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sexta-feira, 17 de julho de 2015

S. Tomé - Presidente da Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, na hora da “dispedida” e pouco antes do declinar do dia “Num tardinha di cambar di sol” Depois de mostra' bo morada d’sodade, esse caminho pra São Tomé-

 Por -  Jorge Trabulo Marques e Adilson Castro - Jornalistas


Havia menos de uma hora de sol, quando, Jorge Carlos Fonseca, com a sua comitiva, deixava o aeroporto internacional de São Tomé, de regresso à Praia, capital das ilhas crioulas, após uma visita de oito dias.  Veio para se associar à comemoração dos 40 anos da sua independência mas também para se encontrar com as principais entidades deste país e com os milhares de cabo-verdianos, de origem ou descendentes, que constituem já uma substancial parcela da população - Mas, de algum modo, sofrendo ainda o estigma de um passado que fazia apenas deles simples  serviçais "contratados" ou escravos.

Na hora da despedida há sempre uma lágrima furtiva. Sobretudo "Num tardinha na cambar di sol” Assim o diz a alma cabo-verdiana, nos seus versos, cantados ao som nostálgico das mornas ou pelas mais ritmadas „coladeiras“  Sim, "Na tardinha, ao pôr do Sol/ Estendido na praia de Nantasqued /Lembro a praia de Furna/A saudade faz-me chorar/O mar é a morada da saudade/É ele que nos leva para terras distantes/Ele separa-nos da nossa mâe, Dos nossos amigos”/ Sem a certeza de os tornar a ver” ~

Este é o sentimento que caracteriza a alma do povo cabo-verdiano, que massivas emigrações moldaram nos longos e dolorosos anos do colonialismo, na sua diáspora e profunda miscigenação. Este terá sido também  o sentimento do Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que  já retornou às ilhas do seu torrão natal.

A VISITA QUE VAI PERDURAR NA RETINA DE MUITOS CABO-VERDIANOS   

  

Dado o impacto emocional  da sua visita,  é realmente  de acreditar que esta não será tão cedo esquecida por milhares dos seus compatriotas, que abraçou, que auscultou, com palavras de estímulo e de afeto: de modo  a contribuir para ajudar a resolver algumas das preocupações e dificuldades,  vividas pelas comunidades cabo-verdianas e dos seus descendentes, enfrentando quase as mesmas  vicissitudes do  isolamento das antigas roças coloniais. E sem meios de regressarem ou visitarem a sua pátria.

Certo que vivem a alegria de sentirem livres e de, livremente, poderem  trabalhar por conta de outrem  ou  de, livremente,  explorarem  os frutos e a generosidade da terra, todavia, debatendo-se com imensas carências. 

Nos rostos luzidios (lindos e esculturais) ou encrespados por anos de sacrifícios e abrasivos sóis equatoriais, não  se descobre o tom macilento dos cruéis sinais de  fome, que se veem  em muitos países de África, sim,  mas não só de pão vivo o homem: onde está o dinheiro para comprar os medicamentos,  a peça de vestuário ou os produtos importados do exterior? – Com pensões miseráveis ou salários de vinte, trinta ou quarenta euros mensais, traduzidos da moeda local  -(as dobras – para a moeda europeia), sim, fácil é de imaginar o enorme drama com que debatem milhares de famílias cabo-verdianas, sobretudo aquelas que a descolonização abandonou à sua sorte.
 

Um homem do Povo: a sensibilidade de quem diz “Que o pobre não pode fazer política de rico – Foi este o mote da sua candidatura com o qual conquistou a confiança dos cidadãos das Ilhas e da diáspora.

Jorge Carlos Fonseca é a imagem que facilmente se confunde com o rosto simples e ao mesmo tempo sentida e sofrida do homem do Povo: sobretudo quando vai ao seu encontro em mangas de camisa e a sua roupa não contrasta com o do cidadão comum: pelo contrário,   é um dos seus: no falar do seu dialeto, no vestir, no abraçar, no beijar, no sentir, até na exuberância do momento de alegria ou da lágrima que escapa quando o coração cede ao sentimento e às imensas saudades da sua amada ilha – Tudo isso lhe vimos numa das visitas em que acompanhámos  a Água Izé - antiga roça colonial

“Mar ê morada d'sodade"

