube - Que contaram com a colaboração do jornalista Adilson Castro - Do Jornal Transparência -
O terreiro da Empresa Estatal Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Ouro, viveu um dia diferente da sua rotina habitual, com a comunidade, que ali reside e trabalha, maioritariamente constituída por famílias de origem caboverdiana sim, desde os mais miúdos ou mais crescidos, crianças, mulheres e homens, cada qual extravasando, a seu modo ou em grupos, as suas danças, jogos e cantares – Este era o primeiro evento no quadro das comemorações dos festejos do 40º Aniversário da Independência Nacional de São Tomé e Príncipe, uma data, com especial significado para todos que aqui nasceram ou fizeram desta também a sua terra
Por isso, todos os caminhos que ali convergiam, desde o cruzamento da Estrada com Guadalupe, eram ladeados por lamparinas, encrostadas em socas de bananeiras, que iam bruxulear de luz, depois do pôr do sol, que não tardaria a pôr-se pelas 17.42 – iluminadas de forma simples, ao jeito tradicional mas simbólica e feericamente, coincidindo com o ambiente festivo do acontecimento.
ACREDITAR – COM A COESÃO NACIONAL CONSTRUÍMOS O PAÍS
Vêm aí o 12 de Julho e a Comissão Nacional dos Festejos já deu o mote para que a data não fosse apenas mera formalidade protocolar mas um ato cívico, cultural e político de profunda reflexão sobre o 40º aniversário da Independência de S. Tomé e Príncipe – E o último dia de Junho, pela 17 horas, foi a data escolhida para o primeiro grande evento comemorativo, sob o lema Independência, Cultura e Desenvolvimento, Com Coesão Nacional, Construímos o País”.
Tratou-se de uma mega conferência, que contou com a participação de vários ministros e elementos da casa civil e militar do Presidente da República, que decorreu na sala de conferências da Empresa Estatal Agostinho Neto, que, no tempo colonial, fazia parte das instalações de um jardim botânico da Roça Rio do Ouro, da Sociedade Agrícola Vale Flor, que, de algum modo ainda persiste na zona ajardinada envolvente do edifício.
De facto, o espaço e as condições, não podiam ser mais adequadas para acolher tantas personalidades – as mais representativas do país. Não esteve o Primeiro-ministro, Patrice Trovoada, em deslocação oficial na Estónia a procura da Governação, assim como o Presidente da República. Manuel Pinto da Costa, cuja presença esteve prevista, até quase o início da cerimónia, mas que acabaria por não poder deslocar-se. Contudo, quer o Governo, quer a Presidência, dispunham ali de representações ao mais alto nível.
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Diz-se que houve alguns partidos que não se fizeram representar: o que não
surpreende. Pois não foi por acaso que a palavra “coesão nacional”,
além ter servido de tema, foi das mais ouvidas, quer nas intervenções dos
oradores, quer em declarações à Comunicação Social.
A conferência foi praticamente preenchida por uma longa e detalhada
análise da Reitora da Universidade Lusíada, Fernanda Pontífice,
muito aplaudida no final da sua explanação. Isto porque, sem pretender fazer
libelos acusatórios a quem quer que seja, logrou pôr o dedo na ferida,
com muitos detalhes e clareza, num balanço
e análise em múltiplas questões da vida social, económica e politica
do seu pais, citando, por várias vezes, Amílcar Cabral, um dos
principais líderes históricos dos movimentos de libertação do
domínio colonial, que “afirmava que a luta de libertação é antes de
mais um ato de cultura”
“Acho que é pertinente perguntarmos o que é que temos feito ao logo destes
40 anos?” – questionava a distinta académica, que, atendendo ao conhecimento
das questões, nem sempre seguia a leitura do discurso que trazia
mas fazendo das suas linhas, pontos de partida ou
notas críticas para as mais oportunas e objetivas reflexões.
(…) “Desde a independência tivemos o apoio da Comunidade
Internacional para resolver os problemas que eram inibidores do
desenvolvimento” (…) Sabemos, por exemplo, que ao nível da educação,
da formação e do combate ao analfabetismo, foram gastos recursos específicos.
