Por - Jorge Trabulo Marques e Adilson Castro - Jornalistas
Havia menos
de uma hora de sol, quando, Jorge Carlos Fonseca, com a sua comitiva, deixava o
aeroporto internacional de São Tomé, de regresso à Praia, capital das ilhas
crioulas, após uma visita de oito dias. Veio para se associar à comemoração dos 40 anos da sua independência mas
também para se encontrar com as principais entidades deste país e com os milhares
de cabo-verdianos, de origem ou descendentes, que constituem já uma substancial
parcela da população - Mas, de algum modo, sofrendo ainda o estigma de um passado que fazia apenas deles simples serviçais "contratados" ou escravos.
Na hora da despedida há
sempre uma lágrima furtiva. Sobretudo "Num tardinha na
cambar di sol” Assim o diz a alma cabo-verdiana, nos seus versos, cantados ao som
nostálgico das mornas ou pelas mais ritmadas „coladeiras“ Sim, "Na tardinha, ao
pôr do Sol/ Estendido na praia de Nantasqued /Lembro a praia de Furna/A saudade faz-me chorar/O mar é a morada da
saudade/É ele que nos leva para terras distantes/Ele separa-nos da nossa mâe,
Dos nossos amigos”/ Sem a certeza de os tornar a ver” ~
Este é o
sentimento que caracteriza a alma do povo cabo-verdiano, que massivas emigrações
moldaram nos longos e dolorosos anos do colonialismo, na sua diáspora e profunda
miscigenação. Este terá sido também o sentimento do Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que já retornou às ilhas do seu torrão natal.
A VISITA QUE VAI PERDURAR NA RETINA DE
MUITOS CABO-VERDIANOS
Dado o impacto emocional da sua visita, é realmente de acreditar que esta não será tão cedo esquecida por milhares dos seus compatriotas, que abraçou, que auscultou, com palavras de estímulo e de afeto: de modo a contribuir para ajudar a resolver algumas das preocupações e dificuldades, vividas pelas comunidades cabo-verdianas e dos seus descendentes, enfrentando quase as mesmas vicissitudes do isolamento das antigas roças coloniais. E sem meios de regressarem ou visitarem a sua pátria.
Certo que vivem a alegria de sentirem
livres e de, livremente, poderem
trabalhar por conta de outrem
ou de, livremente, explorarem
os frutos e a generosidade da terra, todavia, debatendo-se com imensas
carências.
Nos rostos luzidios (lindos e esculturais) ou encrespados por anos de sacrifícios e abrasivos sóis equatoriais, não se descobre o tom macilento dos cruéis sinais de fome, que se veem em muitos países de África, sim, mas não só de pão vivo o homem: onde está o dinheiro para comprar os medicamentos, a peça de vestuário ou os produtos importados do exterior? – Com pensões miseráveis ou salários de vinte, trinta ou quarenta euros mensais, traduzidos da moeda local -(as dobras – para a moeda europeia), sim, fácil é de imaginar o enorme drama com que debatem milhares de famílias cabo-verdianas, sobretudo aquelas que a descolonização abandonou à sua sorte.
Nos rostos luzidios (lindos e esculturais) ou encrespados por anos de sacrifícios e abrasivos sóis equatoriais, não se descobre o tom macilento dos cruéis sinais de fome, que se veem em muitos países de África, sim, mas não só de pão vivo o homem: onde está o dinheiro para comprar os medicamentos, a peça de vestuário ou os produtos importados do exterior? – Com pensões miseráveis ou salários de vinte, trinta ou quarenta euros mensais, traduzidos da moeda local -(as dobras – para a moeda europeia), sim, fácil é de imaginar o enorme drama com que debatem milhares de famílias cabo-verdianas, sobretudo aquelas que a descolonização abandonou à sua sorte.
Um homem do
Povo: a sensibilidade de quem diz “Que o pobre não pode fazer política de rico
– Foi este o mote da sua candidatura com o qual conquistou a confiança dos
cidadãos das Ilhas e da diáspora.