O mar é o imenso túmulo  para os que neles se perdem  - Sim, e é a  “morada de saudade”  para os que ficam longe dos seus entes queridos e não os podem abraçar – Sobretudo para os ilhéus, que vivem rodeados do imenso azul do céu e do mar – Para os continentais, que não vivem no litoral, o pôr-do-sol, significa o fim do dia mas não o limite intransponível. Já que,  para lá do horizonte a poente, há sempre outros horizontes e outras terras, o chão firme. O mesmo não o podem dizer os habitantes das ilhas: mar é mesmo “morada de saudade”





Que o diga, o sentimento e a emoção da diáspora cabo-verdiana; aliás, tanto dos que partem como dos que ficam   - Para quem a palavra sodade” é muito mais que a portuguesíssima palavra saudade – Consubstancia algo muito mais profundo: a dureza de uma vida difícil, em ilhas, onde a natureza é demasiado nua  e madrasta, fustigando-as de prolongadas secas, que estiolam toda a vida vegetal  - E, então quando à falta de chuvas, se juntava o drama da fome – sobretudo naqueles tempos em que as ilhas eram apenas olhadas como exportação escrava de mão-de-obra, de emigrações massivas, designadamente para as Ilhas de S. Tomé - Claro que os mistérios da natureza não são fáceis de mudar mas podem-se tornear  -  E o combate à desertificação, embora difícil, não   é uma luta perdida – De resto, assim o têm demonstrado as autoridades de um Cabo Verde independente: Cabo Verde é um sucesso na luta contra a desertificação e


JORGE CARLOS FONSECA  - O CHEFE DE ESTADO, QUE É TAMBÉM POETA


Jorge Carlos Fonseca, além de Presidente de Cabo Verde, é também um poeta, um profundo intelectual - Desde os tempos da resistência ao colonialismo : autor de "O Silêncio Acusado de Alta Traição e de Incitamento ao Mau Hálito Geral", publicado,  "nos longínquos finais dos anos 70" – Sim, além de poeta e político, é também um distinto jurista e professor universitário das Ilhas cabo-verdianas.

 O Presidente que escreve poemas e promove a poesia. Fê-lo no dia mundial da poesia, apadrinhando a iniciativa da Câmara de Ribeira Grande de Santiago, em conjunto com a Sociedade Cabo-verdiana de Autores e da Academia Cabo-verdiana de Letras,  com poetas, declamadores e músicos, em arruadas e recitais,  no sítio  histórico Cidade Velha, património mundial, evento que  serviu também para homenagear  Corsino Fortes, um dos poetas vivos mais velhos


As nossas relações com São Tomé e Príncipe são muito boas, são excelentes, dois arquipélagos, dois países de pequena dimensão populacional, que no plano internacional defendem posições muito próximas na defesa de questões específicas dos pequenos estados insulares”, disse Jorge Carlos Fonseca.

“Os nossos dois países fizeram o caminho comum para a obtenção da independência nacional e estão ligados por uma grande presença de uma comunidade cabo-verdiana que está aqui (em são Tomé e Príncipe) sediada há longos anos e já com muitos descendentes originários de São Tomé e Príncipe e portanto com laços de amizade e culturais muito fortes”, Palavras ditas à sua chegada e que podiam perfeitamente repetir-se na hora da  despedida.


APONTAMENTO SEGUINTE - DO JORNAL TRANSPARÊNCIA -  Por ADILSON CASTRO


(...) O Chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, ouviu atentamente, e tomou a boa nota das preocupações levantadas pelos alguns residentes, e disse que em seu nome como actual Presidente, através do Cônsul de Cabo Verde em São Tomé e Príncipe, irá fazer diligencias, para ver a possibilidade, e encontrar formas para responder algumas preocupações levantas, e informou ainda aos moradores, que brevemente será instalada a Embaixada de São Tomé e Príncipe em Cabo Verde, de forma a responder as necessidades dos cabo-verdianos, quer aqueles que se encontram em STP, e na Diáspora.

A Ministra da Comunidade cabo-verdiana, Fernanda Fernandes que se fez de acompanhar do Presidente de Cabo Verde, na sua breve intervenção, entusiasmada, saudou primeiramente toda a comunidade, e afirmou que nos próximos meses, a comunidade cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe, passarão receber a indemnização de 20 Euros mensal, em relação ao valor que recebem actualmente de indemnizações. - Mais pormenores em http://www.jornaltransparencia.st/0117.htm




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