Mas, toda a gente que andou na investigação sabe ver isto?
Recordando que “nós atingimos o objetivo na escolaridade básica”, ao mesmo
tempo que perguntava: Mas em qualidade?!... Temos muita
gente formada e falta de quadros,
(…)Formamos quadros mas qual é o contributo destes quadros para o nosso desenvolvimento? Formamos quadros e não formamos intelectuais! E não formamos humanistas! E este problema é um problema que tem que se revolver rapidamente: há muita gente com formatura superior, com mestrado, doutoramento, pós doutoramento mas não se sente ainda o contributo dessa mata critica.”
(…)Formamos quadros mas qual é o contributo destes quadros para o nosso desenvolvimento? Formamos quadros e não formamos intelectuais! E não formamos humanistas! E este problema é um problema que tem que se revolver rapidamente: há muita gente com formatura superior, com mestrado, doutoramento, pós doutoramento mas não se sente ainda o contributo dessa mata critica.”
Referindo-se ao papel da família, “que é consensualmente vista
como uma célula da sociedade,” alertou que “está completamente
destruída, desfeita – Referindo-se às crianças de rua, num pais onde abundam as
mães solteiras ou pais separados, citou Amílcar Cabral
“Amílcar Cabral dizia assim: (…) “O mais maravilhoso que há no mundo são as
crianças. Às crianças devemos dar o melhor que temos, Devemos educá-las para se
levantarem de espírito aberto para entenderem as coisas,
para serem boas, Boas para evitarem toda a espécie de maldade.
Portanto, nunca lhe devemos fazer o mal.”
(…) “O facto dos pais se encontrarem separados, não justifica que as nossas
crianças se encontrem abandonadas . Eu acho que os cientistas
sociais têm aqui um amplo manancial muito rico para trabalhar e
investigar.”
(…) “Outro exemplo de preocupação que caracteriza a nossa
sociedade é a forma normal (nós estamos habituados a
gostar muito da palavra normal: tudo é normal – “Como é que está a mãe? Está
normal” - Mas está internada no Hospital.”
(…) Essa forma normal de se conviver com os comportamento
desviantes é um dos exemplos da destruição dos valores “
Referindo-se ao desempenho trabalho,
frisou que é “cada vez maior o número de pessoas que vive de expedientes,
que não trabalham, que acham que o trabalho não rende” - De algum modo,
compreende-se, o fenómeno, numa terra onde o clima não é muito propenso aos
esforço e, onde, mercê da sua fertilidade, da generosa oferta dos frutos da
terra, ao longo do ano, estão ao alcance da mão.
ANTIGA ROÇA - ONDE NÃO FALTA MATÉRIA PARA APROFUNDADA REFLEXÃO
Realmente, em questões de natureza
laboral, parece-me que, a abordagem deste tema, não podia ter tido outro
local mais apropriado, que, o da empresa estatal Agostinho Neto,
extinta roça Rio do Ouro, dados os múltiplos exemplos, que ali é possível
estabelecer: desde o tempo em que ali o trabalhador era tratado como
escravo (ao nível mais baixo, incluindo, mesmo, o não menos
escravizado empregado de mato, pessoalmente, também, ali fui um deles)sim, e,
mediante esse trabalho escravo, a roça lá ia florescendo para os
bolsos apetitosos dos patrões de Lisboa -- E agora? O que resta? - face ao abandono do seu hospital,
de extensas áreas das suas plantações, da destruição das
principais instalações tecnológicas?... De facto, cometeram-se alguns erros e
por culpa de quem?
Apenas
dos que não souberam gerir a famigerada herança do colonialismo ou pelo facto
do regime colonial, nunca ter dado outras oportunidades, aos que trabalhavam,
nas roças, de machim na mão, que não
fosse a de darem o suor do seu corpo, não indo além de meros serviçais ou escravos?
– Não é preciso ser sociólogo para encontrar uma resposta: basta que não se
olhe apenas para um dos aspetos: ou que se omita o sentimento de liberdade, que
se conquistou – um bem que não tem preço que o pague – ou que
apenas se fale na fria linguagem economicista, que não olha às pessoas mas aos números dos cifrões, que possam engrossar os cofres
dos mais afortunados.