Jorge Carlos
Fonseca é a imagem que facilmente se confunde com o rosto simples e ao mesmo
tempo sentida e sofrida do homem do Povo: sobretudo quando vai ao seu encontro
em mangas de camisa e a sua roupa não contrasta com o do cidadão comum: pelo
contrário, é um dos seus: no falar do
seu dialeto, no vestir, no abraçar, no beijar, no sentir, até na exuberância do
momento de alegria ou da lágrima que escapa quando o coração cede ao sentimento
e às imensas saudades da sua amada ilha – Tudo isso lhe vimos numa das visitas em que acompanhámos a Água Izé - antiga roça colonial
“Mar ê morada d'sodade"
O mar é o imenso túmulo
para os que neles se perdem -
Sim, e é a “morada de saudade” para os que ficam longe dos seus entes
queridos e não os podem abraçar – Sobretudo para os ilhéus, que vivem rodeados
do imenso azul do céu e do mar – Para os continentais, que não vivem no
litoral, o pôr-do-sol, significa o fim do dia mas não o limite intransponível. Já
que, para lá do horizonte a poente, há sempre
outros horizontes e outras terras, o chão firme. O mesmo não o podem dizer os
habitantes das ilhas: mar é mesmo “morada de saudade”
Que o diga, o sentimento
e a emoção da diáspora cabo-verdiana; aliás, tanto dos que partem como dos que
ficam - Para quem a palavra sodade” é
muito mais que a portuguesíssima palavra saudade – Consubstancia algo muito
mais profundo: a dureza de uma vida difícil, em ilhas, onde a natureza é
demasiado nua e madrasta, fustigando-as
de prolongadas secas, que estiolam toda a vida vegetal - E, então quando à falta de chuvas, se
juntava o drama da fome – sobretudo naqueles tempos em que as ilhas eram apenas
olhadas como exportação escrava de mão-de-obra, de emigrações massivas,
designadamente para as Ilhas de S. Tomé - Claro que os mistérios da natureza não
são fáceis de mudar mas podem-se tornear
- E o combate à desertificação,
embora difícil, não é uma luta perdida
– De resto, assim o têm demonstrado as autoridades de um Cabo Verde
independente: Cabo Verde é um sucesso na luta contra a desertificação e
JORGE CARLOS FONSECA - O CHEFE DE ESTADO, QUE É TAMBÉM POETA
Jorge Carlos Fonseca,
além de Presidente de Cabo Verde, é também um poeta, um profundo intelectual -
Desde os tempos da resistência ao colonialismo : autor de "O Silêncio
Acusado de Alta Traição e de Incitamento ao Mau Hálito Geral", publicado, "nos longínquos finais dos anos 70" – Sim, além de poeta e político,
é também um distinto jurista e professor universitário das Ilhas
cabo-verdianas.
O
Presidente que escreve poemas e promove a poesia. Fê-lo no dia mundial da poesia,
apadrinhando a iniciativa da Câmara de Ribeira Grande
de Santiago, em conjunto com a Sociedade Cabo-verdiana de Autores e da Academia
Cabo-verdiana de Letras, com poetas,
declamadores e músicos, em arruadas e recitais,
no sítio histórico Cidade Velha, património
mundial, evento que serviu também para homenagear Corsino Fortes, um dos poetas vivos mais
velhos
“As nossas relações com São Tomé e Príncipe são muito boas, são excelentes, dois arquipélagos, dois países de pequena dimensão populacional, que no plano internacional defendem posições muito próximas na defesa de questões específicas dos pequenos estados insulares”, disse Jorge Carlos Fonseca.
“Os nossos dois países
fizeram o caminho comum para a obtenção da independência nacional e estão
ligados por uma grande presença de uma comunidade cabo-verdiana que está aqui
(em são Tomé e Príncipe) sediada há longos anos e já com muitos descendentes
originários de São Tomé e Príncipe e portanto com laços de amizade e culturais
muito fortes”, Palavras ditas à sua chegada e que podiam perfeitamente
repetir-se na hora da despedida.
APONTAMENTO SEGUINTE - DO JORNAL TRANSPARÊNCIA - Por ADILSON CASTRO
APONTAMENTO SEGUINTE - DO JORNAL TRANSPARÊNCIA - Por ADILSON CASTRO
(...) O Chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, ouviu atentamente, e tomou a boa nota das preocupações levantadas pelos alguns residentes, e disse que em seu nome como actual Presidente, através do Cônsul de Cabo Verde em São Tomé e Príncipe, irá fazer diligencias, para ver a possibilidade, e encontrar formas para responder algumas preocupações levantas, e informou ainda aos moradores, que brevemente será instalada a Embaixada de São Tomé e Príncipe em Cabo Verde, de forma a responder as necessidades dos cabo-verdianos, quer aqueles que se encontram em STP, e na Diáspora.
A Ministra da Comunidade cabo-verdiana, Fernanda Fernandes que se fez de acompanhar do Presidente de Cabo Verde, na sua breve intervenção, entusiasmada, saudou primeiramente toda a comunidade, e afirmou que nos próximos meses, a comunidade cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe, passarão receber a indemnização de 20 Euros mensal, em relação ao valor que recebem actualmente de indemnizações. - Mais pormenores em http://www.jornaltransparencia.st/0117.htm
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