O QUE DISSERAM OS NOSSOS COLEGAS DO JORNAL TRANSPARÊNCIA, COM
QUEM FIZEMOS EQUIPA NA DESLOCAÇÃO A ESTE EVENTO
De seguida, alguns excertos, editados pelos nossos colegas do Jornal
Transparência, Adilson Castro e Aquiles Viegas, com quem tivemos o prazer de nos
deslocarmos de táxi, desde a cidade ao local, para ali nos reportarmos a tão
importante acontecimento
Empresa Agostinho Neto
acolhe Conferência sobre
40ºAniversário da
Independência Nacional de
STP
(…) “O
evento que foi preferido pela conferencista a Dr.ª Fernanda Pontífice com
actuação da banda das Forças Armadas de STP, contou com a presença das diversas
identidades e membros do actual elenco governamental, nomeadamente, Ministro
dos Negócios Estrangeiro e Comunidade, Salvador dos Ramos, Presidente do
Tribunal de Contas e do Supremo Tribunal de Justiça, José António Monte Cristo
e José Bandeira respectivamente, Ministro de Defesa e do Mar, Carlos Stock,
Chefe do Gabinete da Presidência da República, Victor Monteiro, Presidente do
Governo Regional da Ilha do Príncipe, José Cardoso Cassandra, Ministro da
Educação e Ciência Olinto Daio, a Deputada e Vice-Presidente da Assembleia
Nacional, Maria das Neves, alguns representantes dos corpos diplomáticos
acreditados no país, entre outras individualidades que marcaram presença neste
grandioso evento.
A
conferencista, a professora da Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe,
Fernanda Pontífice, a única que presidiu apresentação da cerimónia, saudou
primeiramente a todos os presentes, tendo felicitado os organizadores pela
realização deste importante evento, e em seguida fez o balanço daquilo que
constituiu a trajectória do país durante os quarenta anos, após São Tomé e
Príncipe, ter conquistado a Independência Nacional em 12 de Julho de 1975.
Na sua longa
explanação, Fernanda Pontífice, destacou alguns aspectos que marcou durante
estes 40 anos da independência do país, principalmente de tudo quanto constitui
os problemas para o desenvolvimento do país, como por exemplo, as divergências
políticas e falta da coesão nacional e entendimento, o que tem posto em causa o
desenvolvimento do país a vários níveis, muitas das vezes por falta de
interesse dos actores políticos, e mudanças de sucessivos governos que o país
conheceu durante este período de tempo.
Apesar de alguns constrangimentos, a conferencista, reconheceu que também houve algumas melhorias em alguns sectores da Administração Pública, como nas áreas de, Educação, Saúde e formação de novos quadros, que na sua óptica, existe muitos quadros formados, mais que ainda torna-se necessário um acompanhamento destes quadros, do que eles têm feito na contribuição do desenvolvimento socioeconómico do país. Excerto - Por: Adilson Castro – JT
Tela Nón - «"Uma grande frustração pelo facto de muitos sonhos não concretizados, esperanças frustradas. Há um sentimento de frustração quando nós nos confrontamos com o estado de miséria e pobreza, não só a pobreza monetária, mas sim a pobreza espiritual que grassa por uma boa parte da nossa população», declarou Fernanda Pontífice, que também participou nos movimentos juvenis que em 1974, contribuíram para a independência nacional....Excerto “Falta Coesão Nacional” para STP dignificar 12 de Julho de 2015
MLSTP-PSD diz que diálogo nacional em São Tomé
e Príncipe falhou (In SAPO)
A deputada Maria das Neves, presidente das
Mulheres Sociais Democratas (MSD), organização feminina do principal partido
são-tomense da oposição, disse hoje à Lusa que as negociações políticas para um
consenso nacional "falharam".
Analisando o país 40 anos depois da independência, a líder das
mulheres do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social
Democrata (MLSTP-PSD), que falava à margem da conferência promovida pela
Presidência da República, considera que "o país precisa descolar"
para atingir o desenvolvimento.- Excerto de São Tomé e Príncipe Independência
Nacional comemorada na Casa Internacional de STP em Lisboa
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